Como era Seu costume, Jesus contou
uma parábola às pessoas que O ouviam. Ocorria, às vezes, que Seus discípulos
também não compreendiam o significado da parábola contada e, depois, em
particular com eles, Ele a explicava. Foi o que se passou no trecho que vou
transcrever abaixo, e depois vou tecer alguns comentários e impressões minhas a
respeito.
Primeiro, Jesus conta a parábola
propriamente dita:
(Mateus
13:24-30)
Jesus
lhes contou outra parábola, dizendo: “O Reino dos céus é como um homem que
semeou boa semente em seu campo. Mas enquanto todos dormiam,
veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e se foi.
Quando o trigo brotou e formou espigas, o joio também apareceu”.
“Os
servos do dono do campo dirigiram-se a ele e disseram: ‘O senhor não semeou boa
semente em seu campo? Então, de onde veio o joio?’”
“‘Um
inimigo fez isso’, respondeu ele”.
“Os
servos lhe perguntaram: ‘O senhor quer que o tiremos?’”
“Ele
respondeu: ‘Não, porque, ao tirar o joio, vocês poderão arrancar com ele o
trigo. Deixem que cresçam juntos até a colheita. Então direi aos encarregados
da colheita: Juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado;
depois juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro’”.
Agora, em particular, Jesus explica a
parábola aos Seus discípulos:
(Mateus
13:36-42)
Então
ele deixou a multidão e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e
pediram: “Explica-nos a parábola do joio no campo”.
Ele
respondeu: “Aquele que semeou a boa semente é o Filho do homem. O campo é o
mundo, e a boa semente são os filhos do Reino. O joio são os filhos do Maligno,
e o inimigo que o semeia é o Diabo. A colheita é o fim desta era, e os
encarregados da colheita são anjos”.
“Assim como
o joio é colhido e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim desta era.
O Filho do homem enviará os seus anjos, e eles tirarão do seu Reino tudo o que
faz tropeçar e todos os que praticam o mal. Eles os lançarão na fornalha
ardente, onde haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o
sol no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, ouça”.
Esta é a parábola conhecida como a
“Parábola do Joio e do Trigo”.
Podemos perceber que o que fora
contado aí era uma cena agrícola/pastoril comumente entendível para os ouvintes
de Jesus. As cenas que Ele usava para cunhar-lhes um fundo moral ou de
ensinamento eram facilmente captáveis, como se, em nossos dias, falássemos de
celular ou internet, por exemplo, ou de globalização – as pessoas saberiam do
que estaríamos falando.
Jesus começa dizendo ao que o Reino
dos céus se parece, ao que é similar, neste caso, a um campo onde são semeadas sementes
de trigo. Depois, às escondidas e diante da distração de todos, um inimigo
deste que semeou trigo semeia joio – um inso. Os dois – trigo e joio – crescem
juntos, e não pode se arrancar um sem prejudicar o outro. Assim, colhe-se só
depois de madurar-se o trigo.
Depois, na explicação que Ele dá aos
Seus discípulos, tudo fica muito claro:
- o semeador é Jesus – o Filho do
homem;
- o campo é o mundo;
- a boa semente são os filhos do
Reino;
- o joio são os filhos do Maligno;
- o inimigo é o Diabo;
- a colheita é o fim;
- quem colhe são os anjos.
Diante da pontuação acima, quero
comentar o seguinte:
Jesus é o Semeador da Palavra – que é Ele mesmo, o Verbo encarnado, Deus feito gente. Em outra parábola – a
“Parábola do Semeador” – Ele fala disso também. Conjuntamente com Ele, somos
também, de certa forma, semeadores da Palavra, pois, como Seus discípulos – à
medida dos Seus discípulos originais – também somos comissionados e enviados a
pregar o Evangelho.
Esta semeadura se faz no mundo – em
nosso mundo/alma, no mundo da nossa família, no mundo dos nossos amigos e
colegas, no mundo da nossa vizinhança, no mundo da nossa cidade... e no
mundo/mundo mesmo. E no mundo/igreja também, do qual falarei logo mais.
Pela pregação do Evangelho, por este
divulgar – e semear – a Palavra, originam-se filhos e filhas do Reino,
significando dizer que, ao se divulgar o Evangelho de Cristo, faz-se nascer nas
almas humanas que o ouvem, novos filhos e filhas de Deus. São os trigos que
crescem a partir da semente do Evangelho.
No meio desses filhos do Reino estão
também aqueles que não são, aqueles que por deliberação não aceitam o andar no
amor de Cristo, aqueles que “jogam contra”, e que são de fácil manipulação
daquele que é tudo que se apresenta anti – anti-Cristo, anti-Deus, anti-Vida.
Jesus nomeia o joio de “filhos do Maligno”. Ora, como Ele ensina, eles estão
misturados conosco, andando conosco, convivendo conosco e deixando seus “frutos
estéreis” em nosso meio também. Aqui faço um comentário com uma ponta de ironia
que visa nos despertar e nos fazer cair na real: eu torço – e oro! – para que
eu não seja um joio destes, pois poderíamos ser. Por fé, quero colocar-me
sempre nas mãos do Senhor para que eu seja trigo Seu.
