Uma das
questões que podem suscitar dúvidas em algumas pessoas – inclusive de fé cristã
– é a guarda do sábado. Para mim, esta foi uma questão tranquila e desde sempre
resolvida; nunca me causou dúvidas, por tão claro ser o que, no decorrer da
Bíblia – e especialmente no Novo Testamento –, se tem sobre o tema. Mas há
aqueles para quem pairam dúvidas, ou “certezas” contrárias.
Assim,
quis compartilhar neste espaço e nesta mídia algo que fosse esclarecedor com
relação ao sábado.
Busquei,
didaticamente, um argumento pautado nas Escrituras e na centralidade de Cristo
para justificar esta tranquilidade minha em relação ao tema, e encontrei um
artigo cuja posição é bastante ponderada e satisfatória no site https://www.gotquestions.org e o reproduzo abaixo.
Frequentemente
se diz que “Deus instituiu o Shabat no Éden” por causa de sua conexão com a
criação em Êxodo 20:11, onde diz: Pois em seis dias o SENHOR fez os céus e a terra, o mar e tudo o que
neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o SENHOR abençoou o sétimo
dia e o santificou.
Apesar do descanso de Deus no sétimo dia (Gênesis 2:3) ter sugerido uma
futura lei do Shabat, não há registro bíblico do Shabat antes dos filhos de
Israel terem deixado a terra do Egito. Em nenhum lugar das Escrituras há
qualquer indício de que guardar o Shabat tenha sido praticado de Adão a Moisés.
A
Palavra de Deus deixa muito claro que guardar o Shabat era um sinal especial
entre Deus e Israel: E o
SENHOR o chamou do monte, dizendo: “Diga o seguinte aos descendentes de Jacó e
declare aos israelitas: Vocês viram o que fiz ao Egito e como os transportei
sobre asas de águias e os trouxe para junto de mim. Agora, se me obedecerem
fielmente e guardarem a minha aliança, vocês serão o meu tesouro pessoal dentre
todas as nações” (Êxodo 19:3-5). “Os israelitas terão que guardar o
sábado, eles e os seus descendentes, como uma aliança perpétua. Isso será um sinal
perpétuo entre mim e os israelitas, pois em seis dias o SENHOR fez os céus e a
terra, e no sétimo dia ele não trabalhou e descansou” (Êxodo 31:16-17).
Em
Deuteronômio 5, Moisés reafirma os dez mandamentos à próxima geração de
israelitas. Aqui, após ordenar que se guardasse o Shabat nos versos 12-14,
Moisés dá a razão por que o Shabat foi dado à nação de Israel: “Lembra-te de que
foste escravo no Egito e que o SENHOR, o teu Deus, te tirou de lá com mão
poderosa e com braço forte. Por isso o SENHOR, o teu Deus, te ordenou que
guardes o dia de sábado” (Deuteronômio
5:15).
Repare
na expressão “por isso”. A intenção de Deus em dar o Shabat a Israel não foi
que se lembrassem da criação, mas que se lembrassem de sua escravidão egípcia e
o livramento do Senhor. Observe os requisitos para se guardar o Shabat:
a)
A pessoa sob a lei do Shabat não poderia deixar sua casa no
Shabat: “Vejam que o SENHOR lhes deu o sábado; e por isso, no
sexto dia, ele lhes dá pão para dois dias. No sétimo dia, fiquem todos onde
estiverem; ninguém deve sair” (Êxodo 16:29).
b)
Não poderia acender fogo: “Nem sequer acendam
fogo em nenhuma de suas casas no dia de sábado!” (Êxodo
35:3).
c)
Não poderia fazer ninguém trabalhar: “Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu nem teu filho ou
filha, nem o teu servo ou serva, nem o teu boi, teu jumento ou qualquer dos
teus animais, nem o estrangeiro que estiver em tua propriedade; para que o teu
servo e a tua serva descansem como tu” (Deuteronômio
5:14).
d) A
pessoa que quebrasse a lei do Shabat seria colocada à morte: “Em seis dias qualquer trabalho poderá ser feito, mas
o sétimo dia é o sábado, o dia de descanso, consagrado ao SENHOR. Quem fizer
algum trabalho no sábado terá que ser executado” (Êxodo
31:15). Certo
dia, quando os israelitas estavam no deserto, encontraram um homem recolhendo
lenha no dia de sábado. Aqueles que o encontraram recolhendo lenha levaram-no a
Moisés, a Arão e a toda a comunidade, que o prenderam, porque não sabiam o que
deveria ser feito com ele. Então o SENHOR disse a Moisés: “O homem terá que ser
executado. Toda a comunidade o apedrejará fora do acampamento” (Números
15:32-35).
Um
exame das passagens do Novo Testamento nos mostra quatro pontos importantes:
1) Quando
Cristo aparece em Sua forma ressuscitada (e o dia é mencionado), sempre é o
primeiro dia da semana. Depois do sábado, tendo começado o
primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro (Mateus 28:1). De repente, Jesus as encontrou e disse: “Salve!” Elas se aproximaram
dele, abraçaram-lhe os pés e o adoraram. Então Jesus lhes disse: “Não tenham medo. Vão
dizer a meus irmãos que se dirijam para a Galileia; lá eles me verão” (Mateus 28:9-10). Quando Jesus ressuscitou, na madrugada
do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, de quem
havia expulsado sete demônios (Marcos
16:9). No
primeiro dia da semana, de manhã bem cedo, as mulheres tomaram as especiarias
aromáticas que haviam preparado e foram ao sepulcro (Lucas
24:1). Naquele mesmo dia,
dois deles estavam indo para um povoado chamado Emaús, a onze quilômetros de
Jerusalém
(Lucas 24:13). Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se
aproximou e começou a caminhar com eles (Lucas
24:15). Ao cair da tarde daquele primeiro dia da
semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus,
Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja com vocês!” (João
20:19). Uma
semana mais tarde, os seus discípulos estavam outra vez ali, e Tomé com eles.
Apesar de estarem trancadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e
disse: “Paz
seja com vocês!” (João 20:26).
2) A única
vez em que é mencionado o Shabat, desde Atos até Apocalipse, isto é feito para
fins evangelísticos aos judeus e sempre no contexto da sinagoga (Atos capítulos
13-18). Paulo escreveu: Tornei-me judeu para os judeus, a fim de
ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da lei, tornei-me como se estivesse
sujeito à lei, (embora eu mesmo não esteja debaixo da lei), a fim de ganhar os
que estão debaixo da lei (1º
Coríntios 9:20). Paulo não foi à sinagoga para ter comunhão com os santos ou
edificá-los, mas para convencer os compatriotas e salvá-los.
3) Desde o
momento em que Paulo afirma, ao ser rejeitado, “de agora em diante irei para os gentios” (Atos 18:6), o Shabat não
mais é mencionado.
4) Ao invés de sugerir que se observe o Shabat, o
restante do Novo Testamento sugere o oposto (incluindo a única exceção, no
ponto 3 acima), encontrada em Colossenses 2:16: Portanto, não permitam que ninguém
os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade
religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado.
Olhando mais de perto o ponto 4 acima, este revela que não há
obrigação para o crente do Novo Testamento de guardar o Shabat, e mostra também
que a ideia de um domingo (“Shabat cristão”) também não se encontra nas
Escrituras. Como discutido acima, apenas uma vez o Shabat é mencionado depois
que Paulo objetiva os gentios: Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo
que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à
celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do
que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo (Colossenses 2:16-17). O Sábado Judeu
(Shabat) foi abolido na cruz, onde Cristo cancelou a escrita de dívida, que consistia em
ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz (Colossenses 2:14).
Esta ideia é repetida mais de uma vez no Novo Testamento: Há
quem considere um dia mais sagrado que outro; há quem considere iguais todos os
dias. Cada um deve estar plenamente convicto em sua própria mente. Aquele que
considera um dia como especial, para o Senhor assim o faz (Romanos 14:5-6). Mas
agora, conhecendo a Deus, ou melhor, sendo por ele conhecidos, como é que estão
voltando àqueles mesmos princípios elementares, fracos e sem poder? Querem ser
escravizados por eles outra vez? Vocês estão observando dias especiais, meses,
ocasiões específicas e anos! (Gálatas 4:9-10).
Alguns afirmam, entretanto, que um mandato de Constantino em
321 d.C. “mudou” o Shabat de sábado para domingo. Em que dia a Igreja primitiva
se reunia para adoração? As Escrituras nunca mencionam o Shabat (sábado) como
dia de reuniões pelos crentes para comunhão ou adoração. Entretanto, há
passagens claras que mencionam o primeiro dia da semana. Por exemplo, Atos 20:7
afirma: No
primeiro dia da semana reunimo-nos para partir o pão, e Paulo falou ao povo. Em 1º
Coríntios 16:2, Paulo exorta aos crentes coríntios: No primeiro dia da semana, cada um
de vocês separe uma quantia, de acordo com a sua renda. Uma vez que Paulo designa esta oferta
como “serviço” em 2º Coríntios 9:12, esta coleta deve ter sido ligada com a
adoração do culto de domingo da assembléia cristã. Historicamente, domingo, não
sábado, era o dia normal de encontros dos cristãos na Igreja, e sua prática vem
desde o primeiro século.
O Shabat foi estabelecido para Israel, não para a Igreja. O
Shabat ainda é sábado, não domingo, e nunca foi mudado. Mas o Shabat é parte da
Lei do Velho Testamento, e os cristãos são livres da servidão da Lei: Vocês não
estão debaixo da lei, mas debaixo da graça (Romanos 6:14).
Guardar o Shabat não é algo cobrado dos cristãos, seja um
sábado ou domingo. O primeiro dia da semana, domingo, celebra a Ressurreição de
Cristo. Não somos obrigados a seguir o Shabat de Moisés – descansando, mas
somos agora livres para seguir o Cristo ressuscitado – servindo. O apóstolo
Paulo disse que cada cristão deveria decidir se observa ou não o descanso do
Shabat: Há quem considere um dia mais sagrado que outro; há
quem considere iguais todos os dias. Cada um deve estar plenamente convicto em
sua própria mente (Romanos 14:5).
Devemos adorar a Deus todos os dias, não somente no sábado ou
domingo.
Ainda dentro do contexto, quero
lembrar o que diz o 4º mandamento, segundo a Lei dada a Moisés: “Lembra-te do dia de
sábado, para santificá-lo” (Êxodo 20:8).
Questionado
se o não guardar um dia da semana chamado de “sábado” seria uma desobediência a
este mandamento, respondo dizendo que “não”, pelo fato de o sábado ter sido
feito para o descaso do homem, segundo o modelo do “descanso” de Deus.
“Santificar” o dia significa reservar um tempo para a “adoração e comunhão com
Deus, podendo ser um dia específico – para quem o desejar e puder em sua agenda
– ou um “tempo”, que pode ser – e digo: deve ser – a cada dia.
Lembro
também de Jesus dizendo: “O sábado foi feito por causa do homem,
e não o homem por causa do sábado. Assim, pois, o Filho do homem é Senhor até mesmo do sábado”
(Marcos 2:27-28).
Por hora é isso, pessoal. Que a
liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert