Lucas 5:27-28
Depois disso, Jesus saiu e viu um publicano chamado
Levi, sentado na coletoria, e disse-lhe: “Siga-me”.
Levi levantou-se, deixou tudo e o seguiu.
Imediatamente antes desta passagem, Jesus havia curado um paralítico, que
havia sido descido em uma maca por seus – do paralítico – amigos, por uma
abertura do telhado na casa onde Jesus ensinava. Jesus perdoou-lhe os pecados e
o curou. Isso causou um desconforto aos “religiosos” presentes. A passagem é
esta em Lucas 5:17-26:
Certo dia, quando ele ensinava,
estavam sentados ali fariseus e mestres da lei, procedentes de todos os
povoados da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. E o poder do Senhor estava com
ele para curar os doentes. Vieram
alguns homens trazendo um paralítico numa maca e tentaram fazê-lo entrar na
casa, para colocá-lo diante de Jesus. Não conseguindo fazer isso, por causa da
multidão, subiram ao terraço e o baixaram em sua maca, através de uma abertura,
até o meio da multidão, bem em frente de Jesus.
Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse: “Homem, os seus pecados estão
perdoados”.
Os fariseus e os mestres da lei começaram a pensar:
“Quem é esse que blasfema? Quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?”
Jesus, sabendo
o que eles estavam pensando, perguntou: “Por que vocês estão pensando
assim? Que é mais fácil dizer: ‘Os seus pecados estão perdoados’, ou:
‘Levante-se e ande’? Mas, para que vocês
saibam que o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados” —
disse ao paralítico — “eu lhe digo: Levante-se, pegue a sua maca e vá para
casa”. Imediatamente ele se levantou
na frente deles, pegou a maca em que estivera deitado e foi para casa louvando
a Deus. Todos ficaram atônitos e
glorificavam a Deus, e, cheios de temor, diziam: “Hoje vimos coisas
extraordinárias!”
Podemos ver, nesta passagem, a fé não do
paralítico, mas a dos seus amigos, fé esta que foi percebida por Jesus. Podemos
ver também como Jesus conhecia os pensamentos dos circundantes. E também
podemos ver a incredulidade e a inveja dos fariseus e mestres da lei, pois não
podiam aceitar que havia Alguém – além deles – que ensinava acerca de Deus e –
ainda – perdoava pecados e curava – o que eles não podiam fazer.
Voltando ao início, foi depois deste contexto, depois de Jesus deixar este
local, que ele encontrou Levi – que também é conhecido como Mateus e escreveu o
Evangelho que leva seu nome – sentado na coletoria, pois ele era publicano –
cobrador de impostos para os romanos –, e os publicanos eram mal-vistos pelo
povo, comparados a abjetos “pecadores”.
Jesus não fez caso da profissão de Levi/Mateus, nem se ele tinha boa ou má
fama diante dos outros, nem levou em consideração seu passado – apenas o chamou. Nem se relata aí se Ele
bateu um papinho inquiridor com Levi/Mateus antes. O que a Escritura diz é que
Ele passou e apenas o chamou. Não leu
ficha corrida, nem fez
retrospectivas, nada – só o chamou. É
bom lembrarmo-nos, ainda, que, no contexto antecedente, Jesus havia demonstrado
aos líderes religiosos que Ele tinha autoridade
para perdoar pecados. Assim, depois disso, nada importava sobre a condição
precedente de Levi/Mateus. Era soberania de escolha de Jesus chamar quem Ele
queria.
Impressiona o fato de que, depois do “siga-me”, Levi/Mateus levantou-se, deixou
tudo e o seguiu. E este é o
mote do que quero transmitir neste texto.
Primeiro, levantou-se. Ora,
como publicano mal-visto aos olhos do povo, talvez constrangido por ser visto
como um “pecador”, psicológica e espiritualmente Levi/Mateus “estava no chão”,
caído em espírito, prostrado diante do que se poderia considerar uma “má
conduta” aos olhos dos “religiosos”. Poderíamos dizer que, espiritualmente, ele
estava paralisado, como aquele que havia sido baixado numa maca até onde Jesus
estava. Mas ele não “ficou no chão”, nem “sentado” em cima do seu desânimo e da
sua condição, nem paralisado diante do “chamado” de Jesus. Ele levantou-se.
