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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Um Cristianismo de Resultados Materiais

I João 2:15-17

Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo – a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens – não provêm do Pai, mas do mundo. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.

Na passagem acima João fala do perigo de se amar o mundo. Primeiro, devemos entender o que é amar, no sentido empregado nesta passagem, e no sentido que esta palavra tem na Bíblia. Amar aqui não quer dizer apenas gostar, desejar, querer, ter próximo a si. Amar, no sentido bíblico, não quer dizer apenas possuir, mas deixar-se ser possuído. Quando amamos a Deus, possuímos, de certa forma, o próprio Deus, pois possuímos o Seu Espírito, o Seu amor, a Sua graça, o Seu perdão. Tudo isso possuímos. Mas também, quando nos damos em amor a Deus, Ele nos possui, pois nos colocamos livremente em Suas mãos, colocamos livremente a nossa vontade sob a Sua vontade. Então Deus nos possui. Estamos n’Ele e Ele em nós. É dessa conotação de amor que o Evangelho nos fala. É disso que João, em sua carta, falava.

Quando amamos ao mundo, nos permitimos ser possuídos pelo mundo, dominados pelo mundo. É nesse sentido que Tiago fala que quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus (Tiago 4:4). Assim, as coisas do mundo já não são nossas servas (ou nos servem), mas nós nos tornamos servos das coisas mundanas. Jesus já ensinava, em Mateus 6:24: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”. O dinheiro que, segundo muitos, compra tudo e todos, é uma metáfora que representa bem o domínio do materialismo sobre os seres humanos. Enquanto o dinheiro nos serve, ok, mas quando servimos ao dinheiro, aí nos permitimos ser dominados por ele, perdemos nossa verdadeira liberdade. O que Jesus e João alertavam era isso: que não sejamos dominados pelo mundo. E o amor abre a guarda para o domínio. Ao amarmos a Deus, permitirmos, de livre vontade, ser dominados por Ele. E Ele não nos domina tiranicamente, mas em amor e segundo a nossa permissão. O mundo não, quando permitimos que ele nos domine, nos domina com tirania, e depois é muito difícil nos livrarmos desse domínio.

Quero extrair da passagem acima uma pequena parte e me concentrar nela: Pois tudo o que há no mundo – a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens – não provêm do Pai, mas do mundo. Dessa pequena parte, quero focar ainda outra dentro dela, que está grifada em negrito: a ostentação dos bens. Agora, quero comentar um pouco do business que ramos influentes do cristianismo praticam com a fé de incautos, um verdadeiro negócio da fé. É claro que, quando a fé de alguém está bem, em ordem, em equilíbrio, quando a fé cristã é praticada, todos os campos da vida sofrem influência positiva desse bem-estar da fé: nossa personalidade, toda a parte psicológica, a saúde emocional e física, inclusive a vida social e – por que não? – a vida financeira. Mas tudo isso é resultado, é conseqüência. Isso não quer dizer que quem está bem na fé necessariamente tem que estar bem financeiramente, assim como é claro que quem está mal financeiramente não está, necessariamente, mal na sua fé em Deus. Se essa fosse a regra, Bill Gates e Eike Batista teriam que ser expoentes notáveis de fé cristã – não estou dizendo que não são, apenas estou citando duas pessoas riquíssimas como uma referência bem conhecida. Da mesma forma, o cara que mora na casinha simples, pega três ônibus para trabalhar na faxina ou de servente de pedreiro – trabalhos honrosos, por sinal – aos olhos do mundo teria que estar em má situação de fé, por ter uma condição material humilde. Se essa fosse a regra, esses seriam exemplos aplicáveis. Mas essa não é a regra de fé. Acontece, porém, que muitas instituições eclesiásticas de fé cristã defendem essa regra, muitas vezes de forma inconsciente – outras não.

Ensinam, tais instituições, que quando podemos ostentar nossos bens materiais, é prova que somos muito abençoados. E essas instituições incentivam as pessoas a buscar essas coisas insidiosamente. Pergunto: onde fica buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça? (Mateus 6:33). Para sermos abençoados, ensinam elas, basta que nos tornemos patrocinadores do programa tal, que inscrevamos nossos nomes no livro das grandes conquistas tal, ou que depositemos fielmente o valor X na agência tal, do banco tal, conta tal, em nome da igreja tal. Quero deixar claro o seguinte: muitas instituições e líderes religiosos fazem bom uso de dízimos, ofertas e donativos. Há gente honesta e boa, como em todos os lugares. Muitos desses recursos financeiros são usados em ajudas humanitárias, em campanhas de evangelismo, são destinadas a nobres causas. Assim como há causas não tão nobres assim... mas isso é da vida. Não estou colocando tudo no mesmo balaio. Há muito trigo no meio do joio, claro. O que estou dizendo é que a finalidade máster do verdadeiro discípulo de Cristo não é ostentar bens, não é ter, mas ser. Ser amor, ser alegria, ser paz, ser paciência, ser amabilidade, ser bondade, ser fidelidade, ser mansidão e domínio próprio. Enfim, tendo o fruto do Espírito Santo (Gálatas 5:22-23), o cristão verdadeiro passa a ser o fruto do Espírito Santo. O verdadeiro cristão, no fim das contas, passa a não ter a bênção, mas ser a bênção.

Jesus não disse “eu tenho”, Ele disse “eu sou”. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6). “Vocês são daqui de baixo; eu sou lá de cima. Vocês são deste mundo; eu não sou deste mundo. Eu lhes disse que vocês morrerão em seus pecados. Se vocês não crerem que Eu Sou, de fato morrerão em seus pecados” (João 8:23-24). Eu sou, Ele dizia. A ostentação material diz apenas eu tenho. A quem Cristo diz “vocês são daqui de baixo”? Àqueles que buscam as coisas materiais através do caminho da fé. Para estes Ele diz “eu sou lá de cima”. A quem Cristo diz “vocês são deste mundo”? Àqueles que buscam, pela fé, as coisas deste mundo, o materialismo apenas. Para todos nós Ele diz “eu não sou deste mundo”. Este mundo não amou Cristo, nem Ele foi dominado por este mundo; ao contrário, Ele nos ensinava a buscar as coisas eternas. Vivemos neste mudo, mas, concomitantemente, vivemos em Cristo; estamos no mundo, mas, ao mesmo tempo, estamos em Cristo. Não somos dominados pelo mundo, mas permitimos que Cristo, em Seu amor, domine em nós.

Não há nada de errado em sermos bem-sucedidos em termos materiais. Isso é ótimo! Mas esse não é o ponto central. O ponto central é nosso bom relacionamento com Deus, demonstrado pelo nosso relacionamento com o próximo. O mundo em que vivemos é apenas a estrada que nos leva ao destino de nossas almas, para junto ao absoluto de Deus através de Cristo. É claro que amamos a estrada, mas a amamos como estrada, não como morada definitiva. Enquanto caminhamos rumo à eternidade, podemos observar as belezas das paisagens que cercam a estrada, podemos desfrutar dos prazeres da viagem, mas sem tirar os olhos dos sinais que nos indicam o caminho, sem nos distrair, pois podemos correr o risco de sairmos da estrada, de perdermos o rumo, ou de pararmos enguiçados na estrada.

João, sabiamente, alertava que o business da fé que vivenciamos à fuzel nos dias de hoje não provêm do Pai, mas do mundo. A fé não deve ser um negócio; a fé é um modo de vida! Isso é bênção.

Eu desejo que possamos evoluir do cristianismo de resultados materiais, em direção ao verdadeiro cristianismo, em direção ao verdadeiro relacionamento com Deus, que é eterno.

 
Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.

Saudações,

Kurt Hilbert
     UM LIVRE DISCÍPULO DE CRISTO

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