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domingo, 30 de dezembro de 2018

Provérbios



A chave do livro dos Provérbios é a sabedoria.
Entre os Provérbios, a sabedoria começa em Deus; sua centralidade, sua situação básica é dada em todo o livro. Os sábios se colocam em um mesmo nível. Trata-se dos que confiam em Deus, que O conhecem, que refletem esta confiança e este conhecimento mediante sua conduta reta e amorosa para com seus semelhantes, de acordo com princípios divinamente aprovados. O bem e o mal estão vinculados com a recompensa e com o castigo, uma vez que Deus incorpora em Si mesmo o amor e a justiça, de modo que se deve promover o bem e evitar o mal.
Os padrões positivos e negativos do livro dos Provérbios proporcionam-nos uma prova valiosa de conduta pessoal. A sabedoria dos Provérbios é o adorno do Antigo Testamento, por assim dizer. No que respeita às muitas exortações práticas das epístolas do Novo Testamento, é uma verdade aplicável tanto ao grande discurso como à ampla, expressiva e concisa série de instruções e observações de que se compõe a maior parte deste livro, referindo-se aos muitos aspectos de nossa conduta diária.
Provérbios 1:1 cita Salomão como seu principal autor; 10:1 – 22:16 são diretamente seus. Incorporou o primeiro grupo de “palavras” em 22:17 – 24:22 (“minha ciência”, 22:17); e a passagem de 24:23-24 foi, talvez, acrescentada por ele, ou pelos homens de Ezequias, juntamente com a segunda série de Salomão, capítulos 25 a 29. Os discursos, capítulos 1 a 9, não têm data, porém existia um bom precedente oriental antiquíssimo que justificaria o fato de Salomão os antepor como uma introdução aos provérbios principais. Os poemas de Agur, de Lemuel, e da esposa virtuosa não têm data conhecida, mas poderiam ter sido acrescentados anteriormente, no tempo de Ezequias, embora talvez mais tarde. Assim, a data mais antiga para o livro dos Provérbios seria o reinado de Ezequias, imediatamente depois do ano 700 a.C., ou, quem sabe, algum tempo depois.
A literatura proverbial escrita já era antiga no Oriente Próximo. Estudos recentes (nem todos publicados) de contatos linguísticos e fundos literários da região norte de Canaã, do Egito, da Mesopotâmia e de países heteus, ou hititas, indicariam que o livro de Provérbios foi escrito na primeira metade do primeiro milênio antes de Cristo.

Kenneth A. Kitchen

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Meu Natal


Meu Natal não é mais o Natal de um menino que ficava esperando um presente que, no meu caso, nunca veio.
Me virava com brinquedos artesanais que eu mesmo fazia e me alegrava com o que tinha.
Me alegrava com o fato de poder tomar uma Coca-Cola no Natal e não uma Tubaína que era comum no resto do ano.
Me alegrava com as reuniões da igreja e os espetáculos amadores que eram produzidos para celebrar o Natal.
Meu Natal hoje é o Natal de quem cresceu, de quem envelheceu, de quem já viveu mais de 63 Natais nesta vida.
Meu Natal hoje é o Natal de quem ganhou entendimentos sobre o significado do Natal que, hoje, ocupam meu ser por inteiro.
Meu Natal tem um Nome, Jesus de Nazaré, o melhor presente que recebi em toda minha vida.
Quando compartilho Jesus de Nazaré, compartilho o melhor presente que ganhei na minha vida toda e para toda a eternidade.
O meu Natal hoje é a constatação de que estou salvo porque Deus encarnou em Cristo e, mais, em Cristo o Pai Eterno me convida para a vida e a partilha do Pão da Vida.
O meu Natal hoje é o Natal que acontece em cada encontro com qualquer pessoa, em qualquer lugar, em qualquer circunstância, e me entrego à convivência e à busca de relacionamentos saudáveis na certeza que isto me torna um ser humano melhor.
O meu Natal hoje é de um homem, não mais de um menino.
Um homem consciente de suas responsabilidades, que crê em utopias, que sonha, que trabalha para realizar sonhos, os meus e os de alguns que comigo compartilham sonhos.
O meu Natal hoje é o Natal da fé, da esperança e do amor.
O Meu Natal é calmo, é simples, é quieto, é silencioso, é terno, de alguns encontros singelos e das melhores memórias de todos os outros Natais.
O Natal nasceu dentro de mim e, por isso, meu Natal é de profunda intimidade com Aquele que é o Natal.
Feliz Natal!

Um texto de Carlos Bregantim

domingo, 23 de dezembro de 2018

Salmos



É o Livro de louvores de Israel.
Os Salmos, metade dos quais é atribuída, por suas inscrições, a Davi, o suave cantor de Israel, em geral procedem da idade áurea de Israel, por volta do ano 1000 a.C. Sem a menor dúvida, alguns foram escritos mais tarde, na época do cativeiro (por exemplo, o Salmo 137).
Os Salmos expressam verdades profundas num estilo poético, com a intenção de penetrar os recônditos do coração. Devem ensinar-nos que o conhecimento intelectual não é suficiente; o coração deve ser alcançado pela graça redentora de Deus.
A poesia hebraica não consiste no ritmo, mas, principalmente, na repetição de pensamentos apresentados em cláusulas paralelas, como, por exemplo: “Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos retribuiu segundo as nossas iniquidades” (103:10). Se prestarmos atenção a este paralelismo, poderemos, às vezes, interpretar palavras obscuras mediante o paralelo mais claro. Outro recurso que se emprega com frequência no artifício poético é a dramatização. Davi não escreve para si próprio. Escreve para outros. O salmista escreve para todos nós, e podemos nos apropriar de que aqui também Davi escreve, às vezes, na primeira pessoa do singular; não obstante isso, nos proporciona pormenores vividos das experiências do Messias.
Cerca da metade dos Salmos pode ser classificada como orações de fé proferidas em épocas de angústia. Salmos tão preciosos como os de número 23, 91, 121 e muitos outros, sustentam-nos nos momentos de necessidades mais urgentes. Seria bom que aprendêssemos de cor estes Salmos e os repetíssemos com frequência, a fim de fortalecer-nos com a Palavra quando a hora da provação nos apanha de surpresa. Mais ou menos 40 Salmos são dedicados ao tema do louvor. A nota de louvor a Deus deve constituir-se em uma parte da respiração mesma do crente, e Salmos tais como os de números 100 e 103 devem figurar com proeminência em nossas devoções.
É difícil fazer uma classificação minuciosa dos Salmos, visto como são obras profundamente poéticas, e um Salmo pode tratar de assuntos diferentes. Sugerimos, contudo, várias categorias: os Salmos do homem justo são representados pelos de números 1, 15, 101, 112 e 133. Seis poderiam denominar-se Salmos messiânicos: 2, 21, 45, 72, 110 e 132. Os Salmos 32 e 51 são chamados, de modo geral, penitenciais, juntamente com partes dos Salmos 38, 130 e 143. Os Salmos imprecatórios pedem vingança sobre os inimigos de Deus; são eles: 69, 101, 137 e parte dos Salmos 35, 55 e 58. Há, pelo menos, quatro Salmos históricos: 78, 81, 105 e 106. Dois ressaltam a revelação: 19 e 119.
Os Salmos messiânicos que se referem a Cristo são: 2, 8, 16, 22, 40, 41, 45, 68, 69, 89, 102, 109, 110 e 118. Alguns destes são tipicamente messiânicos, isto é, escritos a respeito de nossas experiências em geral, mas aplicados a Cristo. Outros são diretamente proféticos. Os Salmos 2, 45 e 110 predizem o Rei messiânico. No Salmo 45:6, o Messias é Deus; no 110, é Ele o Sacerdote, Rei e Senhor de Davi; no Salmo 2, é o Filho de Deus que deve ser adorado. Outros Salmos fazem referência a Seus sofrimentos (22), Seu sacrifício (40), Sua ressurreição (16:10-11). No Salmo 89, Ele é quem completa a aliança davídica em cumprimento das esperanças de Israel.
Segundo os títulos, Davi foi o autor de 72 Salmos; Asafe, de 12. Os filhos de Coré, 11; Salomão, 2; Moisés e Etã, um cada um. No caso de 45 Salmos, não se menciona seu autor. A versão dos Setenta ou Septuaginta acrescenta Hallel como autores de 6 Salmos.
O valor das inscrições tem sido posto em dúvida, mas é evidente que figuravam muito antes do ano 200 a.C., visto que a Versão dos Setenta, traduzida em torno dessa época, interpretou erroneamente várias das anotações musicais dos títulos. As composições poéticas que figuram nos livros históricos da época do pré-exílio assinalam o uso semelhante de inscrições (Habacuque 3:1; Isaías 38:9; II Samuel 1:17; 23:1). O Salmo 18, atribuído a Davi por sua inscrição, também se diz em II Samuel 22:1 que foi escrito por ele. Esta reputação de Davi como músico é mencionada repetidamente (II Samuel 23:1; I Samuel 16:18; Amós 6:5). Os livros das Crônicas explicam com clareza que Davi organizou coros no templo e compôs Salmos para eles (I Crônicas 16:4-5; 25:1-5). As expressões musicais enigmáticas das inscrições acham-se frequentemente relacionadas pelo livro das Crônicas com este trabalho de Davi (I Crônicas 15:20-21; 16:4; compare os títulos dos Salmos 12, 38, 46; e 105:1; 148:1 e outros). Finalmente, o Senhor Jesus Cristo fundamentou um importante argumento sobre a validez do título do Salmo 110 (Marcos 12:36).
Não parece existir prova positiva contra o ponto de vista tradicional de que a maior parte dos Salmos foi escrita em torno do ano 1000 a.C., como afirmam as inscrições. As novas provas derivadas dos pergaminhos do Mar Morto descartam a ideia de que a escritura de alguns Salmos se estendeu até ao segundo século antes de Cristo conforme o sustentaram alguns exegetas no passado.
Tabela de Salmos e autores:
· Davi: (3 a 9; 11 a 32; 34 a 41; 51 a 65; 68 a 70; 86; 101; 108 a 110; 122; 124; 131; 133; 138 a 145)
· Salomão: (72 e 127)
· Filhos de Coré: (poetas) (42; 44 a 49; 84 e 85; 87 e 88)
· Asafe: (50; 73 a 83)
· Etã: (89)
· Moisés: (90)
· Hallel: (113 a 118)

