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quinta-feira, 31 de março de 2022

92 – No Princípio


 

O primeiro livro da Bíblia é o Gênesis. O seu nome foi tirado da primeira palavra do texto original em hebraico, “bereshith”, que significa “no princípio”. “Gênesis” é a tradução da palavra hebraica. Esse livro descreve a criação do mundo, a queda da humanidade e os primórdios da história da nação de Israel. Também institui temas importantes, recorrentes por toda a Bíblia, tais como pecado, redenção, ira e compaixão. E fornece pistas para a compreensão dos demais textos hebraicos.

 

A Estrutura do Gênesis

O Gênesis inicia-se com a História da Criação, que funciona como uma introdução ao livro e à Bíblia como um todo. Seguem-se dez partes, cada qual começando com as palavras “eis a narrativa de”.

Cada narrativa conta a história de uma ou mais pessoas e seu relacionamento com Deus. As dez partes podem ser arrumadas em dois grupos de cinco. O primeiro grupo é conhecido como a “história primeva” (de Adão a Abraão). O segundo é chamado de “história patriarcal” (a história dos antepassados de Israel).

 

A História da Criação

A narrativa da Criação está registrada em dois capítulos do livro do Gênesis. Alguns estudiosos bíblicos sustentam que eles se originam de duas diferentes tradições. O Gênesis 1 fornece uma visão geral da origem do universo, descrevendo a criação do céu e da terra, que ocorre num período de seis dias; o Gênesis 2 concentra-se mais na criação da espécie humana e o seu lugar dentro do universo.

 

Mitos do antigo Oriente Médio

Partes do Gênesis assemelham-se a outros textos literários do antigo Oriente Médio. Os elementos mais comuns são os conceitos da separação da terra do céu, e a criação do homem a partir da terra. Um poema babilônio conhecido como “Os Akrakhasis” é bem próximo ao relato bíblico. Descreve como ao homem é ordenado labutar a terra (Gênesis 3), que depois é destruída por uma grande enchente (Gênesis 7-9).

 

O Jardim do Éden

Adão e Eva viveram no Jardim do Éden, que passou a representar o paraíso na terra. Quando o texto hebraico foi traduzido para o grego, a palavra usada para jardim foi “paradeisos”. Então, em algumas versões, tornou-se “paraíso”.

 

O objetivo do Gênesis

Inicialmente, o Gênesis foi escrito para ensinar os israelitas sobre suas origens, sua fé e suas responsabilidades como povo escolhido de Deus. Seu conteúdo foi disposto em partes claramente definidas para ajudar os leitores ou ouvintes a lembrar as instruções de Deus. O texto contém repetições e palavras e frases padronizadas, que também reforçam a mensagem de Deus.

 

O Deus do Gênesis

Na Bíblia, há muitas palavras para significar Deus. No Gênesis, seis diferentes palavras hebraicas se referem a Deus, cada uma enfatizando um aspecto diferente de sua natureza. A mais importante é Yahweh (Êxodo 3:14), que significa “Eu Sou o Que Sou”. Esse nome é tão sagrado para os judeus, que eles evitam usá-lo e, em vez disso, dizem “Adonai”, que significa “Senhor”. Às vezes, Deus é chamado simplesmente de “El”, a expressão de Seu poder.

É também usado o tetragrama YHWH para representar o nome de Deus – Yahweh.

 

Como Deus aparece?

Na Bíblia, poucos encontram-se com Deus em pessoa e, nessas ocasiões, ele fica oculto atrás de um brilho radiante. Em geral, Deus manifesta-se através de várias formas da natureza, tais como trovão, relâmpago e fumaça. Moisés alerta os israelitas a não olharem diretamente para Deus, pois podem perecer (Êxodo 19:21).

Deus também aparece para o seu povo em visões e sonhos. O profeta Isaías teve uma visão de Deus entronizado (Isaías 6:1), e Jacó, em um sonho, viu Deus no topo de uma alta escadaria (Gênesis 28:12).

 

Autoria do Gênesis

O livro do Gênesis não faz referência ao seu autor. Entretanto, as tradições judaica e cristã creditam os cinco primeiros livros da Bíblia a Moisés. O material primitivo teria sido transmitido por via escrita ou oral e, posteriormente, registrado por Moisés.

Para fazer sentido, os textos do Gênesis devem ser vistos de acordo com o contexto da época em que foram escritos, ou seja, após os israelitas terem recebido a Lei de Moisés. Os leitores hebreus conseguiam reconhecer quaisquer referências a essas leis porque estavam familiarizados com elas. As leis continham instruções detalhadas para culto, sacrifícios e obrigações civis e morais.

