A
vontade de Deus é o Seu querer em relação a todas as coisas. Através de Sua
vontade Ele decreta e permite cada ação que ocorre na existência do universo.
Deus é soberano e nada pode escapar de Sua vontade. Isso quer dizer que nada
acontece fora da vontade de Deus. Se qualquer atividade pudesse acontecer além
da vontade de Deus, então Deus não seria Deus, pois haveria algo sobre o qual
Ele não teria domínio.
Então
se a vontade de Deus se estende sobre todas as coisas, é compreensível a
preocupação de muitas pessoas em como entender a vontade de Deus. Essa de fato
é uma preocupação válida e importante. Mas antes é preciso considerar o que de
fato é a vontade de Deus e o que essa vontade tem a ver conosco.
O que a Bíblia diz sobre a vontade de Deus?
A
Bíblia fala muito sobre a vontade de Deus, de modo a deixar claro que essa
vontade é a causa última de tudo o que acontece. Na Escritura lemos que todas
as coisas foram criadas pela vontade de Deus (Apocalipse 4:11).
Além
disso, a contínua existência de tudo o que há se deve à própria vontade de
Deus. O apóstolo Paulo escreve que Deus “faz todas as coisas segundo o
propósito da Sua vontade” (Efésios 1:11). Perceba que o apóstolo usa o
particípio presente para ensinar que a operação de Deus no universo de acordo
com a Sua vontade, é uma atividade contínua.
Tudo
o que acontece, tanto num nível geral como num nível pessoal, está sujeito à
vontade de Deus. Num nível geral, a história da humanidade caminha e se
desenvolve conforme a vontade de Deus. Deus é quem tem domínio sobre os reinos
dos homens (Daniel 4:32). Ele é quem “muda os tempos e as horas; Ele
remove os reis e estabelece os reis; e Ele dá sabedoria aos sábios e ciência
aos inteligentes” (Daniel 2:21).
Num
nível pessoal, todos os eventos de nossas vidas ocorrem de acordo com a vontade
de Deus, de modo que jamais devemos pensar que temos qualquer controle absoluto
acerca do que podemos ou não fazer. Por isso a melhor coisa é dizer: “Se
o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo” (Tiago 4:13-15).
Os diferentes aspectos da vontade de Deus
Uma
distinção muito importante sobre a vontade de Deus é aquela que distingue Sua
vontade secreta de Sua vontade revelada. Muitos textos bíblicos falam sobre
esses dois aspectos da vontade de Deus, mas há um em particular que pontua essa
questão de uma forma bem objetiva.
No
livro de Deuteronômio lemos: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor,
o nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre,
para que sigamos todas as palavras desta Lei” (Deuteronômio 29:29).
Perceba que nesse texto Moisés fala de “coisas encobertas” e “coisas
reveladas”.
A vontade secreta e decretiva de Deus
As
“coisas encobertas” das quais o texto de Deuteronômio fala, se tratam da
vontade secreta de Deus que inclui os detalhes de como Ele governa o universo,
e que obviamente também abrange eventos futuros. Então a vontade secreta de
Deus diz respeito aos Seus decretos ocultos. Por isso ela também é chamada de
“vontade decretiva”.
Portanto,
quando Deus decreta algo, de fato o que Ele decretou acontece. Isso é
inevitável, pois se a vontade decretiva de Deus pudesse ser impedida, Ele não
seria Deus (Jó 42:2).
Geralmente
só temos conhecimento da vontade secreta de Deus depois que os eventos que Ele
decretou aconteçam no tempo. Então não adianta tentar “descobrir” a vontade de
Deus nesse aspecto, porque isso seria uma busca inútil. O texto bíblico diz
que “as coisas encobertas pertencem ao Senhor”, ou seja, elas não
são da nossa conta.
Mas
extraordinariamente Deus resolveu nos revelar, através de Sua Palavra, alguns
de Seus decretos secretos. Aqui vale enfatizar que não é o homem quem descobriu
parte da vontade secreta de Deus, mas Deus é quem livremente decidiu remover o
véu e tornar alguns de Seus decretos secretos conhecidos ao homem. Como exemplo
disso, podemos citar as profecias bíblicas acerca de eventos futuros.
Também
é importante entender que Deus realiza Sua vontade decretiva tanto
causativamente quanto por meio da livre ação de Suas criaturas – embora isso
não anule a responsabilidade humana nesse processo.
Há
um versículo bíblico que mostra claramente essa verdade: “A este que
vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o
vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” (Atos 2:23).
Veja que o texto bíblico diz numa mesma frase que o sofrimento de Cristo
aconteceu pela vontade decretiva de Deus, e que aqueles que o crucificaram e o
mataram eram responsáveis pela injustiça que fizeram (cf. Atos 4:27-28).
A vontade decretiva de Deus e a existência do mal
Aqui
fica claro que muitas vezes a vontade decretiva de Deus inclui também os atos
pecaminosos de Suas criaturas. Contudo, é preciso sempre manter em mente que
isso jamais acorre de modo a tornar Deus o autor do pecado e fazer d’Ele alguém
que se deleita com a maldade.
Nós
realmente não podemos explicar exaustivamente como isso pode ser possível. Mas
na mente do Senhor – que é infinitamente maior que a nossa – isso faz todo o
sentido. Por hora, a maioria dos estudiosos defende que a vontade de Deus a
respeito do pecado é permissiva e não causativa. Em outras palavras, Deus
permite o pecado, mas Ele não efetua o pecado. Além disso, apesar de a vontade
de Deus permitir o pecado, isso não significa que Ele tem prazer no pecado.
Portanto,
em Sua vontade decretiva Deus pode usar até mesmo as coisas ruins para cumprir
o Seu bom propósito. A história de José do Egito é um exemplo claro disso, na
qual fazia parte da vontade secreta de Deus tornar em bem o mal praticado pelos
irmãos de José contra ele (Gênesis 50:20).
Nesse
mesmo sentido, muitas vezes é a vontade de Deus que os crentes sofram (1 Pedro
3:17). Mas ao mesmo tempo, sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles
que amam a Deus e são chamados segundo o Seu decreto (Romanos 8:28). Então nos
decretos de Deus, até mesmo o sofrimento é útil para aperfeiçoar o caráter e
amadurecer a fé dos redimidos.
A vontade revelada e preceptiva de Deus
O
texto de Deuteronômio também fala que há coisas que foram reveladas por Deus.
Essas coisas “pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que
sigamos todas as palavras desta Lei”. Então a vontade revelada de Deus
geralmente contém os Seus preceitos para Suas criaturas. Por isso na maioria
das vezes ela é também identificada como a “vontade preceptiva”.
A
vontade preceptiva de Deus é a regra de vida que o Senhor ordenou para as Suas
criaturas; é aquilo que Deus quer que façamos; são os mandamentos que Ele quer
que obedeçamos. Diferentemente da vontade decretiva de Deus que é irresistível
– isto é, se cumpre sempre –, a vontade preceptiva de Deus pode ser resistida –
ou seja, é desobedecida com freqüência.
Como podemos entender a vontade de Deus?
Vimos
que podemos falar da vontade de Deus em diferentes aspectos. Mas muita gente
desconsidera isso quando pergunta sobre como saber a vontade de Deus. É comum
as pessoas quererem “descobrir” a vontade de Deus em relação a eventos futuros
na intenção de determinar qual decisão tomar no presente.
Em
primeiro lugar, não existe essa coisa de “descobrir a vontade de Deus”. O homem
não descobre nada acerca de Deus. Ele apenas recebe o que o próprio Deus
resolveu revelar sobre si. Então o correto é falar em “entender a vontade de
Deus”.
Conseqüentemente,
em segundo lugar, é inútil querer especular sobre a vontade secreta de Deus,
pois ninguém tem autoridade para revelá-la além do próprio Deus. Como as
informações sobre os eventos futuros fazem parte da vontade secreta e decretiva
d’Ele – e a maior parte desses decretos está realmente oculta a nós – devemos
desconfiar seriamente de qualquer pessoa que alega possuir uma nova revelação
da vontade de Deus, seja para nossas vidas em particular, seja para o rumo da
Igreja ou do mundo. Tudo o que Deus de fato quis que soubéssemos sobre Sua
vontade decretiva está revelado na Bíblia.
Portanto,
em terceiro lugar, a única fonte confiável de revelação da vontade de Deus é a
Escritura. É a vontade de Deus revelada na Bíblia que devemos procurar entender
e obedecer. Se por um lado a Bíblia revela apenas parte da vontade decretiva de
Deus, por outro lado ela revela de forma completa qual é a vontade preceptiva
d’Ele.
Portanto,
a Bíblia contém tudo o que precisamos saber sobre o que Deus quer que façamos.
Mas isso não significa que podemos encontrar na Escritura uma lista de “pode” e
“não pode” acerca de todas as situações cotidianas de nossas vidas. Na verdade
ela traz de forma clara e objetiva uma série de princípios gerais que, pela
iluminação do Espírito Santo, podemos aplicar às nossas vidas – seja na decisão
acerca de um casamento, de um emprego novo, de uma mudança de cidade, etc.
Vivendo e entendendo a vontade de Deus
Nós
devemos nos dedicar a obedecer a vontade de Deus expressa em Seus mandamentos,
à medida que confiamos que Sua vontade secreta para nós será cumprida de acordo
com Sua natureza santa, sábia, amorosa e justa. Jamais a vontade de Deus será
contrária à Sua natureza.
Quando
nos virmos em meio a uma situação dolorosa e difícil, devemos saber que nada
está à parte da vontade de Deus. Como diz Louis Berkhof: “Deus tem suas
razões para querer como quer, razões que o induzem a escolher um fim e não
outro; e uma série de meios para realizar um fim, em preferência a outros
meios” (Teologia Sistemática).
No
mais, a Bíblia diz que devemos confiar no Senhor de todo o nosso coração, pois
Ele quer guiar os nossos caminhos (Provérbios 3:5-6). Enquanto confiamos que
Ele está conduzindo da melhor forma as coisas que nos estão ocultas, devemos
ter prazer em Sua vontade preceptiva que está revelada na Escritura, e meditar
nela de dia e de noite. Agindo assim seremos bem-aventurados e separados dos
ímpios (Salmo 1:1-4). O apóstolo Paulo resume qual é essa vontade de Deus para
nós dizendo: “Está é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1
Tessalonicenses 4:3).
Por
fim, se você quer saber qual a vontade de Deus a respeito de com quem se casar,
qual emprego aceitar, qual cidade morar, submeta suas opções à vontade
preceptiva de Deus revelada na Bíblia. Então você será capaz de tomar uma decisão
que não desobedeça aos mandamentos do Senhor. E se houver mais de uma opção que
não seja contrária aos princípios morais e espirituais da Palavra de Deus,
então você tem toda liberdade de escolher a que mais lhe agradar.
Quando
buscamos saber qual é a vontade de Deus não andamos às cegas, pois Sua Palavra é
uma lâmpada para nossos pés e uma luz para os nossos caminhos (Salmo
119:105).
Um texto de Daniel Conegero
https://estiloadoracao.com/como-entender-a-vontade-de-deus/