(Mateus 16,13-20)
“E vós, quem dizeis que
Eu sou?” Essa pergunta de Jesus não é dirigida só a Seus primeiros seguidores.
É a questão fundamental à qual devemos responder sempre que nos confessamos
cristãos.
A pergunta de Jesus não
nos pede simplesmente nossa opinião, mas nos interpela principalmente sobre a
nossa atitude n’Ele. E essa atitude não transparece só em palavras, mas,
sobretudo, em nosso seguimento concreto de Jesus.
As palavras de Jesus
pedem uma opção radical. Ou Jesus é um personagem a mais, ao lado de muitos
outros da história, ou Ele é por nós a Pessoa decisiva que nos traz a
compreensão última da existência, a orientação decisiva para a nossa vida e nos
oferece a esperança definitiva.
A pergunta: “E vós, quem
dizeis que Eu sou?”, adquire, então, um conteúdo novo. Não é apenas mais uma
questão sobre Jesus, mas sobre nós mesmos. Quem sou eu? Em quem eu creio? A
partir de quem oriento a minha vida? A que se reduz a minha fé? A fé não se
identifica com as fórmulas que pronunciamos.
Jesus sempre desconcerta
quem se aproxima d’Ele com postura aberta e sincera. Sempre é diferente do que
esperávamos. Sempre abre novas brechas em nossa vida, rompe nossos esquemas e
nos atrai para uma vida nova. Quanto mais O conhecemos, mais sabemos que ainda
estamos começando a descobri-Lo.
Jesus é perigoso.
Percebemos n’Ele uma entrega aos seres humanos que desmascara nosso egoísmo.
Uma paixão pela justiça que sacode nossas seguranças, privilégios e egoísmos.
Uma ternura que deixa à descoberta nossa mesquinhez. Uma liberdade que rompe
nossas mil escravidões e sujeições.
E, sobretudo, intuímos n’Ele
um mistério de abertura e de proximidade a Deus que nos atrai e convida a
também abrir nossa existência ao Pai. Vamos conhecendo a Jesus, na medida em
que nos entregamos a Ele. Só quando do fundo do coração também confessamos: “Creio,
Senhor, mas ajuda-me na minha incredulidade”.
Confessamos a Cristo por
costume, por piedade ou por disciplina, mas vivemos, na maioria das vezes, sem
captar a originalidade de Sua vida, sem escutar a novidade de Seu apelo, sem
deixar-nos atrair por Seu amor apaixonado, sem nos contagiarmos pela Sua liberdade
e esforçar-nos em seguir a Sua trajetória.
Nós O adoramos como
“Deus”, mas Ele não é o centro de nossas vidas. Nós O confessamos como
“Senhor”, mas vivemos de costas para Seu projeto, sem saber muito bem qual era
esse projeto e o que pretendia. Nós O chamamos de “Mestre”, mas não vivemos
motivados pelo que motivava a vida d’Ele. Vivemos como membros de uma religião,
mas não somos discípulos de Jesus.
No nosso tempo se torna
cada vez mais difícil crer em algo. As ideologias mais sólidas, os sistemas
mais poderosos e as teorias mais brilhantes foram, aos poucos, cambaleando, ao
mostrarem suas limitações e profundas deficiências.
O ser humano hoje,
desiludido com tantos dogmas e ideologias, talvez ainda esteja dispostos a crer
em pessoas que o ajudem a viver dando um novo sentido à sua vida.
O teólogo Karl Lehmann
afirma: “O homem moderno só será crente quando tiver feito uma autêntica
experiência de adesão à Pessoa de Jesus Cristo”. Só quando vivemos “seduzidos”
por Ele e trabalhados pela força regeneradora de Sua Pessoa poderemos
transmitir também hoje Seu espírito e Sua visão de vida.
Um
texto do Padre Ari Antonio da Silva
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