Depois, deixou tudo. Em se
querendo dizer que ele deixou a coletoria e seu trabalho como publicano,
podemos ampliar o conceito também ao campo psicológico e espiritual: ele deixou
para trás seu estado anímico deprimente diante do “chamado” de Jesus. Não
deixou algumas coisas, uma parte, mas deixou tudo. Muitas vezes é necessário a
nós também um desprendimento e um desapego daquilo que nos retém no caminho da
vida; deixar tudo, por assim dizer. Prestar atenção ao que Levi/Mateus fez. Ele
deixou tudo.
Por fim, seguiu a Jesus. E
seguir a Jesus quer dizer seguir só a
Jesus. Pedro, uma vez diante da pergunta de Jesus se eles – os Seus discípulos
– também queriam deixá-Lo e irem embora, saiu-se com esta: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna”
(João 6:68). Noutra vez, Pedro dissera: “Tu
és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:16). Depois deste “Tu”, não
pode haver “também Tu”, ou “Tu maior que outros”, ou “Tu és também, assim como
há outros”. Não. Depois de dizermos “Tu és o Cristo”, deve haver somente Ele; somente
Jesus! Em assim reconhecendo, podemos também fazer como fez Levi/Mateus. Ele
seguiu a Jesus.
Assim como passei, em parágrafos acima, o contexto do que acontecera
imediatamente antes desta passagem onde Jesus convida Levi/Mateus a segui-Lo,
quero agora apresentar o contexto imediatamente após, que está em Lucas
5:29-32:
Então Levi ofereceu um grande
banquete a Jesus em sua casa. Havia
muita gente comendo com eles: publicanos e outras pessoas. Mas os fariseus e aqueles mestres da lei que eram da mesma facção
queixaram-se aos discípulos de
Jesus: “Por que vocês comem e bebem com publicanos e ‘pecadores’?”
Jesus lhes respondeu: “Não são os que têm saúde que precisam de médico,
mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento”.
Novamente os
“religiosos” – que arrogavam a si o monopólio da espiritualidade, do ensino e
do “caminho” para Deus – não apenas se manifestaram, mas se manifestaram de
forma queixosa, não a Jesus, mas a Seus discípulos, questionando o por que eles
se misturavam e confraternizavam com aqueles que eram tidos como “pecadores”. Interessante
é vermos que não foram os discípulos que responderam a eles, mas o próprio
Jesus.
E é Jesus que disse o que disse: “Eu não
vim chamar justos, mas pecadores ao
arrependimento”. Até porque, como ensinam as Escrituras, dentro do
contexto humano, não existe ninguém que seja justo: Não há nenhum justo, nem um
sequer (Romanos 3:10). Além disso, assim como Ele demonstrara que tinha
– e segue tendo – autoridade para perdoar pecados, justificando, assim, ao
pecador diante de Deus, assim também a Palavra nos ensina Quem justifica o
justo – Quem torna o justo em justo: E
aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou
(Romanos 8:30).
Assim, em estando nós doentes espiritualmente, Ele Se apresenta como o
Médico da nossa alma. Mesmo estando injustificados e injustificáveis diante
d’Ele e da vida, Ele mesmo nos justifica, ao nos chamar. Contudo, essa cura
espiritual e esta justificação se dão mediante o nosso aceitar o Seu convite a
segui-Lo.
E Ele nos chama todos os dias, a cada amanhecer, a cada “hoje”, como
ensina o escritor aos Hebreus: Cuidado,
irmãos, para que nenhum de vocês tenha coração
perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo. Ao contrário, encorajem-se uns aos outros todos os
dias, durante o tempo que se chama
“hoje”, de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado, pois passamos a ser participantes de Cristo, desde que, de fato, nos apeguemos até o fim à confiança que
tivemos no princípio. Por isso é que se diz: “Se hoje vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração, como na
rebelião” (Hebreus 3:12-15).
Então, assim como se diz de Levi/Mateus, que de cada um de nós, a cada
dia, possa também se dizer: levantou-se, deixou tudo e o seguiu.
Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos
acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert