Não é de hoje que eu falo que o
povo de Israel é um arquétipo de todos os povos da terra e, algumas vezes, é um
arquétipo também dos indivíduos, pois é cheio de altos e baixos, quedas e
soerguimentos, rupturas e reunificações, decisões resolutas e abandonos
catastróficos, pecados e arrependimentos, coisas boas e más, atos e
conseqüências.
Israel foi/é assim
historicamente, e nos serve de arquétipo/modelo/referência para entendermos
todos os povos – e indivíduos.
O livro de Neemias – em parceria
com o de Esdras – relata a reconstrução de Jerusalém e do Templo no período
imediato pós-libertação do exílio, que se deu gradativamente. Da Babilônia,
muitos judeus voltaram à sua terra, ao passo que muitos lá continuaram e outros
tantos se espalharam por outras nações.
E não é de hoje que falo que a
História é cíclica, isto é, repete-se nas histórias das nações e nas histórias
dos indivíduos. Por sorte – ou por divina sabedoria, prefiro crer assim –,
temos a possibilidade de aprender com isso, ainda que, como humanos, raramente
o façamos.
Nas passagens abaixo, relata-se
uma impressionante confissão de aquisição de consciência, um firme propósito de
que “agora as coisas serão diferentes”, e uma profunda comoção nacional.
“Levantem-se e louvem o SENHOR, o seu Deus, que vive para todo o sempre”.
“Bendito seja o teu nome glorioso! A tua grandeza está
acima de toda expressão de louvor. Só tu és o SENHOR. Fizeste os céus, e os mais altos céus, e tudo que
neles há, a terra e tudo o que nela existe, os mares e tudo o que neles existe.
Tu deste vida a todos os seres, e os exércitos dos céus te adoram”.
“Tu és o SENHOR, o Deus
que escolheu Abrão, trouxe-o de Ur dos caldeus e deu-lhe o nome de Abraão. Viste
que o coração dele era fiel, e fizeste com ele uma aliança, prometendo dar aos
seus descendentes a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos
ferezeus, dos jebuseus e dos girgaseus. E cumpriste a tua promessa porque tu és
justo”.
“Viste o sofrimento dos nossos antepassados no Egito, e
ouviste o clamor deles no mar Vermelho. Fizeste sinais e maravilhas contra o
faraó e todos os seus oficiais e contra todo o povo da sua terra, pois sabias
com quanta arrogância os egípcios os tratavam. Alcançaste renome, que permanece
até hoje. Dividiste o mar diante deles, para que o atravessassem a seco, mas
lançaste os seus perseguidores nas profundezas, como uma pedra em águas
agitadas. Tu os conduziste de dia com uma nuvem e de noite com uma coluna de
fogo, para iluminar o caminho que tinham que percorrer”.
“Tu desceste ao monte Sinai; dos céus lhes falaste.
Deste-lhes ordenanças justas e leis verdadeiras, e decretos e mandamentos
excelentes. Fizeste que conhecessem o teu sábado santo e lhes deste ordens,
decretos e leis por meio de Moisés, teu servo. Na fome deste-lhes pão do céu, e
na sede tiraste para eles água da rocha; mandaste-os entrar e tomar posse da
terra que, sob juramento, tinhas prometido dar-lhes”.
“Mas os nossos antepassados tornaram-se arrogantes e obstinados, e não obedeceram aos teus mandamentos. Eles
se recusaram a ouvir-te e esqueceram-se
dos milagres que realizaste entre eles. Tornaram-se obstinados e, na sua
rebeldia, escolheram um líder a fim de voltarem à sua escravidão. Mas tu és um
Deus perdoador, um Deus bondoso e misericordioso, muito paciente e cheio de
amor. Por isso não os abandonaste, mesmo
quando fundiram para si um ídolo na forma de bezerro e disseram: ‘Este é o seu
deus, que os tirou do Egito’, ou quando proferiram blasfêmias terríveis”.
“Foi por tua
grande compaixão que não os abandonaste no deserto. De dia a nuvem não
deixava de guiá-los em seu caminho, nem de noite a coluna de fogo deixava de
brilhar sobre o caminho que deviam percorrer. Deste o teu bom Espírito para instruí-los. Não retiveste o teu maná
que os alimentava, e deste-lhes água para matar a sede. Durante quarenta anos
tu os sustentaste no deserto; nada lhes faltou, as roupas deles não se gastaram
nem os seus pés ficaram inchados”.
“Deste-lhes reinos e nações, cuja terra repartiste
entre eles. Eles conquistaram a terra de Seom, rei de Hesbom, e a terra de
Ogue, rei de Basã. Tornaste os seus filhos tão numerosos como as estrelas do
céu, e os trouxeste para entrar e possuir a terra que prometeste aos seus antepassados.
Seus filhos entraram e tomaram posse da terra. Tu subjugaste diante deles os
cananeus, que viviam na terra, e os entregaste nas suas mãos, com os seus reis
e com os povos daquela terra, para que os tratassem como bem quisessem. Conquistaram
cidades fortificadas e terra fértil; apossaram-se de casas cheias de bens,
poços já escavados, vinhas, olivais e muitas árvores frutíferas. Comeram até
fartar-se e foram bem alimentados; eles
desfrutaram de tua grande bondade”.
“Mas foram
desobedientes e se rebelaram contra ti; deram as costas para a tua Lei. Mataram os teus profetas, que os
tinham advertido que se voltassem para ti; e te fizeram ofensas
detestáveis. Por isso tu os
entregaste nas mãos de seus inimigos, que os oprimiram. Mas, quando foram
oprimidos, clamaram a ti. Dos céus
tu os ouviste, e na tua grande compaixão
deste-lhes libertadores, que os livraram das mãos de seus inimigos”.
“Mas, tão logo
voltavam a ter paz, de novo faziam o
que tu reprovas. Então os abandonavas às mãos de seus inimigos para que
dominassem sobre eles. E, quando
novamente clamavam a ti, dos céus tu os ouvias e na tua compaixão os livravas vez após vez”.
“Tu os
advertiste que voltassem à tua Lei, mas eles se tornaram arrogantes e desobedeceram aos teus mandamentos.
Pecaram contra as tuas ordenanças, pelas quais o homem vive se lhes obedece. Com teimosia te deram as costas,
tornaram-se obstinados e recusaram-se a ouvir-te. E durante muitos anos foste paciente com eles. Mediante o teu
Espírito os advertiste por meio de teus
profetas. Contudo, não te deram
atenção, de modo que os entregaste nas mãos dos povos vizinhos. Graças,
porém, à tua grande misericórdia, não os destruíste nem os abandonaste, pois és
Deus bondoso e misericordioso”.
“Agora, portanto, nosso Deus, ó Deus grande, poderoso e
temível, fiel à tua aliança e
misericordioso, não fiques indiferente a toda a aflição que veio sobre nós,
sobre os nossos reis e os nossos líderes, sobre os nossos sacerdotes e
profetas, sobre os nossos antepassados e sobre todo o teu povo, desde os dias
dos reis da Assíria até hoje. Em tudo
o que nos aconteceu foste justo; agiste com lealdade mesmo quando fomos
infiéis. Nossos reis, nossos líderes, nossos sacerdotes e nossos
antepassados não seguiram a tua Lei; não deram atenção aos teus mandamentos nem
às advertências que lhes fizeste. Mesmo quando estavam no reino deles,
desfrutando da tua grande bondade na terra espaçosa e fértil que lhes deste,
eles não te serviram nem abandonaram os seus maus caminhos”.
“Vê, porém, que hoje somos escravos, escravos na terra que deste aos nossos
antepassados para que usufruíssem dos seus frutos e das outras boas coisas
que ela produz. Por causa de nossos
pecados, a sua grande produção pertence aos reis que puseste sobre nós.
Eles dominam sobre nós e sobre os nossos rebanhos como bem lhes parece. É
grande a nossa angústia!”
“Em vista disso tudo, estamos fazendo um acordo, por escrito, e assinado por nossos
líderes, nossos levitas e nossos sacerdotes”.
(texto de Neemias 9:5-38)
Agora, já
com uma Jerusalém em reconstrução e com um Templo novamente restaurado, o povo
judeu faz um “abaixo assinado” de comprometimento com a Lei e com Deus,
assinado pelo governador, pelos principais líderes do povo, pelos levitas e
pelos sacerdotes.
“O restante do
povo: sacerdotes, levitas, porteiros, cantores, servidores do templo e
todos os que se separaram dos povos vizinhos por amor à Lei de Deus, juntamente
com suas mulheres e com todos os seus filhos e filhas que eram capazes de
entender, agora se unem aos seus irmãos, os nobres, e se obrigam sob maldição e sob juramento a seguir a Lei de Deus dada por meio do servo de Deus Moisés e a obedecer fielmente a todos os
mandamentos, ordenanças e decretos do SENHOR, o
nosso Senhor”.
“Prometemos não dar nossas filhas em casamento aos
povos vizinhos nem aceitar que as filhas deles se casem com os nossos filhos”.
“Quando os povos vizinhos trouxerem mercadorias ou
cereal para venderem em dia de sábado ou de festa, não compraremos deles nesses
dias. Cada sete anos abriremos mão de trabalhar a terra e cancelaremos todas as
dívidas”.
“Assumimos a
responsabilidade de, conforme o mandamento, dar anualmente quatro gramas
para o serviço do templo de nosso Deus: para os pães consagrados, para as
ofertas regulares de cereal e para os holocaustos, para as ofertas dos sábados,
das festas de lua nova e para as festas fixas, para as ofertas sagradas, para
as ofertas pelo pecado para fazer propiciação por Israel, e para as
necessidades do templo de nosso Deus”.
“Também tiramos sorte entre as famílias dos sacerdotes,
dos levitas e do povo, para escalar anualmente a que deverá trazer lenha ao
templo de nosso Deus, no tempo determinado, para queimar sobre o altar do SENHOR, o nosso Deus, conforme está escrito na Lei”.
“Também assumimos
a responsabilidade de trazer anualmente ao templo do SENHOR os primeiros frutos de nossas colheitas e de toda
árvore frutífera”.
“Conforme também está escrito na Lei, traremos o
primeiro de nossos filhos e a primeira cria de nossos rebanhos, tanto de
ovelhas como de bois, para o templo de nosso Deus, para os sacerdotes que ali
estiverem ministrando”.
“Além do mais, traremos para os depósitos do templo de
nosso Deus, para os sacerdotes, a nossa primeira massa de cereal moído, e as
nossas primeiras ofertas de cereal, do fruto de todas as nossas árvores e de
nosso vinho e azeite. E traremos o
dízimo das nossas colheitas para os levitas, pois são eles que recolhem os dízimos em todas as cidades onde
trabalhamos. Um sacerdote descendente de
Arão deverá acompanhar os levitas quando receberem os dízimos, e os levitas
terão que trazer um décimo dos dízimos ao templo de nosso Deus, aos depósitos
do templo. O povo de
Israel, inclusive os levitas, deverão trazer ofertas de cereal, de
vinho novo e de azeite aos depósitos onde
se guardam os utensílios para o santuário. É ali que os sacerdotes
ministram e que os porteiros e os cantores ficam”.
“Não negligenciaremos o templo de nosso Deus”.
(texto de Neemias 10:28-39)
Depois, sabemos que também esse “comprometimento formal” falha, e a
História segue ciclicamente por mais quatro séculos – inclusive com o domínio
romano –, até a vinda histórica de Jesus de Nazaré, o Messias, o Cristo de
Deus.
Em Jesus, todos os ciclos são interrompidos e estabelece-se a
“eternidade nos corações das pessoas que aceitam o Evangelho”.
Em Jesus, já não há maldição nem Lei, pois tudo n’Ele se cumpriu.
Na História da humanidade – e da Israel histórica –, a ciclicidade continua,
a “história se repete” e, ironicamente, nada ou pouco aprendemos com ela, e os homo sapiens continuam a cometer os
mesmos erros.
Mas em Cristo, já “o Reino de Deus está dentro de nós”, “céus e terra
passarão, mas as Suas Palavras não hão de passar”, e “temos n’Ele o descanso e
a salvação eterna”.
Em Cristo, já nada mais é cíclico, mas tudo é absoluto, assim como Ele
É.
Por hora é isso, pessoal. Que a
liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert
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