 

Sacrifícios

Os israelitas ofereciam animais ou outras posses em sacrifício, a fim de obter o perdão de Deus para seus pecados. As primeiras ofertas mencionadas na Bíblia são feitas por Caim e Abel. Deus aceita o sacrifício de Abel, os seus primeiros e melhores cordeiros, mas rejeita os “frutos da terra”, o presente de Caim (Gênesis 4:3).

O livro do Levítico contém exigências detalhadas para os sacrifícios rituais. Caim desagradou a Deus porque não lhe ofereceu o melhor de sua colheita (Levítico 23:10).

 

Puros e impuros

Para consumo alimentar e outras finalidades, havia uma distinção entre animais “puros” e “impuros”. Animais impuros incluem quadrúpedes de casco partido, aqueles que não ruminam, peixes sem barbatanas e escamas, aves de rapina, insetos alados e alguns “animais que rastejam” (Levítico cap. 11).

 

Genealogias

O Gênesis contém muitas listas de nomes. Uma delas rastreia os descendentes de Cam, Jafé e Sem, os filhos de Noé (Gênesis cap. 10). Os descendentes de Sem ficaram conhecidos como semitas. Os de Cam são associados aos povos hamita e cananeu, ao passo que os de Jafé são identificados como os povos da Ásia Menor, Grécia e ilhas do Mediterrâneo.

 

Nomes de Deus

·  El Elyon: Significa “Altíssimo” (Gênesis 14:18-20).

·  Shapat: Significa “Juiz” (Gênesis 18:25).

·  El Olam: Significa “O Deus Eterno” (Gênesis 21:33).

·  Yahweh-Jireh: Significa “O Senhor Proverá” (Gênesis 22:14).

·  El Elohe-Yisra’el: Significa “O Deus de Israel” (Gênesis 33:20).

·  El Shaddai: Significa “Deus Todo-Poderoso” (Gênesis  49:25).

 

Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.

domingo, 27 de março de 2022

O Que Havia Se Perdido


Mateus 18:11

“O Filho do homem veio para salvar o que havia se perdido”.

 

Jesus chama a Si mesmo de “o Filho do homem”, com isso dizendo que, mesmo sendo Ele o Filho de Deus, a Palavra encarnada, Deus conosco em forma humana, em tudo semelhante a nós – porém sem pecar e sem pecado –, Ele Se colocava lado a lado conosco, com todos os seres humanos.

Jesus dizia de Si mesmo, chamando-Se Filho do homem: “Hoje sou como você, e faço de você meu irmão”. Foi neste contexto que Ele orou em João, no capítulo 17.

Para os religiosos e os poucos eruditos da época – conhecedores das Escrituras – que O ouviam e davam ouvidos a Ele, chamar-Se de Filho do homem tinha significado também de O reconhecerem das Escrituras, posto que assim Ele aparece por lá: Repouse a tua mão sobre aquele que puseste à tua mão direita, o filho do homem que para ti fizeste crescer (Salmo 80:17). “Em minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião e foi conduzido à sua presença. Ele recebeu autoridade, glória e o reino; todos os povos, nações e homens de todas as línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que não acabará, e seu reino jamais será destruído” (Daniel 7:13-14).

Jesus diz que veio “para salvar o que havia se perdido”.

A palavra “perdido” está muito mal empregada no âmbito religioso cristão dos dias atuais.

Num ar até mesmo de velada e mascarada pretensa superioridade, uma parte do mundo cristão – especialmente o “evangélico” – classifica a humanidade em dois grupos: os “salvos” e os “perdidos”. Isso nunca me soou bem; me agride os ouvidos!

Jesus nunca disse isso. Ele nunca classificou os seres humanos nesses grupos. Ele tratava cada caso como um caso especial. Para Ele não havia essa história de divisão entre os “salvos” e os “perdidos”. Para Ele havia aqueles que O provaram em Seu amor e aqueles que ainda não O haviam provado.

Ele dizia de Si: Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede (João 6:35). E dizia também: Quem beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna (João 4:13-14). Em Jesus, tudo gira em torno de prová-Lo, de experimentá-Lo, de aplicar Seus ensinamentos na vida, em tornar prática, vida vivida, tudo o que Ele propõe.

Ele sempre falava de “beber d’Ele”, de “alimentar-se do Seu amor”, de “viver n’Ele”.

Assim, para Jesus, ser “salvo” era ser salvo da falta de amor, da indiferença, da falta de propósito e da falta de significado da vida. E é “nisso” que alguém pode estar “perdido”.

As pessoas se “perdem” quando perdem o motivo e o propósito de por que viver; quando perdem a razão por que viver; quando perdem o afã de viver a plenitude das suas possibilidades e dos seus potenciais. As pessoas se “perdem” na falta de amor – por si mesmas e pelo próximo.

E é disso que Jesus veio salvar, uma vez que, n’Ele, encontramos amor, motivo e propósito pelo que viver, afã de viver a plenitude das nossas possibilidades e potenciais. Em Jesus nos encontramos na abundância de amor – por nós mesmos e pelo próximo.

É disso que Jesus nos salva!

Assim, salvos, já não estamos mais perdidos, mas fomos por Ele encontrados!

Gosto muito de uma cena alegórica que Ele usa para Se descrever e nos descrever, em Sua relação conosco, e queria deixá-la aqui registrada para encerrar este texto:

“O que acham vocês? Se alguém possui cem ovelhas, e uma delas se perde, não deixará as noventa e nove nos montes, indo procurar a que se perdeu? E se conseguir encontrá-la, garanto-lhes que ele ficará mais contente com aquela ovelha do que com as noventa a nove que não se perderam. Da mesma forma, o Pai de vocês, que está nos céus, não quer que nenhum destes pequeninos se perca” (Mateus 18:12-14).

 

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.

Saudações,

Kurt Hilbert

quarta-feira, 23 de março de 2022

91 – Datando o Antigo Testamento


Arqueólogos e estudiosos da Bíblia têm usado uma variedade de fontes e métodos para tentar localizar no tempo os acontecimentos dos períodos do Antigo Testamento. A própria Bíblia fornece uma detalhada cronologia da história israelita e uma compreensão do modo de vida da antiguidade, fazendo com que os arqueólogos possam, então, determinar como típico um certo período histórico. Documentos e artefatos de outras civilizações do Oriente Médio também fornecem informações relevantes acerca de eventos bíblicos. Estudos modernos sobre movimentação de populações e padrões de colonização dão um peso maior a essa evidência, tornando possível inserir a Bíblia em seu contexto histórico.

 

Estabelecendo uma cronologia

Há muitas dúvidas a respeito da cronologia dos eventos na história primitiva do povo israelita. Entretanto, recentes descobertas arqueológicas de registros sobre o Oriente Médio, datados dos séculos I e II a.C., tornaram possível instituir-se um sistema de datas, de ampla aceitação, para os reis de Judá e Israel. Tabletes de argila descobertos em Nínive e outras cidades assírias têm fornecido informações acerca da morte do rei Acabe de Israel. Estes tabletes listam datas e batalhas dos soberanos assírios do período entre 892 a 748 a.C. e indicam a morte de Acabe em 853 a.C.

Outra importante fonte de informação surgiu de uma crônica babilônica descoberta na década de 1950. A crônica registra e deportação do povo de Judá para a Babilônia (cerca de 598 a.C.) e confirma a data fornecida pelos textos hebraicos, o “sétimo ano” do reinado de Nabucodonosor (Jeremias 52:28).

Há poucas evidências arqueológicas sobre os eventos da Bíblia antes dos reis israelitas. Contudo, uma cronologia dos primórdios da história de Israel pode ser criada utilizando-se as datas registradas na Bíblia e, então, voltando-se para trás através dos eventos bíblicos definidos.

O arqueólogo britânico Sir William Flinders Petrie realizou escavações na Palestina, em 1890. Comparou artefatos palestinos com objetos egípcios similares que haviam sido datados e, assim, estabeleceu uma cronologia para a antiga Palestina. Esta técnica é conhecida como cruzamento de datas.

 

A cronologia do Antigo Testamento

As datas contidas nesta cronologia são todas aproximadas, já que os arqueólogos divergem a respeito das datas de muitos eventos-chaves da Bíblia.

 

Eventos no Mundo:

·  Surgimento da escrita cuneiforme na Mesopotâmia (3000 a.C. a 2500 a.C.)

·  Construção de Stonehenge, na atual Inglaterra (2600 a.C. a 2000 a.C.)

·  Surgimento das primeiras cidades no vale do Indo (2500 a.C.)

·  Idade Miceiana, Grécia (1600 a.C. a 1100 a.C.)

·  Surge a civilização Olmec, no atual México (1500 a.C a 1200 a.C.)

·  Surgimento das primeiras cidades na China (período Shang, cerca de 1200 a.C.)

·  Primeiros Jogos Olímpicos da Grécia (776 a.C.)

·  Fundação de Roma (753 a.C.)

·  Ascensão do Reino núbio de Kush, na África (750 a.C.)

·  Início da República Romana (500 a.C.)

