Pesquisar neste blog

domingo, 10 de novembro de 2019

Um Lamento Psicológico e Um Pedido de Ajuda



Salva-me, ó Deus!, pois as águas subiram até o meu pescoço. Nas profundezas lamacentas eu me afundo, não tenho onde firmar os pés. Entrei em águas profundas; as correntezas me arrastam.
Cansei-me de pedir socorro; minha garganta se abrasa. Meus olhos fraquejam de tanto esperar pelo meu Deus.
Os que sem razão me odeiam são mais do que os fios de cabelo da minha cabeça; muitos são os que me prejudicam sem motivo, muitos, os que procuram destruir-me. Sou forçado a devolver o que não roubei.
Tu bem sabes como fui insensato, ó Deus; a minha culpa não te é encoberta.
Não se decepcionem por minha causa aqueles que esperam em ti, ó Senhor, SENHOR dos Exércitos! Não se frustrem por minha causa os que te buscam, ó Deus de Israel!
Pois por amor a ti suporto zombaria, e a vergonha cobre-me o rosto. Sou um estrangeiro para os meus irmãos, um estranho até para os filhos da minha mãe; pois o zelo pela tua casa me consome, e os insultos daqueles que te insultam caem sobre mim. Até quando choro e jejuo, tenho que suportar zombaria; quando ponho vestes de lamento, sou motivo de piada. Os que se ajuntam na praça falam de mim, e sou a canção dos bêbados.
Mas eu, SENHOR, no tempo oportuno, elevo a ti minha oração; responde-me, por teu grande amor, ó Deus, com a tua salvação infalível!
Tira-me do atoleiro, não me deixes afundar; liberta-me dos que me odeiam e das águas profundas. Não permitas que as correntezas me arrastem, nem que as profundezas me engulam, nem que a cova feche sobre mim a sua boca!
Responde-me, SENHOR, pela bondade do teu amor; por tua grande misericórdia, volta-te para mim. Não escondas do teu servo a tua face; responde-me depressa, pois estou em perigo. Aproxima-te e resgata-me; livra-me por causa dos meus inimigos.
Tu bem sabes como sofro zombaria, humilhação e vergonha; conheces todos os meus adversários.
A zombaria partiu-me o coração; estou em desespero! Supliquei por socorro, nada recebi; por consoladores, e a ninguém encontrei.
Puseram fel na minha comida e para matar-me a sede deram-me vinagre.
Que a mesa deles se lhes transforme em laço; torne-se retribuição e armadilha. Escureçam-se os seus olhos para que não consigam ver; faze-lhes tremer o corpo sem parar. Despeja sobre eles a tua ira; que o teu furor ardente os alcance. Fique deserto o lugar deles; não haja ninguém que habite nas suas tendas. Pois perseguem aqueles que tu feres e comentam a dor daqueles a quem castigas. Acrescenta-lhes pecado sobre pecado; não os deixes alcançar a tua justiça. Sejam eles tirados do livro da vida e não sejam incluídos no rol dos justos.
Grande é a minha aflição e a minha dor! Proteja-me, ó Deus, a tua salvação!
Louvarei o nome de Deus com cânticos e proclamarei sua grandeza com ações de graças; isso agradará o SENHOR mais do que bois, mais do que touros com seus chifres e cascos.
Os necessitados o verão e se alegrarão; a vocês que buscam a Deus, vida ao seu coração!
O SENHOR ouve o pobre e não despreza o seu povo aprisionado.
Louvem-no os céus e a terra, os mares e tudo o que neles se move, pois Deus salvará Sião e reconstruirá as cidades de Judá. Então o povo ali viverá e tomará posse da terra; a descendência dos seus servos a herdará, e nela habitarão os que amam o seu nome.

(Texto do Salmo 69)

O salmista inicia seu lamento comparando seu estado psicológico com um afundar-se na lama da vida, lembrando, com esta cena, o afundar egípcio na perseguição aos israelitas em sua fuga.
Reconhece a sua insensatez, ao mesmo tempo em que confessa sua sensação de abandono por aqueles que o poderiam ter ajudado quando estava caído.
Lamenta ainda que zombem dele, ao invés de estenderem-lhe uma mão. Isso é algo comum em nossos dias também; não poucas vezes encontramos alguém neste estado, ou nós mesmos podemos ter passado por situações assim.
Me chama muito a atenção o pedido especial que o salmista faz: Não se decepcionem por minha causa aqueles que esperam em ti, ó Senhor, SENHOR dos Exércitos! Não se frustrem por minha causa os que te buscam, ó Deus de Israel! É um rogo, ao mesmo tempo, de pedido de perdão a Deus e às pessoas, e de incentivo àqueles que seguem buscando a Deus – que continuem, haja o que houver e o que tenha havido.
Na sua amargura, impreca contra os que o abandonaram algumas “maldições”, pedindo a Deus que os dane. Mesmo sendo compreensível essa atitude por parte de um coração desiludido, abandonado, zombado e frustrado, é claro que Deus não atende um tal pedido, posto que Ele sabe o estado de coração de cada um. É apenas um momento em que é dado voz à amargura da alma, que, no final, é substituída pela esperança e confiança.
Nos entremeios, este Salmo nos aponta para passagens da vida do Cristo, quando Ele expulsa os vendilhões do Templo e na hora da Sua crucificação, no momento em que menciona que o zelo pela tua casa me consome e para matar-me a sede deram-me vinagre.
Ao final, esta alma amargurada que se derrama em sentimentos na composição do Salmo, reconhece que de Deus virá aquilo de que necessita e descansa em confiança n’Ele, ensinando-nos uma valiosa lição de vida.
Os Salmos são repletos de clamores humanos, de derramares de fraquezas e equívocos, de confissões de pecados, de sentimentos como a amargura, a desilusão, o desamparo, a sensação da injustiça humana... e de ódio! Até de ódio!
Os Salmos também são repletos de louvores humanos, de derramares de forças e acertos, de confissões de perdões, de sentimentos como a alegria, a confiança, o amparo, a certeza da justiça divina... e de amor! Sobretudo de amor!
Viaje pelos Salmos. Sempre são boas leituras!

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,

Kurt Hilbert

Nenhum comentário:

Postar um comentário