Chave deste livro: o Filho do homem.
O segundo evangelho tem traços que se destacam sobremaneira. A
personalidade de Pedro reflete-se quase em cada uma de suas páginas.
Assemelha-se a ele pela rapidez de movimentos, pela atividade, pela
impulsividade. A rapidez de ação é um dos traços principais. O relato passa de
um acontecimento a outro com extraordinária rapidez. Com propriedade tem-se
denominado o evangelho de Marcos de “filme do ministério de Jesus”.
A intensidade dos pormenores é outro de seus característicos
distintivos. Embora Marcos seja o mais curto dos quatro evangelhos, com frequência
narra pormenores vividos que não se encontram nos relatos do mesmo assunto em
Mateus ou Lucas. Dispensa extraordinária atenção ao aspecto e aos gestos de
Jesus.
O terceiro característico saliente é a descrição pictórica. Ao relatar a
alimentação dos cinco mil, Marcos diz-nos que o povo se assentou em “ranchos”
ou grupos sobre a grama verde.
O evangelho segundo Marcos é, preeminentemente, o evangelho da ação. Não
somente não abrange o discurso mais longo de Jesus (o discurso proferido no Monte
das Oliveiras, que aparece pormenorizado em Mateus), como não deixa passar
fatos ou ações. Ressalta antes as obras que as palavras de Cristo. Marcos
registra dezoito dos milagres de Jesus, mas apenas quatro de Suas parábolas.
Seu modo de acentuar as ações é apropriado em um evangelho escrito
provavelmente em Roma e dirigido principalmente aos romanos. Marcos emprega dez
latinismos e faz menos referências ao Antigo Testamento que os demais
evangelistas. Explica os costumes judeus aos leitores romanos. Nem sequer
emprega a palavra lei, que aparece oito vezes em Mateus, nove vezes em Lucas e
quatorze vezes em João.
Considerando que escreve aos romanos, omite qualquer referência à
genealogia de Jesus, bem como à sua infância. Os romanos estavam mais
interessados no poder do que em genealogias. Daí observarmos que neste
evangelho Jesus é apresentado como o grande Vencedor da tempestade, dos demônios,
da enfermidade e da morte. Ele é o Servo do Senhor (compare-se com Isaías):
primeiro o Servo vencedor, depois o Servo sofredor e, finalmente, o Servo
triunfante, na ressurreição.
Conquanto o evangelho segundo Marcos seja antes de tudo histórico, observa-se
nele um forte teor teológico. O primeiro versículo dá-nos o traço
característico: “Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Repetidas vezes
acentua-se a deidade de Jesus, seja explícita ou implicitamente. É o Filho do homem,
o Messias, aquele por Quem esperaram os longos séculos. Em uma das mais
vigorosas passagens teológicas dos evangelhos sinópticos, afirma-se a
declaração de Jesus de que o Filho do homem veio para “dar a sua vida em
resgate de muitos” (10:45). Conforme o diz o primeiro versículo do livro, é
principalmente o evangelho de Jesus Cristo, as boas-novas da salvação mediante Sua
morte expiatória.
De modo quase unânime a Igreja primitiva atribui o segundo evangelho a
Marcos, primo de Barnabé e companheiro de Paulo e de Pedro. A maioria dos
intérpretes da Bíblia sustenta que este é o mais antigo dos quatro evangelhos.
Pode-se afirmar com segurança que foi escrito entre os anos 50 e 70 de nossa
era.
Ralph
Earle
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