Se o Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo
(Apocalipse 13:8), significa que a Criação acontece no ambiente da Redenção; e
não a Redenção acontecendo no ambiente da Criação, conforme ensina a Teologia.
Segundo a Teologia prevalente, Deus criou e,
como algo deu errado, Ele deu um jeito de amor nas coisas, enviando Seu Filho
para resgatar aqueles que, ouvindo acerca d’Ele, venham a crer; e, então, se
continuarem firmes na fé, que significa estar “firmes na igreja”, eles vão para
o céu. Mas quem não ouviu, ou ouviu e não “creu” — sendo que estar numa
“igreja” é o atestado de que se “creu” —, esse, ou esses muitos (aliás, a
maioria absoluta), estão danados num inferno que é visto como um tempo (cronos)
sem fim.
Desse modo, a “igreja” é o centro de todas as
coisas que concernem ao céu e ao inferno, assim como ela é a parte da
humanidade que está salva e tem a obrigação de fazer a outra parte ouvir,
aceitar, e entrar para a “igreja”, a fim de ser realmente salva.
É de tal sorte o narcisismo da “igreja”!
Essa é a ideia que habita o inconsciente e o
consciente da “igreja” e do cristianismo. E é também essa ideia que prevalece
nas três religiões monoteístas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o
islamismo.
Nesse caso, por mais que Deus ganhe, somente
Ele pode explicar como ganhou alguma coisa, visto que a maioria absoluta de
Suas criaturas vai direto para o inferno. A menos que a alegria de Deus fosse
feita das gargalhadas do diabo...
Entretanto, essa é a simples implicação de se
crer que o Deus Criador é um, e que o Deus Redentor é outro; ou que a Graça
comum é uma, e a Graça especial é outra; e que os filhos de criação de Deus são
todos os perdidos, e os filhos salvos são apenas os que se tornaram cristãos.
O resultado de se crer que há uma dualidade
entre Criação e Redenção, na prática, é aquilo que nós chamamos de História da
Igreja. E essa História declara apenas o desastre de tal visão do mundo. Na
realidade, pode-se dizer que a História do Ocidente e, por extensão de
influência e poder, de todo o mundo, é a História de como tal visão de um mundo
dual pode acabar com a Terra – como hoje se vê.
Entretanto, se o Cordeiro foi imolado antes
da fundação do mundo, o mundo foi criado no ambiente da Redenção, e não o
contrário. Ora, tal percepção desconstrói por inteiro o edifício da Teologia
cristã e acaba com o poder imperial que a “igreja” tomou para si, desde
Constantino.
Além disso, toda a narrativa bíblica ganha
sentido; visto que os desastres da Criação e as catástrofes humanas — da Queda
até hoje —, fazem parte da Redenção em processo na Criação; sendo que essa Redenção
é um ato-processo que visa levar a Criação e o homem à plenitude deles mesmos;
o que só poderia acontecer numa Criação que exista já dentro da ambiência da
Graça única.
Se o Cordeiro não fez sacrifício antes de
criar, tudo o mais acontece como “remendo de pano novo em veste velha” (Mateus
9:16), o que se choca com o modo de Jesus agir. E Ele disse: “Eu e o Pai somos
Um” (João 10:30).
Na realidade a visão que a Teologia cristã
tem da Queda e da Redenção é a de “remendo de pano novo em veste velha”. É por
isso que não pode jamais dar certo – como jamais deu.
Quem, porém, crê que tudo o que existe já foi
chamado à existência no ambiente da Graça, esse nunca mais vê o mundo do mesmo
modo; e, em sua mente, jamais a visão das coisas é a mesma.
Mas, como tenho dito, as implicações de tal
percepção estão para além daquilo que a “igreja” deseja, ou concebe aceitar
para si, visto que ela teria que morrer, para poder dar muito fruto (João
12:24).
Somente se na “igreja” houvesse o mesmo
espírito que houve também em Cristo
Jesus, o qual Se esvaziou, Se identificou, e não buscou ser nem mesmo quem era –
Deus – (Filipenses 2:6-7), é que poderia haver algum significado para ela nesta
existência ainda. Do contrário, ela não terá qualquer contribuição espiritual a
dar à humanidade.
Enquanto isto, os planos de Deus não são
frustrados, e Seu Espírito segue abraçando a todas as criaturas; e continua
derramando Graça sobre todos os homens, em todos os lugares, segundo a “ordem
de Melquisedeque” (Hebreus 5:5-6). Pois, tudo e todos os que existem, já estão
designados para voltarem para Ele; pois, pelo Seu sangue, Ele reconciliou
consigo mesmo todas as coisas (2º Coríntios 5:18-20), as quais
já foram criadas sob o signo da reconciliação eterna realizada pelo Cordeiro
antes de todas as criações.
Tal visão, entre outras coisas, nos levaria a
tratar da Criação como quem ministra um sacramento!
No dia em que a visão da fé for a de que a
Criação aconteceu no ambiente da Redenção e da Graça, nesse dia, o culto será a
vida e a vida será o culto; e a catedral será a existência toda; pois, “tudo já
é nosso, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas do presente ou do porvir;
tudo é nosso, e nós de Cristo, e Cristo de Deus” (1º
Coríntios 3:21-23).
(um texto de Caio Fábio d’Araújo Filho)
Está postagem foi para mim um alivio. Nunca fui de ir a igreja. E nunca entendi os ensinamentos.gratidão.
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