Pesquisar neste blog

segunda-feira, 27 de maio de 2019

A Controvérsia da Salvação Pelo Senhorio Versus Livre Graça


Por várias décadas uma batalha vem sendo travada no cristianismo entre aqueles que defendem aquilo que veio a ser conhecido como “salvação pelo senhorio” de um lado, e do outro aqueles que defendem a “livre graça” como o único terreno bíblico para se receber vida eterna e ter certeza de salvação.
A doutrina da necessidade de submeter-se ao senhorio de Cristo para obter a salvação final e a entrada no céu parece ter surgido da preocupação de muitos mestres e evangelistas cristãos nas décadas da metade do século 20, quando viram a tendência para a licenciosidade e indiferença entre os crentes que professavam a Cristo como Salvador. Billy Graham, A. W. Tozer e John MacArthur eram apenas alguns dos proponentes dessa abordagem do Evangelho de Deus como sendo uma salvação pelo senhorio.
Levantando-se contra o aparente legalismo desta ênfase na submissão ao senhorio de Cristo para a salvação estavam autores como Zane Hodges, que escreveu “Absolutamente Livre” em 1989 como uma resposta ao livro de MacArthur, “O Evangelho Segundo Jesus”, publicado um ano antes. Bob Wilkin, fundador da Sociedade Evangélica da Graça, tem muitas vezes escrito e ensinado contra a salvação pelo senhorio e em defesa da “Teologia da Livre Graça”.
Embora ambos os lados ensinem uma medida de verdade, é lamentável que tenham, pelos seus contínuos embates retóricos, tornado implícito que suas respectivas visões são as únicas posições doutrinárias a serem mantidas de forma inteligente e consistente; que ou você está no campo da salvação pelo senhorio ou então abraça a versão da oposição do ensino da livre graça.
Considerando a enormidade do assunto, espero apresentar da forma mais concisa possível algumas passagens para o que acredito ter se transformado numa falsa dicotomia entre as duas ideias, cada uma aparentemente sustentada por uma reação ao outro lado, por mais bem intencionados e piedosos que possam ser seus respectivos protagonistas.
De um modo geral a doutrina conhecida como “salvação pelo senhorio” promove um compromisso com Cristo, obediência a Ele e a necessidade de perseverança em seguir a Cristo até o fim da vida, para que uma alma seja finalmente salva. Lamentavelmente este ensinamento obscurece a distinção entre a salvação somente pela graça e o chamado ao discipulado, que são tão distintos um do outro quanto as parábolas que encontramos em Lucas 14. Nos versículos 15 ao 24 Jesus ensina a abençoada verdade do papel que tem a eleição e irresistível graça de Deus na salvação das almas, mas nos versículos 25 ao 35 não poderia estar mais claro que o assunto ali é o discipulado. Ignorar a óbvia mudança de assunto entre os versículos 24 e 25 seria violentar os conceitos da graça de Deus e de nosso discipulado.
Portanto, além do fato de muitos que defendem a salvação pelo senhorio também incidentalmente ensinarem a verdade da eleição incondicional e da segurança, e de estarem, com razão, angustiados com a falta de um fervoroso discipulado entre os cristãos, sua visão de salvação pelo senhorio demonstra ter pouco fundamento à luz da Palavra de Deus.
Por outro lado, a “teologia da livre graça” adverte corretamente contra a falta de integridade doutrinária da visão da salvação pelo senhorio, mas tem seus próprios excessos e pontos cegos. O mais evidente desses pontos cegos é a alegação de um de seus principais proponentes, de que “a fé em Cristo é uma assertiva intelectual”. Esse autor, Bob Wilkin, prossegue na defesa de sua proposição desta maneira: “Despido de sua conotação pejorativa, a assertiva intelectual é uma boa definição do que é a fé. Por exemplo, você acredita que George Washington foi o primeiro presidente dos Estados Unidos? Se acredita, então você sabe o que é a fé de uma perspectiva bíblica”.
