A sexta-feira dos judeus começa na quinta-feira às seis da tarde e
termina na sexta à mesma hora ao entardecer.
Portanto, na última sexta-feira de vida física/terrena de Jesus Ele foi
traído.
Traído, negado e deixado pelos Seus amigos!
Assim, do ponto de vista psicológico/relacional da Páscoa de Jesus,
tem-se a sexta-feira das traições, negações, abandonos e maus tratos; tem-se o
sábado do silêncio do Traído, o choro dos negantes e a morte por suicídio de um
dos traidores emblemáticos, Judas; e no domingo tem-se o grito do Traído
vencendo todas as traições com a força da Ressurreição, que perdoa a todos os
cativos da morte; posto que a morte, ou o medo de morrer, sejam os fatores que,
associados à inveja, frustração ou qualquer outro sentimento que decorra do
medo da morte ou da necessidade de não perder a vida ou a oportunidade da
existência – façam as pessoas, por caminhos diversos, traírem, negarem ou
fugiram do amor antes confessado.
Assim, se a Páscoa nos fala da Libertação da morte e do medo de morrer,
bem como nos anuncia a vitória da Ressurreição sobre as garras da morte, do
mesmo modo nos fala de nós mesmos; sim, do nosso poder de negar e de trair; bem
como do nosso poder de ressuscitar mortos pela via do perdão.
Quem nunca foi traído por algum amigo ou por vários deles?
Eu, no que me concerne, de um modo ou de outro, já fui traído muitas
vezes, e pelos melhores amigos; amigos que ainda hoje me são os melhores amigos
pelo poder da Ressurreição.
Sim, pois Perdão é Ressurreição!
No Evangelho Perdão é o poder que Ressuscita os que se suicidaram ante
os nossos olhos, ou que nos traíram quando antes nos confessavam apenas amor.
Praticamente nunca tive amigos que leve ou pesadamente não me tenham
traído!
Por vezes é algo involuntário, que não visa atingir a você, mas apenas
salvar a própria pele.
Por vezes são traições deliberadas, mesmo que aquele que trai pense que
somente faz aquilo porque você já não está mais no círculo da vida dele.
Os temas de tais traições são diversos, bem como sua gravidade ou
intensidade destrutiva.
Sim, pois há as traições que negociam você, como fez Judas; e há as
traições que negam você, como fez Pedro; e ainda há a traição dos que fogem de
medo, racionalizando: “De que adianta a ele que eu agora lhe confirme amizade
se ele mesmo já perdeu a chance da vida e da continuidade?”
Todos os meus amigos mais íntimos, de um modo ou de outro, até quando
pensam não estar traindo, por vezes traem [...] até quando se calam.
Mas e daí?
O Perdão é a Ressurreição dos que se fizeram mortos para você, mas que
pela Graça em seu coração lhe foram devolvidos à sua própria vida, e à vida
deles mesmos por você – exclusivamente pelo poder de fazer as marcas da morte
serem vencidas pelo Perdão que Ressuscita os traidores, oferecendo-lhes o mundo
novo que, em amizade, você lhes oferece; como Jesus fez com Seus amigos.
Quem vive esperando não ser traído pelos seus amigos não entendeu que
isso nunca foi ou será possível!
Há um só Amigo que jamais traiu em pensamento, palavras, ações,
comissões e omissões!
Os demais, mesmo os melhores, traem; e quem não sabe disso nunca
aprendeu o que seja ter amigos e mantê-los apesar de tudo!
Já fui traído por amigos muitas vezes, até quando alguns deles nem imaginavam
que estavam me traindo.
Mas e daí?
Afinal, você sabe que já traiu também.
Sim, não apenas quando vendeu alguém ou negou que fosse amigo e íntimo,
mas quando fez silêncio, ou aceitou um veredito perverso contra o outro, ou
mesmo quando criticou sem dizer, quando cobiçou ainda que sem possuir, quando
fez parte de algo [...], por mais sutil que tenha sido, ou até
involuntariamente, mas que atingiu a vida do outro.
Nesta Páscoa Ressuscite muitos amigos!
Sim, faça isto perdoando-os; assim como Jesus fez, devolvendo vida aos
amigos que Dele haviam se ausentado pela fraqueza do caráter ou mesmo em razão
do poder da vergonha [...] por terem feito o que fizeram.
Sim, nesta Páscoa exerça o Poder da Ressurreição praticando a Graça do
Perdão; e, desse modo, devolvendo vida a muita gente que, em relação a você, se
sente morta para sempre!
Tire esta Páscoa dos ambientes da Ressurreição apenas doutrinária ou tão-somente
da fé no Ressuscitado/Histórico!
Esta Páscoa pode levantar mortos ante os seus olhos; sim, não como algo
distante de você, porém como aquilo que acontece ao seu lado, bem perto de
você.
Ora, isto somente será real e verdadeiro se você reproduzir perdão com a
fertilidade dos coelhinhos.
Quem me lê e me entende, esse Ressuscita os mortos; posto que os traga
de volta à vida pelo Perdão que ressuscita [...] os que ante nossos sentidos se
zumbificaram pela traição, negação, omissão ou comissão que nos fez mal.
Feliz Páscoa para você!
Que todos sejam perdoados!
(um texto de Caio Fábio D´Araújo Filho)
Nenhum comentário:
Postar um comentário