
Depois de uma fase de
popularidade, começou a crescer a reação contra Jesus. A transfiguração servira
de início da preparação dos discípulos para a morte do Mestre. Jesus sabia que
isso aconteceria em Jerusalém. No começo do ano 30, ele partiu para a sua
última viagem à Cidade Santa. No seu Evangelho, Lucas narra os dias finais da
vida pública de Jesus, como uma longa jornada desde a Galileia, prosseguindo
pela Samaria, Judeia e Pereia e terminando em Jerusalém – um lento avanço rumo
ao destino final. Muitos dos eventos contados por Lucas aparecem em contextos
diferentes nos outros Evangelhos. Isso talvez se deva a que Jesus repetia os
mesmos ensinamentos em mais de uma ocasião.
Samaria
A Samaria era a região
montanhosa central da Palestina; ela se limitava ao norte com a Galileia, ao
sul com a Judeia, a leste com o rio Jordão e a oeste com o mar. A fertilidade
do seu solo e a sua localização estratégica fizeram com que fosse muitas vezes
invadida.
Durante a monarquia
israelita, a Samaria era habitada pelas tribos do norte de Israel. Mas após a
conquista assíria, no século VIII a.C., houve casamentos entre israelitas,
babilônios, e outros povos trazidos pelos assírios. Dois séculos mais tarde,
depois do exílio das tribos meridionais de Judá, os judeus, que se reassentaram
em Judá (Judeia) e reconstruíram Jerusalém, encaravam os samaritanos como uma
raça impura. Durante séculos houve muita inimizade entre os dois povos. No
tempo de Jesus, muitos judeus evitavam a Samaria, preferindo cruzar o Jordão e
viajar através da Pereia. Jesus, porém, foi à Samaria, e muitos samaritanos se
tornaram seus seguidores.
Pereia
O nome dessa pequena
região situada na margem oriental do Jordão significa “além”. Com 16 km de
largura, ela se estendia do rio Yaarmuk, ao norte, ao rio Arnon, ao sul.
Durante a ocupação
romana, a área era habitada por judeus. Correspondia à terra de Gileade, no
Antigo Testamento, e é mencionada no Novo Testamento como a região “além do
Jordão”.
A Pereia era uma
atraente região serrana, com plantações de olivais, vinhedos e campos de trigo
e cevada. Suas regiões baixas eram também conhecidas pelas suas pastagens de
estepes. Nos tempos de Jesus, ela fazia parte do Império Romano e era governada
por Herodes Antipas.
Judeia
A terra montanhosa e
árida da Judeia contrastava fortemente com as ricas terras agrícolas da Samaria
e Galileia. Entretanto, a Judeia tinha os seus próprios vinhedos e culturas de
oliveiras e figueiras, e a área produzia vários cereais. Também havia terras de
pastagens, onde se criavam ovelhas. Do Mar Morto se extraía sal, tanto para
consumo local como para exportação.
A população da Judeia
se concentrava sobretudo em Jerusalém e seus arredores; as comunidades agrárias
habitavam pequenos vilarejos. Jesus passou por esses lugares, percorrendo as
estradas principais ou os caminhos através dos campos, e pregando, em muitos
deles, com os seus discípulos.
Como
Jesus viajava
Viajar por terra era
frequentemente perigoso, por causa dos bandidos. Viajar sozinho era muito
arriscado e as pessoas costumavam se juntar em caravanas ou grupos. Jesus
viajava com seus discípulos, e alguns deles levavam espadas. Para evitar o
calor do meio-dia, caminhava-se de manhã e ao anoitecer. A cada nova área
fiscal que se atravessava, era preciso pagar pedágios.
Os romanos
construíram, por todo o seu império, uma extensa rede de boas estradas. Elas
eram retas, niveladas, e tinham sistemas apropriados de drenagem. As estradas
que levavam às principais cidades tinham calçadas para pedestres. Mas, mesmo no
tempo dos romanos, as estradas menores eram muito precárias.
As estalagens eram
lugares ambíguos onde, às vezes, a prostituição era parte do serviço. Os
viajantes preferiam pernoitar em casas particulares. Em Israel, a hospitalidade
era encarada como um dever sagrado. A hospedagem costumava ser gratuita, mas a
comida era levada pelos próprios viajantes ou comprada no caminho.
Habitação
As casas onde Jesus e
seus discípulos se hospedavam eram, em sua maioria, modestas. As pessoas mais
pobres moravam em casas de um só cômodo, com telhados planos a que se tinha
acesso por uma escada externa. Muitas vezes, os aldeões trocavam notícias,
gritando uns aos outros de seus telhados, por cima do ruído das ruas. No verão,
os telhados eram usados como lugar de dormir e também para secar linho e
amadurecer frutas e legumes. Frequentemente, construía-se um cômodo extra na
parte de cima. Os mais ricos moravam em casas com colunas, contendo vários
cômodos em volta de um pátio central, onde muitas vezes de guardavam animais.
Reação
contra Jesus
Neste período, Jesus
encontrou muita oposição da parte de poderosos grupos religiosos. Os fariseus eram puristas que preconizavam
a observância da Lei nos seus mínimos detalhes. A maioria dos escribas,
eruditos que estudavam e interpretavam a Lei, pertencia a esse grupo. Os saduceus eram basicamente ricos
proprietários das famílias aristocráticas. Muitos dos grandes sacerdotes eram saduceus.
Conceitos como
ressurreição, alma, anjos e demônios eram rejeitados pelos saduceus, enquanto os fariseus
acreditavam neles. Assim, a oposição a Jesus não era unificada. Os fariseus rejeitavam a aspiração
messiânica de Jesus, mas concordavam com muitos de seus ensinamentos. Os
sacerdotes não aceitavam que ele pudesse perdoar pecados, pois confiavam nos
ritos de sacrifício para o perdão.
Esse era, em poucas
palavras, o cenário político-social nos tempos das viagens de Jesus.
Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário