Pesquisar neste blog

domingo, 24 de março de 2019

O Joio, o Trigo, o Mundo – e a Igreja



Como era Seu costume, Jesus contou uma parábola às pessoas que O ouviam. Ocorria, às vezes, que Seus discípulos também não compreendiam o significado da parábola contada e, depois, em particular com eles, Ele a explicava. Foi o que se passou no trecho que vou transcrever abaixo, e depois vou tecer alguns comentários e impressões minhas a respeito.
Primeiro, Jesus conta a parábola propriamente dita:
(Mateus 13:24-30)
Jesus lhes contou outra parábola, dizendo: “O Reino dos céus é como um homem que semeou boa semente em seu campo. Mas enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e se foi. Quando o trigo brotou e formou espigas, o joio também apareceu”.
“Os servos do dono do campo dirigiram-se a ele e disseram: ‘O senhor não semeou boa semente em seu campo? Então, de onde veio o joio?’”
“‘Um inimigo fez isso’, respondeu ele”.
“Os servos lhe perguntaram: ‘O senhor quer que o tiremos?’”
“Ele respondeu: ‘Não, porque, ao tirar o joio, vocês poderão arrancar com ele o trigo. Deixem que cresçam juntos até a colheita. Então direi aos encarregados da colheita: Juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro’”.
Agora, em particular, Jesus explica a parábola aos Seus discípulos:
(Mateus 13:36-42)
Então ele deixou a multidão e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e pediram: “Explica-nos a parábola do joio no campo”.
Ele respondeu: “Aquele que semeou a boa semente é o Filho do homem. O campo é o mundo, e a boa semente são os filhos do Reino. O joio são os filhos do Maligno, e o inimigo que o semeia é o Diabo. A colheita é o fim desta era, e os encarregados da colheita são anjos”.
“Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim desta era. O Filho do homem enviará os seus anjos, e eles tirarão do seu Reino tudo o que faz tropeçar e todos os que praticam o mal. Eles os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, ouça”.
Esta é a parábola conhecida como a “Parábola do Joio e do Trigo”.
Podemos perceber que o que fora contado aí era uma cena agrícola/pastoril comumente entendível para os ouvintes de Jesus. As cenas que Ele usava para cunhar-lhes um fundo moral ou de ensinamento eram facilmente captáveis, como se, em nossos dias, falássemos de celular ou internet, por exemplo, ou de globalização – as pessoas saberiam do que estaríamos falando.
Jesus começa dizendo ao que o Reino dos céus se parece, ao que é similar, neste caso, a um campo onde são semeadas sementes de trigo. Depois, às escondidas e diante da distração de todos, um inimigo deste que semeou trigo semeia joio – um inso. Os dois – trigo e joio – crescem juntos, e não pode se arrancar um sem prejudicar o outro. Assim, colhe-se só depois de madurar-se o trigo.
Depois, na explicação que Ele dá aos Seus discípulos, tudo fica muito claro:
- o semeador é Jesus – o Filho do homem;
- o campo é o mundo;
- a boa semente são os filhos do Reino;
- o joio são os filhos do Maligno;
- o inimigo é o Diabo;
- a colheita é o fim;
- quem colhe são os anjos.
Diante da pontuação acima, quero comentar o seguinte:
Jesus é o Semeador da Palavra – que é Ele mesmo, o Verbo encarnado, Deus feito gente. Em outra parábola – a “Parábola do Semeador” – Ele fala disso também. Conjuntamente com Ele, somos também, de certa forma, semeadores da Palavra, pois, como Seus discípulos – à medida dos Seus discípulos originais – também somos comissionados e enviados a pregar o Evangelho.
Esta semeadura se faz no mundo – em nosso mundo/alma, no mundo da nossa família, no mundo dos nossos amigos e colegas, no mundo da nossa vizinhança, no mundo da nossa cidade... e no mundo/mundo mesmo. E no mundo/igreja também, do qual falarei logo mais.
Pela pregação do Evangelho, por este divulgar – e semear – a Palavra, originam-se filhos e filhas do Reino, significando dizer que, ao se divulgar o Evangelho de Cristo, faz-se nascer nas almas humanas que o ouvem, novos filhos e filhas de Deus. São os trigos que crescem a partir da semente do Evangelho.
No meio desses filhos do Reino estão também aqueles que não são, aqueles que por deliberação não aceitam o andar no amor de Cristo, aqueles que “jogam contra”, e que são de fácil manipulação daquele que é tudo que se apresenta anti – anti-Cristo, anti-Deus, anti-Vida. Jesus nomeia o joio de “filhos do Maligno”. Ora, como Ele ensina, eles estão misturados conosco, andando conosco, convivendo conosco e deixando seus “frutos estéreis” em nosso meio também. Aqui faço um comentário com uma ponta de ironia que visa nos despertar e nos fazer cair na real: eu torço – e oro! – para que eu não seja um joio destes, pois poderíamos ser. Por fé, quero colocar-me sempre nas mãos do Senhor para que eu seja trigo Seu.
Jesus diz que “um inimigo fez isso” – o semear o joio –, referindo-Se ao Diabo como este “inimigo”. Chama a atenção que Jesus não teologiza – ou diabologiza – sobre o Diabo. Ele – Jesus – não entra no mérito de traçar um perfil do Diabo, nem fala aqui das origens deste, nem de seus propósitos, nem de seus planos, nem de – quase – nada a respeito dele. Somente assevera que ele – o Diabo – existe, que é um inimigo, e que devemos nos acautelar dele, mas não nos aficionarmos nele nem nos neurotizarmos nele ou dele. Eu, quando questionado sobre o Diabo, costumo dizer que não dou muito ibope para ele – escolho me ater em Jesus.
Jesus indica que somente “no fim” é que se saberá realmente quem é quem – quem é joio e quem é trigo. Portanto, ensina-nos Ele que não cabe a nós rotularmos ninguém, pois, ao final, somente Deus sabe quem são os Seus. E somente quando a maturação das pessoas e dos tempos se der, haverá a colheita. O trigo é destinado a um lado e o joio a outro, e se deduz, na parábola, quais lados são e os seus significados.
Quem colhe são os anjos, significando dizer que a nós cabe esperar em esperança, caminhar andando em fé e confiança, e saber que no tempo certo Ele Se encarrega de providenciar a colheita, e que esta não será feita por nós, mas a quem Ele comissionar para tanto.
Dito e entendido isso, toda esta parábola e seus significados, quero, de certa forma, voltar a ela num ponto específico, como falei mais acima: aquele que fala do mundo/lugar onde o joio e o trigo são semeados e onde crescem e se desenvolvem juntos.
Agora, daqui em diante se entenderá a última citação que fiz no título deste texto – “O Joio, o Trigo, o Mundo – e a Igreja”. Agora passo a falar da Igreja.
De forma sintetizada, quando falo de Igreja não falo de instituições nem denominações A ou B, nem teço elogios ou críticas a placas e logomarcas clericais.
Creio que Igreja são as pessoas que professam sua fé em Cristo e que buscam andar sua vida nos Seus ensinamentos. Estas pessoas podem ter seus altos e baixos, caem, levantam e seguem a vida com fé e esperança... e não param, pois é Cristo Jesus Quem as acompanha, as impulsiona e as motiva! Estas pessoas que são Igreja podem – ou não – eventualmente congregar ou frequentar instituições denominadas “igreja”, mas as pessoas transcendem paredes, templos, denominações, logomarcas e clubismos eclesiásticos. Igreja, ou você é ou você não é.
A Igreja anda no mundo, ainda que não seja do mundo, como Jesus ensina ao orar ao Pai: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno” (João 17:15).
Assim, creio que a Igreja anda no mundo, não é do mundo, mas pisa no chão da realidade do mundo todos os dias. E fica aqui no mundo até maturar.
E, junto à Igreja – a estas pessoas que são chamadas de “filhos do Reino” – andam também aquelas que são anti-Igreja – aquelas pessoas que são chamadas “filhos do Maligno”.
Ainda, creio que nos ajuntamentos das pessoas que são Igreja – que pode ser numa denominação, num prédio, numa família, num “grupo sem nome”, enfim... no meio destas reuniões transitam também os joios. Estes joios, creio também, às vezes sabem-se serem joios, mas às vezes também pensam que são trigo, mas tornaram-se joios por se permitirem ser manipulados por aquele que não é Cristo. Há, portanto, os joios conscientes e os inconscientes. Mas Deus sabe quem é quem.
Nos dias atuais, creio que estes joios infiltrados introduzem teologias anti-Evangelho, de forma sutil e encantadora aos ouvidos dos incautos, buscando atrair quem se deixa seduzir pelos pragmatismos aí pregados. Se assim não fosse, não teríamos “teologias da prosperidade”, “confissões positivas”, “determinações disto e daquilo em nome de Jesus” – como se alguém pudesse determinar a Deus o que fazer!... Se não houvesse tantos “frutos estéreis” de joios no meio dos trigos, o gospel business, o “negócio do evangeliquismo”, não faria tanto sucesso e não lotaria tantos “templos” – salomônicos ou não – e bolsos. Se não houvesse tantos joios no meio dos trigos, não teria tanto espertalhão enriquecendo às custas das ingenuidades alheias.
Mesmo que isso me cause, por um lado, indignação, por outro lado, fico tranquilo e confiante, sabendo que Deus não perdeu a mão com Sua Igreja, pois Jesus mesmo advertia que assim seria – até o fim.
Destes joios, lembro, não sem certa tristeza por eles, que Jesus falava:
“Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mateus 7:22-23).
Mas Ele zela pelos Seus. E nos alertou desde sempre:
“Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos. Vejam que eu os avisei antecipadamente(Mateus 24:24-25).
Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas (João 10:14-15).
“Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu as conduza também. Elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor (João 10:16).
“Não ficarei mais no mundo, mas eles ainda estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, protege-os em teu nome, o nome que me deste, para que sejam um, assim como somos um (João 17:11).
Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mateus 28:18-20).
Ele é o nosso Pastor, que nos ajunta para Si, sendo Um conosco e nós com Ele... e estará conosco “até o fim dos tempos”, ou seja, até a colheita!

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert

Nenhum comentário:

Postar um comentário