Haviam
passado quase quatro séculos desde que o último dos profetas de Israel pregara
para os judeus. A comunidade judaica se lembrava da promessa de um Messias e a
de um novo Elias, que lhe prepararia o caminho, e aguardava a chegada deles. A
esperança messiânica se intensificara com o passar dos séculos. Durante a
ocupação romana e o reinado de Herodes, o Grande, os judeus muitas vezes se
desesperaram; a Terra Santa estava ocupada por estrangeiros desumanos e o rei,
de personalidade cruel e instável, nem sequer era judeu.
Foi
nesse contexto melancólico que ocorreram dois nascimentos milagrosos. No mesmo
ano, nasceram na Judeia dois primos, João Batista e Jesus. Os seus nascimentos
foram misteriosamente preditos por um anjo.
Herodes,
o Grande
Nascido
por volta de 73 a.C., Herodes era o filho mais velho de Antípater, um idumeu.
Os idumeus descendiam dos edonitas, que habitavam a área sul de Belém e
Jerusalém. Eles eram prosélitos (judeus convertidos), pois o rei judeu João
Hircano (135 a.C. – 104 a.C.) os forçara a se tornarem judeus circuncidados.
Herodes,
o Grande, se tornou governador da Galileia aos 25 anos. O seu empenho em
extirpar os bandidos que aterrorizavam a Galileia o fez popular entre os
romanos e galileus, mas não tanto entre os líderes judeus. Por executar alguns
judeus sem o consentimento do conselho dos anciãos, escapou por pouco de ser
condenado à morte por Roma. Dez anos mais tarde, porém, o Senado Romano o
nomeou rei da Judeia. A longa amizade com o general romano Marco Antônio pode
ter contribuído para a sua subida ao poder. Também o seu casamento com Mariana
foi visto como um calculado passo político. Sendo ela uma princesa judaica,
Herodes esperava obter maior apoio do povo judeu.
Herodes,
rei dos judeus
O
reinado de Herodes foi marcado pelo terror e pelo sangue. Durante todo o seu
governo, Herodes teve a ideia fixa de que membros de sua família (ele teve
quinze filhos) conspiravam para lhe tomar o trono. Executou três filhos e a
esposa favorita, Mariana.
O
medo de uma rebelião judaica levou-o a eliminar todos os possíveis rivais.
Quando recebeu a notícia de que o esperado “Messias” nascera em Belém, mandou
matar todos os bebês do sexo masculino existentes nas redondezas (Mateus
2:13-16).
O
legado de Herodes
No
seu reinado, Herodes executou grandes edificações. Construiu várias cidades
novas e reconstruiu antigas, como Sebaste, na antiga cidade de Samaria. Sebaste é a tradução grega de Augusto, imperador romano a quem Herodes
dedicou a cidade. Ele também construiu a cidade-porto de Cesareia, centro
administrativo da Palestina, que levou doze anos para ser concluída.
Herodes
fortificou a Palestina com a construção de sete fortes na região. O seu projeto
mais grandioso foi a reconstrução do Templo em Jerusalém. Iniciada em 20 a.C.,
ela terminou em 64 d.C. O Herodium,
forte de Herodes, no alto de uma colina, ficava a 12 km ao sul de Jerusalém.
Incluía um palácio luxuoso e foi o lugar de sepultura de Herodes. Fortificou,
ainda, os edifícios existentes em Massada. Construiu grandes cisternas de água,
depósitos e um palácio alicerçado em três terraços de rocha natural.
João
Batista e Jesus
O
Novo Testamento considera o nascimento de João e Jesus como a realização de
profecias do Antigo Testamento. Elas predizem a vinda do Messias e daquele que
prepararia o caminho para a sua chegada (Isaías 40:3). Os seus nascimentos
recordam os de importantes personagens do Antigo Testamento, como Isaque, Jacó
e Sansão, que nasceram em circunstâncias milagrosas para cumprir desígnios
especiais.
O
nascimento de João
Isabel,
a mãe de João, era idosa e estéril. Entretanto, um anjo apareceu a seu marido,
o sacerdote Zacarias, e anunciou o nascimento de uma criança que se chamaria
João. Ele seria “cheio do Espírito Santo desde o nascimento”. Citando o profeta
Malaquias, o anjo acrescentou que João “iria à frente do Senhor, no espírito e
poder de Elias... preparando para ele um povo bem disposto” (Lucas 1:17). João
prepararia o caminho para Jesus.
O
nascimento de Jesus
O
nascimento de Jesus também foi predito. O anjo Gabriel anunciou a Maria, uma
jovem virgem israelita: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo
te cobrirá com sua sombra. Assim, o santo que nascerá será chamado o Filho de
Deus” (Lucas 1:35). A mensagem de Gabriel, também chamada anunciação, declarava que Jesus seria humano e divino e que
estabeleceria o reino de Deus na terra. O nascimento de Jesus também foi
anunciado a José, que humildemente aceitou a vontade de Deus e desposou a
virgem Maria.
Jesus
nasceu em Belém, a cidade do rei Davi. Houve pessoas que vieram do estrangeiro
para ver o recém-nascido, o Messias prometido.
Os
primeiros anos de João e Jesus
Os
dois meninos não cresceram juntos. João, talvez órfão desde cedo, viveu no
deserto da Judeia, entre Jerusalém e o Mar Morto; Jesus viveu em Nazaré,
Galileia. Como Isabel era parente de Maria (Lucas 1:36), Jesus e João
provavelmente se conheceram. Eles podem ter se encontrado nas festas religiosas
em Jerusalém, mas os Evangelhos nada dizem sobre isso. Enquanto Jesus crescia
com os seus num povoado aprazível, João tinha uma existência mais solitária.
Na
única menção dos Evangelhos à infância de Jesus, seus pais o encontram
dialogando com os doutores do Templo (Lucas 2:46). O incidente mostra que desde
muito novo Jesus estava consciente do seu futuro papel.
As
pregações de João e Jesus
João
começou antes de Jesus a sua pregação pública, exortando as multidões a mudarem
de vida, se afastarem do mal e retornarem a Deus, pois o dia do juízo estava próximo. Ele batizava os que se arrependiam de
seus pecados. Isso lhe granjeou o nome de “João, o Batista”. Os Evangelhos
registram que ele se vestia como o profeta Elias – apenas um manto de pele de
camelo e um cinturão de couro (Marcos 1:6). João pregava às pessoas no deserto,
enquanto Jesus ensinava nos povoados e cidades.
O
batismo de Jesus por João marca o final de uma missão e o início de outra.
Enquanto João insistia no arrependimento dos pecados e advertia da iminente ira
de Deus, os ensinamentos de Jesus poriam maior ênfase no amor e no perdão. O
ministério de Jesus seria de cura e de pregação de um reino espiritual para os
pobres e desamparados.
O
Batismo
A
palavra “batizar” vem do grego “baptizo” (“mergulhar”). Embora praticado no
judaísmo, o batismo recebeu com João Batista um novo significado. Até o tempo
de João, o batismo era uma lavagem ritual auto-ministrada, que podia ser
repetida. As pessoas entravam na água para purificação. Esse ritual era praticado
pela comunidade dos essênios de Qumran, com quem João pode ter mantido contato
quando jovem. João, porém, batizava outras pessoas, e apenas uma vez, como
sinal de renascimento espiritual.
Publicada
inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta
Street, London WC2E 8PS.
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