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sábado, 18 de dezembro de 2021

83 – O Apocalipse

 

O Apocalipse ou Revelação é o último livro da Bíblia. É muito diferente em conteúdo, tom e estilo, do resto do Novo Testamento. Os testemunhos primitivos o atribuem a João, o apóstolo e escritor do Evangelho, que o redigiu cerca de trinta anos após as viagens de Paulo (aproximadamente entre os anos 90 e 95 d.C.). Descreve a visão de João do Dia do Juízo Final e dá palavras de encorajamento e de apoio aos cristãos primitivos, que estavam sofrendo perseguições sob os romanos, neste tempo. João escreveu o Apocalipse na ilha de Patmos, para onde fora exilado pelo imperador Domiciano. Dirige-o às Sete Igrejas da Ásia Menor, que estavam aos seus cuidados, naquele tempo.

 

A perseguição dos Cristãos

Pelo fim do século I, os cristãos sofreram duas ondas de perseguição, sob os romanos. Em 64 d.C., Nero acusou os cristãos do incêndio que destruiu a cidade de Roma, e queimou e crucificou a muitos deles. Algumas décadas mais tarde, o imperador Domiciano (81 – 96 d.C.) proclamou que era deus e ordenou que seus súditos o adorassem. Quando os seguidores de Jesus se recusaram a fazê-lo, foram presos, torturados e mortos.

Também enfrentaram feroz oposição dos líderes judeus. A tradição dos primeiros cristãos diz que, após a guerra romano-judaica (66 – 70 d.C.), os cristãos foram proibidos de entrar nas sinagogas. Eram, portanto, forçados a se reunir em locais secretos.

 

O objetivo do Apocalipse

João escreveu o Apocalipse para fortalecer a fé dos cristãos, reprimidos pelas autoridades romanas. Sua principal mensagem foi que Deus triunfaria sobre o demônio (o imperador romano) e ele lhes garantia que o Dia do Juízo estava iminente.

 

O conteúdo do Apocalipse

O livro do Apocalipse pode ser dividido em quatro visões-chave. A primeira retrata Cristo entre as sete igrejas; a segunda mostra sete trombetas, sete vasos de ira e um pergaminho com sete selos; a visão seguinte é da volta de Cristo no Dia do Juízo; e a última é dos novos céus e nova terra. Os três primeiros capítulos do Apocalipse são uma introdução do livro inteiro. Explicam que João recebeu suas visões de um anjo, que age como intermediário do Cristo ressuscitado.

 

As sete igrejas da Ásia Menor

Essas igrejas não eram lugares físicos de adoração, mas comunidades de pessoas que acreditavam em Jesus. Havia mais de sete comunidades cristãs na província romana da Ásia Menor àquele tempo. O motivo pelo qual João dirige sua carta somente a sete pode ser em razão de serem centros postais. Éfeso, Tiatira, Sardes, Pérgamo, Filadélfia, Laodiceia e Esmirna estavam todas situadas numa estrada circular em torno da parte centro-oeste da província. Teria sido fácil que a carta de João circulasse nas comunidades cristãs que rodeavam estas cidades principais.

 

O destino dos doze

João foi perseguido provavelmente porque se recusou a adorar o imperador Domiciano. Vários dos doze primeiros discípulos sofreram destinos parecidos. Diz-se que Pedro morreu como mártir em Roma (provavelmente durante a perseguição de Nero, em 64 d.C.).

O livro dos Atos dos Apóstolos registra que Tiago, irmão de João, foi morto por Herodes Agripa (12:2). A tradição cristã diz que André pregou na Cítia, mas teria sido crucificado na Acaia. Outros escritos cristãos primitivos mencionam a morte dos discípulos restantes, mas a verdade histórica destes relatos é incerta.

 

Escritos apocalípticos

O Apocalipse foi influenciado por um estilo de escrita judaica conhecido como “apocalíptico”, que é a palavra grega para “revelação”. A literatura apocalíptica surgiu em torno do ano 200 a.C., quando os judeus sofreram ocupação e perseguição religiosa sob os governadores sírios (selêucidas). Os selêucidas proibiram a adoração judaica e obrigaram os judeus a se juntarem a eles nas celebrações pagãs. Os escritores apocalípticos aludiam às profecias do Antigo Testamento sobre o reino messiânico. Contrastavam o Reino de Deus com seu sofrimento e ofereciam uma visão de esperança aos judeus. Os escritos apocalípticos muitas vezes contêm referências e símbolos tirados do livro de Daniel.

 

Compreendendo o Apocalipse

É difícil interpretar o Apocalipse, porque usa uma linguagem codificada, um estilo comum dos escritos apocalípticos. Sua mensagem pode ser mais bem compreendida quando vista em relação com fatos, profecias e símbolos do Antigo Testamento.

 

Alusões ao Antigo Testamento

A última parte do Apocalipse lembra os primeiros capítulos do Antigo Testamento (Gênesis caps. 2 – 30). Ela descreve o Paraíso como um novo Jardim do Éden, que contém a “árvore da vida”. A árvore simboliza a vida eterna para os seguidores de Jesus Cristo.

A visão de João do Dia do Juízo Final descreve sete anjos derramando sete vasos de ira sobre a terra (Apocalipse 16). Cada vaso despeja uma praga. Lembram as dez pragas que Moisés fez cair sobre os egípcios (Êxodo 7 – 11).

 

Simbolismo

O Apocalipse baseia-se em linguagem simbólica que, na maior parte, deriva das escrituras do Antigo Testamento. Os números do Apocalipse têm um significado simbólico. O sete aparece freqüentemente. Na tradição hebraica, representa a perfeição e a completude. O Apocalipse retrata sete igrejas, sete visões, sete selos, sete trombetas, sete vasos de ira e sete anjos.

O número seis simboliza a imperfeição. João descreve uma besta, que ilude o povo com falsa adoração (Apocalipse 13:11-18). A besta é representada pelo número 666, que é o código do imperador Nero. Todas as letras gregas e hebraicas têm um valor numérico. O valor total do nome de Nero em hebraico é 666.

 

O cordeiro

O cordeiro é um símbolo recorrente no Apocalipse. Representa Jesus, que se ofereceu a si mesmo como sacrifício definitivo pela humanidade. Esta imagem lembra o Cordeiro Pascal, que foi sacrificado para salvar os israelitas no Egito (Êxodo 12:3).

 

A queda de Babilônia

Uma das visões de João descreve uma prostituta conduzindo um dragão escarlate (Apocalipse 17:3-5). Refere-se à “Babilônia”. No Antigo Testamento, o Império Babilônio é o inimigo do povo judeu, e no tempo da igreja no Novo Testamento, representa o Império Romano como inimigo.

 

O pergaminho dos sete selos

O julgamento final da humanidade é revelado a João por um anjo, que abre os sete selos do pergaminho. João tem sete visões, que representam destruição, sofrimento e fome. Esta imagem vem de Jeremias, que previu o fim do mundo: “Eu os destruirei com espada, fome e praga” (Jeremias 14:12).

 

- Imperador Domiciano: Domiciano ordenou que o povo o chamasse de “Nosso Senhor e Deus”. No livro do Apocalipse, é representado como a besta blasfema.

- A ilha de Patmos: Patmos é uma das ilhas gregas. No tempo de João, era usada pelos romanos para guardar prisioneiros.

- Arcanjo Miguel: No Apocalipse, Miguel dirige os anjos na batalha contra Satanás e suas hostes. No Antigo Testamento, é protetor dos judeus (Daniel 10:21).

- A Besta do Mar: A besta emergindo do mar (Apocalipse 13:1-2) representa os poderes que perseguem os cristãos. Tem corpo de leopardo, pés de urso e boca de leão. Isto lembra a visão de Daniel das quatro bestas (Daniel 7:1-7).

 

Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS. 

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