Jó 5:8-9
“Mas, se fosse comigo, eu apelaria para Deus; apresentaria a ele
a minha causa. Ele realiza maravilhas insondáveis, milagres que não se pode
contar”.
Gosto muito de ver, no dicionário,
a definição das palavras.
Hoje, como este texto sugestiona,
busquei a definição da palavra “apelação”. Lá encontrei assim: “recorrer de
sentença”; “interpor recurso”; “invocar auxílio, proteção (de alguém ou algo) a
fim de resolver um problema”; “pedir, recorrer”. Entendi.
Depois que Jó – aquele do Antigo
Testamento, de quem popularmente se diz que tinha muita paciência – caiu na
miséria, com perdas familiares, pobre, doente e abandonado, alguns amigos se
aproximaram dele para tentar consolá-lo.
Mas, na maior parte do tempo,
tentaram convencê-lo de que aconteceu com ele o que aconteceu porque algum
pecado grave ele devia ter cometido.
Esses amigos tentaram fazer com
que Jó visse alguma espécie de causa/efeito naquilo que o acometera. Ora, se
estava agora ferrado, é porque, por certo, “mereceu” isso, em decorrência de
algum “pecado grave”. Era isso que, em outras palavras, eles diziam a ele.
Essa “teologia da causa e efeito”
ainda hoje, nos tempos não mais da Lei de Moisés, mas da graça de Cristo, grassa
à solta em muitos meios religiosos/cristãos. Ainda hoje se diz a alguém que
está passando por um perrengue que ele está nisso pois é uma espécie de
“castigo” devido a uma pisada na bola que ele deu com Deus. Alguma coisa ele
deve ter feito! Se tivesse se comportado bem, por certo que Deus não o
castigaria! Se Deus está pesando a Sua mão sobre ele, alguma ele aprontou!
Pois é. Ainda podemos ser cruéis a
este ponto com alguém que sofre! Arvoramo-nos como arautos da justiça divina!
Lamentável que ainda assim possamos ser!
Assim foram estes amigos de Jó: se
estava acontecendo o que estava acontecendo com ele, por certo era merecido.
Ele deveria fazer uma revisão, ver onde caiu e o que fez de errado, pedir
perdão a Deus, e – talvez! – Deus o perdoaria.
A “teologia da causa e efeito”
insiste em dizer que “merecemos” o que acontece – seja de ruim ou de bom. O
Evangelho de Jesus Cristo, no entanto, ensina que não é “por merecimento”, mas
“por graça”. Mesmo o perdão divino e a salvação não são “por merecimento”, mas
“por graça”.
Pois vocês são salvos
pela graça, por meio da fé, e isto não
vem de vocês, é dom de Deus; não
por obras, para que ninguém se glorie.
Porque somos criação de Deus realizada
em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para
nós as praticarmos (Efésios 2:8-10). Essa
Palavra ensina que é a graça de Deus que é soberana, e não nossos méritos ou
obras.
Isso
impulsiona, entretanto, a que façamos “boas obras” por gratidão à graça
recebida de Deus. Essas “boas obras”, assim, são benéficas ao nosso próximo e a
nós mesmos. Tudo o que fazemos de bom ao próximo, a nós o fazemos – e o mal que
fazemos ao próximo também a nós o fazemos. Isso, entretanto, não é “teologia de
causa e efeito”, mas “a lei da semeadura”, uma lei da natureza criada.
Deus não
nos deixa de castigo ajoelhados no milho se nos comportamos mal, nem nos dá uma
bicicleta no final do ano se nos comportamos bem. Isso seria barganhar com
Deus.
Voltando
ao caso de Jó, se lemos o livro todo, percebemos que o que acometeu Jó não foi
necessariamente decorrente de pecado, mas aconteceu como tanta coisa na vida
acontece.
No início
do livro de Jó se conta, de forma parabólica e figurada, o que aconteceu. O
ensinamento-mor ali não é uma “aposta” divina, mas a perseverança que Jó teve em manter-se fiel a Deus. Perseverança e
fidelidade: esse é o mote!
Diante
da insistência dos amigos de Jó na ocorrência da causa/efeito, diante da
insistência deles num suposto pecado de Jó, ele debateu e argumentou com eles,
defendendo-se como pôde!
Eles
insistiam que Jó pecou – ainda que não soubessem qual pecado seria – e que
devia se arrepender. Ele insistia em se defender. E assim foi o perrengue, argumentos
daqui e dali, muito papo furado, teorias, réplicas e tréplicas... Até que Deus
resolveu intervir e colocar as coisas no lugar.
Diante
da interlocução divina, Jó compreendeu que Deus era superior a tudo e recebeu o
conforto divino, além de – ele, Jó – ainda orar para que seus amigos também
chegassem a essa compreensão!
Jó teve
a sua vida de volta, e ainda acrescida de mais... Leia o livro de Jó todo –
vale a pena!
Mas, a despeito das furadas
argumentativas que os amigos de Jó deram, quero aproveitar para tirar uma coisa
boa daquilo que eles lhe falaram: a Palavra que é usada como tópico deste
texto, proferida por um deles com muita sabedoria: “Mas, se fosse comigo, eu apelaria para Deus;
apresentaria a ele a minha causa. Ele realiza maravilhas insondáveis, milagres
que não se pode contar”.
O conselho foi para Jó apresentar
a Deus a sua causa.
A nós é dito a mesma coisa:
apresentemos a Deus as nossas causas, os nossos causos, as nossas coisas, mesmo
as mais comezinhas...
Apresentemos tudo a Ele em oração!
Não apresentemos, entretanto,
nossas orações para tentar nos justificar, para argumentar, para barganhar,
para tentar dar ideias a Deus de como Ele deveria proceder conosco. Não!
Apresentemos nossas orações a Ele falando de tudo como um filho fala com o Pai.
E oremos sempre em gratidão. Aí sim!
Deus nos ouve, nos conforta, nos
fortalece, nos esclarece oportunamente, nos capacita, nos assiste, nos dá mais
forças para passarmos por qualquer que seja a situação. Deus realiza maravilhas insondáveis, milagres que
não se podem contar, como diz a Palavra.
Tão-somente confiemos n’Ele,
abramos o nosso coração em oração e vivamos o Seu cuidado para conosco.
Sempre que sentimos que assim é
necessário e oportuno, podemos apelar para Deus!
Por hora é isso, pessoal. Que a
liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert