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domingo, 31 de janeiro de 2021

Dias Difíceis


 

Decepções são o resultado de expectativas exageradas sobre algo ou alguém.

Sabendo disto, até sobre mim mesmo, mantenho as expectativas em níveis moderados, pois não é raro me decepcionar comigo mesmo.

Aprendi lidar com expectativas mínimas sobre tudo e todos, sim, pois as decepções ou frustrações mais doídas acontecem quando imagino que deveria ter um retorno sobre algo ou alguém e isto não aconteceu.

Estou sempre avaliando minhas motivações pra não me decepcionar, digo, à medida que meus movimentos são por amor, por amar, por desejar servir e nisto ter alegria, certamente, nunca me decepcionarei.

Por outro lado, aprendi a conviver com decepções, pois, antes de reagir contra o que e quem imagino que tenha me decepcionado, lembro-me que já decepcionei muitos, e é provável que esteja decepcionando alguém agora ou, em algum momento, irei decepcionar, e nem sempre posso fazer algo a respeito.

Criei dentro de mim uma disposição pra reconhecer movimentos decepcionantes e, se possível e quando possível, pedir perdão, tentar corrigir e, se for o caso, até ressarcir o decepcionado ou decepcionada.

Reconheço que estou vivendo os dias mais difíceis da minha vida, pois os tempos são difíceis, houve mudanças que ainda não assimilei, não compreendi o suficiente.

Há ineditismos em todas as áreas da vida, em todos os segmentos, e ainda não dei conta de me atualizar e fazer as reinterpretações necessárias pra discernir este tempo.

Apego-me ao Evangelho, pois, pra mim, é o aferidor mais seguro que tenho pra me reler e reler a vida e encontrar saídas saudáveis e construtivas.

Minha humanidade tem sido colocada à prova todos os dias e há muita confusão no ar, e sou dos que busca todos os dias e cada dia melhorar como ser humano.

O Evangelho me trouxe até aqui e me tornou o ser humano que sou, e pretendo ir adiante seguindo e segundo o que o Evangelho propõe pra vida, minha vida e as vidas de tantos que estão à minha volta.

Uma coisa sei: não decepciono o meu Senhor, pois Ele sabe mais de mim do que eu mesmo sei e Ele nunca me decepciona, pois sei que Ele me deseja mais do que eu a Ele.

Começo e encerro cada dia com meu coração em paz, pois sei que tentei seguir o caminho aplicando na vida o que me cabe nestes difíceis dias.

E o que me cabe é amar, me deixar amar, acolher o amor e fazer do amor o pavimento que me levará sempre a lugares seguros.

Amando oro, amando perdoo, amando reparto, amando trabalho, amando comungo com alguns com os quais me identifico na fé simples, amando busco fazer o bem sem nenhuma acepção.

O amor nunca me decepciona.

Estes são dias difíceis, dias decepcionantes, estes são dias de amar ainda mais.

 

Um texto de Carlos Bregantim

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

47 – As Dez Virgens (Mateus 25)

 

“O1(versículo) Reino dos céus será, pois, semelhante a dez virgens que pegaram suas candeias e saíram para encontrar-se com o noivo. Cinco2 delas eram insensatas, e cinco eram prudentes. As3 insensatas pegaram suas candeias, mas não levaram óleo. As4 prudentes, porém, levaram óleo em vasilhas, junto com suas candeias I. O5 noivo demorou a chegar, e todas ficaram com sono e adormeceram”.

“À6 meia-noite, ouviu-se um grito: ‘O noivo se aproxima! Saiam para encontrá-lo!’”

“Então7 todas as virgens acordaram e prepararam suas candeias. As8 insensatas disseram às prudentes: ‘Deem-nos um pouco do seu óleo, pois as nossas candeias estão se apagando’”.

“Elas9 responderam: ‘Não, pois pode ser que não haja o suficiente para nós e para vocês II. Vão comprar óleo para vocês’”.

“E10 saindo elas para comprar óleo, chegou o noivo. As virgens que estavam preparadas entraram com ele para o banquete nupcial. E a porta foi fechada”.

“Mais11 tarde vieram também as outras e disseram: ‘Senhor! Senhor! Abra a porta para nós!’”

“Mas12 ele respondeu: ‘A verdade é que não as conheço!’”

“Portanto13, vigiem, porque vocês não sabem o dia nem a hora!”

 

v     Para entender a história

A parábola transmite uma mensagem semelhante à de “O Servo Fiel e o Servo Mau”. Os indivíduos são responsáveis por seus atos; eles não podem livrar-se “pedindo emprestado” a outros. Jesus quer seus seguidores preparados e atentos para a sua volta; do contrário, se arriscarão a serem excluídos do Reino do céu.

 

v     Curiosidades

                                      I.     “Óleo em vasilhas, junto com suas candeias” – As candeias (lâmpadas) usadas para cortejos externos eram tochas feitas de trapos embebidos em óleo, fixados na ponta de uma haste de madeira. Elas davam bastante luz, mas por pouco tempo. Então, as extremidades tostadas dos trapos eram aparadas e se punha mais óleo.

                                   II.     “Pode ser que não haja o suficiente para nós e para vocês” – As virgens (damas de honra) “prudentes” não estão sendo egoístas. Elas sabem que, se dividirem seu óleo com as outras, o cortejo inteiro passa e todas elas estariam mergulhadas na escuridão.

 

- Jarros de óleo: O óleo era passado de jarros grandes, em que era armazenado, para jarros pequenos, facilmente carregáveis pelas pessoas, de uso diário.

- As dez virgens: Essas mulheres solteiras eram “damas de honra” que ajudavam a noiva a se preparar para o casamento. Isso se fazia sempre à noite. Além disso, elas tinham a incumbência de esperar o noivo e acompanhá-lo à cerimônia de casamento.


Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS. 

domingo, 24 de janeiro de 2021

A Prática da Oração


  

Você pode aferir a saúde da sua espiritualidade, se ela é uma espiritualidade que pratica a oração. O nosso exemplo, como sempre, é Jesus: Enquanto orava, a aparência de seu rosto se transformou, e suas roupas ficaram alvas e resplandecentes (Lucas 9:29).

Espiritualidade que não passa pela oração, é meditação. Paul Tillich disse, no fim da vida, que uma coisa estranha acontecera com ele: à medida que ele enveredara por sua perspectiva teológica semi-existencialista, ele deixara de orar; não conseguia mais orar. Tudo quanto fazia, agora, era meditar. Espiritualidade que não ora não é espiritualidade.

 É verdade que, no verdadeiro cristianismo, a vida se converte em oração, mas isso não nos faz prescindir dos momentos de entrada solitária no recôndito da casa, na solidão de um lugar, para vergar joelhos, para estar diante de Deus, todos os dias, e falar com Ele. Falar com Deus sobre Ele e por causa d’Ele, falar acerca daquilo que nos oprime e falar sobre nós mesmos. Estas são as três perspectivas de oração dos salmos. Nos salmos, as pessoas oram a Deus por causa de Quem Deus É, falam com Deus por causa dos inimigos que os oprimem e falam consigo mesmos, na presença de Deus: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?”

Se não houver essa oração, a espiritualidade está trôpega, aleijada e manca.

Cristo faz da vida uma oração. Não apenas a oração passa a ser a chave do dia e a tranca da noite, mas transforma-se no próprio ato de viver.

Jesus ensina que as mãos oram quando servem em amor, e que a vida é uma prece dramática e coreografada pelas atitudes e se transformam em oração positiva a favor dos interesses do Reino de Deus.

No entanto, não apenas o existir é uma oração, mas também deve intensificar-se na forma e nas expressões cotidianas do corpo que se ajoelha na presença de Deus, numa hora específica, quando a alma, o corpo e o espírito balbuciam as orações e súplicas diante do Pai.

A este respeito, a Escritura nos diz que Jesus orava sistematicamente. Quando Se via premido pelos múltiplos afazeres do dia e da semana, convidava os Seus discípulos para um tempo de descanso e oração. Havia muita gente indo e vindo, a ponto de eles não terem tempo para comer. Jesus lhes disse: “Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco”. Assim, eles se afastaram num barco para um lugar deserto (Marcos 6:31-32). Tal projeto não excluía, porém, a possibilidade de uma interrupção pelos clamores e aflições de uma multidão doída e faminta, que ansiava pelas mãos pródigas de Jesus. Mas muitos dos que os viram retirar-se, tendo-os reconhecido, correram a pé de todas as cidades e chagaram lá antes deles. Quando Jesus saiu do barco e viu uma grande multidão, teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar-lhes muitas coisas (Marcos 6:33-34). Assim, o tempo de oração podia ser interrompido, mas nunca o objetivo de estar diante de Deus. E, após atender as carências humanas, Ele retorna ao ponto inicial, ao objetivo maior do dia, ou seja, estar na presença de Deus, sozinho, em oração. Logo em seguida, Jesus insistiu com os discípulos para que entrassem no barco e fossem adiante dele para Betsaida, enquanto ele despedia a multidão. Tendo-a despedido, subiu a um monte para orar (Marcos 6:45-46).

O local não era necessariamente importante, desde que oferecesse a tranqüilidade necessária. Podia ser qualquer monte, em volta do mar da Galileia. Jesus tomou consigo a Pedro, João e Tiago e subiu a um monte para orar (Lucas 9:28).

Mesmo a aridez de um deserto foi para Jesus um fértil lugar de oração. Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto (Lucas 4:1). De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi a um lugar deserto, onde ficou orando (Marcos 1:35).

E Jesus chega a enfatizar o fato de que a solidão dos lugares acentua ainda mais o sentimento da presença de Deus. Mas Jesus retirava-se para lugares solitários, e orava (Lucas 5:16).

Tanto fazia, deserto ou jardim. O importante era orar, pois o que Deus faz florescer no coração pode brotar em qualquer lugar, desde que se esteja orando. Tendo terminado de orar, Jesus saiu com os seus discípulos e atravessou o vale do Cedrom. Do outro lado havia um olival, onde entrou com eles (João 18:1).

Jesus, todavia, não orava sempre sozinho. Havia momentos em que convidava amigos especiais para compartilharem um tempo de oração. Nestes encontros a glória foi manifestada. Enquanto orava, a aparência de seu rosto se transformou, e suas roupas ficaram alvas e resplandecentes (Lucas 9:29). Mas também foram manifestados o choro e a angústia. Então Jesus foi com seus discípulos para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: “Sentem-se aqui enquanto vou ali orar”. Levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes então: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo” (Mateus 26:36-38).

Para Jesus, toda hora é hora de oração. As madrugadas ouviram a Sua voz diante do Pai. De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi a um lugar deserto, onde ficou orando (Marcos 1:35). E, na escuridão, Sua presença clareava a noite pelo fulgor que de Sua face procedia.

Também ao pôr-do-sol Sua voz se erguia em oração. Uma grande decisão e uma opção definitiva eram motivos mais que suficientes para que uma noite inteira fosse gasta em súplicas. Num daqueles dias, Jesus saiu para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze deles, a quem também designou como apóstolos (Lucas 6:12-13).

Dependendo da ocasião, Jesus podia dedicar-Se a uma longa oração, ou proferir uma rápida e objetiva súplica. Jesus olhou para cima e disse: “Pai, eu te agradeço porque me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves, mas disse isso por causa do povo que está aqui, para que creia que tu me enviaste” (João 11:41-42). A coreografia do Seu corpo durante a prece compunha-se de gestos humildes: prostrava-Se em terra. Indo um pouco mais adiante, prostrou-se e orava (Marcos 14:35). Ao intensificar a agonia, intensificava-se também o Seu clamor. Estando angustiado, ele orou ainda mais intensamente; e o seu suor era como gotas de sangue que caíam no chão (Lucas 22:44).

Presentemente, há duas maneiras bem definidas de se entender a oração: há aqueles que a veem como um ritual devocional, com o qual se deve começar bem o dia; é como levantar com o “pé direito”. Para tais pessoas, não importa se alguém esteja morrendo naquele mesmo instante a espera delas, pois acham essencial não deixar de orar no tempo marcado. Pensam que Deus se compraz num tempo de oração que rouba de alguém um alívio. Este é um ponto de vista legalista em relação à oração. Por outro lado, há aqueles que não oram e que, na sua luta contra o legalismo da oração, deixam-se levar por uma espécie de antinomianismo devocional. E simplesmente não oram.

Com Jesus, no entanto, aprendemos que o discípulo deve segui-Lo ao lugar de oração. O Seu convite – “segue-me” – inclui também os momentos diários de prece. Sem oração, o discípulo é ativista, mas não discípulo. E o que retiramos do exemplo de Jesus é que, evitando qualquer legalismo, não nos deixemos enlaçar pelo descompromisso com a oração.

Como anda a sua vida de oração?

 

Um texto de Caio Fábio D’Araújo Filho

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

46 – O Servo Fiel e o Servo Mau (Mateus 24)


 

“Portanto,42(versículo) vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor I. Mas43 entendam isto: se o dono da casa soubesse a que hora da noite o ladrão viria II, ele ficaria de guarda e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Assim,44 vocês também precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que vocês menos esperam”.

“Quem45 é, pois, o servo fiel e sensato, a quem seu senhor encarrega dos de sua casa para lhes dar alimento no devido tempo? Feliz46 o servo que seu senhor encontrar fazendo assim quando voltar. Garanto-lhes47 que ele o encarregará de todos os seus bens. Mas48 suponham que esse servo seja mau e diga a si mesmo: ‘Meu senhor está demorando’ III, e49 então comece a bater em seus conservos e a comer e a beber com os beberrões. O50 senhor daquele servo virá num dia em que ele não o espera e numa hora que não sabe. Ele51 o punirá severamente e lhe dará lugar com os hipócritas, onde haverá choro e ranger de dentes IV”.

 

v     Para entender a história

Jesus voltará no “fim dos tempos”, e Deus fará o seu julgamento final. Mas Jesus não quer que as pessoas se preocupem com isso. Sua mensagem é “viver cada dia como se fosse o último”, pois as pessoas serão julgadas segundo suas vidas e ninguém sabe quando a morte virá.

 

v     Curiosidades

                                      I.     “Vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor” – Jesus insiste com seus seguidores para estarem sempre prontos para o “dia do juízo”. Nem mesmo ele sabe quando este dia virá.

                                   II.      “Se o dono da casa soubesse a que hora da noite o ladrão viria” – O “ladrão” é a morte. As pessoas serão julgadas conforme estiverem vivendo na ocasião da morte. Ninguém tem certeza de quando isso ocorrerá; portanto, é preciso estar sempre pronto.

                                III.     “Meu senhor está demorando” – Os seguidores de Jesus nem sempre terão sua presença física para guiá-los. Ele alerta os discípulos de que seu retorno para o “dia do juízo” pode demorar. Eles não devem ser como o “servidor mau”, que só atende ao seu senhor quando supervisionado.

                                IV.     “Ranger de dentes” – Jesus está descrevendo em parábola uma visão do inferno, provavelmente baseado no Vale Hinnon, depósito de lixo de Jerusalém, onde o fogo queimava sem parar e cães ferozes “rangiam os dentes”, disputando resíduos.


Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.

domingo, 17 de janeiro de 2021

Quem Há Como Deus?


  

Jeremias 10:6-7

Não há absolutamente ninguém comparável a ti, ó SENHOR; tu és grande, e grande é o poder do teu nome. Quem não te temerá, ó rei das nações? Esse temor te é devido. Entre todos os sábios das nações e entre todos os seus reinos não há absolutamente ninguém comparável a ti.

 

Busca-se a altura excelsa, a altura das alturas, e depara-se com o orgulho, que em si mesmo procura a altura, a altura incomparável. Diz-se mesmo que o “pecado do diabo” foi o orgulho, e por isso caiu da altura de que caiu. No entanto, só Deus é excelso em Si mesmo, e Ele, sim, está na altura das alturas, acima de tudo e de todos, acima mesmo do acima.

Há a ambição inerente aos homens, e o que buscam, senão honras e glórias? No entanto, somente Deus há a ser honrado e glorificado para sempre.

Os homens buscam ser temidos, respeitados e mesmo reverenciados e, normalmente, o fazem pela imputação do temor. No entanto, Quem há senão Deus a ser temido, respeitado e mesmo reverenciado? E não o é imputando temor por temor, senão amor incondicional, amor este que nos constrange a amar de volta, amar a Deus, e amar a Deus no próximo, que é o mais curto e rápido alcance do amor a ser dado.

O acarinhamento e os afagos da vida e na vida são sofregamente buscados pelos humanos, com a justificativa de abrandar-se a carência. No entanto, não há nada mais carinhoso que a caridade divina, nem Quem ame de modo mais salutar, de forma mais formosa e resplandecente.

A curiosidade impele o homo sapiens ao amor pela ciência. No entanto, só em Deus por Cristo Jesus há a plenitude do conhecimento.

Até mesmo a estultícia e a ignorância travestem-se com as alcunhas de ingenuidade e simplicidade. No entanto, não há ninguém tão manso e humilde de coração quanto o Mestre de nossas almas. Até mesmo o castigo aos nossos pecados, Ele se nos aplica com dor n’Ele e com pena de nós, mas com a firme resolução divina que são atos de amor, uma vez que disciplinam aos Seus filhos.

A indolência é algo pretendido por muitos irmãos humanos neste terceiro e azul planetinha do nosso sistema solar. Quer-se, a todo custo e sem custo, entregar-se o homem a um estado acima das paixões e dores inerentes, deleitando-se, assim, no descanso, na impassibilidade, na indiferença, na ataraxia. No entanto, que mais belo e sublime descanso poderia haver, senão o descanso no Senhor?

O ser humano adora entregar-se à fartura, fantasiada de luxo até. Dá-lhe alguma sensação de segurança e intangibilidade pelas agruras. No entanto, só em Deus há a plenitude, a fartura e abundância, embebida em inesgotável e eterna suavidade.

A prodigalidade é, sem dúvida, louvada pela sociedade, embelezada pela capa da liberalidade e leve ato de desapego, doação e compartilhamento. No entanto, somente Deus é verdadeiramente o doador de tudo o que há, e de graça por graça.

A avareza, travestida de ambição, quer possuir muitas coisas, talvez tudo, se pudesse. E, normalmente, quem quer possuir é possuído pelo objeto da possessão. No entanto, só Deus possui todas as coisas, e por nenhuma é possuído.

A inveja busca legitimar todos os atos de conquista. No entanto, sem Deus nada se conquista de fato, e somente n’Ele conquistamos a Eternidade, posto que Ele a tem conquistado por nós.

A ira busca a vingança, travestida, muitas vezes, de justiça. No entanto, somente em Deus pode subsistir a vingança sem que ela seja injusta, pois somente Deus pode transformar a Sua vingança em santa justiça. E, em Deus, até a vingança é a morte do pecado e do afastamento do Divino, sendo, assim, o triunfo sublime da justiça em amor por todos os humanos.

Na mente/alma/coração humanos existe o medo do repentino, do inesperado, do insólito e contundente ataque/assalto do mal que se não espera. No entanto, em Deus podemos estar refugiados de qualquer ataque e, n’Ele, até o repentino e inesperado é eterna e esperadamente conhecido d’Ele; afinal, Deus sabe. Sempre sabe. Para Ele nada há de inesperado.

O ser humano sempre teme perder o amor, o objeto do amor, sempre teme não ser amado e, por medo, torna-se incapaz de amar sem medo. No entanto, o que poderia nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus? N’Ele, estamos e somos sempre amados, e sempre capacitados a amar.

Humanamente, quer-se segurança. No entanto, onde ou em quem, senão em Deus, encontra-se hermética, impenetrável e inabalável segurança?

Convivemos com a tristeza, que se apresenta e se dá a sentir pela sensação de perda das coisas nas quais, com a cobiça travestida de ambição e orgulho, nos deleitamos. Tememos e nos entristecemos pela sensação que temos que aquilo que amamos pode ser tirado de nós. No entanto, como poderíamos nós ser tirados de Deus? Se n’Ele estamos, então já não poderia haver tristezas.

Assim, pecamos quando buscamos fora de Deus o que só n’Ele pode ser achado.

E que alegria tem Deus quando, refeitos e arrependidos do pecado do afastamento, tal qual um filho pródigo, retornamos a Ele para não mais sair do Seu lado!

Assim, quem há como Deus?

E quem há como nós, quando n’Ele estamos?

 

(Passeando em “Confissões de Santo Agostinho”, fui tocado por algumas palavras de lá, às quais transformei e acrescentei algumas pinceladas – ou seriam digitadas? – minhas, e saiu em forma final este texto aí de cima, que compartilho).

 

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.

Saudações,

Kurt Hilbert

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

45 – O Fim dos Tempos (Mateus 24)


 

 Jesus1(versículo) saiu do Templo e estava se afastando quando os discípulos se aproximaram para chamar sua atenção para as construções. “Vocês2 estão vendo tudo isto?”, perguntou ele. “Eu lhes garanto que não ficará aqui pedra sobre pedra I; serão todas derrubadas”.

Estando3 Jesus sentado no Monte das Oliveiras II, os discípulos vieram e lhe falaram à parte: “Dize-nos, quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal da tua vinda e do fim dos tempos?”

Respondeu4 ele: “Cuidado, que ninguém os engane III. Pois5 muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Eu sou o Cristo!’ e enganarão a muitos. Vocês6 ouvirão falar de guerras e rumores de guerras, mas não tenham medo... Nação7 se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá fome e terremotos em vários lugares”.

“Assim26, se alguém lhes disser: ‘Ele está lá, no deserto!’, não saiam; ou: ‘Ali está ele, dentro da casa!’, não acreditem. Porque27 assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra no Ocidente, assim será a vinda do Filho do homem”.

“Imediatamente29 após a tribulação daqueles dias ‘o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados”.

“Então30 aparecerá no céu o sinal do Filho do homem IV, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. E31 ele enviará os seus anjos com grande som de trombeta V, e estes reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus”.

“Aprendam32 a lição da figueira: quando seus ramos se renovam e suas folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está próximo. Assim33 também, quando virem todas estas coisas, saibam que ele está próximo, às portas. Eu34 lhes asseguro que não passará esta geração até que todas estas coisas aconteçam. Os35 céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão”.

“Quanto36 ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai. Como37 foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem. Pois38 nos dias anteriores ao Dilúvio, as pessoas... nada39 perceberam, até que veio o Dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem. Dois40 homens estarão no campo: um será levado e o outro deixado. Duas41 mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será levada e a outra deixada VI”.

 

v     Para entender a história

Os discípulos não faziam distinção entre os dois eventos de que Jesus fala. O primeiro “fim dos tempos” é a iminente destruição de Jerusalém. O segundo é o dia do juízo final de Deus. Jesus diz aos discípulos que estejam sempre prontos, pois o fim chegará sem avisar.

 

v     Curiosidades

                                      I.     “Não ficará aqui pedra sobre pedra” – No tempo de Jesus, o Templo de Herodes era uma construção magnífica, embora só viesse a ser completada no ano 64. A predição de Jesus se cumpriu no ano 70, quando os romanos cercaram Jerusalém e destruíram o Templo. A sua destruição simbolizava o fim da velha ordem, substituída pela Igreja – Templo novo, vivo.

                                   II.     “Monte das Oliveiras” – O Monte das Oliveiras é um espigão de colina atrás do Vale Kidron. Ele se eleva a uma altura de cerca de 800m e proporciona uma excelente vista de Jerusalém. Foi lá que o profeta Ezequiel teve uma visão “da glória do Senhor” (Ezequiel 11:23).

                                III.     “Cuidado, que ninguém os engane” – Nos turbulentos anos que precederam a rebelião judaica (66 d.C.), muitos se apresentaram como libertadores do domínio romano. Jesus alertou os discípulos para se acautelarem desses falsos líderes e não confundirem o papel do Messias com o de um libertador político.

                                IV.     “O sinal do Filho do homem” – Trata-se de uma descrição do retorno final de Jesus à terra. A passagem retoma as imagens tradicionais usadas na profecia de Daniel (Daniel 7:13-14), que anteviu o julgamento de Deus no fim dos tempos.

                                   V.     “Ele enviará os seus anjos com grande som de trombeta” – A palavra “anjo” significa “mensageiro”. Os anjos atuam como agentes de Deus. Eles serão enviados com poder divino para anunciar por todo o mundo o seu julgamento.

                                VI.     “Uma será levada e a outra deixada” – No fim dos tempos, as pessoas serão separadas. Os que agem com fé e correção receberão a salvação espiritual; os que forem deixados, não.

 

Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.

domingo, 10 de janeiro de 2021

Todos São Todos Mesmo!


 

Salmo 145:14

O SENHOR ampara todos os que caem e levanta todos os que estão prostrados.

 

A promessa desta Palavra é muito ampla.

Não se restringe a um povo – como foi o caso do povo hebreu no Antigo Testamento.

Nem se restringe a apenas uma outra facção descrita no Novo Testamento: os discípulos primevos e a então Igreja diretamente guiada pelos apóstolos, nomeados e enviados por Jesus para deixarem, além da doutrina do Mestre, também a assim chamada “doutrina dos apóstolos” que está lançada basicamente em algumas partes do livro dos Atos e, especialmente, nas epístolas apostólicas.

Nem ainda esta Palavra se restringe à continuidade da Igreja, já sem os apóstolos e guiada por diversas lideranças, que se uniram, se separaram em cismas, fizeram guerras entre si e contra outras formas de fé, assumiram diversos dogmas e doutrinas em suas denominações, enfim, à cristandade de ontem e de hoje.

A Palavra hoje usada como mote deste texto não se resume, desta forma, nem apenas ao mundo judaico-cristão nem a alguma denominação em particular.

A Palavra em questão se estende muito além de fronteiras terrenas, muros ideológico-religiosos, e divisas impostas pelo homem.

A Palavra que diz que o Senhor ampara todos os que caem e levanta todos os que estão prostrados alcança a cada ser humano que se dispõe, de coração, a assumir sua escolha por Deus, em Cristo.

Alcança também aqueles que ainda não receberam a “informação formal” da assim chamada “salvação”, mas que têm em seu coração lugar para amar a Deus – não importando como O conceituem – e ao próximo.

Esta Palavra do Senhor alcança a todos aqueles que se decidem, a cada dia, entregar ao amor a condução de seus passos.

É assim que é, mesmo que haja quem ache que não seja!

O Salmo 119:165 fala que os que amam a tua [de Deus] lei desfrutam paz, e nada há que os faça tropeçar. E hoje, a Palavra diz que, ainda que nada há que os faça tropeçar, o Senhor ampara todos os que caem e levanta todos os que estão prostrados. Como pode esta aparente contradição? Nada os faz tropeçar mas há os que caem. É simples de entender: nada – de fora – pode nos fazer tropeçar quando estamos firmes no Evangelho, mas nós mesmos, por nossos descuidos, nos fazemos tropeçar, vez ou outra; ainda pecamos. A consolação, assim, está em que, mesmo que tropecemos por nós mesmos, ainda assim o Senhor nos ampara e nos levanta em nossa prostração.

Sabemos, assim, com toda a segurança, que Deus sempre anda conosco e em nós – por Seu Santo Espírito fazendo em nós morada, desde que também nós andemos com Ele e n’Ele façamos morar nossas esperanças e nossas conduções.

A vida – mesmo a daqueles que creem – não é um carrossel, em infinito movimento de gira-gira. A vida é – para todos, mesmo para aqueles que creem – uma montanha-russa, com altos e baixos.

Lembremos do Salmo 23 – aquele mesmo, com o qual nos deparamos nas Bíblias abertas em algumas casas e mesmo em algumas empresas, pois quase sempre estão abertas neste Salmo –, que nos diz que mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem. Ora, o que é um vale de trevas e morte, senão um daqueles momentos “baixos” na vida? Mas diz também o mesmo Salmo 23 que Tu [Deus] me honras, ungindo a minha cabeça com óleo e fazendo transbordar o meu cálice. E que é isso, senão uma daqueles momentos “altos” na vida? Mas o que mais traz conforto neste Salmo 23 é quando diz que sei que a bondade e a fidelidade me acompanharão todos os dias da minha vida. Isto nos deixa claro que o Senhor – seja nos momentos altos ou baixos da vida – sempre está ali, presente!

Sim, amiguinhos e amiguinhas que aqui leem, o Senhor ampara todos os que caem e levanta todos os que estão prostrados.

E, sim, esta Palavra é para todos! E todos são todos mesmo!

 

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.

Saudações,

Kurt Hilbert

domingo, 3 de janeiro de 2021

44 – A Autoridade de Jesus (Mateus 21)


 

Jesus23(versículo) entrou no pátio do Templo e, enquanto estava ensinando, vieram a ele os principais sacerdotes e os anciãos do povo: “Com que autoridade estás fazendo estas coisas?”, perguntaram-lhe. “E quem te deu tal autoridade?”

 Jesus24 respondeu: “Eu também lhes farei uma pergunta. Se vocês me responderem, eu lhes direi com que autoridade estou fazendo estas coisas. De25 onde era o batismo de João? I Do céu ou dos homens?”

Eles discutiram entre si, dizendo: “Se respondermos ‘do céu’, ele perguntará: ‘Então por que vocês não creram nele?’ Mas26, se dissermos ‘dos homens’, devemos temer o povo, pois todos têm João como um profeta”. Assim27, responderam a Jesus: “Não sabemos”.

Então, ele disse: “Tampouco lhes direi com que autoridade estou fazendo estas coisas. O28 que acham? Havia um homem que tinha dois filhos. Chegando ao primeiro, disse: ‘Filho, vá trabalhar hoje na vinha’. E29 este respondeu: ‘Não quero!’ II Mas depois mudou de ideia e foi. O30 pai chegou ao outro filho e disse a mesma coisa. Ele respondeu: ‘Sim, senhor!’ II Mas não foi. Qual31 dos dois fez a vontade do pai?” “O primeiro”, responderam eles.

Jesus lhes disse: “Digo-lhes a verdade: Os publicanos e as prostitutas estão entrando antes de vocês no Reino de Deus. Porque32 João veio para lhes mostrar o caminho da justiça, e vocês não creram nele, mas os publicanos e as prostitutas creram. E, mesmo depois de verem isso, vocês não se arrependeram nem creram nele”.

“Ouçam33 outra parábola: Havia um proprietário de terras que plantou uma vinha. Colocou uma cerca ao redor dela, cavou um tanque para prensar uvas e construiu uma torre III. Depois arrendou a vinha a alguns lavradores e foi fazer uma viagem. Aproximando-se34 a época da colheita, enviou seus servos aos lavradores, para receber os frutos que lhe pertenciam”.

“Os35 lavradores agarraram seus servos; a um espancaram, a outro mataram e apedrejaram o terceiro. Então36 enviou-lhes outros servos em maior número, e os lavradores os trataram da mesma forma. Por37 último, enviou-lhes seu filho, dizendo: ‘A meu filho respeitarão’”.

“Mas38 quando os lavradores viram o filho, disseram uns aos outros: ‘Este é o herdeiro. Venham, vamos matá-lo e tomar a sua herança’. Assim39 eles o agarraram, lançaram-no para fora da vinha e o mataram”.

“Portanto40, quando vier o dono da vinha, o que fará àqueles lavradores?”

Responderam41 eles: “Matará de modo horrível esses perversos e arrendará a vinha a outros lavradores, que lhe deem a sua parte no tempo da colheita”.

Jesus42 lhes disse: “Vocês nunca leram isto nas Escrituras? ‘A pedra que os construtores rejeitaram IV tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós’. Portanto43 eu lhes digo que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado a um povo que dê os frutos do Reino. Aquele44 que cair sobre esta pedra será despedaçado, e aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó”.

Ao45 escutarem as parábolas de Jesus, os principais sacerdotes e os fariseus perceberam que era a eles que Jesus se referia. Queriam46 prendê-lo, mas tinham medo... pois o povo o tinha como um profeta.

 

v     Para entender a história

Os principais sacerdotes e anciãos tentam destruir e reputação de Jesus junto à multidão. Em vez disso, Jesus consegue desacreditar os chefes religiosos. Mediante parábolas, ele ataca suas demonstrações hipócritas de fé e adverte que, rejeitando-o, estarão também rejeitando Deus.

 

v     Curiosidades

                                      I.     “De onde era o batismo de João?” – Jesus responde com uma outra questão, o que era prática tradicional dos rabis (mestres). Ele sabia que os fariseus não responderiam e, assim, ficariam desacreditados diante dos ouvintes.

                                   II.     “Não quero!... Sim, senhor!” – Na parábola, o “primeiro filho” representa os pecadores que ouviram a mensagem de João e mudaram de vida. O “segundo”, os chefes religiosos que externamente alardeavam devoção, mas rejeitaram o chamado de João para o arrependimento.

                                III.     “Construiu uma torre” – Era comum construir torres para vigiar os vinhedos. Na estação da colheita, os membros da família ficavam nessas terras para manter as vinhas protegidas de ladrões.

                                IV.     “A pedra que os construtores rejeitaram” – Em hebraico, a palavra que significa “pedra” (eben) é muito parecida com a que significa “filho” (ben). Jesus alude a si mesmo. Ele é a “pedra” rejeitada pelos chefes religiosos, mas Deus o reinstalará como a glória da Igreja.

 

- Os lavradores, os servos, o filho e os outros lavradores: Os “lavradores” representam os chefes religiosos e os “servos” são os que foram perseguidos por suas crenças religiosas. Jesus é o “filho” que será condenado à morte. Os “outros lavradores” designam todos os que já seguem os ensinamentos de Jesus e que se multiplicarão para formar a comunidade cristã.


Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.