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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Estudar a Bíblia

II Timóteo 3:16-17
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.

A Bíblia é um conjunto de 66 livros, escrita por – estima-se – cerca de quarenta pessoas diferentes em épocas diferentes, que distam centenas de anos.
A Bíblia é, provavelmente, a maior obra de parceria entre Deus e o ser humano. A Bíblia não é um trabalho de um autor, mas de vários; não reflete apenas as situações de uma época, mas de várias; não aborda apenas um tema, mas vários. Mas toda a Bíblia aponta, em suma, para um mesmo alvo: Cristo.
Ela é uma obra de parceria, pois Deus não desceu “pessoalmente”, pegou um rolo de pergaminho e desatou a escrever. Não. Ela foi escrita pelos homens, mas em uma conexão entranhável com Deus, numa inspiração através do Seu Espírito. Ela revela verdades profundas, mas, ao mesmo tempo, mostra as avaliações e pensamentos humanos de uma época; ela está preenchida da sabedoria divina, mas, ao mesmo tempo, do ponto de vista dos homens que seguraram uma pena e a fizeram deslizar sobre papiros, tabuletas de barro ou pergaminhos. Assim, a Bíblia transpira a inspiração de Deus e, ao mesmo tempo, a interpretação dos homens. Ela vai da pureza e do absoluto de Deus, para as vicissitudes e o relativismo humano. Ela é a obra mais impressionante que existe!
Nessa parceria Deus/ser humano, a Bíblia tem as características humanas, mas, concomitantemente, o DNA divino. E a chancela final, claro, é do redator-chefe, o Espírito Santo de Deus. Por isso o apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, estava seguro em afirmar o que está acima, no cabeçalho deste texto.
A Bíblia deve ser estudada. Não deveríamos fugir dessa tarefa. Já ouvi muitas pessoas que se mostram reticentes a isso, ao estudo da Palavra, inclusive pessoas influentes na igreja à qual pertencem. Alegam, alguns, que a Bíblia é de difícil entendimento, ou que deve ser “interpretada” por determinada classe de pessoas, de preferência doutas e iniciadas na teologia. Dizem, algumas pessoas, que o estudo da Bíblia, desacompanhado de uma instrução “avalizada”, pode produzir mais males que bens. Discordo, e apresento alguns argumentos que suportam minha discordância e abonam meu posicionamento de que a Bíblia deve ser explorada e estudada a pleno.
Houve, em idos tempos medievais, clérigos que impediam um conhecimento bíblico da parte do povo, pois temiam que suas instituições religiosas perdessem o poder e que fossem descobertas práticas nelas que não tinham base bíblica. A Bíblia era, para eles, uma ferramenta de manipulação, assim como pensava aquele cara que era o vilão do filme O Livro de Eli (alguém assistiu?). O fato é que muitos líderes de instituições religiosas temiam que, em conhecendo mais a fundo as Escrituras, as pessoas descobrissem que nessas instituições se praticavam coisas que nada tinham a ver com o ensino de Cristo, tradições de homens, ao invés da simples instrução do evangelho. Temiam perder o poder de “condução” cega de seus fiéis, esquecendo-se que devemos ser “fiéis” tão-somente a Cristo, e não a homens ou instituições. Mesmo em tempos atuais, ainda é assim.
Muitas pessoas, especialmente as que são novatas na vida cristã, ou aquelas que, mesmo se denominando cristãs, são “cristãs de domingos” – se é que são – e pouco interessadas no verdadeiro significado de seguir Cristo (e estas são, infelizmente, a maioria), podem, sim, ter enormes dificuldades ao folhear o Livro Sagrado.
Muitas pessoas podem ficar perturbadas por dúvidas. Na Bíblia existem muitas coisas que elas não conseguem entender. Elas perguntam: “Como posso saber qual é o caminho certo? Se a Bíblia é a Palavra de Deus, como posso vencer minhas dúvidas? Como posso entender o que não entendo, o que me deixa perplexo, o que me parece contraditório?” Essas pessoas – e todos nós – podem e devem ficar calmas. Calma, devagar... Deus nunca nos pede que acreditemos em algo sem nos dar suficientes provas sobre as quais possamos alicerçar a nossa fé. A Sua Palavra fala à nossa alma, mas também fala à nossa razão. Há passagens bíblicas às pampas que dão testemunho disso; falam aos nossos sentimentos, ao lado direito do nosso cérebro, responsável por nossas emoções, mas também falam ao lado esquerdo do nosso cérebro, responsável por nossa racionalidade. A Bíblia fala ao mais erudito e ao mais simples dos mortais. E o seu estudo é, também, a mais eficiente ferramenta para o desenvolvimento do intelecto humano, além, obviamente, do desenvolvimento da espiritualidade humana.
Uma das coisas mais impressionantes e, possivelmente, menos percebidas da Bíblia é que Deus, por meio dela, nunca removeu a possibilidade de dúvida. A possibilidade de acreditar e ter fé está lá, mas a possibilidade de sustentar dúvidas também. Quem quiser lê-la procurando “certezas” – pode estar certo disso – as achará; quem for lê-la procurando “dúvidas” e “contradições” – não tenha dúvida disso – também as achará. Essa é uma dicotomia nas Escrituras que precisa ser sabida e entendida: a Bíblia fornece certezas e/ou dúvidas, segundo a intenção com a qual nos aproximamos dela. Quando isso estiver claro para nós – que a Palavra responde às nossas intenções – nunca mais teremos medo de ler ou incentivar o estudo bíblico!
Os que desejam duvidar terão a oportunidade de fazê-lo, enquanto que os que realmente desejam conhecer a verdade poderão encontrar muitas provas onde apoiar a sua fé. Deus se aproxima de nós na mesma medida com que nos aproximamos d’Ele. Ele respeita a nossa vontade. Se nos aproximamos d’Ele com sincera intenção de encontrá-Lo, de crer n’Ele, de fortalecer a nossa fé, de termos uma experiência de vida em comunhão com Ele, Ele diz: “Seja feita a sua vontade!” Se vamos à Bíblia, querendo, com ela, justificar nossas dúvidas e razões de ateísmo ou agnosticismo, apontando para os pontos dúbios que encontrarmos nas Escrituras, Ele também nos diz: “Seja feita a sua vontade!”. “Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração. Eu me deixarei ser encontrado por vocês”, declara o SENHOR (Jeremias 29:12-14). Sobre encontrar Deus nas Escrituras, também podemos pegar emprestada a passagem de Deuteronômio 4:29, onde diz: E lá procurarão o SENHOR, o seu Deus, e o acharão, se o procurarem de todo o seu coração e de toda a sua alma.
É impossível para mentes finitas entender de maneira plena a essência das obras d’Aquele que é Infinito. Para a mente mais iluminada e avançada e para o intelecto mais esclarecido, Deus ainda será um mistério. Em Romanos 11:33, Paulo diz: Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os juízos e inescrutáveis os seus caminhos!
No nosso mundo visível, que descortinamos através dos cinco sentidos, somos cercados de mistérios que não conseguimos entender nem perceber. Mesmo situações simples podem apresentar, para o mais brilhante filósofo, cientista ou observador, dificuldades de serem explicadas e entendidas. Deveríamos, então, ficar surpreendidos e perplexos ao vermos que no mundo espiritual também existem mistérios que ainda não podemos desvendar?
Os céticos apresentam as dificuldades encontradas nas Escrituras como argumento que sustenta o seu ceticismo. Entretanto, se as Escrituras simplesmente apresentassem uma descrição do Senhor que pudéssemos facilmente entender, se a Sua grandeza pudesse ser totalmente compreendida pela finitude da mente humana, se fosse assim tão simples, onde estariam as credenciais divinas de “autoria” da Bíblia? E, se já tivéssemos entendido tudo, onde restaria espaço para crescermos e nos desenvolvermos? Uma mostra de que sempre temos espaço para evoluirmos no nosso relacionamento com Deus está em João 16:12, onde Jesus diz: “Tenho ainda muito que lhes dizer, mas vocês não o podem suportar agora”. Ali Ele mostra que a revelação das coisas divinas através da Palavra é um processo gradual e contínuo, revelado pelo Santo Espírito, conforme, individualmente, as pudermos absorver.
Um dos grandes problemas do ser humano é o seu ego. O ego humano não suporta se ver numa situação de pequenez, em que tenha que admitir sua humildade e incapacidade. Não suportamos admitir que ainda não entendemos algo plenamente. Temos o ego dentro de nós gritando que temos a obrigação de sabermos as respostas para tudo. Não suportamos, em nosso egocentrismo, admitir que somos dependentes de Deus e que necessitamos de Sua ajuda, até mesmo – e especialmente – para podermos encontrá-Lo. Aí, por sermos tão resistentes a reconhecer o quão pequenos somos, nos é mais fácil negá-Lo. É mais fácil ao ser humano dizer que não acredita em Deus, que é impossível encontrá-Lo na Bíblia, do que admitir que precisa de ajuda para atingir esse objetivo. E, quando admitimos que precisamos de Sua ajuda, Ele nos ajuda.
Ouço muitas vezes frases do tipo: “Não acredito no Deus da Bíblia”. Ué! E existe outro Deus, que não seja o da Bíblia? Para as pessoas de outras formas de fé, poderíamos fazer a mesma pergunta: Existe, para vocês, outra divindade suprema além da encontrada no Tanach do judaísmo? No Alcorão do islã? No Nobre Caminho Óctuplo do budismo? – ainda que a divindade da busca budista não esteja explícita como a de outras formas de fé, está implícita ao processo de evolução espiritual da doutrina de Buda. Existe outra divindade suprema além da encontrada nos Vedas do hinduísmo? Ou a manifestação de Deus encontrada em outros tantos escritos considerados sagrados por seus seguidores? Existe outro Deus? Deus não é único, apesar das diferentes formas humanas de O conceitualizar? Estou convicto que Deus é único! Deus é único e se mostra como quer, da forma que quer, e para quem quer – a soberania é d’Ele! A boa notícia é que Ele quer se mostrar a todos (João 3:16-17). Ele se “humanizou” para que todos pudessem encontrá-Lo, pois Ele brilha para todos nós (João 1:9). Queremos um caminho seguro para chegar a Ele? Queremos encontrar a verdade? Queremos realmente a plenitude da vida? “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (João 14:6). Aqui, o conceito do Cristo se nos revela.
Convido a todos a estudarem as Escrituras, sem medos, sem receios. No entanto, devemos ler a Bíblia com oração, pedindo pela ajuda do Espírito Santo, para podermos compreender as coisas com clareza. Deus nos dará, na medida em que formos avançando, conhecimento e sabedoria. Iremos descobrindo, com o passar do tempo – e se formos persistentes –, mais e mais coisas que Ele nos mostrará em Sua Palavra.
Devemos ir aplicando aquilo que entendermos, aquilo que fica claro para nós e que nos toca. Conforme formos colocando em prática, vivendo o que compreendermos, tanto mais nos será revelado. Quando entendemos e não praticamos, Deus não nos revelará mais coisas. Ele ficará esperando até colocarmos em prática o que já sabemos. Aí, então, vem mais matéria. É como na escola: não entenderemos o teorema de Pitágoras enquanto não formos capazes e craques em multiplicar 7 vezes 8. A revelação divina nas Escrituras é um processo, contínuo e infinito, assim como contínuo é o Seu amor por nós e infinita é a Sua sabedoria.
Importante também: ao encontrar nas Escrituras algum ponto dúbio, ainda não entendido ou que estiver confuso, não permita que isso o impeça de viver o que já estiver claro, nem de seguir adiante. Exemplos: pode ser que ainda não compreendamos claramente como pode ser que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo (uma trindade) num só; pode ser que não nos esteja ainda bem claro como Deus é amor e, ao mesmo tempo, justiça; pode ser que ainda não nos esteja bem claro o porque do sacrifício de Jesus, para atender – ao mesmo tempo – à justiça divina e ao amor divino pela humanidade. Mas acredito que já nos esteja bem claro que devemos amar a Deus e ao próximo, e que disto depende toda a Bíblia (Mateus 22:37-40). Então, pratiquemos o que entendemos, que o que ainda não entendemos logo, logo, se tornará claro, à medida que avançamos.
Reforço o convite: estude a Bíblia. Mas apenas o faça se sua intenção for realmente encontrar a Deus. Se assim for, não tenho dúvidas de que você O encontrará, pois Ele mesmo virá ao seu encontro!
Quero, antes de encerrar, lembrar que, além de mergulhar na Bíblia, não esqueçamos de buscar ao Senhor em Sua casa, na Igreja, na comunhão com os irmãos, onde desfrutamos do ouvir a Palavra e dos sacramentos. 

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert
UM LIVRE DISCÍPULO DE CRISTO

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