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domingo, 24 de janeiro de 2021

A Prática da Oração


  

Você pode aferir a saúde da sua espiritualidade, se ela é uma espiritualidade que pratica a oração. O nosso exemplo, como sempre, é Jesus: Enquanto orava, a aparência de seu rosto se transformou, e suas roupas ficaram alvas e resplandecentes (Lucas 9:29).

Espiritualidade que não passa pela oração, é meditação. Paul Tillich disse, no fim da vida, que uma coisa estranha acontecera com ele: à medida que ele enveredara por sua perspectiva teológica semi-existencialista, ele deixara de orar; não conseguia mais orar. Tudo quanto fazia, agora, era meditar. Espiritualidade que não ora não é espiritualidade.

 É verdade que, no verdadeiro cristianismo, a vida se converte em oração, mas isso não nos faz prescindir dos momentos de entrada solitária no recôndito da casa, na solidão de um lugar, para vergar joelhos, para estar diante de Deus, todos os dias, e falar com Ele. Falar com Deus sobre Ele e por causa d’Ele, falar acerca daquilo que nos oprime e falar sobre nós mesmos. Estas são as três perspectivas de oração dos salmos. Nos salmos, as pessoas oram a Deus por causa de Quem Deus É, falam com Deus por causa dos inimigos que os oprimem e falam consigo mesmos, na presença de Deus: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?”

Se não houver essa oração, a espiritualidade está trôpega, aleijada e manca.

Cristo faz da vida uma oração. Não apenas a oração passa a ser a chave do dia e a tranca da noite, mas transforma-se no próprio ato de viver.

Jesus ensina que as mãos oram quando servem em amor, e que a vida é uma prece dramática e coreografada pelas atitudes e se transformam em oração positiva a favor dos interesses do Reino de Deus.

No entanto, não apenas o existir é uma oração, mas também deve intensificar-se na forma e nas expressões cotidianas do corpo que se ajoelha na presença de Deus, numa hora específica, quando a alma, o corpo e o espírito balbuciam as orações e súplicas diante do Pai.

A este respeito, a Escritura nos diz que Jesus orava sistematicamente. Quando Se via premido pelos múltiplos afazeres do dia e da semana, convidava os Seus discípulos para um tempo de descanso e oração. Havia muita gente indo e vindo, a ponto de eles não terem tempo para comer. Jesus lhes disse: “Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco”. Assim, eles se afastaram num barco para um lugar deserto (Marcos 6:31-32). Tal projeto não excluía, porém, a possibilidade de uma interrupção pelos clamores e aflições de uma multidão doída e faminta, que ansiava pelas mãos pródigas de Jesus. Mas muitos dos que os viram retirar-se, tendo-os reconhecido, correram a pé de todas as cidades e chagaram lá antes deles. Quando Jesus saiu do barco e viu uma grande multidão, teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar-lhes muitas coisas (Marcos 6:33-34). Assim, o tempo de oração podia ser interrompido, mas nunca o objetivo de estar diante de Deus. E, após atender as carências humanas, Ele retorna ao ponto inicial, ao objetivo maior do dia, ou seja, estar na presença de Deus, sozinho, em oração. Logo em seguida, Jesus insistiu com os discípulos para que entrassem no barco e fossem adiante dele para Betsaida, enquanto ele despedia a multidão. Tendo-a despedido, subiu a um monte para orar (Marcos 6:45-46).

O local não era necessariamente importante, desde que oferecesse a tranqüilidade necessária. Podia ser qualquer monte, em volta do mar da Galileia. Jesus tomou consigo a Pedro, João e Tiago e subiu a um monte para orar (Lucas 9:28).

Mesmo a aridez de um deserto foi para Jesus um fértil lugar de oração. Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto (Lucas 4:1). De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi a um lugar deserto, onde ficou orando (Marcos 1:35).

E Jesus chega a enfatizar o fato de que a solidão dos lugares acentua ainda mais o sentimento da presença de Deus. Mas Jesus retirava-se para lugares solitários, e orava (Lucas 5:16).

Tanto fazia, deserto ou jardim. O importante era orar, pois o que Deus faz florescer no coração pode brotar em qualquer lugar, desde que se esteja orando. Tendo terminado de orar, Jesus saiu com os seus discípulos e atravessou o vale do Cedrom. Do outro lado havia um olival, onde entrou com eles (João 18:1).

Jesus, todavia, não orava sempre sozinho. Havia momentos em que convidava amigos especiais para compartilharem um tempo de oração. Nestes encontros a glória foi manifestada. Enquanto orava, a aparência de seu rosto se transformou, e suas roupas ficaram alvas e resplandecentes (Lucas 9:29). Mas também foram manifestados o choro e a angústia. Então Jesus foi com seus discípulos para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: “Sentem-se aqui enquanto vou ali orar”. Levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes então: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo” (Mateus 26:36-38).

Para Jesus, toda hora é hora de oração. As madrugadas ouviram a Sua voz diante do Pai. De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi a um lugar deserto, onde ficou orando (Marcos 1:35). E, na escuridão, Sua presença clareava a noite pelo fulgor que de Sua face procedia.

Também ao pôr-do-sol Sua voz se erguia em oração. Uma grande decisão e uma opção definitiva eram motivos mais que suficientes para que uma noite inteira fosse gasta em súplicas. Num daqueles dias, Jesus saiu para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze deles, a quem também designou como apóstolos (Lucas 6:12-13).

Dependendo da ocasião, Jesus podia dedicar-Se a uma longa oração, ou proferir uma rápida e objetiva súplica. Jesus olhou para cima e disse: “Pai, eu te agradeço porque me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves, mas disse isso por causa do povo que está aqui, para que creia que tu me enviaste” (João 11:41-42). A coreografia do Seu corpo durante a prece compunha-se de gestos humildes: prostrava-Se em terra. Indo um pouco mais adiante, prostrou-se e orava (Marcos 14:35). Ao intensificar a agonia, intensificava-se também o Seu clamor. Estando angustiado, ele orou ainda mais intensamente; e o seu suor era como gotas de sangue que caíam no chão (Lucas 22:44).

Presentemente, há duas maneiras bem definidas de se entender a oração: há aqueles que a veem como um ritual devocional, com o qual se deve começar bem o dia; é como levantar com o “pé direito”. Para tais pessoas, não importa se alguém esteja morrendo naquele mesmo instante a espera delas, pois acham essencial não deixar de orar no tempo marcado. Pensam que Deus se compraz num tempo de oração que rouba de alguém um alívio. Este é um ponto de vista legalista em relação à oração. Por outro lado, há aqueles que não oram e que, na sua luta contra o legalismo da oração, deixam-se levar por uma espécie de antinomianismo devocional. E simplesmente não oram.

Com Jesus, no entanto, aprendemos que o discípulo deve segui-Lo ao lugar de oração. O Seu convite – “segue-me” – inclui também os momentos diários de prece. Sem oração, o discípulo é ativista, mas não discípulo. E o que retiramos do exemplo de Jesus é que, evitando qualquer legalismo, não nos deixemos enlaçar pelo descompromisso com a oração.

Como anda a sua vida de oração?

 

Um texto de Caio Fábio D’Araújo Filho

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