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domingo, 27 de setembro de 2020

O Shabat

 

 

Uma das questões que podem suscitar dúvidas em algumas pessoas – inclusive de fé cristã – é a guarda do sábado. Para mim, esta foi uma questão tranquila e desde sempre resolvida; nunca me causou dúvidas, por tão claro ser o que, no decorrer da Bíblia – e especialmente no Novo Testamento –, se tem sobre o tema. Mas há aqueles para quem pairam dúvidas, ou “certezas” contrárias.

Assim, quis compartilhar neste espaço e nesta mídia algo que fosse esclarecedor com relação ao sábado.

Busquei, didaticamente, um argumento pautado nas Escrituras e na centralidade de Cristo para justificar esta tranquilidade minha em relação ao tema, e encontrei um artigo cuja posição é bastante ponderada e satisfatória no site https://www.gotquestions.org e o reproduzo abaixo.

 

Frequentemente se diz que “Deus instituiu o Shabat no Éden” por causa de sua conexão com a criação em Êxodo 20:11, onde diz: Pois em seis dias o SENHOR  fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o SENHOR abençoou o sétimo dia e o santificou. Apesar do descanso de Deus no sétimo dia (Gênesis 2:3) ter sugerido uma futura lei do Shabat, não há registro bíblico do Shabat antes dos filhos de Israel terem deixado a terra do Egito. Em nenhum lugar das Escrituras há qualquer indício de que guardar o Shabat tenha sido praticado de Adão a Moisés.

A Palavra de Deus deixa muito claro que guardar o Shabat era um sinal especial entre Deus e Israel: E o SENHOR o chamou do monte, dizendo: “Diga o seguinte aos descendentes de Jacó e declare aos israelitas: Vocês viram o que fiz ao Egito e como os transportei sobre asas de águias e os trouxe para junto de mim. Agora, se me obedecerem fielmente e guardarem a minha aliança, vocês serão o meu tesouro pessoal dentre todas as nações” (Êxodo 19:3-5). Os israelitas terão que guardar o sábado, eles e os seus descendentes, como uma aliança perpétua. Isso será um sinal perpétuo entre mim e os israelitas, pois em seis dias o SENHOR fez os céus e a terra, e no sétimo dia ele não trabalhou e descansou” (Êxodo 31:16-17).

Em Deuteronômio 5, Moisés reafirma os dez mandamentos à próxima geração de israelitas. Aqui, após ordenar que se guardasse o Shabat nos versos 12-14, Moisés dá a razão por que o Shabat foi dado à nação de Israel: Lembra-te de que foste escravo no Egito e que o SENHOR, o teu Deus, te tirou de lá com mão poderosa e com braço forte. Por isso o SENHOR, o teu Deus, te ordenou que guardes o dia de sábado” (Deuteronômio 5:15).

Repare na expressão “por isso”. A intenção de Deus em dar o Shabat a Israel não foi que se lembrassem da criação, mas que se lembrassem de sua escravidão egípcia e o livramento do Senhor. Observe os requisitos para se guardar o Shabat:

a)     A pessoa sob a lei do Shabat não poderia deixar sua casa no Shabat: Vejam que o SENHOR lhes deu o sábado; e por isso, no sexto dia, ele lhes dá pão para dois dias. No sétimo dia, fiquem todos onde estiverem; ninguém deve sair” (Êxodo 16:29).

b)     Não poderia acender fogo: Nem sequer acendam fogo em nenhuma de suas casas no dia de sábado!” (Êxodo 35:3).

c)      Não poderia fazer ninguém trabalhar: Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu nem teu filho ou filha, nem o teu servo ou serva, nem o teu boi, teu jumento ou qualquer dos teus animais, nem o estrangeiro que estiver em tua propriedade; para que o teu servo e a tua serva descansem como tu” (Deuteronômio 5:14).

d)     A pessoa que quebrasse a lei do Shabat seria colocada à morte: Em seis dias qualquer trabalho poderá ser feito, mas o sétimo dia é o sábado, o dia de descanso, consagrado ao SENHOR. Quem fizer algum trabalho no sábado terá que ser executado” (Êxodo 31:15).  Certo dia, quando os israelitas estavam no deserto, encontraram um homem recolhendo lenha no dia de sábado. Aqueles que o encontraram recolhendo lenha levaram-no a Moisés, a Arão e a toda a comunidade, que o prenderam, porque não sabiam o que deveria ser feito com ele. Então o SENHOR disse a Moisés: “O homem terá que ser executado. Toda a comunidade o apedrejará fora do acampamento” (Números 15:32-35).

Um exame das passagens do Novo Testamento nos mostra quatro pontos importantes:

1)      Quando Cristo aparece em Sua forma ressuscitada (e o dia é mencionado), sempre é o primeiro dia da semana. Depois do sábado, tendo começado o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro (Mateus 28:1). De repente, Jesus as encontrou e disse: Salve! Elas se aproximaram dele, abraçaram-lhe os pés e o adoraram. Então Jesus lhes disse: Não tenham medo. Vão dizer a meus irmãos que se dirijam para a Galileia; lá eles me verão (Mateus 28:9-10). Quando Jesus ressuscitou, na madrugada do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, de quem havia expulsado sete demônios (Marcos 16:9). No primeiro dia da semana, de manhã bem cedo, as mulheres tomaram as especiarias aromáticas que haviam preparado e foram ao sepulcro (Lucas 24:1). Naquele mesmo dia, dois deles estavam indo para um povoado chamado Emaús, a onze quilômetros de Jerusalém (Lucas 24:13). Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles (Lucas 24:15). Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: Paz seja com vocês!(João 20:19). Uma semana mais tarde, os seus discípulos estavam outra vez ali, e Tomé com eles. Apesar de estarem trancadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: Paz seja com vocês!(João 20:26).