O problema é que tanto a premissa quanto o argumento que a sustenta dificilmente poderiam estar mais longe da verdade daquilo que a fé realmente representa. Para os seus simpatizantes, no Novo Testamento não existiriam exemplos de fé falsa ou espúria, e toda ocorrência da palavra “crer” seria necessariamente um caso de uma ou mais pessoas recebendo a vida eterna, não importando o contexto ou comentário em torno da fé que estivesse contido no texto. Então, para esses, Simão, o feiticeiro em Atos 8, seria um cristão genuíno desde o dia em que ouviu o Evangelho, viu os milagres e foi batizado, apesar do julgamento subsequente feito por Pedro de que era um que permanecia “em fel da amargura, e em laço de iniquidade”, que não possuía “nem parte nem sorte neste ministério” da recepção e habitação do Espírito Santo.
Além disso, esses estariam afirmando que os muitos que acreditaram quando viram os milagres de Jesus na festa em João 2:23-25 teriam sido necessariamente salvos eternamente, embora o comentário divino seja de que Jesus não confiava neles. Por que não? Porque eles não possuíam o novo nascimento e uma nova natureza, e “Ele sabia o que havia no homem”, na carne “nascida da carne”, como explicou a Nicodemos imediatamente após a quebra de capítulo, que é equivocadamente colocada em João 3:1-12. Não é sem razão que esta versão da livre graça é muitas vezes chamada de “crença fácil”, pois seu ensino sobre a natureza da fé é falso e, em alguns aspectos, humanista.
Para que a fé salve alguém e se conserve pelo poder de Deus até o fim, essa fé deve ser sobrenatural em sua origem, pois a crença do homem natural no incontestável fato da morte e ressurreição de Cristo nunca produzirá vida de nova criação, arrependimento ou salvação do pecado. É por uma boa razão que as escrituras falam de “fé não fingida”, bem como de “amor não fingido” (I Timóteo 1:5; II Timóteo 1:5; Romanos 12:9; I Pedro 1:22), pois não é apenas possível, mas infelizmente muitas vezes o caso, de que o mero acreditar seja fruto de hipocrisia ou fingimento. Um simples estudo das palavras originais confirmaria a realidade da diferença marcante entre uma fé genuína e aquela que é fingida.
É somente por alguém nascer de novo, pela pessoa ser vivificada (alguns chamaram de “regeneração”), que a fé genuína é possível. Jesus se referiu a essa verdade quando disse a Nicodemos: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (João 3:3). “Ver” aqui indica visão espiritual, ou fé, e deve ser distinguido da afirmação paralela do Senhor alguns versos depois, a de que alguém que não nasceu de novo não pode “entrar” no reino de Deus. As Escrituras nos ensinam que o novo nascimento é a causa da vida, e seu efeito é a fé no testemunho de Deus quanto ao Seu Filho (João 1:12-13; I João 5:1; Tiago 1:18).
O novo nascimento é iniciado e efetuado por Deus, e o homem não é convidado a fazer isso e nem é esperado dele que o faça. É algo parecido com o que aconteceu com o despertar de Lázaro de entre os mortos, que foi pelo chamado soberano do Senhor Jesus de fora do seu túmulo. A ressurreição de Lázaro foi um belo quadro da verdade espiritual que o Senhor deu em João 5:21: “Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer”.
Esta nova natureza adquirida através de novo nascimento logo faz com que a alma vivificada sinta o peso do pecado do “velho homem”, e aí o crente se arrepende, justificando a Deus e aceitando Seu conselho contra si mesmo como sendo pecador (Lucas 7:29-30). O “novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Efésios 4:20-24) é o que agora caracteriza a vida cristã. A obediência divina, a perseverança nas boas obras e a conformidade com o Filho são o que Deus, por Seu Espírito, opera em nós e espera de nós (II Coríntios 5:17; Efésios 2:10; Romanos 8:28-30; João 15:1-8).
Isso é bem diferente da ideia de uma “salvação pelo senhorio”. Essa verdade do novo nascimento e da nova criação também é distinta do ensinamento errado dos promotores da “livre graça”, que diz que a fé não é mais do que o assentimento intelectual dos fatos. Pois embora o verdadeiro crente possa lutar, fracassar e pecar com frequência, e até definhar para uma condição de desviado, ainda assim, graças a uma vivificação ocorrida de modo soberano, e também graças ao subsequente selo do Espírito, ele possui o desejo e a capacidade inatos, tanto de uma “fé não fingida” para vencer o mundo, como do “amor não fingido” por Cristo e pelos irmãos. (I Pedro 1:22-23; I João 3:23).


Um texto de John Kulp

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Obadias



Chave deste livro: Edom.
Este pequeno livro resume o significado da relação de Edom e Israel (Esaú e Jacó) na história da salvação e, ao fazê-lo, revela um aspecto do dia do Senhor e do reino de Deus. Edom, a nação oriunda de Esaú, sempre se revelou hostil a Israel, a despeito dos laços fraternais existentes, visto que eram filhos de Isaque. Deus confiou a muitos profetas a mensagem de condenação dirigida contra Edom (Amós, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Malaquias), os quais, frequentemente, chamaram a atenção para o orgulho e para a auto-suficiência de Edom como as raízes de seu pecado.
Em Obadias, o profeta parece tomar uma profecia de juízo existente contra Edom (v. 1-4 e frases incluídas nos v. 5-9) – talvez o mesmo oráculo que aparece em Jeremias 49:7-22 – e observe-se quão terrivelmente se cumpria e com que justa retribuição. Obadias relaciona, portanto, este castigo particular com o juízo de todas as nações no dia iminente do Senhor, quando o remanescente de Israel que escapou será como esfera de salvação e instrumento do governo de Deus sobre todas as nações.
Embora muitíssimo curta, esta profecia ressalta e exemplifica as verdades fundamentais da revelação bíblica: o governo soberano de Deus que será universalmente reconhecido (v. 21); a eleição de Israel, o povo de Deus, para ser abençoado (v. 17b); sua eleição cumprida mediante um remanescente (v. 17a) que será a fortaleza do braço de Deus procedente do monte Sião; a culminância dos propósitos de Deus no dia do Senhor que, enquanto vindica a seu povo e lhe proporciona o júbilo da terra prometida de descanso, condenará os inimigos e opressores, dos quais Edom é aqui um modelo (v. 15).
Embora o livro de Obadias seja somente um dentre os muitos pronunciamentos proféticos relativos a Edom, é conveniente considerá-lo como o ponto de concentração de todas as referências que no Antigo Testamento se fazem concernentes a Edom, visto como não é possível, num comentário desta natureza, tratar de outras passagens pormenorizadamente.
Portanto, apresentamos aqui uma lista das principais referências a Edom: Históricas: Gênesis 25-36 (Jacó e Esaú); Números 20:14-21, Deuteronômio 2:1-8 (o período do Êxodo); I Samuel 14:47 (sob Saul); II Samuel 8:14 (sob Davi); II Reis 8:20-22 (sob Jeroão); II Crônicas 20:10-23 (sob Josafá); II Reis 14:7, II Crônicas 25:11-13 (sob Amazias); II Crônicas 28:17 (sob Acaz); Salmos 137:7, Lamentações de Jeremias 4:22 (queda de Jerusalém); Salmos 83:1-6 (geral). Profecias: Isaías 11:14; 34; 63:1-6; Jeremias 49:7-22, Ezequiel 25:12-14; 35; Joel 3:19; Amós 1:11-12; Malaquias 1:2-5.
Com exceção de seu nome (que é comum no Antigo Testamento), nada se sabe do autor deste livro, o mais curto do Antigo Testamento. Nem se sabe com certeza a época em que foi escrito. Obadias parece descrever um desastre que sobreveio a Edom depois da queda de Jerusalém (v. 5-7). Talvez seja este o primeiro ataque dos nabateus contra o monte Seir, os quais derrotaram os edomitas em determinada época compreendida entre os séculos VI e IV a.C. (compare Malaquias 1:3-4). Esta profecia pertenceria, portanto, à época do exílio ou logo após o regresso.

D. W. B. Robinson

domingo, 19 de maio de 2019

Um Falar Agradável



Um falar agradável é aquele que tem tom de acolhimento, respeito às diferenças e tranquilidade nas respostas.
 É aquele que não se perturba diante das contrariedades, que argumenta com a alma pacificada, nunca aguerrida pela tentativa de convencimento. Até porque não convencemos a ninguém; é a pessoa que convence a si mesma. E, para sermos justos e meritórios com a Palavra do Senhor, é Jesus, pelo Espírito Santo, Quem convence.
Volta e meia ouço cristãos debatendo pontos bíblicos, supostas incongruências e contrariedades nas Escrituras, pontos conflitantes, páginas difíceis, e por aí vai. Tentam empurrar, a qualquer custo, suas posições e – muitas vezes – opiniões pessoais sobre determinado ponto. Cria-se uma atmosfera conflitante, pesada, de alma tensa e espírito aguerrido. A paz na alma é despida em favor da tensão da razão. Isso é vaidade, como dizia o escritor de Eclesiastes, além de ser perda de tempo e afugentamento das almas, que se distanciam pelo conflito da discussão. Nada disso aproveita! Coloquemos o nosso modo de pensar, sim, não fujamos da argumentação, mas que seja só argumentação. Se o contraste perdurar, deixe-se o de lado a pacifique-se a alma. Também em questões de espiritualidade e fé, é preferível ter paz a ter razão.
Sejamos, pois, agradáveis (mas não bajuladores) no nosso modo de falar.
Mais do que “politicamente corretos”, sejamos respeitosamente verdadeiros. Só assim conquistamos o respeito do outro.
Que o nosso falar seja temperado com sal, isto é, que nossas palavras e nosso tom de voz possam temperar e realçar o sabor daquilo que dizemos. E, assim como o sal, além de realçar o sabor, tinha e tem o atributo de conservar os alimentos, que o nosso falar também tenha o atributo de conservar a fé já implantada no nosso interlocutor, além de conservar a pureza e as características verdadeiras da Palavra que partilhamos.
Que possamos ser sal na terra, como Jesus ensinou, espalhados no chão da vida e da humanidade, e do andar ao lado do próximo.
Que não sejamos sal no saleiro, aquele tipo que se fecha em si mesmo e não se doa nem se compartilha. O sal no saleiro permanece inerte – e insípido – e, mesmo sendo não-perecível, torna-se estragado pelo não-uso.  Quanto mais usados formos em questões de fé, mais viva em si mesma será a nossa própria fé. Em questões de Deus, devemos ser “agitados antes de usar”, ou seja, temos que ter uma vida de fé “em movimento”, num andante andar lado a lado.
Em assim sendo, saberemos sempre responder a cada um segundo a sua demanda. Como escreve o apóstolo Pedro numa de suas cartas no Novo Testamento, que estejamos sempre prontos a responder sobre a nossa fé.
Que em todos os momentos, nossas respostas sejam tranquilas e temperadas com o sal do amor do Senhor, que salga e realça as coisas boas em nossas almas.
Que o nosso falar seja sempre remédio para quem precisa, alegria para quem dela necessita, paz no ambiente em que estivermos, força a erguer quem estiver caído, suporte para quem estiver cambaleante.
Que o nosso falar seja vida!

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,

Kurt Hilbert

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Amós



A grande proclamação feita no início de sua profecia (1:2) fixa o tom da mensagem de Amós. A voz de Deus, como a de um leão que ruge, será ouvida desde Sião no dia do juízo. Sob o respeitável manto da prosperidade material, Amós põe a descoberto a massa putrefata do formalismo religioso e a corrupção espiritual (5:12-21). Aponta a total indiferença para com os direitos humanos e para com a pessoa humana (2:6), e assinala a deterioração da moral e da justiça social (2:7-8).
O profeta tinha um remédio para o mal que ameaçava a vida da nação. O homem devia buscar a Deus, devia arrepender-se e estabelecer a justiça a fim de poder viver (5:14-15). Todavia, para ressaltar o aspecto irremediável da situação, o profeta Amós adverte que os responsáveis pelo mal que açoitava a terra não se “afligiam” pelo desastre que se avizinhava (6:6). Em consequência, outra coisa não esperava a Israel senão a destruição (9:1-8). O dia do Senhor não será uma vindicação de Israel, segundo acreditavam algumas pessoas daquele tempo, mas uma confirmação das exigências do caráter moral de Deus contra os que o haviam rejeitado. Somente quando esta verdade fosse reconhecida é que se estabeleceria o esplendor do reino davídico. Porém esse dia era inevitável (9:11-15). A mensagem de Amós é, em grande parte, um “clamor de justiça”.
Natural de Tecoa, local situado a vinte quilômetros ao sul de Jerusalém, Amós era pastor e também cultivava figos silvestres (1:1; 7:14-15). Enquanto cuidava do rebanho, recebeu o chamado de Deus para exercer o ministério profético. Profetizou no reino do norte durante breve período na segunda metade do reinado de Jeroboão II (785-744 a.C.), rei de Israel, e durante o reinado de Uzias (780-740 a.C.), rei de Judá (1:1).

Arnold C. Schultz

domingo, 12 de maio de 2019

Proteção



          Levanto os meus olhos para os montes e pergunto: De onde me vem o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez os céus e a terra.
          Ele não permitirá que você tropece; o seu protetor se manterá alerta, sim, o protetor de Israel não dormirá; ele está sempre alerta!
          O SENHOR é o seu protetor; como sombra que o protege, ele está à sua direita. De dia o sol não o ferirá, nem a luz, de noite.
          O SENHOR o protegerá de todo o mal, protegerá a sua vida.
          O SENHOR protegerá a sua saída e a sua chegada, desde agora e para sempre.   
   
          (Texto do Salmo 121)

          Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
          Saudações,

          Kurt Hilbert