Confesso que tive algumas
dificuldades com a leitura bíblica.
Eu fiquei 15 anos – de 1996 a 2011
– servindo como “portador de ministério” numa igreja denominacional, como
diácono, depois pastor e, por fim, evangelista – eram trabalhos voluntários,
não remunerados financeiramente. Diácono, pastor e evangelista eram os títulos
dos cargos ali exercidos – há outros de maior “hierarquia”, mas não interessam
aqui. Nunca tivemos nenhuma formação teológica – a igreja/denominação
dispensava – bastando que se estudasse semanalmente um pequeno texto com
pensamentos redigidos por outrem – o líder-mor da igreja/denominação – em cima
de alguns pontos bíblicos, usados para se fazer a pregação daquele dia. Éramos
aconselhados a ler a Bíblia – talvez uns 15 minutos por dia, se desse, quem
sabe – e, no caso do material para o “sermão” com seu texto bíblico de
base/referência, que lêssemos o capítulo bíblico inteiro onde estava contido,
para que pudéssemos entender o contexto. Os membros desta igreja/denominação
nem mesmo são estimulados às leituras bíblicas, uma vez que a instituição
entende que podem ser de difícil compreensão, e só quem têm “autoridade
espiritual” para a interpretação das Escrituras são os líderes-mor da
igreja/denominação – mas hein?!
(Hoje não ativo mais nestes
cargos, nem mesmo frequento aquela igreja/denominação, por motivos particulares
que não cabe aqui expor, uma vez que este não é o mote do que estou escrevendo
neste texto).
Pois bem. Somente depois de estar
afastado das atividades ministeriais eclesiásticas é que me detive à leitura da
Bíblia, de cabo a rabo – hodiernamente tenho prazer em estudá-la, refletir
sobre, interiorizá-la e, sobretudo, confiando que Deus me ajuda. Sempre peço: “Senhor,
escreva a Tua Palavra em meu coração, em minha mente, em minha alma, em meu
ser, pelo ativar do Espírito Santo e em nome de Jesus”. E tem dado certo!
Hoje, se alguém me pede conselhos
de “como ler a Bíblia”, digo assim: Comece pelos quatro evangelhos, leia Atos
dos Apóstolos, depois as epístolas (pule o Apocalipse); depois releia os quatro
evangelhos, fazendo os links de
pontos em comum entre os quatro; depois leia os Salmos e os Provérbios; só
então faça a leitura desde o “começo”, no Gênesis e termine – agora sim – no
Apocalipse.
Acho esta forma de leitura muito
mais eficaz, uma vez que a Bíblia é o único livro em que temos que conhecer o
desfecho primeiro – que é Jesus – para podermos entender o contexto todo, desde
o início. Temos que conhecer seu personagem principal – que é Jesus – para que
o resto faça sentido. Temos que usar Jesus como a chave interpretativa de toda
a leitura.
Agora, quero retomar desde o
primeiro parágrafo, lá em cima: Confesso que, no início, tive algumas
dificuldades com a leitura bíblica. Essas dificuldades se deram graças às
incongruências ali encontradas, seus pontos conflitantes, suas dicotomias, seus
mandos e desmandos, suas tiranias, vilanias e autoritarismos, uma divindade mostrada
por vezes vingativa, contrastando com a divindade amorosa apresentada ao final.
Há – para alguns – a dicotomia dos “dois deuses diferentes” em personalidade, o
do Antigo Testamento e o do Novo. É difícil explicar o inexplicável – pois é
assim que Deus é qualificado por muitos estudiosos bíblicos. A dificuldade que
tive cessou quando me ative somente a Jesus e ao que se coadunava ao jeito
d’Ele. Ali “unifiquei” diferentes “deuses” num Deus só e definitivo: Aquele
mostrado por Cristo!
Outra hora, aqui mesmo no Blog,
voltarei a falar disso, com mais tempo e detalhes.
Por agora, quero ater-me a uma
coisa muito comum na cristandade, que é justamente tentar explicar – em
infinitos debates e embates – essas incongruências a que me referia antes.
Perde-se considerável tempo e energia em intermináveis discussões teológicas.
Igrejas/denominações foram fundadas
– dissidentemente – por discordâncias teológicas. Guerras foram travadas por
cristãos de frentes diferentes. Supostas bruxas foram queimadas em nome das
“escrituras”. Pensadores livres foram aprisionados em seus pensamentos,
obrigados a negá-los, sob pena de tortura e morte, em épocas de inquisições.
Enfim, a lista seria longa.
Dia desses li uma frase
interessante, cujo autor desconheço, que dizia assim: “No reino das
interpretações, todos os devaneios encontram seu lugar”.
E há muitas interpretações dos
escritos usados pelos cristãos. Potencializo dizendo que há quase uma
interpretação por leitor.
E como gostam de defender suas
“verdades” e convicções!
Se descabelam e se engalfinham por
causas escriturísticas, travam verdadeiras batalhas!
Não estou entrando no mérito de
“certo e errado” dessas atitudes, pois cada um age como melhor lhe aprouver;
apenas as aponto e falo do meu espanto em relação a elas.
Eu, de minha parte, parei com isso
faz tempo. Graças a Deus!
Hoje, ando pacificado.
Leio a Bíblia, viajo por suas
páginas, mas não me estresso com os seus inexplicalismos.
Deixo, serenado, que Deus trate de me apontar sempre a Sua Palavra, aquilo que
minha alma anseia naquele dia e se identifica. E, digo de novo, tem dado certo!
Também viajo por outras
literaturas de cunho espiritual/psicológico, de alimento à alma/mente, também
pacificado e retendo o que é bom. E, a título de conhecimento, faz bem.
Jesus Cristo é e seguirá sendo
minha chave hermenêutica, minha fonte interpretativa. E o Espírito Santo, que
em nós faz morada quando por Ele ansiamos, trata de esclarecer tudo. Afinal,
como escreve o apóstolo Pedro: Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura
provém de interpretação pessoal,
pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte
de Deus, impelidos pelo Espírito
Santo (II Pedro 1:20-21).
Vinculado em comunhão a Deus,
minha alma “sabe” discernir o que é do que não é. E é neste “ser” da alma
sapiente daquilo que Deus, por Seu Espírito, a impulsiona a “saber”, que ando
pela vida de mãos dadas ao Senhor.
Por hora é isso, pessoal. Que a
liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert
Chave hermeneutica-um conceito um pouco dificil!
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