R. Laird Harris

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Simplificando o Que é Mesmo Ser Cristão



          Sejam fortalecidos em seu coração, estejam unidos em amor e alcancem toda a riqueza do pleno entendimento, a fim de conhecerem plenamente o mistério de Deus, a saber, Cristo. Nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. Eu lhes digo isso para que ninguém os engane com argumentos que só parecem convincentes. Porque, embora esteja fisicamente longe de vocês, em espírito estou presente, e me alegro em ver como estão vivendo em ordem e como está firme a fé que vocês têm em Cristo.
          Portanto, assim como vocês receberam Cristo Jesus, o Senhor, continuem a viver nele, enraizados e edificados nele, firmados na fé, como foram ensinados, transbordando de gratidão.
          Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo.
          Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e, por estarmos nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês receberam a plenitude. Nele também vocês foram circuncidados, não com uma circuncisão feita por mãos humanas, mas com a circuncisão feita por Cristo, que é o despojar do corpo da carne. Isso aconteceu quando vocês foram sepultados com ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.
          Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz, e, tendo despojado os poderes e autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz.
          Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo. Não permitam que ninguém que tenha prazer numa falsa humildade e na adoração de anjos os impeça de alcançar o prêmio. Tal pessoa conta detalhadamente suas visões, e sua mente carnal a torna orgulhosa. Trata-se de alguém que não está unido à Cabeça, a partir da qual todo o corpo, sustentado e unido por seus ligamentos e juntas, efetua o crescimento dado por Deus.
          Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que, como se ainda pertencessem a ele, vocês se submetem a regras: “Não manuseie!”, “Não prove!”, “Não toque!”? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne.
          Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas. Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados em glória.
          Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria. É por causa dessas coisas que vem a ira de Deus sobre os que vivem na desobediência, as quais vocês praticaram no passado, quando costumavam viver nelas. Mas agora, abandonem todas estas coisas: ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente ao falar. Não mintam uns aos outros, visto que vocês se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador. Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos.
          Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito.
          Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração, visto que vocês foram chamados para viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos. Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração. Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai.
   
          (Texto de Colossenses 2:2 a 3:17)

          O apóstolo Paulo fala em circuncisão aos irmãos de Colossos. A circuncisão era – e é ainda hoje – um ritual judaico, que consiste em se cortar o prepúcio do pênis do menino, ao seu oitavo dia de vida, confirmando a aliança do antigo pacto de Deus feito desde o tempo de Abraão, no Antigo Testamento. Por este pacto, a pessoa se tornava parte do “povo de Deus”. Se um estrangeiro quisesse se converter em um judeu, também tinha que passar por esse ritual, independente da idade que tivesse.
          No tempo dessa carta apostólica, os colossenses e outras igrejas recebiam doutrinação de judeus convertidos a Cristo, mas que insistiam nos rituais judaicos. Paulo confirma que só a centralidade em Cristo é o que importa.
          Paulo também compara a incircuncisão espiritual com o estado do estar-se em pecado. Com a conversão a Cristo, somos espiritualmente feitos circuncisos e perdoados, sempre apontando que rituais físicos não importam tanto como eles achavam que importavam, mas, sim, a real aceitação do senhorio de Cristo e a adaptação da vida aos Seus ensinamentos, vivendo-os no corpo e no espírito.
          Assim, ele também alude ao batismo, significando que com ele há a “morte espiritual” do “velho homem” e o “renascimento/ressurreição em Cristo”.
          Cristo é a Cabeça da igreja – e dos cristãos – e estes são as partes do corpo de Cristo, metaforicamente.
          Paulo instrui os cristãos a buscarem as coisas do alto, significando dizer que busquem elevar-se espiritualmente em direção a Deus, para que os mandamentos de Cristo norteiem os comportamentos, os pensamentos e os sentimentos, em contraponto às coisas terrenas e materiais.
          Paulo fala aos cristãos para “suportarem-se uns aos outros”. Gosto muito da compreensão que ensina que este “suportar-se” é “dar suporte”, ou seja, base, força e apoio.
          Neste texto bíblico que compilei acima, vejo um enunciado de um ser-se cristão, de forma bem objetiva.
          Oro para que o que aqui compartilho dê agora também o apoio necessário a quem lê!

          Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
          Saudações,
          Kurt Hilbert

domingo, 9 de dezembro de 2018



Provação é a chave do livro de Jó.
A apresentação claramente visível do livro – prólogo, discurso e epílogo, além dos ciclos dentro dos próprios discursos – demonstra-nos que se trata de uma interpretação teológica de certos acontecimentos da vida de um homem chamado Jó. Do começo até ao fim o autor procura com diligência responder a uma pergunta básica. Qual é o significado da fé?
Chefe tribal de extraordinária piedade e integridade, Jó é abençoado por Deus com prosperidade terrena que o converte no homem “maior do que todos os do oriente” (1:3). De repente, Jó sofre vários reveses de fortuna. Vítima de uma série de grandes calamidades, se vê privado primeiro de seus bens e de seus filhos (1:13-19). Seu corpo se cobre de uma enfermidade repulsiva (2:7). Três amigos, que se apresentam com a intenção evidente de consolar Jó, insistem em que seu sofrimento é castigo pelo pecado e, por isso mesmo, seu único recurso é o arrependimento. Mas Jó repudia com veemência esta solução, afirmando sua integridade, e admitindo, ao mesmo tempo, sua incapacidade de entender sua própria condição. Outro amigo, Eliú, sugere que Jó está passando por um período de disciplina de amor ordenada por Deus, para impedi-lo de continuar pecando. Jó rejeita também esta interpretação. Finalmente, Deus responde às contínuas solicitações de Jó de uma explicação direta de seus sofrimentos. Deus responde, não mediante uma justificação de sua conduta, nem mediante uma solução imediata, mas em virtude de Sua apresentação de Si mesmo com sabedoria e poder. Esta apresentação é suficiente para Jó; observa ele que, por ser Deus quem é, deve haver uma solução, e nela apóia sua fé.
Conquanto o tema do sofrimento e suas causas seja predominante no livro, este preenche um fim mais amplo na mente do autor: o de demonstrar que a certeza da fé não depende das circunstâncias externas nem das explicações conjeturais, mas do encontro da fé com um Deus onipotente e onisciente.
O livro não nos dá indicações certas do autor nem do tempo em que foi escrito. Embora muitos, atualmente, afirmem que foi escrito no exílio ou em época pós-exílio (séculos VI a III a.C.), tradicionalmente tem-se fixado a data na época dos patriarcas (século XVI a.C.), ou nos dias de Salomão (século X a.C.).

Robert B. Laurin

domingo, 2 de dezembro de 2018

O Que Fere o Evangelho?



A injustiça.
O ódio.
O preconceito.
A acepção entre pessoas.
A discriminação.
A pobreza.
A miséria.     
A falta de compaixão.
A acusação falsa.
A mentira.
O medo.
A tirania.
O despotismo.
A tortura.
As ameaças.
Qualquer tipo de dominação por força, ganância, egoísmo.
A indiferença.
A ausência de misericórdia.
A exposição pública.
O olhar altivo.
A intolerância.
A condenação sem provas e um julgamento justo.
Negar a quem quer que seja o: “Nem eu te condeno, vai e não peques mais”.
Cercear a liberdade a quem quer que seja.
Deixar de confrontar quem quer que seja com a verdade, lembrando que  a verdade sem a graça é Lei e a Lei mata.
Fere o Evangelho tudo que há de mal e maldade dentro de cada um de nós, que, se temos o Espírito Santo, temos um aliado também dentro de nós que nos confronta e nos ajuda a não nos corrompermos e a neutralizar o mal e a maldade que há em nós.
Fere o Evangelho, matar, roubar, destruir, adulterar relações, criar inimizades, impedir reconciliações.
Fere o Evangelho desesperançar.
Fere o Evangelho negar o perdão que é graça e é de graça.
Fere o Evangelho não buscar e promover a paz o tempo todo.
Fere o Evangelho não amar.
Claro, falo por mim e pelo modo como entendo e creio no Evangelho, que tem um Nome, que é Boa Notícia do Reino.
Do Reino que tem um Rei a quem sirvo e que, para mim, é o Único Salvador Humano em quem deposito toda minha confiança.
Fiquem à vontade pra incluir o que vocês acham que fere o Evangelho – falo do Evangelho, só do Evangelho.

Um texto de Carlos Bregantim

domingo, 25 de novembro de 2018

Ester



A providência divina é a chave deste livro.
O livro de Ester descreve graficamente as lutas vitoriosas dos judeus dispersos, durante o período do rei persa Assuero, contra as iníquas conspirações de certo primeiro-ministro por nome Hamã. Embora nunca se mencione neste livro o nome de Deus, sua mão se manifesta continuamente em todos os pormenores circunstanciais da narrativa. Ester, por sua beleza, é escolhida rainha em lugar de Vasti; Mardoqueu, em virtude de sua capacidade, toma o lugar de Hamã no cargo de primeiro-ministro. Todos os personagens, desde o rei até ao escravo obsequioso, desempenham seu papel no momento oportuno. Hamã é a encarnação do mal; Mardoqueu, a essência da bondade; Assuero, inflexível, possui também traços vigorosos. Ester, prima de Mardoqueu e sob a tutela deste, converte-se na heroína da história devido à sua boa vontade de arriscar a vida e sua posição, a pedido de Mardoqueu, em benefício de seu próprio povo em época de profunda necessidade.
Não se pode conseguir evidência certa com respeito ao autor do livro de Ester. A paternidade literária tem sido atribuída a vários personagens (Esdras, Joaquim, Mardoqueu, homens da Grande Sinagoga).
Intrinsecamente nada há de improvável em se atribuir o livro a Mardoqueu, destacado personagem guardador dos fatos principais narrados no livro.
Diferentemente das obras de ficção e romance, o livro de Ester está profundamente saturado de história e documentado com datas específicas. Este livro, à semelhança da profecia de Ageu (1:1, 15; 2:1, 10, 20) está datado segundo o reinado de Assuero, a quem se identifica comumente como Xerxes I (485 a 465 a.C.) da antiguidade. Segundo escavações realizadas na era moderna, em Susã, tem-se comprovado de forma substancial a exatidão do autor, que deve ter tido conhecimento pessoal do povo e da história.
Talvez nenhum outro livro da Bíblia tenha sido atacado tão acerbadamente nem com tanta veemência como o livro de Ester. Devido a seu espírito de nacionalismo e vingança, os críticos o têm declarado indigno de ocupar lugar no cânon sagrado. Contudo, se lermos a história com reverência, dependendo humildemente do Espírito Santo para que nos ensine, acharemos verdades que satisfarão nossa mente e edificarão a alma. Quanto mais estudarmos esta história incomparável, tanto mais chegaremos à conclusão de que suas profundas verdades deverão ser desenterradas como se fossem pepitas de ouro.

Wick Broomall

domingo, 18 de novembro de 2018

Encontro com Deus



Questão:
Não consigo entender o que é ter um encontro com Deus. Eu só conheço a Deus de ouvir falar; aliás, já de muito tempo que ouço falar de Deus; ouço testemunho de irmãos que, com tão pouco tempo de convertidos, contam encontros com Deus cinematográficos. Eu fico tão frustrado, pois não sei o que faço. Sinceramente, gostaria de conhecer Deus realmente, de ter uma vida em comunhão com Ele. Quando converso com algumas pessoas, elas dizem para que eu O busque de todo o coração. Acho que não sei como buscar a Deus. Às vezes, acho que Deus não me quer ou que eu não sirvo para Ele. Estou em uma aflição danada.

Resposta:
Muitos cristãos sofrem do seu mal. Sabe qual é? A comparação.
Você já ouviu histórias de amor? Já percebeu que todas elas são diferentes? O que há em comum é apenas o encontro entre os seres. Mas até as manifestações de amor são diferentes. Uns explodem de paixão! Outros sentem o crescimento de algo sólido, inabalável. Outros precisam pensar que “perderam” um amor, a fim de encontrar outro. Há também aqueles que pensam que ainda não haviam achado, até que realizam que haviam sim, só não o sabiam por terem tido “outras referências” a fim de, equivocadamente, balizarem aquilo que não tem parâmetros exteriores: o amor. Esses são os que só descobrem que amavam mesmo, depois que não podem mais voltar, pois, já foram.
Encontrar a Deus não é exatamente assim. É parecido com isto, só que com uma diferença: ninguém se entrega para ser enganado; e muito menos para se enganar. Ninguém se encontra “enganada-mente” com Deus.
Encontrar com Deus é como encontrar a verdade do amor. Vem de muitas formas diferentes, mas realiza o mesmo bem. O problema é que há uma indústria de encontros com Deus, e que toma “referências pessoais”, e tenta fazê-las bens de consumo para todas as almas humanas.
O encontro com Deus não tem seus aferidores do lado de fora. O encontro acontece nos ambientes do coração. E não há parâmetros. Lembra de C. S. Lewis? Ele descreve seu encontro com Deus como algo sem qualquer pirotecnia. Terá sido um encontro inferior ao de Paulo? É claro que não! Quantas pessoas tiveram ou têm, na História da Fé, a mesma experiência de Paulo para contar? Os apóstolos, à exceção de Paulo, foram se convertendo sem sentir.
De fato, sem fé é impossível agradar a Deus. Esse é o problema, pois a fé não necessariamente se faz acompanhar de grandes terremotos ou expressões exteriores. Se assim fosse, não seria fé. Andamos não conforme vemos, mas conforme não vemos. A fé caminha sobre o nada, vê o invisível, e crê naquilo que nunca poderia ser possível para nós mesmos como já sendo nosso. É maravilhoso quando vemos coisas. Quem não gosta? Mas pobre daquele que basear a sua fé em emoções, impulsos, sinais milagrosos, ou qualquer coisa extraordinária!
A palavra-chave é Confiança! Confiança é a fé que se entrega à fidelidade de Deus. Enquanto você chamar para você o estabelecimento da relação com Deus, você apenas sofrerá. Se você andar na Confiança, saberá que a responsabilidade é de Deus. Ele é Aquele que justifica ao que nada fez, mas que creu no amor que justifica aquele que, mesmo não tendo feito por merecer, apareceu para “receber” na hora da Boa Paga, em razão de crer no coração gracioso d’Aquele que tem o que dar a quem não fez por merecer. Afinal, todos não merecem e, por isso, todos precisam da graça de Deus.
Quem entende isso e assim crê, não tem mais essa crise de conhecer ou não a Deus. Eu amo a Deus em Segundo porque Ele me amou em Primeiro. Ele é o Pole Position! Então, relaxe, ande em fé, deixe tudo com Deus, confie, e não se compare com ninguém.
A fé que tu tens, tem-na para ti mesmo! E essa Palavra não está longe. Não está no céu, para que ninguém diga: como farei para trazer Deus à terra? Não está no abismo, para que ninguém diga: como farei para trazer o Salvador dentre os mortos? Pelo contrário, a Palavra está aí, na tua boca e no teu coração! Pois, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e no teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, tu serás salvo, porquanto com o coração se crê para a justificação, e com a boca se confessa acerca dessa já tão nossa salvação!
Quanto ao mais, apenas ande... com Deus!

Um texto de Caio Fábio D’Araujo Filho

domingo, 11 de novembro de 2018

Neemias



Restauração é a chave do livro de Neemias.
Este livro lega-nos uma lição quanto ao sacrifício, à oração e à tenacidade. Neemias, o personagem principal, renunciou a um cargo de responsabilidade e bem remunerado perante o rei da Pérsia, no ano de 445 a.C., a fim de construir os muros de Jerusalém e congregar os judeus como nação (1:1 – 3:32). Seus trabalhos provocaram a intensa oposição de homens poderosos, mas Neemias se sobrepôs às ameaças, adotando sábias medidas defensivas (4:1-23). Solucionou a falta de unidade interna enfrentando o problema mediante exemplo pessoal digno (5:1-19), e resolveu as acusações falsas mediante discernimento e coragem (6:1-14).
Terminada a reconstrução dos muros, tomou medidas para que a cidade estivesse plenamente habitada (6:15 – 7:73), mas, acima de tudo, tomou providências para que Esdras lesse a Lei a fim de que o povo pudesse reger sua vida por ela (8:1-18). Ele e o povo confessaram os pecados nacionais, buscaram o perdão divino, e renovaram a aliança com Deus (9:1 – 10:39). Foi trazida gente da cidade, fizeram-se preparativos para os cultos de adoração, e os muros foram consagrados (11:1 – 12:47). Mas com o decorrer dos anos, o fervor do povo começou a declinar, e Neemias viu-se forçado a introduzir novas reformas, mesmo em face da oposição (13:1-31).
O livro mostra a necessidade da oração e de uma atitude firme na obra de Deus. As orações de Neemias constituem um excelente estudo.
Acredita-se, em geral, que Esdras e Neemias constituíam originalmente um só livro. O compilador emprega aqui as memórias pessoais de Neemias, bem como outros materiais.

J. Stafford Wright

domingo, 4 de novembro de 2018

A Nova Humanidade em Cristo



          Lembrem-se de que anteriormente vocês eram gentios(*) por nascimento e chamados incircuncisão pelos que se chamam circuncisão(**), feita no corpo por mãos humanas, e que naquela época vocês estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel, sendo estrangeiros quanto às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo. Mas agora, em Cristo Jesus, vocês, que antes estavam longe, foram aproximados mediante o sangue de Cristo(***).
          Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro da inimizade, anulando em seu corpo a Lei dos mandamentos expressa em ordenanças. O objetivo dele era criar em si mesmo, dos dois, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliar com Deus os dois em um corpo, por meio da cruz, pela qual ele destruiu a inimizade. Ele veio e anunciou a paz a vocês que estavam longe e paz aos que estavam perto, pois por meio dele tanto nós como vocês temos acesso ao Pai, por um só Espírito.
          Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor. Nele vocês também estão sendo edificados juntos, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito.

          (Texto de Efésios 2:11-22)

          (*) Gentios eram chamados aqueles que não eram judeus.
          (**) Circuncisão era o ato feito no menino ao oitavo dia de vida, cortando-se o prepúcio do pênis, ato este realizado desde os tempos de Abraão. Nos tempos desta carta aos efésios, significava que aquela pessoa agora era oficialmente judia. Quem desejasse entrar para a religião judaica, convertendo-se em judeu, teria que ser circuncidado, seja qual fosse a sua idade.
          (***) Pela fé em Cristo, para os cristãos, por óbvio, não é mais necessária a circuncisão, pois já passamos das práticas rudimentares da religião para a vida em Espírito. O sangue de Cristo, ou seja, Sua morte – e ressurreição – proporciona a todo aquele que crê n’Ele e orienta sua vida segundo Seus ensinamentos, uma nova humanidade justamente n’Ele, em Cristo Jesus.
          Devemos entender que os irmãos da igreja em Éfeso eram gentios de origem (portanto, não-judeus) e eram fustigados pelos legalistas judeus a seguirem os preceitos da Lei de Moisés. Paulo, em sua carta, lhes ensina que em Cristo a Lei foi cumprida e que, n’Ele, ela se anulara em seus preceitos de ritos e mandamentos de “pode/não pode”. Isso nos ensina que tudo aquilo que está no Antigo Testamento – visto que por Cristo se fez o novo Testamento – e que não se coaduna com o modo de ser de Jesus fica obsoleto, ou seja, tem validade histórica e informativa, mas já não tem validade espiritual. Aquilo que se coaduna com o modo de ser de Jesus, seja no Antigo Testamento ou onde estiver, fica com toda a validade espiritual garantida.
          Jesus é a Palavra e a Palavra é Jesus. Assim, é a partir de Jesus que podemos e devemos ler “toda” a Escritura Sagrada. Jesus é nossa chave interpretativa, é por Ele que nos orientamos em tudo na vida – inclusive na absorção da Bíblia. É isso que nos ensinam as leituras dos Evangelhos, dos atos e das cartas dos apóstolos constantes no Novo Testamento, bem como é para isto que apontam todas as profecias e descrições constantes no Antigo.
          Em Cristo somos aproximados de Deus e uns dos outros. Jesus, por Seus ensinamentos, Sua morte e ressurreição, desfez a barreira que nos separava de Deus – e que nos separa uns dos outros. Por e em Jesus somos renovados, temos “acesso” a Deus por meio d’Ele, fazemos parte de uma nova família – a dos filhos de Deus. Por e em Jesus, Deus faz morada em nós, por Seu Espírito. Somos a Sua Igreja, estejamos onde estivermos, desde que permaneçamos irmanados e unidos em fé, orientando nossa vida por e em Jesus.
          Somos, assim, uma nova humanidade em Cristo.

          Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
          Saudações,
          Kurt Hilbert

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Esdras



Este livro contém quase tudo o que se sabe da história dos judeus entre o ano de 538 a.C., quando Ciro, o persa, conquistou a Babilônia, e o ano de 457 a.C., quando Esdras chegou a Jerusalém. Note-se a conexão de 1:1-3 com o final do livro das Crônicas.
Observa-se que a mão de Deus faz que o rei Ciro permita aos judeus regressarem do exílio babilônico a fim de reconstruir o templo em ruínas (1:1-11). Contudo, muitos foram os judeus que preferiram as comodidades da civilização babilônica às vicissitudes da Judeia açoitada pela pobreza (2:1-70). Os que voltaram, começaram a dar preeminência a Deus (3:1-13), embora tenham permitido que o inimigo fizesse paralisar a reedificação do templo e da cidade (4:1-24). Decorridos dezesseis anos, verificou-se o avivamento em virtude da pregação de Ageu e de Zacarias, e o templo foi completado por volta do ano de 516 a.C., a despeito de novas oposições (5:1 – 6:22).
No ano de 457 a.C. interrompe-se um silêncio de quase sessenta anos, com a chegada de Esdras (7:1-10), comissionado pelo rei persa para ensinar a Lei judaica e pô-la em vigor (7:11-28). Esdras reuniu uma nova geração de exilados para o acompanharem e realizou a perigosa viagem sem escolta (8:1-36). Quase de imediato se vê às voltas com o problema suscitado pelos casamentos entre judeus e pagãos, e depois de oração e confissão, pôde conseguir o apoio da maioria do povo mediante um profundo exame deste escândalo, inspirando as pessoas a fazerem uma nova aliança com o Senhor (9:1 – 10:44).
O livro demonstra a forma pela qual Deus emprega os governantes pagãos para cumprir Seus fins, proporcionando ânimo e ao mesmo tempo advertência ao povo de Deus. Podem estar atemorizados pela oposição, quando Deus quer que avancem; talvez estejam contentes com os padrões de vida do mundo pagão; ou, talvez, tenham a mesma fé revelada por Esdras e pelos profetas.
Não se conhece o autor ou compilador deste livro, mas poderia ser o próprio Esdras. Empregou documentos existentes para fazer uma crônica dos acontecimentos que ele não presenciou pessoalmente. Duas seções do livro estão escritas em aramaico (4:8 – 6:18 e 7:12-26). Este idioma semítico era empregado comumente em todo o Oriente Próximo naquela época.

J. Stafford Wright

sábado, 27 de outubro de 2018

O Filho do Homem e Cordeiro de Deus



          Mateus 18:11
          “O Filho do homem veio para salvar o que havia se perdido”.

          Jesus chama a Si mesmo de “Filho do homem” – com F maiúsculo para Filho –, significando que Ele tinha também, além da natureza e essência divinas, a natureza humana.
          Significava também que Ele usava uma expressão muito conhecida nas Escrituras do Seu tempo. Esta expressão constava dos Salmos e dos Profetas. Especialmente, o profeta Ezequiel a usava em profusão – ainda que a usasse como “palavra do Senhor” referindo-se a ele, o profeta. Daniel também usa a expressão “filho do homem”, referindo-se, porém, não a ele, mas a alguém celestial com esta aparência.
          Jesus também foi chamado de “Cordeiro de Deus”, em várias passagens. Referências vêm desde o profeta Isaías, passando por outras tantas abordagens. O eunuco estava lendo esta passagem da Escritura: “Ele foi levado como ovelha para o matadouro, e como cordeiro mudo diante do tosquiador, ele não abriu a sua boca. Em sua humilhação foi privado de justiça. Quem pode falar dos seus descendentes? Pois a sua vida foi tirada da terra” (Atos 8:32-33). Depois ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que neles há, que diziam: “Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo o sempre!” (Apocalipse 5:13). Estas referências aludiam ao fato de Jesus ser o sacrifício definitivo em substituição ao homem, que Deus fazia de Si para Si mesmo, em representação de todo homem.
          O fato de Jesus ser apresentado como o “substituto” tem também uma conotação histórica e cultural. O conceito de alguém servir de “substituto” para outro alguém era conhecido da cultura hebraica, posto que no Antigo Testamento há inúmeros relatos onde o sacrifício do homem é “substituído” pelo sacrifício de algum animal para a expiação dos pecados – não do animal, mas do homem ao qual ele substituía, sofrendo a pena de morte em seu lugar. Também os romanos – que dominavam sobre Israel nos tempos terráqueos de Jesus – conheciam bem o conceito de um “substituto” sofrer a pena em lugar de alguém.
          Aí chego ao ponto onde queria chegar: falar sobre o porque de Jesus ser o Filho do homem e o Cordeiro de Deus.
          No Antigo Testamento – como falado há pouco – , nos sacrifícios no templo, um cordeiro e outros animais eram sacrificados pelos pecados dos sacerdotes e do povo. “Venha até o altar e ofereça o seu sacrifício pelo pecado e o seu holocausto, e faça propiciação por você mesmo e pelo povo; ofereça o sacrifício pelo povo e faça propiciação por ele, conforme o SENHOR ordenou” (Levítico 9:7).
          Jesus veio como o sacrifício definitivo pela humanidade, ato no qual se dava o perdão definitivo àqueles que O buscassem e ato que reconciliava o ser humano com Deus. No dia seguinte João viu Jesus aproximando-se e disse: “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1:29). Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida! Não apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a reconciliação (Romanos 5:10-11).
          Assim, Jesus é o Filho do homem porque Ele é você e eu na substituição na cruz. Pelos nossos pecados, nós deveríamos estar sofrendo a pena da condenação. Todavia, Ele está em nosso lugar. Ele nos representa. Assim como somos filhos dos homens, Ele também o é – no sentido latente de que, tanto nós como Ele, somos constituídos da mesma essência humana como homo sapiens. A diferença entre nós e Ele, no entanto, é óbvia: Ele é homem e Deus concomitantemente; nós somos homens. Ele era divino e humano; nós, humanos. Ele não pecou; nós pecamos. Somente alguém sem pecados poderia vencer o pecado – e a morte –, assim, ressuscitando dos mortos.
          Esta reconciliação se deu desde sempre. Apocalipse 13:8 nos diz assim: ... Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo. Assim, a Criação já se deu sob o signo da reconciliação e do perdão. No tempo/geografia/história, o Cristo – o Filho do homem e Cordeiro de Deus – foi imolado há dois mil anos em Israel, porém, em termos escatológicos – de salvação –, isto se deu fora do tempo/espaço, visto que a Criação já se deu com o perdão divino “pronto”.
          A Criação foi “criada” já previamente com a condição de – mediante o Cristo – estar perdoada e reconciliada, pacificada em Deus. Deus não “perdeu o controle” da Criação quando esta foi acometida pelo pecado. Poderia parecer que sim, que algo Lhe tivesse escapado. Mas como algo poderia escapar a Deus? Deus, já sabendo de tudo, de antemão preparou o “mecanismo” – esta é a palavra que melhor se encaixa aqui – para reunir tudo e todos de forma pacificada e reconciliada a Ele – por e em Cristo. Quando Jesus disse, na cruz, que tudo “está consumado”, era disso que Ele falava: se cumpria naquele momento histórico o que já estava determinado e cumprido mesmo antes da história e do tempo existirem.
          Esta é uma revelação única que só o Evangelho tem – nenhuma espiritualidade ou religiosidade humana a oferecem nem a podem oferecer, pois vem de Deus, para Deus e para a humanidade!
          Esta é uma condição única que só Cristo oferece. Por isso Ele é o Caminho, a Verdade e... a Vida!

          Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
          Saudações,
          Kurt Hilbert