2)     A única vez em que é mencionado o Shabat, desde Atos até Apocalipse, isto é feito para fins evangelísticos aos judeus e sempre no contexto da sinagoga (Atos capítulos 13-18). Paulo escreveu: Tornei-me judeu para os judeus, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da lei, tornei-me como se estivesse sujeito à lei, (embora eu mesmo não esteja debaixo da lei), a fim de ganhar os que estão debaixo da lei (1º Coríntios 9:20). Paulo não foi à sinagoga para ter comunhão com os santos ou edificá-los, mas para convencer os compatriotas e salvá-los.

3)     Desde o momento em que Paulo afirma, ao ser rejeitado, “de agora em diante irei para os gentios” (Atos 18:6), o Shabat não mais é mencionado.

4)      Ao invés de sugerir que se observe o Shabat, o restante do Novo Testamento sugere o oposto (incluindo a única exceção, no ponto 3 acima), encontrada em Colossenses 2:16: Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado.

Olhando mais de perto o ponto 4 acima, este revela que não há obrigação para o crente do Novo Testamento de guardar o Shabat, e mostra também que a ideia de um domingo (“Shabat cristão”) também não se encontra nas Escrituras. Como discutido acima, apenas uma vez o Shabat é mencionado depois que Paulo objetiva os gentios: Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo (Colossenses 2:16-17). O Sábado Judeu (Shabat) foi abolido na cruz, onde Cristo cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz (Colossenses 2:14).

Esta ideia é repetida mais de uma vez no Novo Testamento: Há quem considere um dia mais sagrado que outro; há quem considere iguais todos os dias. Cada um deve estar plenamente convicto em sua própria mente. Aquele que considera um dia como especial, para o Senhor assim o faz (Romanos 14:5-6). Mas agora, conhecendo a Deus, ou melhor, sendo por ele conhecidos, como é que estão voltando àqueles mesmos princípios elementares, fracos e sem poder? Querem ser escravizados por eles outra vez? Vocês estão observando dias especiais, meses, ocasiões específicas e anos! (Gálatas 4:9-10).

Alguns afirmam, entretanto, que um mandato de Constantino em 321 d.C. “mudou” o Shabat de sábado para domingo. Em que dia a Igreja primitiva se reunia para adoração? As Escrituras nunca mencionam o Shabat (sábado) como dia de reuniões pelos crentes para comunhão ou adoração. Entretanto, há passagens claras que mencionam o primeiro dia da semana. Por exemplo, Atos 20:7 afirma: No primeiro dia da semana reunimo-nos para partir o pão, e Paulo falou ao povo. Em 1º Coríntios 16:2, Paulo exorta aos crentes coríntios: No primeiro dia da semana, cada um de vocês separe uma quantia, de acordo com a sua renda. Uma vez que Paulo designa esta oferta como “serviço” em 2º Coríntios 9:12, esta coleta deve ter sido ligada com a adoração do culto de domingo da assembléia cristã. Historicamente, domingo, não sábado, era o dia normal de encontros dos cristãos na Igreja, e sua prática vem desde o primeiro século.

O Shabat foi estabelecido para Israel, não para a Igreja. O Shabat ainda é sábado, não domingo, e nunca foi mudado. Mas o Shabat é parte da Lei do Velho Testamento, e os cristãos são livres da servidão da Lei: Vocês não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça (Romanos 6:14).

Guardar o Shabat não é algo cobrado dos cristãos, seja um sábado ou domingo. O primeiro dia da semana, domingo, celebra a Ressurreição de Cristo. Não somos obrigados a seguir o Shabat de Moisés – descansando, mas somos agora livres para seguir o Cristo ressuscitado – servindo. O apóstolo Paulo disse que cada cristão deveria decidir se observa ou não o descanso do Shabat: Há quem considere um dia mais sagrado que outro; há quem considere iguais todos os dias. Cada um deve estar plenamente convicto em sua própria mente (Romanos 14:5).

Devemos adorar a Deus todos os dias, não somente no sábado ou domingo.

 

Ainda dentro do contexto, quero lembrar o que diz o 4º mandamento, segundo a Lei dada a Moisés: “Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo” (Êxodo 20:8).

Questionado se o não guardar um dia da semana chamado de “sábado” seria uma desobediência a este mandamento, respondo dizendo que “não”, pelo fato de o sábado ter sido feito para o descaso do homem, segundo o modelo do “descanso” de Deus. “Santificar” o dia significa reservar um tempo para a “adoração e comunhão com Deus, podendo ser um dia específico – para quem o desejar e puder em sua agenda – ou um “tempo”, que pode ser – e digo: deve ser – a cada dia.

Lembro também de Jesus dizendo: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. Assim, pois, o Filho do homem é Senhor até mesmo do sábado (Marcos 2:27-28).

 

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.

Saudações,

Kurt Hilbert

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