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sábado, 27 de outubro de 2018

O Filho do Homem e Cordeiro de Deus



          Mateus 18:11
          “O Filho do homem veio para salvar o que havia se perdido”.

          Jesus chama a Si mesmo de “Filho do homem” – com F maiúsculo para Filho –, significando que Ele tinha também, além da natureza e essência divinas, a natureza humana.
          Significava também que Ele usava uma expressão muito conhecida nas Escrituras do Seu tempo. Esta expressão constava dos Salmos e dos Profetas. Especialmente, o profeta Ezequiel a usava em profusão – ainda que a usasse como “palavra do Senhor” referindo-se a ele, o profeta. Daniel também usa a expressão “filho do homem”, referindo-se, porém, não a ele, mas a alguém celestial com esta aparência.
          Jesus também foi chamado de “Cordeiro de Deus”, em várias passagens. Referências vêm desde o profeta Isaías, passando por outras tantas abordagens. O eunuco estava lendo esta passagem da Escritura: “Ele foi levado como ovelha para o matadouro, e como cordeiro mudo diante do tosquiador, ele não abriu a sua boca. Em sua humilhação foi privado de justiça. Quem pode falar dos seus descendentes? Pois a sua vida foi tirada da terra” (Atos 8:32-33). Depois ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que neles há, que diziam: “Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo o sempre!” (Apocalipse 5:13). Estas referências aludiam ao fato de Jesus ser o sacrifício definitivo em substituição ao homem, que Deus fazia de Si para Si mesmo, em representação de todo homem.
          O fato de Jesus ser apresentado como o “substituto” tem também uma conotação histórica e cultural. O conceito de alguém servir de “substituto” para outro alguém era conhecido da cultura hebraica, posto que no Antigo Testamento há inúmeros relatos onde o sacrifício do homem é “substituído” pelo sacrifício de algum animal para a expiação dos pecados – não do animal, mas do homem ao qual ele substituía, sofrendo a pena de morte em seu lugar. Também os romanos – que dominavam sobre Israel nos tempos terráqueos de Jesus – conheciam bem o conceito de um “substituto” sofrer a pena em lugar de alguém.
          Aí chego ao ponto onde queria chegar: falar sobre o porque de Jesus ser o Filho do homem e o Cordeiro de Deus.
          No Antigo Testamento – como falado há pouco – , nos sacrifícios no templo, um cordeiro e outros animais eram sacrificados pelos pecados dos sacerdotes e do povo. “Venha até o altar e ofereça o seu sacrifício pelo pecado e o seu holocausto, e faça propiciação por você mesmo e pelo povo; ofereça o sacrifício pelo povo e faça propiciação por ele, conforme o SENHOR ordenou” (Levítico 9:7).
          Jesus veio como o sacrifício definitivo pela humanidade, ato no qual se dava o perdão definitivo àqueles que O buscassem e ato que reconciliava o ser humano com Deus. No dia seguinte João viu Jesus aproximando-se e disse: “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1:29). Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida! Não apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a reconciliação (Romanos 5:10-11).
          Assim, Jesus é o Filho do homem porque Ele é você e eu na substituição na cruz. Pelos nossos pecados, nós deveríamos estar sofrendo a pena da condenação. Todavia, Ele está em nosso lugar. Ele nos representa. Assim como somos filhos dos homens, Ele também o é – no sentido latente de que, tanto nós como Ele, somos constituídos da mesma essência humana como homo sapiens. A diferença entre nós e Ele, no entanto, é óbvia: Ele é homem e Deus concomitantemente; nós somos homens. Ele era divino e humano; nós, humanos. Ele não pecou; nós pecamos. Somente alguém sem pecados poderia vencer o pecado – e a morte –, assim, ressuscitando dos mortos.
          Esta reconciliação se deu desde sempre. Apocalipse 13:8 nos diz assim: ... Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo. Assim, a Criação já se deu sob o signo da reconciliação e do perdão. No tempo/geografia/história, o Cristo – o Filho do homem e Cordeiro de Deus – foi imolado há dois mil anos em Israel, porém, em termos escatológicos – de salvação –, isto se deu fora do tempo/espaço, visto que a Criação já se deu com o perdão divino “pronto”.
          A Criação foi “criada” já previamente com a condição de – mediante o Cristo – estar perdoada e reconciliada, pacificada em Deus. Deus não “perdeu o controle” da Criação quando esta foi acometida pelo pecado. Poderia parecer que sim, que algo Lhe tivesse escapado. Mas como algo poderia escapar a Deus? Deus, já sabendo de tudo, de antemão preparou o “mecanismo” – esta é a palavra que melhor se encaixa aqui – para reunir tudo e todos de forma pacificada e reconciliada a Ele – por e em Cristo. Quando Jesus disse, na cruz, que tudo “está consumado”, era disso que Ele falava: se cumpria naquele momento histórico o que já estava determinado e cumprido mesmo antes da história e do tempo existirem.
          Esta é uma revelação única que só o Evangelho tem – nenhuma espiritualidade ou religiosidade humana a oferecem nem a podem oferecer, pois vem de Deus, para Deus e para a humanidade!
          Esta é uma condição única que só Cristo oferece. Por isso Ele é o Caminho, a Verdade e... a Vida!

          Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
          Saudações,
          Kurt Hilbert

domingo, 21 de outubro de 2018

I e II Crônicas



Nas Escrituras hebraicas, nossos dois livros das Crônicas formavam originalmente um só. Os tradutores da Versão dos Setenta (cerca do ano 220 a.C.) foram os primeiros a fazer a divisão. Jerônimo (morto no ano 420 d.C.) adotou esta divisão na Vulgata Latina. Tinha por título a frase hebraica “Dibrey hay-yamim”, que significa “atos dos dias”, ou relato dos acontecimentos diários.
A Versão dos Setenta, ou Septuaginta, denomina os livros das Crônicas “Paraleipomena”, que quer dizer “coisas omitidas” nos livros de Samuel e dos Reis. Contudo, os livros das Crônicas se ocupam dos mesmos fatos que estes livros, porém os apresenta com um propósito diferente e de outra forma. O título Crônicas foi adotado do termo Chronicon, empregado por Jerônimo. É um nome apropriado.
Parece evidente que quando o cronista se propõe abranger o mesmo terreno que os livros de Samuel e dos Reis, deseja apresentar os fatos segundo seu próprio ponto de vista da história do povo de Deus, desde os dias de Samuel até ao cativeiro. A nação necessitava reconstruir-se sobre sólidos alicerces espirituais, visto que o longo cativeiro havia produzido uma séria brecha no que respeita aos ideais e tradições de seu próprio povo. Anteriormente, haviam pertencido a uma teocracia, na qual se esperava que os dirigentes civis e religiosos honrassem e obedecessem tanto à verdade divina como à lei.
Israel estivera sob a monarquia persa, cujo rei era estrangeiro e pagão, nada sabia do Deus de Israel. Só mediante uma vigorosa e estrita organização eclesiástica pôde a nação manter a unidade religiosa. Quanto mais passavam os dias, tanto mais se sentiam os judeus convencidos de que a prometida soberania davídica, perpétua, se prendia mais ao reino espiritual do que ao secular. Daí que se escrevesse o livro das Crônicas. Não se tratava de uma hábil casta sacerdotal que desejasse impor suas ideias contra os profetas, como costumavam declará-lo os críticos liberais. Os que haviam regressado do cativeiro deviam compreender sua própria relação com o povo de Deus.
Depois de passar em revista a história do homem antes da época de Davi, o cronista nos aponta o significado superior da promessa feita à linha genealógica de Davi, especialmente com respeito ao futuro Messias. Acentua-se a atitude anterior dos reis com referência a assuntos religiosos mais que seus empreendimentos civis. Acentua-se a imensa importância do templo, do sacerdócio, dos ritos religiosos e da lei moral. Demonstra-se que quando os reis desafiam a lei de Deus, são eles apanhados por inequívoco castigo, enquanto os que honram as ordenanças divinas, esses prosperam.
O livro das Crônicas é acentuadamente didático, e insiste nas bênçãos recebidas por aqueles que vivem uma vida religiosa autêntica. O livro deve ter causado efeito estimulante na religião nacional. Ressalta somente as partes da história que exemplificam a vida eclesiástica (que era agora a única esfera sagrada); por exemplo, a história das dez tribos apóstatas é abandonada, visto como não conduz à edificação espiritual.
Os livros das Crônicas, de Esdras e de Neemias estão intimamente relacionados, e refletem o mesmo espírito. Crônicas é o antecedente dos outros dois, e se ocupa dos acontecimentos ocorridos depois do cativeiro. O Talmude, e a maior parte dos escritores judeus, bem como os pais da igreja cristã, atribuem os livros das Crônicas a Esdras.
Os livros das Crônicas e de Esdras são semelhantes no que respeita à linguagem e ponto de vista. Têm-se feito objeções no sentido de que as Crônicas contêm relatos de acontecimentos posteriores à época de Esdras. Poderíamos muito bem aceitar Esdras como o principal autor (ou compilador), mesmo quando pudessem ter sido feitas algumas adições mais tarde. Muitos exegetas conservadores não veem necessidade de reconhecer tais acréscimos.
O livro das Crônicas foi compilado de ricas fontes históricas que constavam de arquivos anteriores, além de Samuel e de Reis. Um estudo cuidadoso do livro tem levado muitos comentaristas dignos de crédito a fixar sua data entre os anos 430 e 400 a.C. Não existe necessidade de admitir uma data posterior.

Alexandre M. Renwick

domingo, 14 de outubro de 2018

Invocar o Nome do Senhor



          Atos 2:21
          E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.

          Invocar o nome do Senhor não quer dizer apenas sair por aí falando “Senhor, Senhor...”. Jesus mesmo disse que nem todo aquele que dissesse “Senhor, Senhor”, seria por Ele reconhecido, mas, sim, aquele que fizesse a vontade do Pai, e que obedecesse aos Seus mandamentos. Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mateus 7:21).
          Isso é invocar o nome do Senhor!
          Invocamos o nome do Senhor quando nossas palavras, atitudes e comportamentos são condizentes com os ensinamentos de Jesus. Ele não apenas fez sermões – como o assim chamado “sermão da montanha” – mas, sobretudo, Suas palavras gritavam no silêncio das Suas atitudes, no modo como Ele andava no chão da vida, como homem/Deus e Deus/homem, relacionando-se com todos – desde prostitutas, ladrões, leprosos, religiosos e críticos – de forma que todos pudessem ver n’Ele o Caminho, a Verdade e a Vida. Em Seu caminho estava a verdade e a vida; em Sua verdade estava a vida e o caminho; em Sua vida estava o caminho e a verdade. Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (João 14:6).
          Invocamos o nome do Senhor quando nos relacionamos com as pessoas à nossa volta – todas elas – de forma a que este amor esteja manifestado no nosso modo de vida, no nosso modo de ser. Ele nos dá em Si mesmo os ensinamentos e os exemplos – sempre o fez assim. “Vão aprender o que significa isto: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios’. Pois eu não vim chamar justos, mas pecadores (Mateus 9:13). Durante uma refeição na casa de Levi, muitos publicanos e “pecadores” estavam comendo com Jesus e seus discípulos, pois haviam muitos que o seguiam (Marcos 2:15). Jesus lhes disse: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas pecadores” (Marcos 2:17). Todos os publicanos e “pecadores” estavam se reunindo para ouvi-lo. Mas os fariseus e os mestres da lei o criticavam: “Este homem recebe pecadores e come com eles” (Lucas 15:1-2).
          Invocamos o nome do Senhor quando nossas palavras e nossos atos forem semelhantes, quando aquilo que falamos também é aquilo que fazemos e aquilo que somos. Pois a boca fala do que está cheio o coração (Mateus 12:34). “O que entra pela boca não torna o homem ‘impuro’; mas o que sai da boca, isso o torna ‘impuro’” (Mateus 15:11). “Mas as coisas que saem da boca vem do coração, e são essas que tornam o homem ‘impuro’. Pois do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias. Essas coisas tornam o homem ‘impuro’; mas o comer sem lavar as mãos não o torna ‘impuro’ (Mateus 15:18-20). “Nenhuma árvore boa dá fruto ruim, nenhuma árvore ruim dá fruto bom. Toda árvore é reconhecida por seus frutos. Ninguém colhe figos de espinheiros, nem uvas de ervas daninhas. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6:43-45).
          Então invocamos o nome do Senhor em nosso respirar!
          Então seremos salvos!
          Mas de que seremos salvos? Seremos salvos da falta de amor, da mornidão com que as pessoas se tratam mutuamente nos nossos dias, da dissimulação e dos jogos de faz de conta, das aparências pelas aparências, das pretensas superioridades de uns para com os outros, do fazermos de conta que não é conosco. “Um novo mandamento lhes dou: amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros (João 13:34-35). O SENHOR não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o SENHOR vê o coração” (I Samuel 16:7). “Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado (Mateus 23:12).
          Invocar o nome do Senhor é sermos sal da terra e luz do mundo, como Ele ensinou que seriamos. “O sal é bom, mas se deixar de ser salgado, como restaurar o seu sabor? Tenham sal em vocês mesmos e vivam em paz uns com os outros” (Marcos 9:50). Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-se no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mateus 5:14-16). Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João 8:12).
          Invocar o nome do Senhor não é repetirmos de forma papagaiada “em nome de Jesus”, a torto e a direito, pois isso seria usar Seu nome em vão.
          Invocar o nome do Senhor é, em suma, um ato de nossa vida, sabendo-nos agora vivendo por e em Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim (Gálatas 2:20).
          Vivendo em Cristo seremos salvos, e invocá-Lo será algo natural em nós!
          Agora, sim, posso compreender claramente o que significa a passagem que aqui uso para este texto: E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.

          Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
          Saudações,
          Kurt Hilbert

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

I e II Reis



Realeza é a chave destes livros.
Em parte alguma se diz com clareza qual o propósito destes livros. Porém, mesmo uma leitura casual deixará bem claro que o escritor se propõe demonstrar que, embora Israel tivesse uma aliança com Deus, a maior parte de seus reis havia rejeitado e ultrajado as obrigações inerentes a tal aliança.
Passa-se em revista tanto os reis de Judá como os de Israel, e até onde possível, são tratados segundo a época em que viviam. O valor de cada rei é determinado mediante comparação com dois reis de épocas anteriores. Como exemplo, o rei Davi, que se manteve bastante fiel à aliança, e o rei Jeroboão de Israel, que menosprezou a referida aliança.
A comparação, feita desta forma, demonstra se um determinado rei “andou em todo o caminho de Davi, seu pai”, ou andou em “todos os caminhos de Jeroboão, filho de Nebate”. É evidente que o escritor dos livros dos Reis descobriu que sobre estas bases foram muito poucos os reis de Israel ou de Judá que guardaram a aliança com Deus. Exceções notáveis são Asa (I Reis 15), Josafá (I Reis 15:24), Ezequias (II Reis caps. 18-20), e Josias (II Reis caps. 22-23), e mesmo estes tinham falhas.
Davi foi o rei que mais se aproximou do ideal. Pouco antes de morrer, aconselha seu filho Salomão a guardar os preceitos do Senhor (I Reis 2:3). Essa conduta é a única esperança de prosperidade e paz. O afastamento desse caminho, dessa conduta, equivalia a expor-se ao juízo divino.
A lealdade à aliança de Deus era requisito antigo em Israel. Teve sua origem em Abraão, mas encontrou expressão nacional na época do Êxodo, quando Israel, que acabava de ser libertado do Egito, se apresentou no monte Sinai e estabeleceu uma aliança solene com Deus (Êxodo 19:5; 24:3-8).
Desse momento em diante, Israel seria povo escolhido de Deus, separado das outras nações, obediente aos Seus mandamentos e leal a Ele. Aos israelitas era proibido fazer alianças com outras nações ou outros deuses. A adesão à aliança com Deus resultaria em bênçãos; a desobediência a essa aliança traria maldição e castigo. Estes princípios estão elaborados com clareza em II Reis caps. 17-23.
O escritor remonta a história de Israel desde Salomão até ao último rei de Judá. De maneira sincera, franca, narra a história triste da rejeição da aliança por parte da maioria dos reis. O colapso final de Israel diante da Síria (II Reis 17) e o de Judá diante da Babilônia (II Reis 25), constituíam uma demonstração da verdade do princípio que o livro sublinhava, e não constituiu surpresa alguma para os homens de discernimento espiritual.
Em dias posteriores, os dois livros dos Reis passaram a ser uma advertência para o remanescente do povo de Deus, proporcionando assim uma lição prática no sentido de que a rejeição da aliança com Deus, um ato pecaminoso e rebelde, só pode provocar o castigo divino.
Não se sabe quem seja o autor dos livros dos Reis. Sabe-se que tinha acesso aos anais escritos, tais como o “livro dos sucessos de Salomão” (I Reis 11:41), o “livro das crônicas dos reis de Israel” (I Reis 14:19), e o “livro das crônicas dos reis de Judá” (I Reis 14:29), que eram provavelmente documentos oficiais. Talvez tivesse acesso a outras fontes anteriores, possivelmente compilados por alguns dos profetas.
O compilador final deve ter vivido depois da queda de Judá no ano 596 a.C., visto que registra o livramento de Joaquim, por volta do ano 560 a.C. (II Reis 25:27-30).
Pelo interesse que demonstra na aliança, podemos conjeturar que se tratava de um profeta aproximadamente contemporâneo de Jeremias, e que escreveu na primeira metade do século VI a.C.

J. A. Thompson

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O Mundo Odeia os Discípulos de Cristo



          “Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes me odiou”.
          “Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia. Lembrem-se das palavras que eu lhes disse: Nenhum escravo é maior do que o seu senhor”.
          “Se me perseguiram, também perseguirão vocês. Se obedecerem à minha palavra, também obedecerão à de vocês”.
          “Tratarão assim vocês por causa do meu nome, pois não conhecem aquele que me enviou”.
          “Se eu não tivesse vindo e lhes falado, não seriam culpados de pecado. Agora, contudo, eles não têm desculpa para o seu pecado”.
          “Aquele que me odeia, também odeia o meu Pai. Se eu não tivesse realizado no meio deles obras que ninguém mais fez, eles não seriam culpados de pecado. Mas agora eles as viram e odiaram a mim e a meu Pai. Mas isto aconteceu para se cumprir o que está escrito na Lei deles: ‘Odiaram-me sem razão’”.
          “Quando vier o Conselheiro, que eu enviarei a vocês da parte do Pai, o Espírito da verdade que provém do Pai, ele testemunhará a meu respeito. E vocês também testemunharão, pois estão comigo desde o princípio”.
          “Eu lhes tenho dito tudo isso para que vocês não venham a tropeçar. Vocês serão expulsos das sinagogas; de fato, virá o tempo quando quem os matar, pensará que estará prestando culto a Deus. Farão essas coisas porque não conheceram nem o Pai, nem a mim”.
          “Estou lhes dizendo isso para que, quando chegar a hora, lembrem-se de que eu os avisei”.
   
          (Palavras de Jesus em João 15:18 a 16:4)

          As palavras acima proferidas por Jesus foram e são válidas para Seus discípulos daquele tempo, bem como para os Seus discípulos de qualquer tempo, pois, como Ele mesmo atesta:
          “Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mateus 24:35).
          “Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (João 16:33).
          “Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste” (João 17:20-23).
          Assim, não estranhemos se os verdadeiros cristãos em nossos dias forem mal-quistos pelo “mundo”, entendendo-se por “mundo” a sociedade humana.
          Muitos que se chamam cristãos – mas não o são na sua essência – denigrem a imagem de Cristo, com barganhas, negociatas e “vendendo” a fé em púlpitos que mais parecem palcos. Mas não é dos falsos que a Palavra fala; é dos verdadeiros, daqueles que guiam suas vidas no Evangelho. E os verdadeiros estão em todos os lugares e denominações eclesiásticas – e fora delas também.
          Cabe a nós pensarmos sobre isso, para vermos “onde” estamos, de que forma vivemos e como agimos.
          Mas fiquemos firmes. Uma Palavra que nos reforça é também esta: Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês” (Mateus 5:11-12).

          Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
          Saudações,
          Kurt Hilbert

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

I e II Samuel



          A chave destes livros é o Reino.
          Os livros de Samuel relatam o período de transição da teocracia para a monarquia, e o estabelecimento desta. A história começa nos dias finais dos juízes e nos deixa com o velho Davi firmemente entronizado como rei de Israel e de Judá. Samuel e Saul são os outros dois grandes personagens dos livros.
          Samuel foi o último dos juízes e o primeiro dos profetas. Homem de profunda piedade e discernimento espiritual, dedicava-se totalmente à realização dos propósitos de Deus para o bem de Israel. Embora não descendesse da linha genealógica de Arão, sucedeu a Eli no cargo sacerdotal. Ao que parece, foi o primeiro a estabelecer uma instituição para o preparo dos jovens que desejavam abraçar a vocação profética. Viu-se na contingência de guiar a Israel em algumas das mais profundas crises de sua história; no desempenho de suas funções, quase alcança a estatura de Moisés. Embora não tivesse ambições pessoais, achou-se no papel de “fazedor de reis”, comissionado para ungir a Saul, o primeiro rei, e a Davi, o maior dos reis de Israel.
          Saul, o monarca, é um personagem enigmático. Era homem de extraordinária coragem, contudo lhe faltava perseverança, ingrediente essencial para a grandeza. A inconstância de seu temperamento empanou todas as suas relações pessoais, e um medo mórbido de que surgissem possíveis rivais embargou-lhe a mente e afetou seu raciocínio. De origem humilde, foi chamado a desempenhar a função mais elevada da nação. Finalmente, sem haver alcançado o êxito que lhe desse direito de ser sepultado em um túmulo real, seus ossos foram devolvidos à sua terra de origem.
          Davi é um dos grandes personagens da história bíblica. Como Saul, procedia de família humilde, mas era dotado de atributos de ordem superior. Era homem com dotes de comando, capaz de conseguir e manter a lealdade de seus subordinados.
          Alguns de seus servos mais fiéis provinham de lugares situados fora de Judá e de Israel. Itai, por exemplo, era oriundo de Gate. Davi era administrador prudente e podia julgar com acerto a natureza humana. Sua capacidade de tomar decisões rápidas fica bem demonstrada por sua solução do delicado problema que surgiu com respeito a Mefibosete (II Samuel 19:24 e seguintes). Era poeta altamente inspirado; suas canções de louvor enriqueceram a adoração, primeiro do templo judaico, e depois da igreja cristã.
          Pensaríamos que o elevar-se a tão grande altura e a um custo tão alto lhe houvessem dado forças para vencer a tentação. Todavia, seu poder de resistência não era maior do que o dos outros mortais. Mesmo levando-se em consideração a época em que viveu, devemos admitir que, apesar de suas fraquezas, percebeu claramente os propósitos de Deus para seu povo, e previu a vinda do Rei messiânico, a quem ele, em sua vida, representou de modo imperfeito. Os livros de Samuel proporcionam-nos um capítulo indispensável nos anais do trato de Deus com seu povo Israel, e sua preservação e preparação para seus duplos fins: serem depositários dos oráculos de Deus e trazerem à luz, no seu devido tempo, “o mais importante Filho do grande Davi”.
          Em nenhuma parte se nos diz quem escreveu estes livros. A declaração constante de I Crônicas 29:29, sugere-nos de modo vigoroso que Samuel escreveu de co-autoria com Natã e Gade.

          W. J. Martin