·  Alexandre, o Grande, derrota Dario III da Pérsia (331 a.C.)

 

Impérios e seus soberanos:

·  Cidades-Estado Sumérias (3000 a.C. a 2100 a.C.)

·  Período Antigo Babilônico (1792 a.C. a 1595 a.C.)

·  Rei Hamurabi (1792 a.C. a 1750 a.C.)

·  Império Médio Assírio (1500 a.C. a 1200 a.C.)

·  Império Hitita (1400 a.C. a 1150 a.C.)

·  Cidades-Estados Aramaicas (1000 a.C. a 700 a.C.)

·  Cidades-Estados Fenícias (1000 a.C. a 300 a.C.)

·  Império Neo-Assírio (900 a.C. a 612 a.C.)

·  Tiglat-Pileser (745 a.C. a 727 a.C.)

·  Shalmanasar V (727 a.C. a 722 a.C.)

·  Sargão II (722 a.C. a 705 a.C.)

·  Senaqueribe (705 a.C a 681 a.C.)

·  Império Neo-Babilônio (605 a.C. a 539 a.C.)

·  Nabucodonosor (605 a.C. a 562 a.C.)

·  Império Persa (549 a.C. a 331 a.C.)

·  Ciro, o Grande (549 a.C. a 530 a.C.)

·  Dario I (522 a.C. a 486 a.C.)

·  Xerxes (486 a.C. a 465 a.C.)

·  Artaxerxes (465 a.C. a 424 a.C.)

·  Período Helenista (332 a.C. a 30 a.C.)

·  Dinastia Selêucida, na Síria (280 a.C. a 63 a.C.)

 

Eventos no Egito:

·  Antigo Império (2686 a.C. a 2160 a.C.)

·  Construção da pirâmide em degraus de Sakkara (2680 a.C.)

·  Construção de pirâmides em Gizé (2500 a.C.)

·  Médio Império (2040 a.C. a 1750 a.C.)

·  Novo Império (1550 a.C. a 1086 a.C.)

·  Ahmósis (1550 a.C. a 1525 a.C.) expulsa os hicsos do Egito

·  Tuthmósis III (1479 a.C. a 1425 a.C.)

·  Tutancâmon (1336 a.C. a 1327 a.C.)

·  Ramsés II (1279 a.C. a 1213 a.C.)

·  Chechonq I (945 a.C. a 924 a.C.) invade a Palestina

·  Último período dinástico (661 a.C. a 332 a.C.)

·  Neco II (610 a.C. a 595 a.C.)

·  Rei Josias de Judá ataca os egípcios (609 a.C.)

·  Egito cai diante dos persas (525 a.C.)

·  Dinastia Ptolomaica (305 a.C a 51 a.C)

·  Ptolomeu (305 a.C. a 282 a.C.)

 

Eventos no período do Antigo Testamento:

·  Nasce Abraão (2166 a.C.)

·  Nasce Isaque (2066 a.C.)

·  Nasce Jacó (2006 a.C.)

·  Nasce José (1915 a.C.)

·  Família de Jacó se muda para o Egito (1876 a.C.)

·  Nasce Moisés (1527 a.C.)

·  Começa o Êxodo (1446 a.C.)

·  Começa a conquista de Canaã (1406 a.C.)

·  Período dos Juízes (1374 a.C. a 1043 a.C.)

·  Nasce Samuel (1100 a.C.)

·  Reinado de Saul (1050 a.C. a 1010 a.C.)

·  Reinado de Davi (1010 a.C. a 970 a.C.)

·  Reinado de Salomão (970 a.C. a 930 a.C.)

·  O Reino divide-se em Judá e Israel (930 a.C.)

·  Israel cai diante dos assírios (722 a.C.)

·  Judá torna-se vassalo de Nabucodonosor (605 a.C.)

·  Daniel é levado para a Babilônia (605 a.C.)

·  Judá cai diante dos babilônios (586 a.C.)

·  Nabucodonosor destrói o Templo (586 a.C.)

·  Israelitas voltam a Judá (537 a.C. a 445 a.C.)

·  Templo reconstruído por Zorobabel (536 a.C. a 519 a.C.)

·  Neemias vai para Jerusalém (445 a.C.)

·  Antíoco IV profana o Templo (167 a.C.)

 

Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.

sexta-feira, 18 de março de 2022

Orgulho, Sabedoria e Conselhos


Provérbios 13:10

O orgulho só gera discussões, mas a sabedoria está com os que tomam conselhos.

 

A Psicologia classifica o orgulho em dois tipos: o positivo e o negativo. O orgulho positivo está diretamente ligado à autoestima e à autoconfiança, e o negativo está relacionado à soberba e ao egocentrismo.

O ego é um dos grandes problemas do ser humano.

Jesus, ao ensinar que neguemos a nós mesmos, incluía no pacote o ego, o self – ou si mesmo –, aquela parte de nós que foi construída e rebocada pelas circunstâncias da vida, mas que, de fato, não é quem somos mesmo.

Costumamos criar, inconscientemente, um alter-ego, um “outro eu”, um personagem, onde vestimos máscaras para sermos aceitos pelo grupo social, seja na família, no trabalho, na escola, na sociedade como um todo. Fazemos muitas coisas “para agradar”. Estamos ali, fazendo uma “cara de conteúdo”, sendo quem não somos, tudo para que não experimentemos rejeição. Mas, volto a dizer, não é quem somos mesmo.

Nós somos, em mais profunda análise, aquela alma de criança, com sua pureza e confiança, que ficou em algum lugar lá atrás na cronologia da vida.

Neste processo de construção do self pelo qual passamos, o ego se manifesta pintado de acordo com as experiências e circunstâncias da vida, e de acordo com aquilo que convencionamos ser o melhor que podemos fazer, ainda que não fosse bem isso que queríamos fazer. É um pouco daquilo que o apóstolo Paulo diz, quando confessava de si mesmo: Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio [...]. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo (Romanos 7:15-19). Chega um momento em que, de tanto fazer o que se demandava de nós – mas não o que realmente queríamos –, passamos a quase que não conseguir mais fazer aquilo que, de fato, desejávamos. Vamos sendo engolidos por um modus operandi indesejado.

Assim, não é raro que, em muitos de nós, esse alter-ego – esse falso-eu – cresça de forma desproporcional.

Ego e orgulho não têm a ver com personalidade e autoestima. Estas são salutares, enquanto que aqueles, quando não domados, tornam-se nocivos.

A Palavra usada aqui para este texto nos diz que o orgulho gera discussões. A Bíblia nos ensina a evitarmos as discussões movidas pelo ego/orgulho, que não levam a nada positivo, só às dissensões: Deixem de dar atenção a mitos e genealogias intermináveis, que causam controvérsias em vez de promoverem a obra de Deus, que é pela fé. O objetivo desta instrução é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. Alguns se desviaram dessas coisas, voltando-se para discussões inúteis, querendo ser mestres da lei, quando não compreendem nem o que dizem nem as coisas acerca das quais fazem afirmações tão categóricas (1º Timóteo 1:4-7).

Há uma coisa pela qual o ser humano, via de regra, abandona tudo – amor, alegria, paz, saúde, segurança, lucidez –, e essa coisa é “ter razão”. Para impormos a nossa “razão”, para provarmos ao outro que estamos “certos”, passamos por cima de muita coisa. Faça uma autoanálise e veja se não é assim.

Quando teimamos, por nosso egocentrismo, em estarmos “certos” em relação a algo, poucas vezes conhecemos limites; ao contrário, extrapolamos muitos.

A Palavra diz que “a sabedoria está com os que tomam conselhos”.

Sobre “conselhos”, os Provérbios estão repletos. Eis mais alguns: “O conselho da sabedoria é: Procure obter sabedoria. Use tudo o que você possui para adquirir entendimento (Provérbios 4:7). “Meu é o conselho sensato; a mim pertencem o entendimento e o poder (Provérbios 8:14). O caminho do insensato parece-lhe justo, mas o sábio ouve os conselhos (Provérbios 12:15). Os planos fracassam por falta de conselho, mas são bem-sucedidos quando há muitos conselheiros (Provérbios 15:22). Dar resposta apropriada é motivo de alegria; e como é bom um conselho na hora certa! (Provérbios 15:23). Ouça conselhos e aceite instruções, e acabará sendo sábio (Provérbios 19:20).

Aquele que “ouve conselhos” também é aquele que “ouve” o que o outro fala. É aquele que dá tempo ao outro para que este possa dizer o que quer dizer, sem interrompê-lo por qualquer motivo. Há aqueles que, enquanto falamos, ficam apenas maquinando respostas àquilo que falamos, sem nem mesmo prestar atenção ao que estamos falando.

Saber ouvir é tão importante! Veja este outro “conselho”: Meus amados irmãos, tenham isto em mente: sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se, pois a ira do homem não produz a justiça de Deus (Tiago 1:19).

Quem assim pode agir leva em conta antes a “personalidade do amor” do que o “ego da razão”, e está tendo lampejos de sabedoria divina!

 

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.

Saudações,

Kurt Hilbert