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domingo, 29 de setembro de 2019

Barganhando com Deus


Atos 8:20
“Você pensa que pode comprar o dom de Deus com dinheiro?”

A pergunta acima o apóstolo Pedro faz a Simão, um mágico que iludia o povo da Samaria com seus truques e seus talentos impressionistas, e era tido como alguém muito importante e influente.
Naqueles dias, Filipe andava por aquela região, pregando o Evangelho, fazendo muitos sinais miraculosos, curando pessoas que vinham a ele para ouvirem de Jesus. Este mágico também ouviu Filipe e se impressionou com sua mensagem, e passou a andar com ele. Algum tempo depois, chegaram àquele lugar os apóstolos Pedro e João. Impondo as mãos sobre aqueles que haviam crido, estes receberam o Espírito Santo, o que mais ainda impressionou Simão. Assim, este ofereceu aos apóstolos dinheiro, e em contrapartida estes deveriam dar a ele também o mesmo “poder”, para que ele também pudesse impor as mãos sobre as pessoas, doando-lhes, assim, o Espírito Santo.
Diante desta proposta monetária do mágico, Pedro deu a resposta que deu, dizendo que o seu dinheiro perecesse com ele, pois não se poderia barganhar com Deus pelo Seu poder e envio. Dizendo isso em palavras bem simples e diretas, Pedro disse a ele o que diria a qualquer um nos tempos atuais: “Você pensa que pode comprar o dom de Deus com dinheiro?”
O que hoje vejo em muitas “igrejas”, especialmente aquelas televisivas, é justamente esse tipo de barganha, pois ali as pessoas são incentivadas a comprarem o dom de Deus com dinheiro. E quem embolsa esse dinheiro não é Deus, mas os que se dizem Seus “representantes”, Seus “servos”, ou, como muitos têm a face amadeirada de dizer, os “homens de Deus”.
Sinceramente, dá vontade de dar de cinta nesses caras! Dar de cinta nos dois tipos: nos que “vendem” e nos que “compram” também, para deixarem de ser gananciosos e tolos!
Alguém poderia dizer que não há esta “venda dos dons de Deus” nestes lugares. Claro que há! É um verdadeiro supermercado supostamente divinizado, onde, em suas prateleiras, se “compram” curas, bens materiais, sucesso financeiro e poder de influência. É isso que “vendem” e, pior, o fazem em nome de Jesus!
Eu sei que este assunto é amargo. Tampouco gosto dele. Também me amarguro um pouco em falar nisso.
Nas minhas passeadas televisivas, zapeando entre os canais, volta e meia paro diante de um destes “programas evangélicos” – consigo ficar no máximo dez minutos, depois fico enjoado. O que ouço é: “pague seu dízimo para que possa salvar-se do devorador”; “alce ofertas, para que Deus possa te abençoar ricamente, afinal Deus não quer que você seja pobre, mas rico, que seja cabeça e não cauda”; “mostre a Deus a sua fé, oferecendo determinada soma de dinheiro, para que Ele veja a sua fé, e depois cobre d’Ele a sua bênção, pois, assim, Ele está obrigado a dar”; “participe da fogueira santa com tantos mil em dinheiro – tem que ser um valor alto, afinal, Deus requer altos sacrifícios! – e depois reivindique e tome posse do seu carro importado, do seu apartamento novo, do crescimento da sua empresa”... A lista é longa, e a criatividade bilontra também!
Há também os badulaques que estão à venda – nunca por menos de R$ 100,00 cada um: “caneta ungida para assinar polpudos contratos”, “água do rio Jordão”, “óleo de Israel”, “tijolinho santo”, “martelinho para quebrar os problemas”, até uma “vassoura abençoada” vi vender dia desses...
É de rir! E de chorar também!
Lamento por aqueles ingênuos, por aqueles tolos – e por aqueles gananciosos também, pois querem numerário fácil –, que caem nesses truques de suposta “mágica divina”!
Me ocorreu agora: Simão, aquele mágico que fez aquela proposta financeira a Pedro, é recruta perto dos “mágicos de Jesus” dos dias de hoje. Simão ficaria impressionado. “Como não pensei nisso?”, ele diria, diante da facilidade de se arrancar dinheiro de parvos. Os “charlatões da fé” de hoje dariam aula a Simão. Eles são verdadeiros CEO do negócio da falcatrua; têm mestrado em malandragem; são formados e pós-graduados em gatunagem; fizeram MBA em delinquência, pois formam verdadeiras quadrilhas organizadas disfarçadas de “igrejas”!
Desculpem esse meu rompante denunciante! Mas é que tem que ser dito de vez em quando. Volta e meia alguém tem que falar disso, pois isso é falsa doutrina, e contra ela nos é dado o mandado de identificá-la. É o que aprendi pela Palavra.
Se alguém ensina falsas doutrinas e não concorda com a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino que é segundo a piedade, é orgulhoso a nada entende (I Timóteo 6:3-4).
Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos (I Timóteo 6:9-10).
Disse-lhes: “Está escrito: ‘A minha casa será casa de oração’; mas vocês fizeram dela um covil de ladrões’” (Lucas 19:46).
Esse Jesus que esses falsos pregadores pregam, de Jesus mesmo só tem o nome. Eles usam o nome de Jesus como uma grife ou uma bandeira para tentarem legitimar suas extorsões! O Cristo que eles anunciam é falso! Eles são falsos e falsificadores da Palavra! E o Verdadeiro já nos alertou a respeito:
“Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos. Vejam que eu os avisei antecipadamente (Mateus 24:24-25).
Dia desses, conversando com um amigo sobre esses temas, ele me perguntou: “Por que Deus não dá um jeito nesses caras?” Minha resposta foi: “Ele já deu a sentença”. E citei as Palavras do próprio Mestre a respeito:
“Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mateus 7:22-23).
E com aqueles que – por ingenuidade ou por ganância – se deixam enganar, o que acontecerá com eles? Bem, não sou acusador, nem promotor de justiça, muito menos “juiz de Deus”. Isto é assunto para Deus e Sua misericórdia para com cada um. Não dou idéias para Deus. Apenas oro por ambos, enganadores e enganados...
Cuido de mim para não cair nessas arapucas.
Cuide de você para não cair também.
Com Deus não se barganha!

