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domingo, 20 de setembro de 2020

31 – As Jornadas de Jesus Para Jerusalém

 

Depois de uma fase de popularidade, começou a crescer a reação contra Jesus. A transfiguração servira de início da preparação dos discípulos para a morte do Mestre. Jesus sabia que isso aconteceria em Jerusalém. No começo do ano 30, ele partiu para a sua última viagem à Cidade Santa. No seu Evangelho, Lucas narra os dias finais da vida pública de Jesus, como uma longa jornada desde a Galileia, prosseguindo pela Samaria, Judeia e Pereia e terminando em Jerusalém – um lento avanço rumo ao destino final. Muitos dos eventos contados por Lucas aparecem em contextos diferentes nos outros Evangelhos. Isso talvez se deva a que Jesus repetia os mesmos ensinamentos em mais de uma ocasião.

 

Samaria

A Samaria era a região montanhosa central da Palestina; ela se limitava ao norte com a Galileia, ao sul com a Judeia, a leste com o rio Jordão e a oeste com o mar. A fertilidade do seu solo e a sua localização estratégica fizeram com que fosse muitas vezes invadida.

Durante a monarquia israelita, a Samaria era habitada pelas tribos do norte de Israel. Mas após a conquista assíria, no século VIII a.C., houve casamentos entre israelitas, babilônios, e outros povos trazidos pelos assírios. Dois séculos mais tarde, depois do exílio das tribos meridionais de Judá, os judeus, que se reassentaram em Judá (Judeia) e reconstruíram Jerusalém, encaravam os samaritanos como uma raça impura. Durante séculos houve muita inimizade entre os dois povos. No tempo de Jesus, muitos judeus evitavam a Samaria, preferindo cruzar o Jordão e viajar através da Pereia. Jesus, porém, foi à Samaria, e muitos samaritanos se tornaram seus seguidores.

 

Pereia

O nome dessa pequena região situada na margem oriental do Jordão significa “além”. Com 16 km de largura, ela se estendia do rio Yaarmuk, ao norte, ao rio Arnon, ao sul.

Durante a ocupação romana, a área era habitada por judeus. Correspondia à terra de Gileade, no Antigo Testamento, e é mencionada no Novo Testamento como a região “além do Jordão”.

A Pereia era uma atraente região serrana, com plantações de olivais, vinhedos e campos de trigo e cevada. Suas regiões baixas eram também conhecidas pelas suas pastagens de estepes. Nos tempos de Jesus, ela fazia parte do Império Romano e era governada por Herodes Antipas.

 

Judeia

A terra montanhosa e árida da Judeia contrastava fortemente com as ricas terras agrícolas da Samaria e Galileia. Entretanto, a Judeia tinha os seus próprios vinhedos e culturas de oliveiras e figueiras, e a área produzia vários cereais. Também havia terras de pastagens, onde se criavam ovelhas. Do Mar Morto se extraía sal, tanto para consumo local como para exportação.

A população da Judeia se concentrava sobretudo em Jerusalém e seus arredores; as comunidades agrárias habitavam pequenos vilarejos. Jesus passou por esses lugares, percorrendo as estradas principais ou os caminhos através dos campos, e pregando, em muitos deles, com os seus discípulos.

 

Como Jesus viajava

Viajar por terra era frequentemente perigoso, por causa dos bandidos. Viajar sozinho era muito arriscado e as pessoas costumavam se juntar em caravanas ou grupos. Jesus viajava com seus discípulos, e alguns deles levavam espadas. Para evitar o calor do meio-dia, caminhava-se de manhã e ao anoitecer. A cada nova área fiscal que se atravessava, era preciso pagar pedágios.

Os romanos construíram, por todo o seu império, uma extensa rede de boas estradas. Elas eram retas, niveladas, e tinham sistemas apropriados de drenagem. As estradas que levavam às principais cidades tinham calçadas para pedestres. Mas, mesmo no tempo dos romanos, as estradas menores eram muito precárias.

As estalagens eram lugares ambíguos onde, às vezes, a prostituição era parte do serviço. Os viajantes preferiam pernoitar em casas particulares. Em Israel, a hospitalidade era encarada como um dever sagrado. A hospedagem costumava ser gratuita, mas a comida era levada pelos próprios viajantes ou comprada no caminho.

 

Habitação

As casas onde Jesus e seus discípulos se hospedavam eram, em sua maioria, modestas. As pessoas mais pobres moravam em casas de um só cômodo, com telhados planos a que se tinha acesso por uma escada externa. Muitas vezes, os aldeões trocavam notícias, gritando uns aos outros de seus telhados, por cima do ruído das ruas. No verão, os telhados eram usados como lugar de dormir e também para secar linho e amadurecer frutas e legumes. Frequentemente, construía-se um cômodo extra na parte de cima. Os mais ricos moravam em casas com colunas, contendo vários cômodos em volta de um pátio central, onde muitas vezes de guardavam animais.

 

Reação contra Jesus

Neste período, Jesus encontrou muita oposição da parte de poderosos grupos religiosos. Os fariseus eram puristas que preconizavam a observância da Lei nos seus mínimos detalhes. A maioria dos escribas, eruditos que estudavam e interpretavam a Lei, pertencia a esse grupo. Os saduceus eram basicamente ricos proprietários das famílias aristocráticas. Muitos dos grandes sacerdotes eram saduceus.

Conceitos como ressurreição, alma, anjos e demônios eram rejeitados pelos saduceus, enquanto os fariseus acreditavam neles. Assim, a oposição a Jesus não era unificada. Os fariseus rejeitavam a aspiração messiânica de Jesus, mas concordavam com muitos de seus ensinamentos. Os sacerdotes não aceitavam que ele pudesse perdoar pecados, pois confiavam nos ritos de sacrifício para o perdão.

 

Esse era, em poucas palavras, o cenário político-social nos tempos das viagens de Jesus.


Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.

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