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sábado, 16 de maio de 2015

Quando um Irmão Falha


          2º Coríntios 2:5-8
          Se um de vocês tem causado tristeza, não a tem causado apenas a mim, mas também, em parte, para eu não ser demasiadamente severo, a todos vocês. A punição que lhe foi imposta pela maioria é suficiente. Agora, ao contrário, vocês devem perdoar-lhe e consolá-lo, para que ele não seja dominado por excessiva tristeza. Portanto, eu lhes recomendo que reafirmem o amor que têm por ele.

          O apóstolo Paulo escreve à igreja de Corinto, em sua segunda carta, e menciona a decepção causada por um irmão daquela comunidade. O apóstolo não menciona especificamente qual tipo de falha cometeu aquele irmão, mas manifesta a sua preocupação com a comunidade coríntia como um todo, e salienta a falibilidade individual de um deles – com o perdão da redundância.
          O fato é que esta falha – ou pecado – havia causado tristeza aos coríntios e a ele próprio. Com isso, ele mostra que, quando uma pessoa da igreja falha, todos são afetados; e não poderia ser diferente, uma vez que a igreja é um todo, é o “corpo de Cristo”. E, se num corpo o menor membro é afetado, todo o corpo o é. Experimente dar uma marteladinha de leve no seu dedo mindinho, para ver se o sinal elétrico da dor que seu cérebro recebe não reverbera em todo o corpo. Assim é com uma comunidade. O menor dos irmãos, quando provoca um motivo de alegria para si, alegra a todos; e, quando provoca um motivo de tristeza para si, entristece a todos. Uma comunidade cristã que não vive isso, ainda está longe de ser “corpo de Cristo”. Infelizmente, veem-se inúmeras comunidades vivendo com individualismos, onde a alegria do irmão não me afeta e, se me afeta, é por causar inveja em mim mesmo. Sua tristeza tão-pouco me afeta; faço de conta que não é comigo. Mas Paulo ensina claramente que uma – verdadeira – comunidade de Cristo pulsa como um todo.
          Na carta, Paulo menciona que houve uma punição a este irmão que cometeu o erro e causou a tristeza. Ele não menciona qual a punição, apenas diz que houve uma. Bem, quando tomamos a cruz de Cristo e O seguimos, nossas atitudes devem refletir os atos de Cristo e, seguindo na linha de pensamento da cruz, pensemos nos atos de Cristo quando Ele esteve na cruz. A primeira coisa que Ele fez foi perdoar aos que O tinham posto lá – a todos. Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lucas 23:34), foram Suas palavras. Assim, também nós devemos aprender a perdoar a todos. Mas o fato de termos perdoado, não significa que simplesmente deixemos passar por alto. Um pai ou uma mãe com sentimentos cristãos, perdoam o filho que errou mas, mesmo assim, não deixam de discipliná-lo. Da mesma forma, quando meu próximo erra contra mim, eu o perdoo, mas, perdoado, vou falar com ele sobre a situação. Perdoar não quer dizer simplesmente deixar para lá, quer dizer tratar do assunto, mas sem o peso do rancor. É ir tratar do assunto na leveza do perdão em nós mesmos. Mas, deixar de tratar do assunto, simplesmente deixar para lá, não seria um ato de perdão, seria um ato de falta de amor.
          Então, na carta aos coríntios é mencionado que houve uma consequência para o irmão que foi faltoso. E esta posição da comunidade em relação a ele foi imposta pela maioria. Isso nos ensina outra coisinha: numa verdadeira comunidade cristã não existe um mandatário que detenha o poder totalitário de impor ou deixar de impor. Numa verdadeira comunidade cristã existe democracia. O que foi imposto àquele irmão faltoso foi imposto pela maioria. Ou seja: democracia. Infelizmente, em muitas comunidades hoje em dia, existem mandatários que têm sob si um poder absoluto – ou quase isso. Existem denominações que têm um mandatário único que personifica em si a “palavra final de Deus” na terra. Não quero polemizar, e respeito as “políticas” de todas as denominações, mas não é o que a Bíblia nos ensina.
          Vamos ao ponto alto da passagem acima: Agora, ao contrário, vocês devem perdoar-lhe e consolá-lo, para que ele não seja dominado por excessiva tristeza. O apóstolo ensina à comunidade que, em passado o período onde o irmão faltoso experimentou a consequência do seu erro, ele deve ser acolhido, abraçado e conduzido ao seio do grupo. Eu ouso ir adiante: mesmo durante o período da experiência das consequências, este irmão deve ser acolhido. Ele deve ser consolado, afagado e fortalecido. Caso não seja assim, este irmão corre o risco de desenvolver uma profunda depressão – já se falava em depressão desde os tempos antigos, muito antes de esta doença ser diagnosticada em termos médicos; a depressão já existia, só que era chamada de outra forma, no caso da carta de Paulo, de excessiva tristeza. Infelizmente – tenho usado bastante esta palavra neste texto –, nos dias atuais, quem erra e cai, numa comunidade, na maioria dos casos é deixado de lado. É abandonado pela chamada “igreja”. O abandono é, sem dúvida, a pena mais pesada que há! Essa atitude é algo frequente. Mas não é isso que a Bíblia nos ensina.
          E agora, a cereja do ponto alto da passagem citada: Portanto, eu lhes recomendo que reafirmem o amor que têm por ele. Reafirmar o amor. Que coisa linda que uma comunidade pode fazer por um irmão! Reafirmar o amor a um irmão que passou – ou ainda passa – por momentos difíceis diante da comunidade, é celebrar o seu acolhimento, como na parábola do filho pródigo. É deixar claro para ele que o que passou, passou. A partir de agora, novamente tudo se faz novo. É um recomeço, e um recomeço com ainda mais força, uma vez que a experiência negativa trouxe aprendizado. É enfatizar a este irmão que estamos do lado dele, inclusive para apoiá-lo para que não caia mais. É dizer a este irmão que sempre poderá contar conosco. Reafirmar o amor é algo que se faz com atitudes, com palavras, com demonstrações tangíveis. Isso é reafirmar o amor. O resto é demagogia.
          Imaginemos que nós – eu, você – somos este irmão faltoso. Eu gostaria de ser perdoado pelos irmãos. Eu gostaria que me acompanhassem enquanto as consequências do meu erro ainda surtirem doloroso efeito. Eu gostaria de ser acolhido pelos irmãos no seio da comunidade. Eu gostaria de ouvir – viver – o amor que eles têm por mim. Isso a Bíblia ensina.
          Mais uma vez, imaginemos que nós – eu, você – somos este irmão faltoso. Eu gostaria de ser perdoado por Deus. Eu gostaria que Deus me acompanhasse enquanto as consequências do meu erro ainda surtirem doloroso efeito. Eu gostaria de ser acolhido por Deus no seio da comunidade. Eu gostaria de ouvir – viver – o amor que Deus tem por mim. Isso a Bíblia também ensina.
          Saibamos o seguinte: se vivemos verdadeiramente no discipulado de Cristo, todo o amor que Deus tem para conosco, deve necessariamente ser refletido no amor que temos entre nós, em nossa comunidade. Deus ama Seus filhos através dos irmãos. E este amor divino contido e refletido por nós, não deve se refletir apenas aos chamados “irmãos da igreja”. Nós somos – ou deveríamos ser – igreja full-time, vinte e quatro horas por dia. Assim, nossos “irmãos” são todos os seres humanos, independentemente da sua cultura, poder aquisitivo, cor da pele, nacionalidade, sexualidade, forma de fé ou qualquer outra coisa que seja. Este amor divino deve ser compartilhado com todos. Mas esse assunto, por si só, já daria outro texto...

          Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
          Saudações,
        Kurt Hilbert

2 comentários:

  1. Meu amigo e Irmão.
    A igreja (denominação) tem se tornado especialista em promover "excessiva tristeza" junto aos seus membros.
    Este é o "testemunho" que fica, diante das pessoas, como linha de comportamento dos seus fiéis.

    O verdadeiro "discipulado de Cristo" se torna visível pelo "testemunho" dos seus seguidores em concordância com o que o próprio Jesus indicou: "Portanto, pelos seus frutos os conhecereis
    Mateus 7:20".

    Teu escrito me lembro de uma frase, parte de um escrito, que gerou muita polêmica entre os líderes de uma destas denominações e que acarretou medidas severas contra o autor:


    Testemunho é a palavra hebraica עדּות / ‛êdûth, que significa “registro, gravação, testemunha”.

    O Testemunho: este é o lugar da manifestação de Deus.
    A Arca da Aliança, ou a Arca do Testemunho, era o lugar da presença de Deus no passado.
    Hoje, nós somos a Arca de Deus. Dentro desta arca precisa estar o Testemunho.
    O Testemunho é a Palavra do Senhor, viva, operando em nós.
    Este Testemunho é o sinal de Deus em nós que afeta, transforma, impacta as vidas ao redor.
    Deus quer cada um dos Seus filhos testemunhando, não apenas “falando” de Jesus, mas vivendo Jesus, a Palavra, cada dia mais.
    Isto é uma vida de testemunho!

    Um abraço!

    Caleri

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