A chave deste livro é o Reino dos Céus. É o único livro do Novo Testamento que foi escrito
originalmente em hebraico.
O evangelho segundo Mateus tem em mira dar testemunho de que Jesus é o
prometido Messias da antiguidade, e que Sua tarefa messiânica consistia em
levar aos homens o Reino de Deus. Estes dois temas – o caráter messiânico de
Jesus e a presença do Reino de Deus – estão inseparavelmente vinculados, e cada
um deles engloba um “mistério” – uma nova revelação do propósito redentor e
divino (Romanos 16:25-26).
O mistério da missão messiânica está que antes que o Messias venha nas
nuvens, como celestial Filho do homem, para estabelecer Seu Reino sobre a
terra, deve primeiramente vir com humildade entre os homens, como o Servo
sofredor que morrerá na cruz. O judeu do primeiro século jamais tinha ouvido
tal coisa. Para o crente da atualidade, o capítulo 53 de Isaías relata com
meridiana clareza os sofrimentos do Messias. Contudo, nesta passagem não se faz
referência ao Messias, e o contexto (Isaías 48:20; 49:3) cita especificamente a
Israel como servo de Deus. Portanto, não devemos surpreender-nos com o fato de
que os judeus não compreendessem que o capítulo 53 de Isaías se referia ao
Messias. Esperavam um Messias que viesse com poder e vitória, e o Antigo
Testamento promete, em realidade, tal Messias.
O Filho de Davi é um Rei divino que governará no reino messiânico
(Jeremias 33), quando todo o pecado e todo o mal serão tirados, e prevalecerão
a paz e a justiça. O Filho do homem é um Ser celestial a Quem é confiado o
governo sobre todas as nações e reinos da terra. O Antigo Testamento não nos
diz de que forma se relacionam entre si estes dois conceitos proféticos do Rei
davídico e do celestial Filho de Deus, ou de que modo cada um deles pode ser
identificado com o Homem de dores do capítulo 53 de Isaías. Portanto, os judeus
do primeiro século esperavam um Messias vencedor, ou um Filho do homem, porém
celestial, e não um Servo humilde do Senhor, que sofreria e morreria. O
mistério messiânico – a nova revelação do propósito divino – consiste em que o
celestial Filho do homem deve primeiro sofrer e morrer em cumprimento de Sua
missão messiânica e redentora, como o Varão de dores, antes de apresentar-Se
com poder e glória.
O mistério do Reino está intimamente associado com o mistério
messiânico. O capítulo 2 do livro de Daniel descreve a vinda do Reino de Deus
com linguagem vívida, do ponto de vista da destruição de toda e qualquer
potência que resista a Deus e se oponha à vontade divina. O Reino virá com
poder, varrendo todo mal e todo governo hostil, transformando a terra e
apresentando uma nova ordem universal de perfeita paz e justiça. Contudo, o
Senhor Jesus não apresentou um Reino de poder portentoso. Daí que tanto Sua
mensagem como Sua pessoa deixassem completamente perplexos Seus contemporâneos,
inclusive Seus discípulos. Era filho de um carpinteiro; Sua família era
conhecida em Nazaré; tinha muitíssima semelhança com qualquer rabino judeu.
Suas obras eram atos bondosos de afeto e amor; não obstante isso, afirmou que
em Suas palavras, em Seus feitos e em Sua pessoa havia chegado a eles o Reino
de Deus. Contudo, os reinos do homem e do mundo continuavam como sempre, sem
que o odiado governo romano sobre o povo de Deus fosse desafiado. Como podia
ser o Reino de Deus se ele não despedaçava os outros reinos do mundo? Que esse Reino
viesse com poder espiritual antes de apresentar-se em glória era uma nova
revelação do propósito divino.
A tradição do segundo século da igreja atribui a autoria do primeiro
evangelho ao apóstolo Mateus.
George
E. Ladd
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