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domingo, 26 de setembro de 2021

Seria Jesus um Romântico?


 

Há quem julgue o ensino de Jesus muito romântico e sem senso de realidade. Afinal, o que Ele manda fazer e ser é completamente contrário àquilo que o fluxo deste mundo chama de realidade e objetividade.

Quem ganha guerras amando o inimigo?

Quem vai a qualquer lugar se perdoa sempre?

Quem lucrará de modo capitalista se fizer aos outros antes aquilo mesmo que deseja que os outros façam a ele?

Em que sociedade o maior deve ser o menor, e o último o primeiro?

Em que filosofia o caminho do ser é o de se fazer como uma criança?

Quem prosperará se não se inquietar com o dia de amanhã?

Quem sobrevive sendo verdadeiro sempre?

Quem vai a qualquer lugar se não aliar-se aos poderes vigentes?

Quem se satisfaz sendo tão discreto que a mão direita não pode nem se gabar do que fez a esquerda?

Quem consegue ser tão livre, que simplesmente não reconheça fronteiras, e que se sinta bem-vindo em qualquer lugar onde for bem-vindo, pois não conhece o preconceito?

Quem não se amargurará também ao não ser recebido pelos seus próprios?

Quem, tendo todo o poder, decide não usá-lo?

Quem, podendo se impor, apenas deixa “chegar a hora”?

Quem, podendo esmagar, se deixa antes executar?

Quem, podendo dar um show que agilize o caminho, preferirá, ao invés, andar nos desertos, e associar-se a gente pequena, e dedicar a sua vida à cura dos doentes de corpo e alma?

Quem, podendo curar, curando proíbe os curados de falarem que foi dele que veio o benefício?

Quem sacrificaria um jantar com amigos ricos para oferecer uma ceia para mendigos e desconhecidos pobres?

Quem faz do amor um caminho de transgressão ante os olhos dos juízes da moral e, ainda assim, jamais negocia o que sabe ser verdade e bom?

Quem confia ao Pai a própria vida, e aceita todo e qualquer absurdo e, ainda assim, sabe morrer entregando ao Pai o espírito?

Sim, para muitos, senão para todos, o Evangelho é insuportável e, por isto, mesmo quando todos dizem que ele está certo, ainda assim poucos se aventuram a levá-lo à sério.

Jesus, todavia, não era romântico. Se Ele come carne é porque animais morrem. Se bebe vinho é porque sabe que vides precisam ser plantadas. Se fala de casas que não sucumbem ao tempo é porque sabe que casas precisam ser construídas. Se transforma água em vinho é porque sabe que a frustração pode acabar com a alegria de um casamento. Se multiplica alimentos é porque sabe que o homem não vive somente da Palavra que sai da boca de Deus, mas também de pão. Se entra em barcos é porque reconhece a gravidade da “lei da gravidade”. Se dorme é porque sabe que sem descanso não se vive. Se chora a morte de um amigo é porque reconhece que não existe vida sem emoção.

Entretanto, Jesus estabelece limites. Ele deixa claro que a cobiça, os excessos, as luxúrias e todas as ambições tornariam a vida impossível na Terra.

Hoje, quem se atreve a dizer que nosso senso de realidade e de objetividade são de fato reais e objetivos?

Sim, diante de tudo o que nossa realidade e nossa objetividade produziram como morte em proporções globais, quem se atreve a dizer que o romântico é Jesus?

Não, amigos! Digamos que não suportamos, que não aguentamos viver diferente, que nosso egoísmo e nosso imediatismo nos governam, qualquer coisa... mas não digamos que Jesus é romântico.

Românticos e idiotas somos nós, os insaciáveis, os implacavelmente cobiçosos, os senhores e sujeitos de seus próprios medíocres destinos, os poderosos que não têm nem mesmo o senso de realidade que assume que nós próprios, quais idiotas incuráveis, somos aqueles que, por ambição, omissão, ou mero comodismo, estamos tratando real e objetivamente de nos auto-destruirmos.

Sim, digamos antes que o Evangelho é insuportável, mas não digamos que ele é romântico, pois nada há mais verdadeiro, nem tampouco mais real e chocantemente profilático a indicar o caminho da vida, e não da morte, quanto o Evangelho de Jesus.

Mas Ele perguntou: “Quando vier o Filho do Homem, porventura achará fé na Terra?”

 

Um texto de Caio Fábio D’Araújo Filho

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