Deus usa homens
fracos e Deus usa circunstâncias fracas também, circunstâncias sem importância
alguma aos olhos humanos. Começando por João Batista, quem iria se interessar
por alguém pregando num deserto? Se João Batista fosse o criador de uma
religião, ele iria para um lugar bem movimentado, como a rua principal da
cidade para fazer sua pregação, mas ele pregava num deserto. Deus o colocou em
um deserto para pregar e, no primeiro capítulo de Marcos, versículo 14,
encontramos esse mesmo João Batista na prisão. Ora, o que João está fazendo em
uma prisão?
Deus permitiu que João fosse preso e, se Deus permitiu que João fosse
preso, ele tinha um propósito para Deus ali na prisão. A Bíblia não diz, mas
por outra passagem podemos ter uma ideia do que João ficava fazendo na prisão.
João era um profeta de Deus, João era um testemunho de Deus na terra e, certamente,
ele não ficou quieto na prisão; ele deve ter influenciado a muitos ali,
pregando o Evangelho do Reino como ele já fazia no deserto.
Vemos muitos, depois, em Atos dos Apóstolos, que eram discípulos de João Batista, muitos que
tinham escutado dele o Evangelho. E quando eu digo que temos na Bíblia
referências ou situações para tentar imaginar o que João fazia na prisão, é só
pensarmos em José na prisão no Egito. Ali ele fez um trabalho para Deus,
testemunhou de Deus, foi usado por Deus na prisão, antes mesmo de ser libertado
e elevado a vice-rei de todo o Egito.
Lembramos também
de Paulo e Silas na prisão. Ali eles cantavam hinos e oravam a Deus. E o que
acontece? Deus faz acontecer um terremoto, as portas da prisão se abrem, eles
saem, o carcereiro está prestes a se suicidar, mas acaba se convertendo a
Cristo. Isso foi em Filipos, e hoje temos a carta aos Filipenses. Provavelmente
essa igreja dos Filipenses deve ter começado ou na casa do carcereiro de
Filipos, ou na casa de Lídia, vendedora de púrpura, também daquela cidade. Ela
também se converteu ali, quando Paulo foi a um lugar que, aos olhos humanos,
seria um lugar desprezível, a beira de um rio onde as mulheres oravam.
Paulo e Silas
poderiam ter ido à praça principal, à sinagoga, ao teatro da cidade, mas foram
à beira de um rio onde as mulheres oravam. Ali começa aquela assembleia,
naquela cidade de Filipos, a primeira assembleia da Europa.
Temos também o
caso do próprio Filipe, o Evangelista, que Deus envia. O Espírito Santo o levou
a uma estrada e a estrada estava deserta. Ora, por que Deus mandaria alguém
para uma estrada deserta? Porque tinha ali um eunuco que iria escutar o
Evangelho. Então as coisas aos olhos de Deus são diferentes da avaliação
humana. Nós não nos preocuparíamos em mandar Filipe para uma estrada deserta. O
que ele iria fazer lá? Não tinha nada lá.
Existe uma
passagem em que o Senhor Jesus fala que importava para Ele passar por Samaria e
por isso Ele vai a Samaria, um lugar aonde os judeus não iam. Os judeus, quando
precisavam viajar, davam a volta em Samaria, eles não cruzavam Samaria, porque
eles não se davam com os samaritanos. Mas era justamente naquele lugar, em um
horário improvável, que era no meio do dia, quando os poços ficavam desertos
porque as mulheres normalmente tiravam água logo cedo de manhã antes que o sol
ficasse muito quente, que Ele vai se encontrar com aquela samaritana à beira
daquele poço no capítulo 4 do Evangelho de João.
Talvez a maior
parte das cartas que Paulo escreveu ele escreveu preso. A carta aos Filipenses
ele escreveu preso, as cartas a Timóteo ele escreveu preso, várias cartas dele
foram escritas na prisão. Que proveito teria Deus em permitir que um apóstolo
seu fosse preso? Ora, dar tempo a ele, deixá-lo ter tempo para escrever as
cartas que depois seriam grande parte da Palavra de Deus do Novo Testamento.
O que seria da
finalização do Novo Testamento se não fosse um João preso na ilha de Patmos?
Isolado de todo mundo, velhinho, sozinho naquela ilha para Deus lhe revelar
essa carta que é o Apocalipse, a revelação dada a João. Portanto, Deus usa as
circunstâncias menos importantes aos olhos humanos. Ele não se importa com as
situações.
O Senhor Jesus
toma a dianteira no anúncio do Evangelho do Reino e passa a pregar, e depois Ele
já convoca os discípulos para pregarem com Ele. Pessoas comuns, nós os vemos
costurando redes, outros pescando; pessoas comuns, mas uma coisa que acontece
quando Deus chama é que eles largam suas redes, eles largam imediatamente as
suas redes. Diz que “deixando logo
as suas redes, o seguiram”.
Essa palavra “logo” vai aparecer muitas vezes no Evangelho
de Marcos. Aliás, se você fizer uma pesquisa numa Bíblia eletrônica, apesar de
ser o Evangelho de Marcos um Evangelho menor em extensão, este é o Evangelho em
que aparecem mais vezes a palavra “logo”. Isso é interessante, pois
está falando de Jesus como servo, e um servo, para ser um servo eficiente, tem
de ir “logo” fazer as coisas, tudo tem que acontecer “logo” quando se fala de
um servo. Portanto, eles “logo” largam suas redes. Quando a sogra de Simão
estava deitada, eles “logo” falam a ela, depois ela se levanta e vai servir,
fazendo o papel de uma serva.
Mas esse deixar
as redes, é importante pensarmos nisso, pois às vezes temos também redes que
nos prendem, atividades que nos seguram, que nos privam de fazer alguma coisa
na obra do Senhor.
Quando eu falo em
obra do Senhor, pode parecer que preciso ir à África pregar o Evangelho. Não, a
obra do Senhor se faz em casa, se faz nos filhos, se faz no trabalho, no
cafezinho com o colega, sempre existe uma oportunidade de testemunharmos de
Cristo. Às vezes até sem palavras, como ensina Pedro das mulheres com maridos
incrédulos, que elas pudessem testemunhar sem palavras, apenas pelo seu porte,
pela sua maneira de ser. Mas muitas vezes deixamos que as redes nos segurem,
nos prendam, ou em atividades como consertar as redes, que é a atividade dos
outros que são chamados aqui. Mas eles não; eles foram “logo”, eles saem “logo”, seguindo o Senhor e atendendo
o chamado do Senhor.
Um texto de Mario Persona