Chave do livro: o Filho de
Deus.
O quarto evangelho declara, de forma inequívoca, a finalidade do livro: “Jesus...
operou também... muitos outros sinais... Estes, porém, foram escritos para que
creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida
em seu nome” (20:30-31).
Desde o prólogo (1:1-18) com sua frase culminante, “e vimos a sua glória”
(vers. 14), até a confissão de Tomé, no final, “Senhor meu, e Deus meu!”
(20:28), o leitor sente-se impulsionado constantemente a pôr-se de joelhos.
Jesus destaca-se como algo mais que mero homem; em realidade, mais ainda que um
enviado sobrenatural ou representante da Deidade. Ele é o verdadeiro Deus que
veio em carne.
Todavia, o povo hebreu, que esperava seu futuro redentor, necessitava de
provas das afirmativas de Jesus de que Ele era o Messias prometido do Antigo
Testamento. João apresenta essas verificações. Milagres e discursos escolhidos
de um período de vinte dias no ministério público de Jesus, ministério que
durou três anos, confirmam-no dramaticamente como o Cristo, o Filho de Deus.
Oito sinais ou maravilhas revelam não só o Seu poder, mas atestam Sua glória
como Portador divino da graça redentora. Jesus é o grande “Eu Sou” (8:24), a
única esperança de uma raça que, de outra sorte, não teria esperança alguma. A
água transforma-se em vinho; os mercadores e os animais destinados aos
sacrifícios são expulsos do templo; o filho do nobre é curado à distância; o
paralítico recebe cura no dia de descanso; a multiplicação dos pães; Jesus anda
sobre o mar; o cego de nascença recebe a vista; Lázaro é ressuscitado. Estes
milagres revelam quem é Jesus Cristo e o que faz. Progressivamente, João
apresenta-o como Fonte da nova vida, a Água da vida e o Pão da vida. Por fim, Seus
próprios inimigos retrocederam e caíram por terra ante o “Eu Sou”, que Se
entrega voluntariamente para sofrer na cruz (18:5-6).
Procurando resgatar o homem do pecado e do juízo e restaurá-lo à
comunhão divina e santa, o Logos eterno faz deste mundo Sua residência
transitória (1:14). Em virtude de Sua graça, o homem caído está capacitado para
residir em Deus (14:20) e, finalmente, nas “moradas eternas” (14:2-3). Em Sua
própria pessoa Jesus cumpre o significado das profecias e festas do Antigo
Testamento. Por fim, triunfa sobre a própria morte e o túmulo, e deixa a Seus
seguidores um legado extraordinário para que levem avante esta missão de
misericórdia, única na História.
Deslocando-se de uma eternidade para outra, o quarto evangelho vincula o
destino de judeus e gentios como partes da criação toda à ressurreição do Logos
encarnado e crucificado.
Muito embora o quarto evangelho não mencione de modo definitivo seu
autor, não resta dúvida de que foi João, o amado, quem o escreveu. Somente uma
testemunha ocular, do círculo íntimo dos seguidores de Jesus Cristo (compare
12:16; 13:29) poderia proporcionar-nos determinados pormenores do livro. Além
disso, o relato especial e às vezes indireto da participação de João
confirmaria sua paternidade literária (1:37-40; 19:26; 20:2, 4, 8; 21:20, 23-24).
Exegetas conservadores colocam sua data depois que foram escritos os outros
evangelhos, portanto, entre o ano 69 da nossa era (antes da queda de Jerusalém)
e o ano 90.
Carl
F. H. Henry
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