Pesquisar neste blog

domingo, 9 de setembro de 2018

Jesus é o Mais Inteligente e o Maior Líder?



Esta é uma reflexão sobre o “Jesus corporativo”, o “Jesus dos negócios”, o “Jesus da prosperidade”, o “Jesus self-service”.
Tem surgido uma enxurrada de livros tipo “Jesus, o Maior Psicólogo e Líder Que Já Existiu”, em  que se tenta aplicar ideias e atos de Cristo para o mundo corporativo.
A questão é que, aparentemente, Jesus descumpria uma premissa básica da liderança que era a hierarquia de tratamento. Parece que Ele tratava uns discípulos melhor do que outros.
No episódio do Getsêmani, por exemplo, Ele leva um grupo para orar com Ele, deixando os outros em local mais distante. Sem falar de João, que era conhecido como o “discípulo amado”, termo equivalente hoje ao “queridinho do chefe”.
Resumindo, Cristo tratava uns discípulos “melhor” que outros. É possível ser um bom líder fazendo diferenciação entre os subordinados (ou seguidores)?
Estas questões acima foram levantadas por um leitor.
Pessoalmente, acho esses livros o fim da picada, bem como o resultado que eles criam — o qual é reducionista, utilitário, mercantilista, empobrecedor do Evangelho. E põem Jesus numa espécie de lista dos “dez mais”, apenas.
Jesus não é chefe e nem modelo de chefia para nada neste mundo, exceto para a comunidade da fé, na qual Ele não é chefe, mas Senhor.
E por que Jesus não serve para esse padrão de liderança? Ora, é que Ele só é líder se for antes Deus para a pessoa. Do contrário, é uma furada tomá-Lo como líder do que quer que seja, pois Seu modo de “ir adiante” dos que O seguem, não convida ao sucesso, mas ao “tomar a cruz e segui-Lo”.
Além disso, Jesus nunca Se preocupou em fazer jogos de equilíbrio de poder. Ele escolhe a quem quer e para o que quer. E se alguém pergunta “E quanto a este? Qual será o papel dele?”, a resposta de Jesus viola todos os jogos e princípios, posto que apenas pergunta de volta: “Que te importa? Quanto a ti, segue-me”.
Ele não dá explicações acerca do que faz. Não diz por que uns têm mais ou menos talentos, ou por que uns são curados e outros não, ou por que torres caem na cabeça de alguns e não na de outros, ou por que demora tanto a fim de tomar a administração dos maus, ou por que elogia o administrador infiel, ou por que o paradigma do amor do Pai não é a Lei, mas a misericórdia do amor, ou por que trabalhadores da última hora recebem tanto quanto os da primeira.
E mais: Ele não faz nada contra Judas (no que seria uma espécie de gestão preventiva) até que Judas mesmo se entregue — embora Ele diga: “Um de vós é diabo”. Ou ainda: “Um de vós é o traidor!”
Quando os discípulos disputam entre si sobre o tema importância e poder – usando as referências de poder que eles estavam tentando adotar acerca de quem era o maior ou o mais importante entre eles —, Jesus apenas disse: “Entre vós não é assim”.
Assim, os maiores amigos, Pedro, Tiago e João, são também os mais censurados nas narrativas dos Evangelhos. Pedro, nem se fala! João, que põe a cabeça no peito de Jesus, é chamado em Lucas de “filho do trovão” – era João quem desejava torrar os samaritanos com “fogo do céu” — e, acerca dele, Jesus diz, incluindo a todos: “Vós não sabeis de que espírito sois!” E Tiago leva na conta tudo o que João leva naquele episódio, sem falar que ambos os “amigos” também pediram à própria mãe para interceder por eles, para que ficassem um à direita e outro à esquerda de Jesus na “consumação dos séculos”.
Assim, os mais íntimos não são poupados pela verdade, antes a ela são mais expostos, e isto trazendo auto-revelação dolorida. Pedro ouve que, em atentando contra o caminho para a cruz, ele se tornara um “Satanás”. João pergunta quem é o traidor, mas não ouve nada em resposta. E Tiago, que deseja ficar – e até ser posto ou à direita ou à esquerda de Jesus –, é decapitado em Jerusalém tempos depois.
Sim, Ele tem três amigos “mais amigos”, de maior afinidade, mas não de maiores privilégios. Sobem para a transfiguração, mas de lá descem para toda sorte de repreensões para não surtarem com a “glória”.
Também Marta, Maria e Lázaro são afirmados como amigos. Mas não há tráfico de influência. Quando Lázaro adoeceu e Jesus foi informado de que “aquele a quem Jesus amava estava doente”, Ele ainda permaneceu mais alguns dias onde estava; e não foi até que julgou próprio ir. Ele é amigo de Marta, mas não a poupa do “Marta! Marta!” tão famoso para todos nós.
Jesus não liderava de modo a atender aos interesses de uma empresa. Sua política de gestão, ou converteria a todos, ou levaria a empresa à falência. Ele manda dar, e não reter. Emprestar, e não preservar. Diz que dinheiro é uma potestade poderosa, e não pode ter lugar de qualquer relevância na vida de seu possuidor. Não tem senso de auto-preservação mercadológica e/ou marqueteira. Anda com quem não deve andar. Deixa de lado figuras importantes ao “negócio” e dá valor a quem não tem aparentemente nada a acrescentar. Choca os clientes com mais potencial – fariseus, escribas e autoridades do templo. Não cuida bem de Sua imagem, e nem faz questão de que o façam. Expõe-Se o tempo todo. É capaz de entrar numa casa para jantar e quebrar todas as etiquetas, como o fez muitas vezes. É capaz de amar alguém, mas não facilitar a vida da pessoa, como foi com o “jovem rico”. Ao mesmo tempo, é capaz de insistir, sem explicação, para que alguns venham e sigam-No, enquanto diz que outros não têm o direito de ir ver um campo recém adquirido, ou de cumprir os dias da lua de mel, ou até de sepultar o pai.
Ora, esse modo de proceder não é o de um líder humano e nem para homens serem liderados. Não! O que se tem em Jesus é o modo de Deus tratar a vida e os homens, ou seja, sem qualquer política a ser verificável. Tudo é particular. Tudo visa individuação. Tudo tem aplicabilidade exclusiva. Cada um é cada um — e Ele é tudo em todos!
Dito isto, podendo escrever um longo livro sobre o assunto – não falta material —, digo que esses livros são apenas produtos que enriquecem o autor, mas não levam ninguém à consciência do que seja o Evangelho e de Quem é Jesus.
É bonitinho. Parece ser bonzinho para Jesus. É aparentemente positivo. Faz de Jesus um “mais, mais” — ou até um “must”. Só não O faz ser quem Ele é: “Deus conosco”!
Desse modo, sendo breve, o que tenho a dizer é que tais livros não passam de uma tentativa marqueteira e mercadológica de achar um “nicho”. E, após isto, vender muitos livros e fazer muitas palestras pagas para um monte de incautos, que não conhecem o Evangelho, a ponto de pensarem que Jesus é daquele jeito. Sim, Jesus vira um “guru do mercado”. Nada, além disso. 
Esta é minha opinião.
Jesus é Senhor de tudo, mas não é líder de nada!


Um texto de Caio Fabio D’Araújo Filho

Nenhum comentário:

Postar um comentário