O comportamento cristão é a chave desta
epístola.
A primeira epístola aos coríntios não é
apenas uma carta na qual o apóstolo Paulo ministra conselhos e instruções sobre
assuntos de importância da fé e do comportamento cristão; também jorra luz
reveladora sobre determinados problemas com os quais se defronta uma jovem
igreja não muito depois de sua inauguração, na metade do primeiro século de
nossa era.
O apóstolo Paulo havia levado a
mensagem de Cristo à cidade de Corinto quando realizou sua segunda viagem
missionária. Esta cidade constituía um tremendo desafio ao evangelho já por
tratar-se de um grande centro cosmopolita de comércio do mundo antigo, e também
por ser reconhecido centro de libertinagem e desregramento. Se a mensagem da
cruz tinha poder para transformar a vida de homens e mulheres de tal ambiente,
então essa mensagem era realmente poderosa. E foi precisamente isto que
ocorreu. Além do mais, os membros desta jovem igreja desfrutavam de uma
variedade de dons espirituais, e esse fato constituía confirmação tanto para
eles como para o mundo, de que Deus Se achava presente manifestando-Se
poderosamente em seu meio.
Todavia, não transcorreu muito tempo
sem que surgissem entre os crentes graves erros de doutrina e de conduta; tais
erros ameaçavam a vida daquela coletividade cristã. A primeira carta aos coríntios destina-se à correção desses erros.
Em primeiro lugar, haviam surgido
deploráveis divisões na igreja; essas divisões se haviam transformado em partidos
hostis, que abalavam os próprios alicerces da unidade que deve vincular todos
quantos se dizem irmãos em Cristo.
Em segundo lugar, um de seus membros
era culpado de grosseira imoralidade, um tipo de imoralidade que até mesmo
aquela sociedade licenciosa e dissoluta teria condenado; a despeito disso, a
congregação de crentes não havia disciplinado o ofensor nem o havia expulsado
da comunhão.
Em terceiro lugar, os membros daquela
coletividade cristã denunciavam-se uns aos outros perante tribunais pagãos, aos
quais recorriam para solucionar pendências que surgiam entre eles, em vez de
resolverem suas dificuldades no espírito do amor cristão dentro da igreja, ou
se disporem, segundo o exemplo de Cristo, a sofrer o mal sem vingar-se.
Em quarto lugar, alguns haviam cometido
atos imorais com prostitutas e procuraram justificar tal comportamento
afirmando que apenas o corpo estivera envolvido, e que os atos do corpo não
tinham consequência.
Em quinto lugar, a ceia do Senhor, que
deveria ter sido uma expressão de harmonia e amor, degenerara-se em ato de
irreverência, de glutonaria e de comportamento pouco caritativo.
Em sexto lugar, comportavam-se
desordenadamente quando se reuniam para os cultos públicos, especialmente no
que respeita ao exercício dos dons espirituais com os quais haviam sido
dotados. Paulo julga necessário lembrar-lhes que o dom do amor é o maior dos
dons e o que mais deve ser buscado, fora do qual todos os demais dons estão
destituídos de valor. O capítulo 13 é uma ode ao amor.
Em sétimo lugar, insinuara-se na igreja
de Corinto um ensino herético que, negando a ressurreição de Cristo e
igualmente a possibilidade de qualquer ressurreição, desferia um golpe severo
contra o fundamento mesmo da fé cristã.
Todos estes assuntos, cada um deles vergonhoso
por si só, recebem cuidadosa e urgente atenção nesta carta.
O apóstolo Paulo oferece também
instrução sobre outras questões que os coríntios haviam mencionando em carta
que lhe enviaram. Tais questões podem ser assim resumidas: Era aconselhável ao
crente casar-se? Deve o marido ou a esposa, depois de converter-se, continuar
vivendo com um cônjuge não converso? Qual devia ser a atitude do crente quanto
ao comer carne que anteriormente havia sido oferecida em sacrifício a ídolos?
Devia a mulher cobrir a cabeça quando assistia ao culto público? Qual o
significado da variedade de dons espirituais? Que medidas deveriam ser tomadas
com respeito à coleta de fundos para socorro aos crentes pobres de Jerusalém?
Seria erro imaginar que o conteúdo
desta epístola se aplica somente a esta situação particular da igreja do
primeiro século em Corinto. Muito embora as circunstâncias e a forma externa
dos problemas da igreja variem de época para época, em sua essência continuam
sendo os mesmos, e os princípios aqui lançados pelo apóstolo são aplicáveis ao
nosso tempo e situação, com tanta eficácia como o foram naquele tempo. Havia,
assim, posicionamentos do apóstolo aplicáveis particularmente àquela comunidade,
assim como ensinamentos destinados a qualquer comunidade cristã em qualquer local e tempo.
A evidência interna e a externa mostra
que o apóstolo Paulo foi o autor desta epístola. Não é possível fixar com
certeza a data em que foi escrita, mas provavelmente o foi na primavera do ano
55, 56 ou 57. Naquele tempo o apóstolo encontrava-se em Éfeso, durante o correr
de sua terceira viagem missionária.
Philip E. Hughes
O dom do amor e o maior dos dons e hoje a sociedade atual está com esta mesma doenca pois existe "falta"de amor-refletida no excesso de violencia da sociedade humana contemporánea.
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