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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

3 – Primeiros Anos de Jesus



          Haviam passado quase quatro séculos desde que o último dos profetas de Israel pregara para os judeus. A comunidade judaica se lembrava da promessa de um Messias e a de um novo Elias, que lhe prepararia o caminho, e aguardava a chegada deles. A esperança messiânica se intensificara com o passar dos séculos. Durante a ocupação romana e o reinado de Herodes, o Grande, os judeus muitas vezes se desesperaram; a Terra Santa estava ocupada por estrangeiros desumanos e o rei, de personalidade cruel e instável, nem sequer era judeu.
          Foi nesse contexto melancólico que ocorreram dois nascimentos milagrosos. No mesmo ano, nasceram na Judeia dois primos, João Batista e Jesus. Os seus nascimentos foram misteriosamente preditos por um anjo.

          Herodes, o Grande
          Nascido por volta de 73 a.C., Herodes era o filho mais velho de Antípater, um idumeu. Os idumeus descendiam dos edonitas, que habitavam a área sul de Belém e Jerusalém. Eles eram prosélitos (judeus convertidos), pois o rei judeu João Hircano (135 a.C. – 104 a.C.) os forçara a se tornarem judeus circuncidados.
          Herodes, o Grande, se tornou governador da Galileia aos 25 anos. O seu empenho em extirpar os bandidos que aterrorizavam a Galileia o fez popular entre os romanos e galileus, mas não tanto entre os líderes judeus. Por executar alguns judeus sem o consentimento do conselho dos anciãos, escapou por pouco de ser condenado à morte por Roma. Dez anos mais tarde, porém, o Senado Romano o nomeou rei da Judeia. A longa amizade com o general romano Marco Antônio pode ter contribuído para a sua subida ao poder. Também o seu casamento com Mariana foi visto como um calculado passo político. Sendo ela uma princesa judaica, Herodes esperava obter maior apoio do povo judeu.

          Herodes, rei dos judeus
          O reinado de Herodes foi marcado pelo terror e pelo sangue. Durante todo o seu governo, Herodes teve a ideia fixa de que membros de sua família (ele teve quinze filhos) conspiravam para lhe tomar o trono. Executou três filhos e a esposa favorita, Mariana.
          O medo de uma rebelião judaica levou-o a eliminar todos os possíveis rivais. Quando recebeu a notícia de que o esperado “Messias” nascera em Belém, mandou matar todos os bebês do sexo masculino existentes nas redondezas (Mateus 2:13-16).

          O legado de Herodes
          No seu reinado, Herodes executou grandes edificações. Construiu várias cidades novas e reconstruiu antigas, como Sebaste, na antiga cidade de Samaria. Sebaste é a tradução grega de Augusto, imperador romano a quem Herodes dedicou a cidade. Ele também construiu a cidade-porto de Cesareia, centro administrativo da Palestina, que levou doze anos para ser concluída.
          Herodes fortificou a Palestina com a construção de sete fortes na região. O seu projeto mais grandioso foi a reconstrução do Templo em Jerusalém. Iniciada em 20 a.C., ela terminou em 64 d.C. O Herodium, forte de Herodes, no alto de uma colina, ficava a 12 km ao sul de Jerusalém. Incluía um palácio luxuoso e foi o lugar de sepultura de Herodes. Fortificou, ainda, os edifícios existentes em Massada. Construiu grandes cisternas de água, depósitos e um palácio alicerçado em três terraços de rocha natural.

           João Batista e Jesus
          O Novo Testamento considera o nascimento de João e Jesus como a realização de profecias do Antigo Testamento. Elas predizem a vinda do Messias e daquele que prepararia o caminho para a sua chegada (Isaías 40:3). Os seus nascimentos recordam os de importantes personagens do Antigo Testamento, como Isaque, Jacó e Sansão, que nasceram em circunstâncias milagrosas para cumprir desígnios especiais. 

          O nascimento de João
          Isabel, a mãe de João, era idosa e estéril. Entretanto, um anjo apareceu a seu marido, o sacerdote Zacarias, e anunciou o nascimento de uma criança que se chamaria João. Ele seria “cheio do Espírito Santo desde o nascimento”. Citando o profeta Malaquias, o anjo acrescentou que João “iria à frente do Senhor, no espírito e poder de Elias... preparando para ele um povo bem disposto” (Lucas 1:17). João prepararia o caminho para Jesus.

          O nascimento de Jesus
          O nascimento de Jesus também foi predito. O anjo Gabriel anunciou a Maria, uma jovem virgem israelita: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Assim, o santo que nascerá será chamado o Filho de Deus” (Lucas 1:35). A mensagem de Gabriel, também chamada anunciação, declarava que Jesus seria humano e divino e que estabeleceria o reino de Deus na terra. O nascimento de Jesus também foi anunciado a José, que humildemente aceitou a vontade de Deus e desposou a virgem Maria.
          Jesus nasceu em Belém, a cidade do rei Davi. Houve pessoas que vieram do estrangeiro para ver o recém-nascido, o Messias prometido.

          Os primeiros anos de João e Jesus
          Os dois meninos não cresceram juntos. João, talvez órfão desde cedo, viveu no deserto da Judeia, entre Jerusalém e o Mar Morto; Jesus viveu em Nazaré, Galileia. Como Isabel era parente de Maria (Lucas 1:36), Jesus e João provavelmente se conheceram. Eles podem ter se encontrado nas festas religiosas em Jerusalém, mas os Evangelhos nada dizem sobre isso. Enquanto Jesus crescia com os seus num povoado aprazível, João tinha uma existência mais solitária.
          Na única menção dos Evangelhos à infância de Jesus, seus pais o encontram dialogando com os doutores do Templo (Lucas 2:46). O incidente mostra que desde muito novo Jesus estava consciente do seu futuro papel.

          As pregações de João e Jesus
          João começou antes de Jesus a sua pregação pública, exortando as multidões a mudarem de vida, se afastarem do mal e retornarem a Deus, pois o dia do juízo estava próximo. Ele batizava os que se arrependiam de seus pecados. Isso lhe granjeou o nome de “João, o Batista”. Os Evangelhos registram que ele se vestia como o profeta Elias – apenas um manto de pele de camelo e um cinturão de couro (Marcos 1:6). João pregava às pessoas no deserto, enquanto Jesus ensinava nos povoados e cidades.
          O batismo de Jesus por João marca o final de uma missão e o início de outra. Enquanto João insistia no arrependimento dos pecados e advertia da iminente ira de Deus, os ensinamentos de Jesus poriam maior ênfase no amor e no perdão. O ministério de Jesus seria de cura e de pregação de um reino espiritual para os pobres e desamparados.

          O Batismo
          A palavra “batizar” vem do grego “baptizo” (“mergulhar”). Embora praticado no judaísmo, o batismo recebeu com João Batista um novo significado. Até o tempo de João, o batismo era uma lavagem ritual auto-ministrada, que podia ser repetida. As pessoas entravam na água para purificação. Esse ritual era praticado pela comunidade dos essênios de Qumran, com quem João pode ter mantido contato quando jovem. João, porém, batizava outras pessoas, e apenas uma vez, como sinal de renascimento espiritual.


          Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.

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