A chave deste livro é a santidade. O termo Levítico faz
referência aos levitas.
Conforme diz o nome, Levítico, o terceiro livro de Moisés, ressalta a
função dos sacerdotes de Israel, membros da tribo de Levi, aos quais Deus
escolheu para prestar serviços em seu santuário (Deuteronômio 10:8). Portanto,
muitos crentes pensam que o Levítico é uma espécie de manual técnico que
orientava os antigos sacerdotes nos pormenores das cerimônias que o povo de
Deus já deixou de observar, e por isso mesmo, o Levítico é hoje o menos prezado
dos livros do Pentateuco. Contudo, devemos afirmar que sua mensagem estava
dirigida originariamente aos israelitas, mas também, concomitantemente, a todos
os crentes (Levítico 1:2). Suas verdades continuam sendo de principal
significado para o povo de Deus, visto que o Levítico constitui a primeira
revelação pormenorizada do tema vivo da Bíblia em geral, isto é, a revelação da
forma mediante a qual Deus restaura o homem perdido. Tanto a atividade
redentora de Deus como a conduta do homem que se apropria de tal redenção se
acham resumidas no versículo-chave, que diz: “Ser-me-eis santos, porque eu, o
Senhor, sou santo, e separei-vos dos povos, para serdes meus” (20:26).
A fim de realizar a salvação e restaurar o homem ao seio de seu Criador,
é preciso prover um meio de acesso a Deus. A primeira metade do Levítico
(capítulos 1 a 16) apresenta-nos, assim, uma série de medidas de caráter
religioso que representam a forma mediante a qual Deus redime os perdidos,
separando-os de seus pecados e suas conseqüências. Os diversos sacrifícios
(capítulos 1 a 7) eram figuras, por assim dizer, da morte de Cristo no
Calvário, onde aquele que não tinha pecados sofria a ira de Deus em nosso
lugar, para que pudéssemos ser salvos de nossa culpa (II Coríntios 5:21; Marcos
10:45). Os sacerdotes levitas (capítulos 8 a 10) prefiguravam o serviço fiel de
Cristo ao efetuar a reconciliação pelos pecados do povo (Hebreus 2:17). As leis
da limpeza e purificação (capítulos 11-15) deviam constituir-se em lembranças
perpétuas do arrependimento e da separação da impureza, que deve caracterizar
os redimidos (Lucas 13:5), enquanto o dia culminante do culto de expiação
(capítulo 16) proclamava o perdão de Deus para os que se humilhassem mediante
uma entrega fiel a Cristo, o qual proporcionaria acesso ao próprio céu (Hebreus
9:24).
Mas a salvação não é apenas separação do mal: abrange uma união positiva
ao que é bom, justo. De modo que a segunda metade do Levítico (capítulos 17-27)
apresenta uma série de padrões práticos do que o homem deve aceitar a fim de
viver uma vida santa. Esta conduta prática inclui expressões de devoção em
assuntos cerimoniais (capítulo 17), na adoração (capítulos 23 a 25), mas giram
em torno de assuntos de conduta diária do amor sincero a Deus, e citando desta
parte do Levítico: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (19:18).
Em sua forma, o Levítico existe principalmente como legislação expressa
por Deus: “Chamou o Senhor a Moisés e... disse: Fala aos filhos de Israel, e
dize-lhes...” (1:1-2). As duas narrativas históricas (capítulos 8 a 10 e
24:10-22) servem-nos de pano de fundo para assuntos de caráter legislativo. E a
única variante em sua forma, o sermão final de exortação de Moisés (capítulo
26), é seguido de um apêndice de leis que regulam matérias que em si mesmas não
são obrigatórias (capítulo 27).
Quanto ao autor deste livro, em mais de 50 pontos em seus 27 capítulos,
o Levítico afirma ser palavra de Moisés dirigida por Deus. O Novo Testamento
também cita o livro ao dizer: “Ora, Moisés escreveu...” (Romanos 10:5). Os
críticos que relegam o Levítico a um milênio depois de Moisés, fazem-no a
expensas da integridade da evidência bíblica. As Sagradas Escrituras descrevem
o Levítico como livro dado a Israel pouco depois que os israelitas foram
adotados como o povo da aliança de Deus (Êxodo 19:5). Fora-lhes dada a Lei
moral básica, o Decálogo (Êxodo 29:43; 40:34). A seguir, vem o Levítico,
segundo Deus o havia prometido (Êxodo 25:22), como guia para a conduta e para a
adoração. Sua legislação e seus acontecimentos abrangem tão-somente algumas
semanas de tempo, desde o levantamento do tabernáculo por parte de Moisés
(Êxodo 20:17), até a partida de Israel do monte Sinai, menos de dois meses depois
(Números 10:11), no mês de maio de 1445 a.C., segundo datas fixadas pela
maioria dos exegetas evangélicos.
J.
Barton Payne
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