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domingo, 8 de julho de 2018

O Que é Oração Para Você?



O modo comum das pessoas pensarem em oração é o mesmo com o qual elas pensam em “concentração mental”. Comumente se pensa que a força da oração é do tamanho do esforço mental feito pela pessoa que ora. Desse modo, se crê que os ouvidos de Deus são abalados pelas emissões de nossas energias de grito mental e, frequentemente, gritos mesmo. Também se pensa que somos nós quem damos o tema da oração para Deus. Espiritualmente, entretanto, o processo é justamente o inverso.
Não é Deus quem pára para me ouvir. Eu é que devo ficar em oração até ouvir Deus. Todos nós sabemos há muito que a oração não muda a Deus; muda, sim, aquele que ora.
Oração é um contínuo processo de pensar não de si-para-si, mas em Deus; não digo “em Deus” como se Deus fosse o “objeto” da nossa concentração mental; como se faz com “um deus” que tem que ser alcançado, que está longe e, portanto, é um outro objeto, ainda que eu o chame de “Deus”. Não! Assim como a Verdade, a oração não é um trabalho mental, nem é objeto de uma teologia, nem de uma doutrina; muito menos é sonho e mágica.
Oração é um pensar-ouvir-ser em Deus. Oração é um ato, não é uma mecânica. O ato de orar é como o ato de viver. Os temas da oração são sempre os temas do ser; daí, haver sempre oração, mesmo quando estou em silêncio. O Pai vê em secreto!
Orar é conexão, é relação, é vinculo, é segredo! É como passar um e-mail para um amigo, mas só se poder ter a certeza de que a notícia vai chegar se a conexão acontecer — e a gente só sabe que a notícia chegou porque há resposta; sendo que o “provedor de acesso” é amor, sinceridade flagrante, e nudez espiritual.
Quem ora deve saber que se trata de uma relação que não aceita brincadeira de esconde-esconde. Aquele que ora aceita ficar nu até onde lhe seja possível enxergar-se por inteiro. Sem nudez espiritual não há oração!
Oração é também gratidão. E a gratidão da oração não é pelas coisas recebidas, e nem pelas conquistas; pois, se assim fosse, eu só poderia agradecer umas poucas vezes na vida. Não! Oração é gratidão por Deus! E essa gratidão em Deus e por Deus é aquilo que Paulo diz que santifica todas as coisas! A gratidão é a oração que limpa os olhos; e não somente eles, mas limpa o nosso olhar do mundo. Assim, todas as coisas ficam puras pelas ações de graças.
E quando alguém ora, não deve nunca duvidar, mesmo quando demorar a resposta ou nem vier, visto que nem sempre Deus responde o que queremos. Ainda que sempre responda me propondo o que faz bem, mesmo quando dói.
Quem ora, nunca não está orando. Cada respiração, topada, cabeçada, cafuné, beijo, abraço, compreensão, susto, morte, nascimento, estação do ano, brisa, chuva, tempestade, calor, frio, roupa, banho, toalha, coalhada, rapadura, gol, copa do mundo, mergulho em água fria, visão do mar, surpresa do pôr de sol, gozo, amizade, tristeza, obstáculo, perseguição, simpatias, questões, medos, certezas... sim, tudo passa a ser oração.
Ora, quando Paulo diz que todas as coisas são santificadas pelas ações de graças, ele não está nos ensinando um truque para transformarmos o errado em certo ou a injustiça em justiça. Explore ou julgue a viúva, o órfão, o pobre, o fraco, o cansado, o esmagado, o culpado, o ferido, o inocente ou quem quer que seja, e sua oração será a sua própria maldição. Se alguém pensa que pode agradecer depois da maldade, e que assim a iniquidade se tornará em bondade, está enganando a si mesmo; e sua oração é apenas seu próprio juízo. Bem-aventurado é aquele que não se condena por aquilo que agradece. Por isto é que não é a cena das “ações de graças” o que santifica a vida, mas a gratidão; e saiba, a gratidão sabe quando a oração é verdadeira, visto que só os sinceros são gratos.
Oração, portanto, é aquilo que sai do ser, e é o ser santificado. Esse tal assim o é em Deus; e o é com a constante consciência de que n’Ele sempre se está nu espiritualmente.
Ora, num certo sentido até não orar é uma oração, visto que oração é um ato, e não orar é, certamente, um ato.
Assim, há a oração que é amizade com Deus, e há a oração do nada, que é inimizade para com Deus, ou total indiferença. A oração do nada é ouvida também. E só Deus pode dizer como Ele responde a oração do nada.
Oração é, sobretudo, confissão de graça. Confissão da graça recebida, e confissão da graça oferecida aos nossos devedores. Sem que seja assim, toda oração é mero discurso.
Então, para o engano daquele que ora, aconselha-se que grite muito, e faça toda a concentração mental que puder. Não adiantará de nada diante de Deus, mas o “devoto” vai para casa com a dor de cabeça de quem pensa que orar é um grande esforço e que é o fruto de muitas e muitas repetições.
Quem ora fala pouco em oração; isto é o que tenho aprendido faz muito tempo.

Um texto de Caio Fabio D’Araújo Filho

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