Sem
“teologia” e sem “doutrina” de nenhum tipo, a simples leitura do Evangelho nos
deixa saber o que é bom para a vida, e como também se deve viver, sem que isto
demande nenhuma “explicação” especial àquele que deseja se beneficiar da Boa
Nova.
Sim,
a Boa Nova não tenta convencer a priori. Ela simplesmente diz: “Me
experimente. Se você provar, você saberá que é verdade. Não antes. Não por
nenhum outro modo ou meio”.
O
convencimento da Boa Nova vem da realização do que é Bom. É simples assim.
Um
“evangelho” que seja um pacote de crenças e doutrinas, e uma “embalagem de
Deus” segundo algumas teologias, serve muito à criação de um espírito
religioso, e que se arroga a ser melhor não por causa do bem que realize, mas
em razão da suposta superioridade dos valores de conduta apregoados.
“Eu
vim para que tenham vida; e vida em abundância” — jamais poderá ser substituído
por “Eu vim para que vocês fiquem sabendo qual é o conjunto da verdade e,
assim, sejam superiores aos demais homens ignorantes”.
O
único modo de aferição da verdade do Evangelho só acontece na vida, não porque
alguém ganhou uma discussão teológica contra um herege, mas sim pelo resultado
da existência, se é plena de vida, conforme a justiça, a paz e a alegria no
Espírito Santo.
Desse
modo, o Evangelho não tenta explicar nada, mas convida a uma confiança que é
fruto de se ter tido um toque da graça,
e que se transforma numa atração, e que se entrega como rendição, gerando a
resposta do “seguir” a Jesus.
Assim,
aquele que se entrega a Jesus não recebe um pacote de explicações, mas sim
aceita seguir porque foi convencido pela experiência do bem do Evangelho, e que
tocou o indivíduo de alguma forma, fazendo-o provar que “o Senhor é bom”.
Portanto,
tal pessoa não fica preocupada em “entender Deus”. Sua felicidade está em
que Deus a entende. Assim, ela caminha sem querer saber o que Deus está
planejando, mas apenas o que Jesus propõe como caminho. E, para ela, cada coisa
não é passível de uma explicação, mas sim de uma resposta própria. Desse modo,
se impotente, ela ora; se abastada, ela agradece; se visitada pela calamidade,
ela confia no bem oculto no amor de Deus; se é objeto de perseguição, ela
exulta; se milagres acontecem, ela se alegra; se não acontecem, ela se entrega
ao milagre da confiança.
Enfim,
tal pessoa, aprende o “como”, não o “porquê” das coisas. Aliás, ela até poderá
aprender o “porquê” desde que, antes, tenha a coragem, em fé, de viver conforme
o “como” do Evangelho.
É o
“como” do Evangelho que explica o seu “porquê” — isso quando explica. E,
normalmente, a “explicação” nunca é “lógica pela lógica”, mas sim algo que se
experimenta como bem interior, inexplicável, e que convence o coração acerca da
verdade pela paz que promove no interior, e cujos frutos se manifestam como
“modo” de caminhar.
Não
é à toa que Paulo diz que é a “bondade de Deus que conduz ao arrependimento”.
Sim, no Evangelho, tudo o que se estabelece como genuíno e duradouro decorre da
experiência da bondade de Deus.
É,
portanto, a experiência de Deus como bem para o ser aquilo que muda a mente,
que provoca a metanoia, que gera o arrependimento — a mudança da
mente e, por conseguinte, de caminho.
Como
eu disse no início, o Evangelho não oferece explicações, mas diz como se deve
viver. E é desse “como”, que não é um manual de condutas, mas sim um modo de
ver, de ser, de valorizar, de desvalorizar, de reagir, de agir conforme
princípios e de enfrentar a existência — que vem o crescimento da fé.
Por
isto é que no Evangelho as coisas caminham de fé em fé; assim como também
crescem de experiência em experiência (Romanos 5:1-5). E, no final, não se fica
entendendo tudo, mas se experimenta o amor de Deus, e que traz consigo uma
esperança que não nos deixa jamais confusos acerca de nada, muito menos acerca
das tribulações e dos absurdos da existência.
Somente
aquele que se abandona e pratica o Evangelho em fé e conforme toda a confiança, é que experimenta
a Verdade conforme Jesus; visto que a Verdade só se faz verdade para o
indivíduo, se for por ele provada, conforme Jesus (João 7: 17).
Daí
o escritor de Hebreus advertir quanto a se “ter provado os poderes do mundo
vindouro” e ter deixado para trás o que se sabe por experiência do coração,
conforme a experiência da graça.
O
grande mal que se pode fazer a si mesmo, segundo o Evangelho — e sem
explicações doutrinário-teológicas — é experimentar o seu bem e, depois,
trocá-lo pela religião das normas, mas que não produz bem real à vida; antes
pelo contrário, seca-a dos bens originais e dá a ela a presunção da verdade na
forma de religião. Aliás, esse é o espírito inteiro da Carta aos Hebreus.
A
“Queda” se consumou na experiência,
não na especulação acerca da verdade
ou da mentira, do bem ou do mal. “Tomou do fruto e comeu” — é o que se diz.
Assim foi com o primeiro Adão e, muito mais, é assim concernentemente ao
segundo Adão: Jesus. “Quem comer tem a vida... quem de mim se alimenta, por mim
viverá...”
Ora,
assim como o pecado se fez consumar pela experiência, assim também o bem do
Evangelho se faz conhecer pela experiência da fé, e que dá acesso ao fruto da
Árvore da Vida.
“Tomai
e comei!” – é assim no Evangelho.
Um texto de Caio Fábio D´Araújo Filho