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,

Kurt Hilbert

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Gálatas


Chave desta epístola: a justificação é pela fé.
O apóstolo Paulo escreveu esta carta aos gálatas convertidos em alguma época situada entre os anos 48 e 53 de nossa era. Mestres judaico-cristãos haviam procurado predispor contra o apóstolo os gálatas convertidos, dizendo-lhes que, como gentios, deviam ser circuncidados (5:2-6; 6:12-15) e praticar o ritual da Lei (4:10) para que fossem salvos. Mediante uma carta, Paulo reivindica sua autoridade como expositor do evangelho, e condena a posição judaizante como legalismo anticristão.
Paulo sustenta que os crentes, tanto judeus como gentios, desfrutam de completa salvação em Cristo. São justificados (3:6-9), adotados (4:4-7), renovados (4:6; 6:15), e feitos herdeiros de Deus segundo a promessa do pacto com Abraão (3:15-18). Desse modo, a fé no Cristo do Calvário liberta-nos para sempre da necessidade de buscar a salvação pelas obras da Lei. De qualquer maneira, esta busca é impossível, uma vez que a Lei não salva, nem era esse seu propósito (3:19-24). Os crentes não devem, portanto, voltar ao princípio de guardar a Lei como base para a salvação, pois do contrário voltam à escravidão (5:1), privando-se da graça de Cristo (5:2-4). Devem, antes, apegar-se à liberdade que Cristo lhes deu, e servir a Deus e ao próximo no poder do Espírito, como homens livres (5:13-18), realizando com alegria a vontade de seu Salvador (6:2).
O argumento de Paulo demonstra que todas as versões legalistas do evangelho são corrupções deste, e que o gozo da liberdade cristã depende de ver que a salvação é somente pela graça, unicamente mediante Jesus Cristo, recebida exclusivamente pela fé.