Jesus diz que “um inimigo fez isso”
– o semear o joio –, referindo-Se ao Diabo como este “inimigo”. Chama a atenção
que Jesus não teologiza – ou diabologiza
– sobre o Diabo. Ele – Jesus – não entra no mérito de traçar um perfil do
Diabo, nem fala aqui das origens deste, nem de seus propósitos, nem de seus
planos, nem de – quase – nada a respeito dele. Somente assevera que ele – o
Diabo – existe, que é um inimigo, e que devemos nos acautelar dele, mas não nos
aficionarmos nele nem nos neurotizarmos nele ou dele. Eu, quando questionado
sobre o Diabo, costumo dizer que não dou muito ibope para ele – escolho me ater
em Jesus.
Jesus indica que somente “no fim” é
que se saberá realmente quem é quem – quem é joio e quem é trigo. Portanto,
ensina-nos Ele que não cabe a nós rotularmos ninguém, pois, ao final, somente
Deus sabe quem são os Seus. E somente quando a maturação das pessoas e dos
tempos se der, haverá a colheita. O trigo é destinado a um lado e o joio a
outro, e se deduz, na parábola, quais lados são e os seus significados.
Quem colhe são os anjos,
significando dizer que a nós cabe esperar em esperança, caminhar andando em fé
e confiança, e saber que no tempo certo Ele Se encarrega de providenciar a
colheita, e que esta não será feita por nós, mas a quem Ele comissionar para
tanto.
Dito e entendido isso, toda esta
parábola e seus significados, quero, de certa forma, voltar a ela num ponto
específico, como falei mais acima: aquele que fala do mundo/lugar onde o joio e
o trigo são semeados e onde crescem e se desenvolvem juntos.
Agora, daqui em diante se entenderá
a última citação que fiz no título deste texto – “O Joio, o Trigo, o Mundo – e
a Igreja”. Agora passo a falar da Igreja.
De forma sintetizada, quando falo de
Igreja não falo de instituições nem denominações A ou B, nem teço elogios ou
críticas a placas e logomarcas clericais.
Creio que Igreja são as pessoas que
professam sua fé em Cristo e que buscam andar sua vida nos Seus ensinamentos. Estas
pessoas podem ter seus altos e baixos, caem, levantam e seguem a vida com fé e
esperança... e não param, pois é Cristo Jesus Quem as acompanha, as impulsiona
e as motiva! Estas pessoas que são Igreja podem – ou não – eventualmente
congregar ou frequentar instituições denominadas “igreja”, mas as pessoas
transcendem paredes, templos, denominações, logomarcas e clubismos
eclesiásticos. Igreja, ou você é ou você não é.
A Igreja anda no mundo, ainda que
não seja do mundo, como Jesus ensina ao orar ao Pai: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno”
(João 17:15).
Assim, creio que a Igreja anda no
mundo, não é do mundo, mas pisa no chão da realidade do mundo todos os dias. E
fica aqui no mundo até maturar.
E, junto à Igreja – a estas pessoas
que são chamadas de “filhos do Reino” – andam também aquelas que são
anti-Igreja – aquelas pessoas que são chamadas “filhos do Maligno”.
Ainda, creio que nos ajuntamentos
das pessoas que são Igreja – que pode ser numa denominação, num prédio, numa
família, num “grupo sem nome”, enfim... no meio destas reuniões transitam
também os joios. Estes joios, creio também, às vezes sabem-se serem joios, mas
às vezes também pensam que são trigo, mas tornaram-se joios por se permitirem
ser manipulados por aquele que não é Cristo. Há, portanto, os joios conscientes
e os inconscientes. Mas Deus sabe quem é quem.
Nos dias atuais, creio que estes
joios infiltrados introduzem teologias anti-Evangelho, de forma sutil e
encantadora aos ouvidos dos incautos, buscando atrair quem se deixa seduzir
pelos pragmatismos aí pregados. Se assim não fosse, não teríamos “teologias da
prosperidade”, “confissões positivas”, “determinações disto e daquilo em nome
de Jesus” – como se alguém pudesse determinar a Deus o que fazer!... Se não
houvesse tantos “frutos estéreis” de joios no meio dos trigos, o gospel business, o “negócio do
evangeliquismo”, não faria tanto sucesso e não lotaria tantos “templos” –
salomônicos ou não – e bolsos. Se não houvesse tantos joios no meio dos trigos,
não teria tanto espertalhão enriquecendo às custas das ingenuidades alheias.
Mesmo que isso me cause, por um
lado, indignação, por outro lado, fico tranquilo e confiante, sabendo que Deus
não perdeu a mão com Sua Igreja, pois Jesus mesmo advertia que assim seria –
até o fim.
Destes joios, lembro, não sem certa
tristeza por eles, que Jesus falava:
“Muitos me
dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome
não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi
claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mateus
7:22-23).
Mas Ele zela pelos Seus. E nos
alertou desde sempre:
“Pois
aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar
até os eleitos. Vejam que eu os avisei
antecipadamente” (Mateus 24:24-25).
“Eu sou o bom pastor; conheço as minhas
ovelhas, e elas me conhecem, assim
como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas” (João 10:14-15).
“Tenho
outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu as conduza
também. Elas ouvirão a minha voz, e haverá
um só rebanho e um só pastor” (João
10:16).
“Não ficarei
mais no mundo, mas eles ainda estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo,
protege-os em teu nome, o nome que me deste, para que sejam um, assim como somos um” (João
17:11).
Então, Jesus
aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada
toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mateus
28:18-20).
Ele é o nosso Pastor, que nos ajunta
para Si, sendo Um conosco e nós com Ele... e estará conosco “até o fim dos
tempos”, ou seja, até a colheita!
Por hora é isso, pessoal. Que a
liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert