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domingo, 19 de setembro de 2021

O Que o Filho de Timeu Ensina Sobre a Oração?


  

Então chegaram a Jericó. Quando Jesus e seus discípulos, juntamente com uma grande multidão, estavam saindo da cidade, o filho de Timeu, Bartimeu, que era cego, estava sentado à beira do caminho pedindo esmolas. Quando ouviu que era Jesus de Nazaré, começou a gritar:

“Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!”

Muitos o repreendiam para que ficasse quieto, mas ele gritava ainda mais:

“Filho de Davi, tem misericórdia de mim!”

Jesus parou e disse:

“Chamem-no”.

E chamaram o cego:

“Ânimo! Levante-se! Ele o está chamando”.

Lançando sua capa para o lado, de um salto pôs-se em pé e dirigiu-se a Jesus.

O que você quer que eu lhe faça?”, perguntou-lhe Jesus.

O cego respondeu:

“Mestre, eu quero ver!”

“Vá”, disse Jesus, “a sua fé o curou”.

Imediatamente ele recuperou a visão e seguiu Jesus pelo caminho.

 

(Marcos 10:46-52)

 

Jesus e os Seus discípulos – e mais uma grande quantidade de pessoas que O seguiam – estavam indo da Galileia para a Judeia, numa viagem bastante longa quando feita a pé, como eles faziam. Chegaram a Jericó e, agora, estavam já saindo dela.

Não se sabe o nome do cego que estava ali sentado, à beira do caminho – sim, porque Bartimeu é uma expressão que quer dizer “filho de Timeu”. Então, sabe-se somente o nome do pai do cego, mas do cego mesmo, não.

Fato é que ele estava sentado ali, pedindo esmolas, que era o que um cego podia fazer para arrecadar algum, pois, em não podendo trabalhar nem produzir, tornava-se um dependente da família ou de quem pudesse fazer algo por ele. Por saber-se o nome do pai dele, deduz-se que desamparado por completo ele não devia ser, mas estava ali, fazendo a sua parte e, para não depender exclusivamente de outros, tratava de colaborar no seu sustento como podia, ainda que fosse esmolando.

Quando Jesus e Sua “caravana” passaram por onde ele estava sentado, por certo ouviu o burburinho e quis saber quem era. Informado que se tratava de Jesus e, certamente, já tendo ouvido falar d’Ele outras vezes, foi tomado de coragem e manifestou-se, fazendo-se notar – pois, assim como ocorre hoje em dia quando passamos por pessoas em situações de mendicância na rua, a tendência é que solenemente sejam ignoradas, para que não se tenha o “incômodo” da nossa consciência nos dizendo que “deveríamos” fazer algo por elas.

Fato é que o filho de Timeu pregou o berro! Chamou por Jesus de maneira tão alta que não só se fez notar, como incomodou as “pessoas de bem” que andavam com Jesus e não queriam que Ele fosse importunado por tão alardeante abuso. E mandaram o filho de Timeu calar a boca e recolher-se à sua insignificância.

Mas o cara não se deu por vencido. Gritou ainda mais alto, pedindo por misericórdia, isto é, pela atenção de um coração capaz de empatia, do pôr-se no seu lugar. E Jesus o ouviu, posto que o coração de Deus é amor/empatia em estado absoluto e foi/é capaz de colocar-Se em nosso lugar – pois foi isso que Jesus, o Cristo, fez/faz por todos os homens: colocar-Se em nosso lugar e coabitar conosco!

É interessante percebermos que o filho de Timeu, por seu grito em direção ao divino, fez Jesus parar. Sim, Deus pára quando clamamos por Ele!

Jesus disse àqueles que O acompanhavam – aqueles mesmos que mandaram o cego calar-se –, que o chamassem. Imaginem a cena: os mesmos caras que disseram “cala a tua boca” ao cego, agora tinham que chegar a ele e dizer “o Mestre te chama, te quer junto a Ele”. É “tapa com luva de pelica” que se diz, não é?

O cego não se fez de rogado, afinal, depois de esgoelar-se, agora, levantar e ir ao encontro de Jesus, era o prêmio pelo qual ansiava. E o fez de forma resoluta, lançando a sua capa de lado, a mesma capa que o protegia do frio, da chuva e do sol e era, possivelmente, o que de maior valor material possuía. Ele agora não dava bola se a capa se perdesse na confusão, se alguém daria de mão nela, se ele a recuperaria. Não. O mais importante agora era ir ao encontro de Jesus, que o estava chamando, vejam só!

E lá foi ele. Ao estar frente a frente com Jesus, ouviu uma das mais estranhas perguntas que um cego diante de Deus poderia ouvir: “O que você quer que eu lhe faça?” Como assim? Não parecia óbvio? Sim, mas, mesmo diante do óbvio, é preciso que falemos a Deus o que desejamos d’Ele, uma vez que clamamos por Ele e temos a Sua atenção.

É interessante notarmos que o filho de Timeu não disse que “queria ser curado” de seus olhos, de sua cegueira. Ele disse somente que “queria ver”. Pode parecer a mesma coisa, pode parecer que o significado é idêntico, mas não é. “Ser curado” é o meio pelo qual seu desejo seria alcançado, mas o que de fato “ele queria”, era “ver”. Ele não clamava por cura, pois cura é um processo. Ele clamava por visão, pois visão é uma consciência e uma bênção – e é o resultado final de todo aquele que se encontra com Jesus!

Diante dessa “clareza de visão” que o cego demonstrava ter – e de sua fé em saber que Jesus o podia ajudar –, é que ele ouviu que fora esta mesma fé que demonstrava diante de Jesus que havia sido “o gatilho e a catapulta” da sua cura!

Interessante também é que Jesus diz a ele “vá”, e ele “foi” naquilo que ele tinha convicção de ser o caminho: seguir com Jesus!

Ele não se tornou um discípulo/apóstolo de Jesus, mas Jesus tinha muitos discípulos que O acompanharam o caminho todo, mesmo os que eram até mais anônimos que este filho de Timeu. Assim, não se sabe “quanto tempo cronológico” durou este “seguir Jesus pelo caminho”. Mas creio que a cronologia do tempo aqui não importa. Importa mesmo o significado psicológico/espiritual do tempo em que o filho de Timeu esteve desfrutando da companhia de Jesus. E creio também que este encontro e esse caminhar junto foi impactante para o resto da sua vida aqui na Terra, e que esteja sendo impactante por todo o absoluto eterno em que ele esteja na glória divina. Sim, porque a sua fé não só o catapultou para o “milagre da visão”, mas também o há de ter catapultado para a vida eterna!

E o que eu aprendo com o filho de Timeu em relação à oração? É, afinal, esta a pergunta que faço no título deste texto.

Aprendo algumas coisas muito importantes, quais sejam:

- É preciso que eu saiba que Jesus está sempre passando pelo meu caminho.

- É preciso que eu saiba sempre d’Ele, pelo contato com Sua Palavra, por exemplo.

- É preciso que eu perceba a multidão que anda com Ele, minhas irmãs e meus irmãos humanos, e que esse burburinho seja significativo para mim.

- É preciso que eu saiba que, assim como o filho de Timeu, por vezes posso encontrar-me em cegueira espiritual.

- É preciso que eu “me vire” por mim mesmo para meu sustento, mesmo que seja esmolando, mas que eu não me “deite” na dependência dos outros.

- É preciso que, quando ouço, pela Palavra, que é Jesus Quem está perto de mim, eu me manifeste em oração, ore a Ele, ainda que, para ser ouvido por Ele e por mim mesmo, eu tenha que gritar psicologicamente, para que minha fé aflore.

- É preciso que eu saiba que, mesmo em minhas orações, podem vir pensamentos que me digam que seria melhor eu ficar quieto, nem orar, pois de nada adianta.

- É preciso que, diante dos desestímulos da existência e dos aparentes não-resultados, eu ore mais, eu grite mais alto, eu persevere e lute como nunca lutei antes.

- É preciso que eu saiba que minhas orações sinceras fazem até Deus “parar” para mim!

- É preciso que eu aprenda a esperar até que Ele “me chame” à consciência, e que, uma vez tendo ouvido o Seu chamado, eu vá.

- É preciso que eu lance de lado tudo aquilo que me prende ao “conforto” da minha dependência e impotência momentânea, que eu lance fora os medos psicológicos de colocar-me em pé, ainda que cego por não saber bem o caminho, mas confiante que fui ouvido e agora me cabe ir ao encontro d’Aquele que me chama.

- É preciso que eu saiba que, uma vez tendo a atenção de Deus e estando em oração diante d’Ele, eu preciso estar preparado para ouvir Ele me perguntar “o que realmente eu quero”, pois isso faz com que eu reflita sobre minhas prioridades.

- É preciso que eu saiba dizer-Lhe, em minhas orações, claramente o que eu desejo, e que este desejo vá além do óbvio mecanismo para alcançá-lo, mas que eu expresse a minha “visão mais elevada”, que é, paradoxalmente, “ver a Deus”.

- É preciso que, uma vez que a mim tenha sido revelada a vontade d’Ele, eu a receba com a mesma fé que me fiz “gritar por e para Ele”, e que eu agora “agradeça por e para Ele”.

- É preciso agora, uma vez tendo insistido e perseverado na oração, tendo superado as adversidades que me diziam para ficar calado, tendo tido a atenção de Deus, tendo dito a Ele claramente o que desejo, tendo recebido d’Ele o atendimento ao meu orar, tendo sabido d’Ele que minha fé o fez, é preciso que agora eu vá, e faça uso da “visão”, podendo ser luz e vista para outros, para meus semelhantes e meus diferentes, mas jamais me negando a ninguém.

- É preciso que eu, “indo”, sempre “O acompanhe, O siga”, pois sei que onde Ele está, aí é o meu lugar!

É isso o que o filho de Timeu me ensina sobre a oração.

 

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.

Saudações,

Kurt Hilbert

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