James I. Packer

domingo, 22 de setembro de 2019

A Bela História de Um Bom Servo Sem Nome



 Abraão já era velho, de idade bem avançada, e o SENHOR em tudo o abençoara. Disse ele ao servo mais velho de sua casa, que era o responsável por tudo quanto tinha: “Ponha a mão debaixo da minha coxa e jure pelo SENHOR, o Deus dos céus e o Deus da terra, que não buscará mulher para meu filho entre as filhas dos cananeus, no meio dos quais estou vivendo, mas irá à minha terra e buscará entre os meus parentes uma mulher para meu filho Isaque.
O servo lhe perguntou: “E se a mulher não quiser vir comigo a esta terra? Devo então levar teu filho de volta à terra de onde vieste?”
“Cuidado!”, disse Abraão, “Não deixe o meu filho voltar para lá”. O SENHOR, o Deus dos céus, que me tirou da casa de meu pai e de minha terra natal e que me prometeu sob juramento que à minha descendência daria esta terra, enviará o seu anjo adiante de você para que de lá traga uma mulher para meu filho. Se a mulher não quiser vir, você estará livre do juramento. Mas não leve o meu filho de volta para lá”.
Então o servo pôs a mão debaixo da coxa de Abraão, seu senhor, e jurou cumprir aquela palavra.
O servo partiu, com dez camelos do seu senhor, levando também do que o seu senhor tinha de melhor. Partiu para a Mesopotâmia, em direção à cidade onde Naor tinha morado. Ao cair da tarde, quando as mulheres costumam sair para buscar água, ele fez os camelos se ajoelharem junto ao poço que ficava fora da cidade.
Então orou: “SENHOR, Deus do meu senhor Abraão, dá-me neste dia bom êxito e seja bondoso com o meu senhor Abraão. Como vês, estou aqui ao lado desta fonte, e as jovens do povo desta cidade estão vindo para tirar água. Concede que a jovem a quem eu disser: ‘Por favor, incline o seu cântaro e dê-me de beber’, e ela me responder: ‘Bebe; também darei água aos teus camelos’, seja essa a que escolheste para teu servo Isaque. Saberei assim que foste bondoso com o meu senhor”.
Antes que ele terminasse de orar, surgiu Rebeca, filha de Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão, trazendo no ombro o seu cântaro. A jovem era muito bonita e virgem; nenhum homem tivera relações com ela. Rebeca desceu à fonte, encheu seu cântaro e voltou.
O servo apressou-se ao encontro dela e disse: “Por favor, dê-me um pouco de água do seu cântaro”.
“Beba, meu senhor”, disse ela, e tirou rapidamente dos ombros o cântaro e o serviu.
Depois que lhe deu de beber, disse: “Tirarei água também para os seus camelos até saciá-los”. Assim ela esvaziou depressa seu cântaro no bebedouro e correu de volta ao poço para tirar mais água para todos os camelos. Sem dizer nada, o homem a observava atentamente para saber se o SENHOR tinha ou não coroado de êxito a sua missão.
Quando os camelos acabaram de beber, o homem deu à jovem um pendente de ouro de seis gramas e duas pulseiras de ouro de cento e vinte gramas, e perguntou: “De quem você é filha? Diga-me, por favor, se há lugar na casa de seu pai para eu e meus companheiros passarmos a noite”.
Sou filha de Betuel, o filho que Milca deu a Naor”, respondeu ela; e acrescentou: “Temos bastante palha e forragem, e também temos lugar para vocês passarem a noite”.
Então o homem curvou-se em adoração ao SENHOR, dizendo: “Bendito seja o SENHOR, o Deus do meu senhor Abraão, que não retirou sua bondade e sua fidelidade do meu senhor. Quanto a mim, o SENHOR me conduziu na jornada até a casa dos parentes do meu senhor”.
A jovem correu para casa e contou tudo à família de sua mãe. Rebeca tinha um irmão chamado Labão. Ele saiu apressado à fonte para conhecer o homem, pois tinha visto o pendente, e as pulseiras no braço de sua irmã, e ouvira Rebeca contar o que o homem lhe dissera. Saiu, pois, e foi encontrá-lo parado junto à fonte, ao lado dos camelos. E disse: “Venha, bendito do SENHOR! Por que ficar aí fora? Já arrumei a casa e um lugar para os camelos”.
Assim o homem dirigiu-se à casa, e os camelos foram descarregados. Deram palha e forragem aos camelos, e água ao homem e aos que estavam com ele para lavarem os pés. Depois lhe trouxeram comida, mas ele disse: “Não comerei enquanto não disser o que tenho para dizer”.
Disse Labão: “Então fale”.
E ele disse: “Sou servo de Abraão. O SENHOR o abençoou muito, e ele se tornou muito rico. Deu-lhe ovelhas e bois, prata e ouro, servos e servas, camelos e jumentos. Sara, mulher do meu senhor, na velhice lhe deu um filho, que é o herdeiro de tudo o que Abraão possui. E meu senhor fez-me jurar, dizendo: ‘Você não buscará mulher para meu filho entre as filhas dos cananeus, em cuja terra estou vivendo, mas irá à família de meu pai, ao meu próprio clã, buscar uma mulher para meu filho’”.
“Então perguntei a meu senhor: ‘E se a mulher não quiser me acompanhar?’”
Ele respondeu: ‘O SENHOR, a quem tenho servido, enviará seu anjo com você e coroará de êxito a sua missão, para que você traga para meu filho uma mulher do meu próprio clã, da família de meu pai. Quando chegar aos meus parentes, você estará livre do juramento se eles se recusarem a entregá-la a você. Só então você estará livre do juramento’”.
“Hoje, quando cheguei à fonte, eu disse: Ó SENHOR, Deus do meu senhor Abraão, se assim desejares, dá êxito à missão de que fui incumbido. Aqui estou em pé diante desta fonte; se uma moça vier tirar água e eu lhe disser: ‘Por favor, dê-me de beber um pouco de seu cântaro’, e ela me responder: ‘Bebe. Também darei água aos teus camelos’, seja essa a que o SENHOR escolheu para o filho do meu senhor”.
“Antes de terminar de orar em meu coração, surgiu Rebeca, com o cântaro ao ombro. Dirigiu-se à fonte e tirou água, e eu lhe disse: ‘Por favor, dê-me de beber’”.
“Ela se apressou a tirar o cântaro do ombro e disse: ‘Bebe; também darei água aos teus camelos’. Eu bebi, e ela deu de beber também aos camelos.
Depois lhe perguntei: ‘De quem você é filha?’”
“Ela me respondeu: ‘De Betuel, filho de Naor e Milca’.
“Então coloquei o pendente em seu nariz e as pulseiras em seus braços, e curvei-me em adoração ao SENHOR. Bendisse ao SENHOR, o Deus do meu senhor Abraão, que me guiou pelo caminho certo para buscar para o filho dele a neta do irmão do meu senhor. Agora, se quiserem mostrar fidelidade e bondade a meu senhor, digam-me; e, se não quiserem, digam-me também, para que eu decida o que fazer”.
Labão e Betuel responderam: “Isso vem do SENHOR; nada lhe podemos dizer, nem a favor, nem contra. Aqui está Rebeca; leve-a com você e que ela se torne a mulher do filho do seu senhor, como disse o SENHOR”.
Quando o servo de Abraão ouviu o que disseram, curvou-se até ao chão diante do SENHOR. Então o servo deu jóias de ouro e de prata e vestidos a Rebeca; deu também presentes valiosos ao irmão dela e à sua mãe. Depois ele e os homens que o acompanhavam comeram, beberam e ali passaram a noite.
Ao se levantarem na manhã seguinte, ele disse: “Deixem-me voltar ao meu senhor”.
Mas o irmão e a mãe dela responderam: “Deixe a jovem ficar mais uns dez dias conosco; então você poderá partir”.
Mas ele disse: “Não me detenham, agora que o SENHOR coroou de êxito a minha missão. Vamos despedir-nos, e voltarei ao meu senhor”.
Então lhe disseram: “Vamos chamar a jovem e ver o que ela diz”. Chamaram Rebeca e lhe perguntaram: “Você quer ir com este homem?”
“Sim, quero”, respondeu ela.
Despediram-se, pois, de sua irmã Rebeca, de sua ama, do servo de Abraão e dos que o acompanhavam.
E abençoaram Rebeca, dizendo-lhe: “Que você cresça, nossa irmã, até ser milhares de milhares; e que a sua descendência conquiste as cidades dos seus inimigos”.
Então Rebeca e suas servas se aprontaram, montaram seus camelos e partiram com o homem. E assim o servo partiu levando Rebeca.

O texto acima – que copiei em sua íntegra – encontra-se em Gênesis, capítulo 24, versículos 1 a 61.
É uma bela história, sem dúvida!
Nela, me chamaram a atenção cinco pontos:
1 – O servo, incumbido por Abraão da missão de encontrar uma esposa para seu filho Isaque, foi e, prudentemente, orou ao Deus de seu senhor. Não diz aí que era o seu – do servo – Deus, pois este podia ter outros deuses, como era muito comum na Antiguidade. Ele, no entanto, optou por orar ao SENHOR, Deus de Abraão.
2 – Este servo fez um pedido bem complexo de se fazer, pois estava composto por uma conexão de fatos bem interessante. Pediu a Deus para lhe indicar a esposa para Isaque dentre muitas que se apresentavam num primeiro momento, tirando água. Para confirmar qual seria, deveria haver a combinação de alguns movimentos: pedindo bom êxito ao seu intento, disse que Deus estava vendo que ele estava ao lado de uma fonte; que havia lá muitas jovens tirando água; que ele – o servo – iria pedir água a uma delas – aleatoriamente – e que esta, além de dar-lhe de beber, também se prontificasse a abastecer os camelos (aqui temos que fazer uma observação: naquele tempo e naquele lugar, no Oriente Médio, um homem se dirigir a uma jovem não era comum, e, ainda, uma jovem atender a um pedido destes e ainda se oferecer para servir aos seus camelos, era ainda mais incomum, quase impossível de acontecer); e que, então, essa fosse a jovem certa para desposar o filho do seu senhor. Mas ele pediu a Deus justamente isso: um conjunto de acontecimentos incomuns, para confirmar o sucesso do seu intento. Isso, da parte deste servo, foi ousadia, inteligência e – sobretudo – fé!
3 – Tudo se deu conforme o seu pedido! Deus simplesmente atendeu à sua oração, e começou a atendê-la mesmo antes de ele ter concluído a oração, pois ele ainda orava quando os fatos pedidos começaram a suceder.
4 – Diante do pedido da família da moça para que ela ficasse mais alguns dias antes de partirem, o servo foi firme em seu propósito e decidido em concluir rapidamente a sua missão. Não deixou que postergassem. Confirmou com o “sim” da moça que tinha que ser dado prosseguimento imediato à sua missão, a fim de concluí-la com êxito. E assim se deu.
5 – Por último, mas não menos importante, quero citar o que mais me chamou a atenção neste fato e que “não está escrito no texto”, mas que “está dito no contexto”: o nome do servo em nenhum momento é citado! Alguém percebeu isso? Alguém se deu conta? Pois é. Toda a sua “aventura” é contada na Bíblia, mas omite-se o seu nome. Não lhe é dado o crédito dos acontecimentos. Ninguém ficou sabendo o nome dele. Pode ter sido qualquer um!
Diante do ponto 5 acima citado, concluo algumas coisas:
Primeiro, não importa o nome de A ou B como servo; o nome nem aparece pois, por mais que este servo tenha sido ousado, inteligente e determinado, tudo se deu como se deu pela ação direta de Deus na efetivação do que tinha que se dar. Assim, tudo foi por graça de Deus, não cabendo méritos ao ser humano “protagonista” da história. De fato, a Deus cabe o protagonismo e a nós, atuarmos como coadjuvantes.
Segundo, que mesmo que algo não está “escrito” na Bíblia, podemos ver que sempre há algo “dito” nas entrelinhas. Neste caso, no capítulo 24 de Gênesis, não está “escrito” o nome do servo, mas está “dito” que, mesmo que alguém passe sem que se credite ao seu nome algo, a sua história fica registrada à posteridade e – principalmente – aos olhos de Deus.
Por fim, desejo dizer que, ainda que nós nunca saibamos o nome daquele servo ousado, inteligente e decidido, Deus sabe! E, no fim e no que mais importa, importa mesmo é o que Deus sabe a nosso respeito! Sempre.

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

II Coríntios



Chave: o comportamento cristão e a segurança divina.
Nenhum esboço breve pode proporcionar ideia da riqueza e simpatia desta extraordinária epístola. O principal motivo que inspira Paulo a escrevê-la é o de reivindicar sua autoridade apostólica, especialmente quando a igreja de Corinto tinha sido invadida por falsos apóstolos que procuravam minar sua autoridade e desencaminhar os crentes do evangelho que haviam recebido por seu intermédio.
Escreve, contudo, não com caráter autoritário, mas antes como pai espiritual dos crentes de Corinto, aos quais ele ama e quer que respondam com reciprocidade ao seu amor e permaneçam fieis às verdades que ele lhes comunicou. A situação em Corinto chegou a tal ponto que Paulo se vê na obrigação de falar por si mesmo. Conquanto apele para o conhecimento pessoal e íntimo que o povo tinha dele e de seu caráter, e lhes lembre os profundos sofrimentos e as vicissitudes por que passou a fim de comunicar-lhes a mensagem da salvação, ele o faz com humildade e sinceridade transparente e, por certo, com relutância.
Em toda a epístola, a dignidade, a devoção, a fé serena e a apaixonada consagração do apóstolo Paulo se destacam com um intenso resplendor que abranda o coração de todos, com exceção de alguns obcecados e indiferentes. Apresenta-se a si mesmo perante seus leitores como aquele que em sua própria pessoa é fraco e indigno, mas que, por meio dessa fraqueza, a graça e o poder do Deus Todo-Poderoso são magnificados. Em contraste com a auto-estima e interesses pessoais dos falsos apóstolos, contrapõe-se a abnegação de Paulo: tudo é de Deus e para a glória de Deus.
O traço marcante em toda a epístola é o da segurança divina: “E disse-me: a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (12:9). Esta nova descoberta desta epístola em nossos dias, com sua doutrina de reconciliação em Cristo e seu tema de glória mediante o sofrimento, significaria uma renovação da visão e vitalidade do povo de Deus e, por este meio, uma bênção às multidões que vivem ainda em trevas espirituais.
Não existem dúvidas a respeito da paternidade literária de Paulo no que se refere a esta epístola. A segunda epístola aos Coríntios foi escrita no mesmo ano em que o foi a primeira, provavelmente seis meses depois.

Philip E. Hughes

domingo, 15 de setembro de 2019

Me Identifico Com os Pecadores



Preciso de pessoas imperfeitas, como eu, pois, conviver com “santos” é complicado.
Preciso de pessoas que erram, que se arrependem, que voltam atrás, que recomeçam, que insistem nos sonhos, que creem em utopias, que amam, que oram, que perdoam, que se perdoam, que acolhem perdão, que trabalham, que repartem e se repartem, que caminham com alguns, que estão engajados na vida, fazendo o bem, tentando fazer o bem bem feito, fazendo o bem até o fim.
Prefiro os “santos com telhados de vidro e pés de barro” que na jornada da vida já se viram sem saída, já foram expostos, tiveram que se reinventar, tiveram que levantar, tomar sua própria maca, andar e fazer o caminho de volta para casa, para si mesmo, para o próximo e para Deus.
Com estes me entendo bem.
Sou dos que precisam ser carregados em “macas” de quando em quando.
Sou dos que pecam porque sou um pecador.
Sou dos que se fragilizam na jornada.
Por favor, não me deixem na beira do caminho quando me virem em pecado, antes, socorram-me.

Um texto de Carlos Bregantim

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

I Coríntios


O comportamento cristão é a chave desta epístola.
A primeira epístola aos coríntios não é apenas uma carta na qual o apóstolo Paulo ministra conselhos e instruções sobre assuntos de importância da fé e do comportamento cristão; também jorra luz reveladora sobre determinados problemas com os quais se defronta uma jovem igreja não muito depois de sua inauguração, na metade do primeiro século de nossa era.
O apóstolo Paulo havia levado a mensagem de Cristo à cidade de Corinto quando realizou sua segunda viagem missionária. Esta cidade constituía um tremendo desafio ao evangelho já por tratar-se de um grande centro cosmopolita de comércio do mundo antigo, e também por ser reconhecido centro de libertinagem e desregramento. Se a mensagem da cruz tinha poder para transformar a vida de homens e mulheres de tal ambiente, então essa mensagem era realmente poderosa. E foi precisamente isto que ocorreu. Além do mais, os membros desta jovem igreja desfrutavam de uma variedade de dons espirituais, e esse fato constituía confirmação tanto para eles como para o mundo, de que Deus Se achava presente manifestando-Se poderosamente em seu meio.
Todavia, não transcorreu muito tempo sem que surgissem entre os crentes graves erros de doutrina e de conduta; tais erros ameaçavam a vida daquela coletividade cristã. A primeira carta aos coríntios destina-se à correção desses erros.
Em primeiro lugar, haviam surgido deploráveis divisões na igreja; essas divisões se haviam transformado em partidos hostis, que abalavam os próprios alicerces da unidade que deve vincular todos quantos se dizem irmãos em Cristo.
Em segundo lugar, um de seus membros era culpado de grosseira imoralidade, um tipo de imoralidade que até mesmo aquela sociedade licenciosa e dissoluta teria condenado; a despeito disso, a congregação de crentes não havia disciplinado o ofensor nem o havia expulsado da comunhão.
Em terceiro lugar, os membros daquela coletividade cristã denunciavam-se uns aos outros perante tribunais pagãos, aos quais recorriam para solucionar pendências que surgiam entre eles, em vez de resolverem suas dificuldades no espírito do amor cristão dentro da igreja, ou se disporem, segundo o exemplo de Cristo, a sofrer o mal sem vingar-se.
Em quarto lugar, alguns haviam cometido atos imorais com prostitutas e procuraram justificar tal comportamento afirmando que apenas o corpo estivera envolvido, e que os atos do corpo não tinham consequência.
Em quinto lugar, a ceia do Senhor, que deveria ter sido uma expressão de harmonia e amor, degenerara-se em ato de irreverência, de glutonaria e de comportamento pouco caritativo.
Em sexto lugar, comportavam-se desordenadamente quando se reuniam para os cultos públicos, especialmente no que respeita ao exercício dos dons espirituais com os quais haviam sido dotados. Paulo julga necessário lembrar-lhes que o dom do amor é o maior dos dons e o que mais deve ser buscado, fora do qual todos os demais dons estão destituídos de valor. O capítulo 13 é uma ode ao amor.
Em sétimo lugar, insinuara-se na igreja de Corinto um ensino herético que, negando a ressurreição de Cristo e igualmente a possibilidade de qualquer ressurreição, desferia um golpe severo contra o fundamento mesmo da fé cristã.
 Todos estes assuntos, cada um deles vergonhoso por si só, recebem cuidadosa e urgente atenção nesta carta.
O apóstolo Paulo oferece também instrução sobre outras questões que os coríntios haviam mencionando em carta que lhe enviaram. Tais questões podem ser assim resumidas: Era aconselhável ao crente casar-se? Deve o marido ou a esposa, depois de converter-se, continuar vivendo com um cônjuge não converso? Qual devia ser a atitude do crente quanto ao comer carne que anteriormente havia sido oferecida em sacrifício a ídolos? Devia a mulher cobrir a cabeça quando assistia ao culto público? Qual o significado da variedade de dons espirituais? Que medidas deveriam ser tomadas com respeito à coleta de fundos para socorro aos crentes pobres de Jerusalém?
Seria erro imaginar que o conteúdo desta epístola se aplica somente a esta situação particular da igreja do primeiro século em Corinto. Muito embora as circunstâncias e a forma externa dos problemas da igreja variem de época para época, em sua essência continuam sendo os mesmos, e os princípios aqui lançados pelo apóstolo são aplicáveis ao nosso tempo e situação, com tanta eficácia como o foram naquele tempo. Havia, assim, posicionamentos do apóstolo aplicáveis particularmente àquela comunidade, assim como ensinamentos destinados a qualquer comunidade cristã em qualquer local e tempo.
A evidência interna e a externa mostra que o apóstolo Paulo foi o autor desta epístola. Não é possível fixar com certeza a data em que foi escrita, mas provavelmente o foi na primavera do ano 55, 56 ou 57. Naquele tempo o apóstolo encontrava-se em Éfeso, durante o correr de sua terceira viagem missionária.


Philip E. Hughes

domingo, 8 de setembro de 2019

Incongruências



Confesso que tive algumas dificuldades com a leitura bíblica.
Eu fiquei 15 anos – de 1996 a 2011 – servindo como “portador de ministério” numa igreja denominacional, como diácono, depois pastor e, por fim, evangelista – eram trabalhos voluntários, não remunerados financeiramente. Diácono, pastor e evangelista eram os títulos dos cargos ali exercidos – há outros de maior “hierarquia”, mas não interessam aqui. Nunca tivemos nenhuma formação teológica – a igreja/denominação dispensava – bastando que se estudasse semanalmente um pequeno texto com pensamentos redigidos por outrem – o líder-mor da igreja/denominação – em cima de alguns pontos bíblicos, usados para se fazer a pregação daquele dia. Éramos aconselhados a ler a Bíblia – talvez uns 15 minutos por dia, se desse, quem sabe – e, no caso do material para o “sermão” com seu texto bíblico de base/referência, que lêssemos o capítulo bíblico inteiro onde estava contido, para que pudéssemos entender o contexto. Os membros desta igreja/denominação nem mesmo são estimulados às leituras bíblicas, uma vez que a instituição entende que podem ser de difícil compreensão, e só quem têm “autoridade espiritual” para a interpretação das Escrituras são os líderes-mor da igreja/denominação – mas hein?!
(Hoje não ativo mais nestes cargos, nem mesmo frequento aquela igreja/denominação, por motivos particulares que não cabe aqui expor, uma vez que este não é o mote do que estou escrevendo neste texto).
Pois bem. Somente depois de estar afastado das atividades ministeriais eclesiásticas é que me detive à leitura da Bíblia, de cabo a rabo – hodiernamente tenho prazer em estudá-la, refletir sobre, interiorizá-la e, sobretudo, confiando que Deus me ajuda. Sempre peço: “Senhor, escreva a Tua Palavra em meu coração, em minha mente, em minha alma, em meu ser, pelo ativar do Espírito Santo e em nome de Jesus”. E tem dado certo!
Hoje, se alguém me pede conselhos de “como ler a Bíblia”, digo assim: Comece pelos quatro evangelhos, leia Atos dos Apóstolos, depois as epístolas (pule o Apocalipse); depois releia os quatro evangelhos, fazendo os links de pontos em comum entre os quatro; depois leia os Salmos e os Provérbios; só então faça a leitura desde o “começo”, no Gênesis e termine – agora sim – no Apocalipse.
Acho esta forma de leitura muito mais eficaz, uma vez que a Bíblia é o único livro em que temos que conhecer o desfecho primeiro – que é Jesus – para podermos entender o contexto todo, desde o início. Temos que conhecer seu personagem principal – que é Jesus – para que o resto faça sentido. Temos que usar Jesus como a chave interpretativa de toda a leitura.
Agora, quero retomar desde o primeiro parágrafo, lá em cima: Confesso que, no início, tive algumas dificuldades com a leitura bíblica. Essas dificuldades se deram graças às incongruências ali encontradas, seus pontos conflitantes, suas dicotomias, seus mandos e desmandos, suas tiranias, vilanias e autoritarismos, uma divindade mostrada por vezes vingativa, contrastando com a divindade amorosa apresentada ao final. Há – para alguns – a dicotomia dos “dois deuses diferentes” em personalidade, o do Antigo Testamento e o do Novo. É difícil explicar o inexplicável – pois é assim que Deus é qualificado por muitos estudiosos bíblicos. A dificuldade que tive cessou quando me ative somente a Jesus e ao que se coadunava ao jeito d’Ele. Ali “unifiquei” diferentes “deuses” num Deus só e definitivo: Aquele mostrado por Cristo!
Outra hora, aqui mesmo no Blog, voltarei a falar disso, com mais tempo e detalhes.
Por agora, quero ater-me a uma coisa muito comum na cristandade, que é justamente tentar explicar – em infinitos debates e embates – essas incongruências a que me referia antes. Perde-se considerável tempo e energia em intermináveis discussões teológicas.
Igrejas/denominações foram fundadas – dissidentemente – por discordâncias teológicas. Guerras foram travadas por cristãos de frentes diferentes. Supostas bruxas foram queimadas em nome das “escrituras”. Pensadores livres foram aprisionados em seus pensamentos, obrigados a negá-los, sob pena de tortura e morte, em épocas de inquisições. Enfim, a lista seria longa.
Dia desses li uma frase interessante, cujo autor desconheço, que dizia assim: “No reino das interpretações, todos os devaneios encontram seu lugar”.
E há muitas interpretações dos escritos usados pelos cristãos. Potencializo dizendo que há quase uma interpretação por leitor.
E como gostam de defender suas “verdades” e convicções!
Se descabelam e se engalfinham por causas escriturísticas, travam verdadeiras batalhas!
Não estou entrando no mérito de “certo e errado” dessas atitudes, pois cada um age como melhor lhe aprouver; apenas as aponto e falo do meu espanto em relação a elas.
Eu, de minha parte, parei com isso faz tempo. Graças a Deus!
Hoje, ando pacificado.
Leio a Bíblia, viajo por suas páginas, mas não me estresso com os seus inexplicalismos. Deixo, serenado, que Deus trate de me apontar sempre a Sua Palavra, aquilo que minha alma anseia naquele dia e se identifica. E, digo de novo, tem dado certo!
Também viajo por outras literaturas de cunho espiritual/psicológico, de alimento à alma/mente, também pacificado e retendo o que é bom. E, a título de conhecimento, faz bem.
Jesus Cristo é e seguirá sendo minha chave hermenêutica, minha fonte interpretativa. E o Espírito Santo, que em nós faz morada quando por Ele ansiamos, trata de esclarecer tudo. Afinal, como escreve o apóstolo Pedro: Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo (II Pedro 1:20-21).
Vinculado em comunhão a Deus, minha alma “sabe” discernir o que é do que não é. E é neste “ser” da alma sapiente daquilo que Deus, por Seu Espírito, a impulsiona a “saber”, que ando pela vida de mãos dadas ao Senhor.

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Romanos



Chave: justificação pela fé.
Depois da saudação e da ação de graças, o apóstolo Paulo, referindo-se a um texto do Antigo Testamento (Habacuque 2:4), apresenta o tema da epístola que é a justificação pela fé.
Os três capítulos iniciais estabelecem o primeiro ponto principal: que todos os homens são pecadores. Paulo começa por uma descrição da crassa idolatria e imoralidade dos gentios; contudo, em virtude da revelação do poder de Deus na natureza, e pelo testemunho de suas próprias consciências de que “são dignos de morte os que tais coisas praticam”, os gentios são considerados responsáveis.
Ao mesmo tempo, os judeus são igualmente pecadores, muito embora sejam eles objeto dos oráculos divinos. Os gentios pecaram sem Lei – perecerão sem Lei; os judeus pecaram sob a Lei – serão julgados pela Lei. “Porque os que só ouvem a Lei não são justos diante de Deus; mas os que praticam a Lei hão de ser justificados” (2:13). Contudo, não há praticantes da Lei, quer judeus, quer gentios, porque “não há um justo, nem um sequer” (3:10). “Por isso nenhuma carne será justificada diante dele” (3:20). Portanto, se alguém vier a ser justificado, Deus mesmo terá de proporcionar misericordiosamente a justiça necessária para a absolvição. Isto se efetua em virtude do sacrifício propiciatório de Cristo. Seu sangue derramado satisfaz a justiça do Pai, de maneira que Deus pode ser justo e, ao mesmo tempo, justificador daquele que tem fé em Jesus.
O capítulo 4, citando a Abraão como principal exemplo, explica mais extensamente de que forma Deus atribui a justiça sem as obras. A seguir, o capítulo 5 estabelece um paralelo entre Adão e Cristo. Todos aqueles a quem Adão representava foram feitos pecadores por sua desobediência; todos quantos estão em Cristo são feitos justos por Sua obediência. Em resposta à acusação de que a justificação pela fé estimula o pecado – “permaneceremos no pecado, para que a graça abunde?” (6:1) –, o apóstolo Paulo explica que o crente sincero recorreu a Cristo a fim de escapar do pecado. A justificação produz santificação, e essa luta pela santificação pessoal (7:14-25) é prova de que escapamos à condenação. Portanto, em virtude do amor imutável de Deus (8:39), podemos ter a segurança da salvação.
A justificação pela fé, a rejeição dos judeus e a inclusão dos gentios são consequentes com as promessas de Deus a Israel. Tais promessas foram feitas aos descendentes espirituais de Abraão. Deus escolheu a Isaque e rejeitou a Ismael. Deus escolheu a Jacó e rejeitou a Esaú. Estas escolhas e exclusões são inerentes às próprias promessas. A eleição de Deus é soberana. É como o oleiro que fabrica vasos para determinados fins. Contudo, chegará o dia quando, em geral, os judeus serão enxertados de novo.
Em virtude destas misericórdias divinas, todo crente deve cumprir sua função particular na igreja, com diligência e singeleza. De igual maneira, no país, todo crente deve ser bom cidadão.
Finalmente, Paulo expressa a esperança de visitar Roma em sua viagem com destino à Espanha, e termina a carta com saudações pessoais.
A epístola aos Romanos, a mais longa, a mais sistemática e a mais profunda de todas as epístolas – e talvez o livro mais importante da Bíblia depois dos quatro evangelhos –, foi escrita pelo apóstolo Paulo (1:1-5). Naquela ocasião ele se encontrava em Corinto (15:26; 16:1-2). A cuidadosa composição da carta sugere que depois de algumas experiências tempestuosas ali, desfrutou um período de tranquilidade antes de receber dinheiro de ajuda aos santos em Jerusalém. Isto situa a carta por volta do ano 58 de nossa era. Diferentemente das demais epístolas, a dirigida aos romanos foi escrita a uma igreja que ele nunca havia visitado até então (1:10-15).

