Muitos pais
cristãos ainda não entenderam que crianças devem ser educadas para poderem ser
levadas a qualquer lugar sem dispararem alarmes e causarem abalos sísmicos.
Isto significa que devem ser treinadas, amansadas, adestradas, desde a mais
tenra idade da maneira como devem se comportar nas reuniões da igreja.
Alguém menos
versado na língua portuguesa poderá achar uma afronta dizer que crianças
precisas de adestramento, mas isso é por não conhecer que o termo significa treinar alguém para algo útil. O
dicionário ensina que o verbo adestrar
é sinônimo de explicar, lecionar, amestrar, doutrinar, educar, ensinar, formar,
instruir. O termo adestramento ficou
mais popular por ser usado para cães, mas por que não para humanos? Ou você
queria ir a um restaurante e ser atendido por um garçom que não recebeu
adestramento em servir? Ou a um espetáculo em que o músico não foi adestrado
para tocar seu instrumento com perfeição?
Ora, se
adestramos cães e cavalos para nos serem úteis, por que achar que filhos já
venham de fábrica amansados? Não vêm. O ser humano no seu estado natural é
selvagem, rebelde e voluntarioso. A história de Mogli, o menino lobo, pode ser muito bonita e romântica, mas você
não iria querer que seu filho se comportasse como um antes de ter sido
adestrado por animais selvagens. Infelizmente hoje vemos crianças que fariam Mogli parecer o educado Alfred, o mordomo de Bruce Wayne, identidade secreta do Batman.
A tarefa de
educar a criança que nasce ainda na condição de um Mogli que não foi adotado por lobos cabe aos seus domadores, os
pais. Sim, eu falei domadores para dar a você a dimensão exata da imagem que um
filho deve ter de seus pais desde pequeno: aqueles que têm autoridade, domínio
e poder sobre eles. São as crianças que devem se sujeitar aos pais, não pais
aos caprichos pueris de quem veio ao mundo na condição de um pecador rebelde e
inimigo de Deus. Ou será que você obedeceria seu filho de dois anos se ele
quisesse atravessar sozinho uma avenida movimentada sem segurar em sua mão?
Desde cedo as
crianças devem aprender que, quando estão em lugar público, como a escola, um
shopping ou numa praça, estão ali sob o comando de seus pais. A coisa fica
ainda mais solene quando estão na presença do Senhor nas reuniões da igreja,
onde além e acima da autoridade paterna e materna existe a autoridade do Senhor
e o temor que se deve ao seu Nome e presença.
É como quando
entramos no fórum para falar com o juiz. Não podemos entrar de qualquer jeito,
não podemos tomar a palavra como quisermos, até o cruzar das pernas pode ser
interpretado pelo juiz como desrespeito. Você conseguiria imaginar uma cena em
um tribunal com crianças descontroladas, correndo, gritando e atirando
brinquedos umas nas outras? O juiz imediatamente interromperia a reunião e
ordenaria que os pais fossem retirados dali com seus pequenos e lendários Goblins desordeiros, mais conhecidos
como os Gremlins do filme de Steven
Spielberg.
Uma pesquisa
apontava que uma fatia considerável da audiência desses programas de
adestramento de cães seria formada por pais e mães em busca de dicas para o
adestramento de filhos que se comportam como cães selvagens. Esta pode ser a
razão de um canal de TV britânico ter lançado o programa “Train your baby like a dog” (“Treine seu bebê como um cão”),
estrelado por uma treinadora de cães e seu filhinho. Milhares de pessoas
protestaram pedindo que o programa fosse cancelado.
Não sei quais
os métodos que a mulher utiliza, mas o fato de existir tal coisa é consequência
de os modernos métodos de “adestramento” infantil não estarem funcionando num
Ocidente em que uma mãe pode ser presa se der uma chinelada em um filho que se
comporta como uma fera selvagem. Mas se a mãe apanhar do filho menor, como
também é o caso de muitos professores e professoras, isso já é considerado
normal. Outro dia no aeroporto vi um filho dar um tapa no rosto da mãe e ficar
por isso mesmo. Minha mãe jamais permitiria uma coisa assim, e muito menos em
lugar público. Comentando a “Lei da Palmada” uma mãe cristã disse: “Prefiro eu
ir para a cadeia do que deixar que meu filho vá quando for grande”.
Voltando ao
ponto das reuniões cristãs, em muitas religiões as crianças são tiradas das
reuniões e levadas para um lugar à parte para praticarem atividades lúdicas sob
os olhares de corajosas monitoras. A desculpa é que as crianças devem ser
mantidas separadas dos pais durante as reuniões por fazerem barulho e não se
comportarem. Mas isso só expõe a falta de disciplina em casa, pois se os pais
as disciplinassem corretamente em casa elas saberiam como se comportar nas
reuniões, na escola, nas praças ou em qualquer lugar.
A ordem da
autoridade é invertida quando os pais ficam à mercê dos filhos pequenos e não
conseguem controlá-los em um ambiente público. Quando eu era pequeno e íamos a
algum lugar público, meus pais não precisavam nem dizer ou fazer algo, bastava
um olhar, como Deus faz com seus filhos obedientes, deixando claro que animais
são os que não foram devidamente adestrados com restrições morais e precisam de
restrições físicas.
“Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei
com os meus olhos. Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm
entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a
ti.” (Salmo 32:8-9).
Quando nossos
filhos eram pequenos nós os disciplinávamos à maneira bíblica, com amor e um
instrumento punitivo. Não era uma vara, mas apenas uma reguinha flexível que
devidamente aplicada ao glúteo não causava qualquer dano. Lembro-me de ter
aprendido com um irmão ancião que a nádega da criança é o caminho mais curto
para o cérebro. Não usávamos as mãos, pois as mãos são feitas para acariciar,
não para espancar. Hoje posso dar graças a Deus pelo resultado daquela criação
que os lacradores de plantão considerariam inumana.
A criança
precisa de limites cedo porque ela irá encontrar esses limites quando sair de
casa, e se não tiver sido devidamente treinada será limitada pelas barras de
alguma cela ou pela sala acolchoada de alguma clínica. Nunca castigávamos
nossos filhos por infantilidades ou acidentes, como quebrar algo sem querer.
Crianças não podem deixar de ser crianças e fazerem criancices. Eram
disciplinadas quando desafiavam a autoridade, ao serem avisadas de algo que não
deviam fazer e faziam do mesmo jeito. Então a régua entrava em cena.
Obediência a
uma autoridade superior é um ingrediente que faz parte da vida de um cristão.
Ora, se o próprio Filho de Deus, sendo Deus e Homem, precisou aprender a
obedecer quando se fez carne e veio a mundo, quanto mais nossos filhos precisam
também aprender obediência e submissão. E olhe que a vontade do Senhor Jesus
era perfeita, e mesmo assim ele não fazia sua própria vontade, mas a do Pai.
“Ainda que era Filho, aprendeu a obediência.” (Hebreus 5:8).
“Eu não posso
de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo,
porque não busco a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou... Porque
eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me
enviou... Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha
vontade, mas a tua.” (João 5:30; João 6:38; Lucas 22:42).
Falando de um modo geral e cultural, a minha geração deve ter sido a última de filhos que
eram devidamente treinados de como se comportar em lugares onde se exige
silêncio e comedimento, como edifícios públicos, lojas, salas de aula, igrejas,
visitas a amigos, etc. Quando vejo em aeroportos e outros lugares crianças
gritando, se debatendo no chão ou dando pontapés na canela da mãe minha vontade
é de ir lá, mas é claro que não vou. Não, eu não seria enquadrado na “Lei da
Palmada”, mas na lei “Maria da Penha”, pois quem precisa de umas boas palmadas
é a mãe.
Meus pais,
embora treinados e treinados à moda antiga, também nunca fariam tal coisa, mas
bem que vontade tinham. Ainda lembro do que meu pai dizia quando recebíamos
visitas à nossa casa acompanhadas de filhos bárbaros. Chamando-me à parte, ele
dizia: “Marinho, vá lá no quintal e convide esse garoto para brincar de
faroeste. Diga que você é o índio, amarre o pestinha numa árvore e fique
dançando em volta cantando U-u-u-u...”. Nunca tentei fazer isso, então não sei
se funcionaria.
Infelizmente
a disciplina amorosa, saudável e bíblica dos filhos, que às vezes deve ser
firme e severa, é hoje vista como bullying
ou violência verbal, psicológica e física que irá tolher a liberdade da criança
e causar problemas psicológicos quando for adulta. Sei. Hoje pais cristãos são
vistos como criminosos quando precisam aplicar a disciplina que Deus ensinou em
sua Palavra. Ao agirem assim os homens se consideram mais sábios que Deus e não
é preciso muito para ver o resultado disso nos lares, escolas, clínicas de
reabilitação e prisões.
“Não retires
a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá.
Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno... A vara e a
repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua
mãe.” (Provérbios 23:13-14; 29:15).
Um texto de Mario Persona
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