2º Coríntios 2:5-8
Se um de vocês tem causado tristeza, não a tem
causado apenas a mim, mas também, em parte, para eu não ser demasiadamente
severo, a todos vocês. A punição que lhe foi imposta pela maioria é suficiente. Agora, ao contrário, vocês devem
perdoar-lhe e consolá-lo, para que
ele não seja dominado por excessiva
tristeza. Portanto, eu lhes recomendo que reafirmem o amor que têm por ele.
O apóstolo Paulo
escreve à igreja de Corinto, em sua segunda carta, e menciona a decepção
causada por um irmão daquela comunidade. O apóstolo não menciona
especificamente qual tipo de falha cometeu aquele irmão, mas manifesta a sua
preocupação com a comunidade coríntia como um todo, e salienta a falibilidade
individual de um deles – com o perdão da redundância.
O fato é que esta
falha – ou pecado – havia causado tristeza aos coríntios e a ele próprio. Com
isso, ele mostra que, quando uma pessoa da igreja falha, todos são afetados; e
não poderia ser diferente, uma vez que a igreja é um todo, é o “corpo de
Cristo”. E, se num corpo o menor membro é afetado, todo o corpo o é.
Experimente dar uma marteladinha de leve no seu dedo mindinho, para ver se o
sinal elétrico da dor que seu cérebro recebe não reverbera em todo o corpo.
Assim é com uma comunidade. O menor dos irmãos, quando provoca um motivo de
alegria para si, alegra a todos; e, quando provoca um motivo de tristeza para
si, entristece a todos. Uma comunidade cristã que não vive isso, ainda está
longe de ser “corpo de Cristo”. Infelizmente, veem-se inúmeras comunidades
vivendo com individualismos, onde a alegria do irmão não me afeta e, se me
afeta, é por causar inveja em mim mesmo. Sua tristeza tão-pouco me afeta; faço
de conta que não é comigo. Mas Paulo ensina claramente que uma – verdadeira –
comunidade de Cristo pulsa como um todo.
Na carta, Paulo
menciona que houve uma punição a este irmão que cometeu o erro e causou a
tristeza. Ele não menciona qual a punição, apenas diz que houve uma. Bem,
quando tomamos a cruz de Cristo e O seguimos, nossas atitudes devem refletir os
atos de Cristo e, seguindo na linha de pensamento da cruz, pensemos nos atos de
Cristo quando Ele esteve na cruz. A primeira coisa que Ele fez foi perdoar aos
que O tinham posto lá – a todos. Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lucas 23:34), foram Suas
palavras. Assim, também nós devemos aprender a perdoar a todos. Mas o fato de
termos perdoado, não significa que simplesmente deixemos passar por alto. Um
pai ou uma mãe com sentimentos cristãos, perdoam o filho que errou mas, mesmo
assim, não deixam de discipliná-lo. Da mesma forma, quando meu próximo erra
contra mim, eu o perdoo, mas, perdoado, vou falar com ele sobre a situação.
Perdoar não quer dizer simplesmente deixar para lá, quer dizer tratar do
assunto, mas sem o peso do rancor. É ir tratar do assunto na leveza do perdão
em nós mesmos. Mas, deixar de tratar do assunto, simplesmente deixar para lá,
não seria um ato de perdão, seria um ato de falta de amor.
Então, na carta aos
coríntios é mencionado que houve uma consequência para o irmão que foi faltoso.
E esta posição da comunidade em relação a ele foi imposta pela maioria.
Isso nos ensina outra coisinha: numa verdadeira comunidade cristã não existe um
mandatário que detenha o poder totalitário de impor ou deixar de impor. Numa
verdadeira comunidade cristã existe democracia. O que foi imposto àquele irmão
faltoso foi imposto pela maioria. Ou seja: democracia. Infelizmente, em muitas
comunidades hoje em dia, existem mandatários que têm sob si um poder absoluto –
ou quase isso. Existem denominações que têm um mandatário único que personifica
em si a “palavra final de Deus” na terra. Não quero polemizar, e respeito as
“políticas” de todas as denominações, mas não é o que a Bíblia nos ensina.
Vamos ao ponto alto da
passagem acima: Agora, ao contrário,
vocês devem perdoar-lhe e consolá-lo,
para que ele não seja dominado por
excessiva tristeza. O apóstolo ensina à comunidade que, em passado o
período onde o irmão faltoso experimentou a consequência do seu erro, ele deve
ser acolhido, abraçado e conduzido ao seio do grupo. Eu ouso ir adiante: mesmo durante o período da experiência das
consequências, este irmão deve ser acolhido. Ele deve ser consolado, afagado e
fortalecido. Caso não seja assim, este irmão corre o risco de desenvolver uma
profunda depressão – já se falava em
depressão desde os tempos antigos, muito antes de esta doença ser diagnosticada
em termos médicos; a depressão já existia, só que era chamada de outra forma,
no caso da carta de Paulo, de excessiva
tristeza. Infelizmente – tenho usado bastante esta palavra neste texto –,
nos dias atuais, quem erra e cai, numa comunidade, na maioria dos casos é
deixado de lado. É abandonado pela chamada “igreja”. O abandono é, sem dúvida, a
pena mais pesada que há! Essa atitude é algo frequente. Mas não é isso que a
Bíblia nos ensina.
E agora, a cereja do
ponto alto da passagem citada: Portanto,
eu lhes recomendo que reafirmem o amor
que têm por ele. Reafirmar o amor. Que coisa linda que uma comunidade
pode fazer por um irmão! Reafirmar o amor a um irmão que passou – ou ainda
passa – por momentos difíceis diante da comunidade, é celebrar o seu
acolhimento, como na parábola do filho
pródigo. É deixar claro para ele que o que passou, passou. A partir de
agora, novamente tudo se faz novo. É
um recomeço, e um recomeço com ainda mais força, uma vez que a experiência
negativa trouxe aprendizado. É enfatizar a este irmão que estamos do lado dele,
inclusive para apoiá-lo para que não caia mais. É dizer a este irmão que sempre
poderá contar conosco. Reafirmar o amor é algo que se faz com atitudes, com
palavras, com demonstrações tangíveis. Isso é reafirmar o amor. O resto é
demagogia.
Imaginemos que nós –
eu, você – somos este irmão faltoso. Eu gostaria de ser perdoado pelos irmãos.
Eu gostaria que me acompanhassem enquanto as consequências do meu erro ainda
surtirem doloroso efeito. Eu gostaria de ser acolhido pelos irmãos no seio da
comunidade. Eu gostaria de ouvir – viver – o amor que eles têm por mim. Isso a
Bíblia ensina.
Mais uma vez,
imaginemos que nós – eu, você – somos este irmão faltoso. Eu gostaria de ser
perdoado por Deus. Eu gostaria que Deus me acompanhasse enquanto as
consequências do meu erro ainda surtirem doloroso efeito. Eu gostaria de ser
acolhido por Deus no seio da comunidade. Eu gostaria de ouvir – viver – o amor
que Deus tem por mim. Isso a Bíblia também ensina.
Saibamos o seguinte:
se vivemos verdadeiramente no discipulado de Cristo, todo o amor que Deus tem
para conosco, deve necessariamente ser refletido no amor que temos entre nós,
em nossa comunidade. Deus ama Seus filhos através dos irmãos. E este amor
divino contido e refletido por nós, não deve se refletir apenas aos chamados
“irmãos da igreja”. Nós somos – ou deveríamos ser – igreja full-time, vinte e quatro horas por dia. Assim, nossos “irmãos” são
todos os seres humanos, independentemente da sua cultura, poder aquisitivo, cor
da pele, nacionalidade, sexualidade, forma de fé ou qualquer outra coisa que
seja. Este amor divino deve ser compartilhado com todos. Mas esse assunto, por
si só, já daria outro texto...
Por hora é isso,
pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert
Meu amigo e Irmão.
ResponderExcluirA igreja (denominação) tem se tornado especialista em promover "excessiva tristeza" junto aos seus membros.
Este é o "testemunho" que fica, diante das pessoas, como linha de comportamento dos seus fiéis.
O verdadeiro "discipulado de Cristo" se torna visível pelo "testemunho" dos seus seguidores em concordância com o que o próprio Jesus indicou: "Portanto, pelos seus frutos os conhecereis
Mateus 7:20".
Teu escrito me lembro de uma frase, parte de um escrito, que gerou muita polêmica entre os líderes de uma destas denominações e que acarretou medidas severas contra o autor:
Testemunho é a palavra hebraica עדּות / ‛êdûth, que significa “registro, gravação, testemunha”.
O Testemunho: este é o lugar da manifestação de Deus.
A Arca da Aliança, ou a Arca do Testemunho, era o lugar da presença de Deus no passado.
Hoje, nós somos a Arca de Deus. Dentro desta arca precisa estar o Testemunho.
O Testemunho é a Palavra do Senhor, viva, operando em nós.
Este Testemunho é o sinal de Deus em nós que afeta, transforma, impacta as vidas ao redor.
Deus quer cada um dos Seus filhos testemunhando, não apenas “falando” de Jesus, mas vivendo Jesus, a Palavra, cada dia mais.
Isto é uma vida de testemunho!
Um abraço!
Caleri
Obrigado pelas palavras, meu amigo!
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