Gordon H. Clark

domingo, 1 de setembro de 2019

Transformar Água em Vinho



No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava ali; Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”.
Respondeu Jesus: “Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou”.
Sua mãe disse aos serviçais: “Façam tudo o que ele lhes mandar”.
Ali perto havia seis potes de pedra, do tipo usado pelos judeus para as purificações cerimoniais; em cada pote cabiam entre oitenta e cento e vinte litros.
Disse Jesus aos serviçais: “Encham os potes com água”. E os encheram até a borda.
Então lhes disse: “Agora, levem um pouco ao encarregado da festa”.
Eles assim fizeram, e o encarregado da festa provou a água que fora transformada em vinho, sem saber de onde este viera, embora o soubessem os serviçais que haviam tirado a água. Então chamou o noivo e disse: “Todos servem primeiro o melhor vinho e, depois que os convidados já beberam bastante, o vinho inferior é servido; mas você guardou o melhor até agora”.
Este sinal miraculoso, em Caná da Galileia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele.

Este texto se encontra no Evangelho de João, capítulo 2, versículos 1 a 11. É o célebre e conhecido “milagre da transformação da água em vinho”.
Sobre isso, quero falar um pouco, olhando sob um prisma diferente. Assim:
Desde os tempos da ressurreição de Jesus e, consequentemente, bem próximo do tempo do “início da Igreja”, é que existe o mandamento de “pregar o Evangelho”. Atesta-se isso com estas passagens:
Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas (Marcos 16:15). Aqui Jesus comissiona todos a pregarem o Evangelho.
Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum (Atos 2:42-44). Aqui inicia-se, de fato e de forma prática, a Igreja.
Pois bem. Assim como naqueles tempos, em tempos hodiernos não é diferente: pregar o Evangelho e manter-se unido como Igreja – e Igreja são as pessoas que regem suas vidas pelos ensinamentos de Jesus, independente de denominações eclesiásticas – segue sendo um mandamento ad infinitum.
Assim, cabe isso a mim e a você que por aqui lê o que escrevo e compartilho.
Especificamente no que tange a pregar o Evangelho, dentro das minhas possibilidades, é o que vou fazendo. Faço-o pelas mídias – blog Livres Discípulos de Cristo, Facebook, WhatsApp – e ao vivo, pessoalmente, in loco, sempre que a oportunidade se dá.
 Então – como aqui e agora – vou pregando...
Bem, dentro desse ato de pregar e compartilhar o Evangelho – a Palavra, que é Cristo –, podemos “cair numa tentação”: não nos contentarmos apenas em pregar e compartilhar, mas também tentar “convencer” ao outro.
Às vezes, diante de alguma reticência – ou resistência – daquele a quem pregamos, podemos nos sentir impacientes; achamos que temos o “dever” de convencer. Ansiosamente, podemos tentar “empurrar goela abaixo” a mensagem que tentamos passar. Como pode ser que o outro, aparentemente, não aceita o que dizemos de Jesus? O que podemos fazer para convencê-lo? Ah, não posso deixar isso assim; tenho que fazer alguma coisa incisiva!
Essa tentação, esse afã, essa ansiedade da nossa parte e esse ímpeto podem frustrar nossa tarefa – simples, de somente compartilhar o Evangelho – e podem – normalmente fazem! – impedir que o outro receba o que tentamos lhe dar. Diante desse nosso “avanço” o outro “recua” e “se fecha”, não só para nós, mas – infelizmente! – para o Evangelho. E a responsabilidade foi nossa! Como? Por tentarmos forçar a barra!
O que fazer, então?
Não é o que fazer, mas como fazer.
Como fazer, então?
Simples: O Evangelho mesmo nos ensina o modus operandi. E o aprendi pela Palavra acima, a da “transformação da água em vinho”. Vou explicar:
O que Jesus pede?
Que encham os potes (algumas traduções dizem talhas) de água. E encher até a borda, ou seja, por completo.
Ponto. Era esse o trabalho dos serviçais.
Depois disso feito, a água, miraculosamente – pelo agir silencioso e imperceptível de Jesus – se transformou em vinho.
Desde há muito que, na Bíblia, se relaciona a água à Palavra; a água representa, figuradamente, a Palavra de Deus. E se relaciona, de forma análoga, o vinho ao sangue de Cristo, que traz em si mesmo o perdão dos pecados, a redenção e a transformação “do velho homem” para o “novo homem”. Resumindo, a água é a Palavra e o sangue é a nova Vida em Cristo.
Então, figuradamente, encher os vasos de água é colocar a Palavra no coração das pessoas. E, quando as pessoas estão repletas da Palavra que compartilhamos, esta se transforma na conversão para uma nova Vida em Cristo.
Atenção ao que segue agora! Agora quero aclarar a lição que aprendi:
A mim, como servo – ou serviçal – cabe tão-somente levar a Palavra, e levá-la por completo, isto é, transmitindo-a da melhor maneira que posso, de forma que encha até a borda o coração daquele a quem a transmito. Ponto. Terminou o meu trabalho. Não posso tentar convencer, não posso tentar transformar o coração do outro a quem transmiti a Palavra. Essa tarefa de convencimento, de conversão, de transformação, não é minha. De quem é? Justamente. Essa á a tarefa de Jesus Cristo!
Eu tão-somente levo a Palavra. Jesus opera o milagre da transformação.
Foi essa a lição que aprendi com esta passagem.
Espero ter podido derramar um pouco de água no seu coração também. Se assim foi, bem, agora, é com Ele.

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert