Uma
grande multidão ia acompanhando Jesus; este, voltando-se para ela, disse:
“Se
alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos
e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo.
E aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo”.
“Qual
de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o
preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la? Pois, se lançar o
alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele,
dizendo: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar’”.
“Ou,
qual é o rei que, pretendendo sair à guerra contra outro rei, primeiro não se
assenta e pensa se com dez mil homens é capaz de enfrentar aquele que vem
contra ele com vinte mil? Se não for capaz, enviará uma delegação, enquanto o
outro ainda está longe, e pedirá um acordo de paz”.
“Da
mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode
ser meu discípulo”.
“O
sal é bom, mas se ele perder o sabor, como restaurá-lo? Não serve nem para o
solo nem para adubo; é jogado fora”.
“Aquele
que tem ouvidos para ouvir, ouça!”
O
texto acima está em Lucas 14:25-34.
Neste
mesmo espaço, aqui no Blog, eu já o havia publicado sob o título de “O Preço do
Discipulado” (publiquei em 4 de dezembro de 2013). Ali, no entanto, coloquei
somente o texto bíblico acima citado, sem mais explicações ou acréscimos de
minha parte. Hoje, relendo este trecho nas Escrituras, fui impulsionado pelo
desejo de desenvolvê-lo, falar um pouco mais, discorrer sobre seus significados
– e expor não o “preço”, mas o “valor” do discipulado.
O
princípio dessa fala de Jesus pode parecer duro. Como assim, não podemos ser
Seus discípulos se amamos pai, mãe,
mulher (ou marido), filhos, irmãos e irmãs, e até nossa própria vida, mais do que a Ele? Devemos então amar
menos esses entes queridos que Ele mesmo citou e deu como exemplo comparativo
para com Ele? Minha compreensão disto é mais simples do que se poderia esperar
– inclusive, os ensinamentos de Cristo são, normalmente, muito simples, ainda
que, concomitantemente, profundos em significado. Vamos, então, ao significado deles nos próximos
parágrafos:
Primeiro,
Jesus nunca disse para não amarmos esses entes queridos citados nesta passagem.
Ele apenas diz que não podemos amá-los mais
do que a Ele. Isso significa dizer que, se os amamos mais do que a Ele,
colocamos a Ele por último na fila. Ora, Jesus é Deus em carne, foi feito
gente, na Palestina há dois mil anos. Ele é o “Deus conosco” – o Emanuel. Ora,
assim Jesus Cristo segue hoje, sendo o Filho do homem e o Filho de Deus – sendo
“Deus conosco” em todos os tempos. Assim, se deixarmos a Ele – “Deus conosco” –
em último lugar na fila, jamais seremos capazes de amar de verdade pai, mãe, mulher (ou marido), filhos,
irmãos e irmãs, e até nossa própria vida. Podemos até amá-los, mas será um amor
mundano e puramente humano, um amor
menor, jamais comparado ao amor que tem como origem Deus. Para que possamos
amar pai, mãe, mulher (ou marido), filhos, irmãos e irmãs, e até nossa própria
vida, temos que colocar o amor a Deus, a Jesus Cristo – “Deus conosco” – em primeiro lugar. Assim, podemos amar pai,
mãe, mulher (ou marido), filhos, irmãos e irmãs, e até nossa própria vida, de
maneira verdadeira, com o mesmo amor com que
somos amados por Deus. Parece simples entender agora a profundidade do
alcance dessas palavras de Jesus? Continuam duras? Creio que não. Creio que,
olhando por esse prisma, essas palavras se tornam tenras, leves e carregadas de
significado em amor!
Segundo, Ele diz que, para sermos Seus
discípulos, temos que carregar a nossa própria cruz. Que significa isso? Pode
parecer, num primeiro e superficial momento, carregar os pesos da vida, pois,
popularmente, a cruz parece um fardo. Agora, se olharmos para a cruz de Jesus –
e para a nossa – como o local/objeto/significado em que Ele pagou todos os
nossos pecados – e fardos e pesos e empecilhos – então vemos que é na cruz que
Ele pregou, consigo, tudo aquilo que poderia nos separar de Deus. Assim, tal
qual Ele, se lavarmos cotidianamente a nossa cruz, pregamos nela nossas fraquezas
carnais e mundanas, nossa humanidade caída, e sai exaltada nela a nossa
condição de filhos de Deus. Assim, como Seus filhos, em levando a nossa cruz,
“sabemos” que em Jesus está tudo consumado, e a cruz se torna o fardo leve e o jugo suave do qual Ele fala (Mateus 11:29-30).
Levar a cruz significa dizermos à vida que nossa vida agora a vivemos em Jesus!
Depois,
Ele faz a analogia da construção de uma torre, dizendo que, para iniciarmos
qualquer obra, temos que calcular se temos como concluí-la. Exemplificando com
uma analogia pertinente à nossa época, se formos construir uma casa, temos que
ver se temos recursos para concluir a obra. Se formos comprar um carro, temos
que ver se temos como pagar todas as parcelas do financiamento. Assim,
analogamente, se nos decidirmos por sermos discípulos de Cristo – amar segundo
o amor de Deus, levando a nossa cruz e seu significado, dando razão ao
Evangelho – também temos que nos examinar e ver se é isso mesmo que queremos,
se teremos condições de buscar n’Ele as forças para as adversidades que
surgirão, se queremos divulgar Sua Palavra, se queremos mesmo viver segundo aquilo que Ele nos revela a cada dia por Sua
Palavra. Ele diz que podemos seguir a Ele se
quisermos. Mas, agora, Ele nos diz para vermos se realmente queremos!
A
analogia do rei e seu exército tem o mesmo significado: antes de empreendermos
um projeto – e seguir a Jesus é o mais extraordinário projeto de vida! – temos
que ver se vamos dispor de condições anímicas para isso; isto é, de novo, se realmente assim queremos!
Ele
diz que temos que renunciar a tudo. Que “tudo” é esse? É tudo aquilo que difere
de Deus, que difere do Evangelho, que difere daquilo que Jesus nos ensina e nos
exemplifica por Seus atos e palavras – aquilo que Ele fez, aquilo que Ele
falou, a aquilo que Ele calou. Temos que renunciar a tudo o que não se coadunar
com o modo de ser de Jesus. Assim, em renunciando a isso, podemos receber tudo
o que realmente é verdadeiro e vital. Vou usar aqui um exemplo simplista: se
resolvemos trocar a mobília da nossa casa, para pormos a mobília nova, temos
que tirar a velha – não dá para colocarmos ambas ao mesmo tempo na casa. Assim,
temos que renunciar à mobília velha, para darmos lugar à nova. O Evangelho nos
ensina que, em Cristo, somos uma nova criação. O “velho homem” ficou para trás
– foi renunciado!
Jesus
aborda novamente a analogia do sal, dizendo que ele é bom, desde que não perca
o seu sabor. Um sal imprestável não serve nem para a terra nem como adubo. A
terra fica infrutífera com sal inútil espalhado nela. Como adubo, o sal inútil
não alimenta a planta, mas a mata. Em Seu tempo, o sal era um produto
valiosíssimo, pois servia tanto para preservar os alimentos quanto para
realçar-lhes o sabor. Assim, Jesus, noutra passagem, ensinava que tenhamos sal em nós mesmos (Marcos
9:50), significando dizer que, como Seus discípulos, devemos ser capazes de
preservar a vida espiritual em nossos próximos, assim como realçar o sabor do
Evangelho em suas vidas.
Ele
termina dizendo que se temos ouvidos para ouvi-Lo, que ouçamos. Assim, espero
que estas linhas que escrevi com base na Sua Palavra, possam ter chegado – pela
leitura – aos ouvidos do coração de quem as leu, e que possam ter tido
significado e feito a diferença. Jamais poderia tê-las escrito de mim mesmo; dou
graças a Deus por Ele ter me impulsionado a isso!
Por
hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert