O Apocalipse ou
Revelação é o último livro da Bíblia. É muito diferente em conteúdo, tom e
estilo, do resto do Novo Testamento. Os testemunhos primitivos o atribuem a
João, o apóstolo e escritor do Evangelho, que o redigiu cerca de trinta anos
após as viagens de Paulo (aproximadamente entre os anos 90 e 95 d.C.). Descreve
a visão de João do Dia do Juízo Final e dá palavras de encorajamento e de apoio
aos cristãos primitivos, que estavam sofrendo perseguições sob os romanos,
neste tempo. João escreveu o Apocalipse na ilha de Patmos, para onde fora
exilado pelo imperador Domiciano. Dirige-o às Sete Igrejas da Ásia Menor, que
estavam aos seus cuidados, naquele tempo.
A
perseguição dos Cristãos
Pelo fim do século I,
os cristãos sofreram duas ondas de perseguição, sob os romanos. Em 64 d.C.,
Nero acusou os cristãos do incêndio que destruiu a cidade de Roma, e queimou e
crucificou a muitos deles. Algumas décadas mais tarde, o imperador Domiciano
(81 – 96 d.C.) proclamou que era deus e ordenou que seus súditos o adorassem.
Quando os seguidores de Jesus se recusaram a fazê-lo, foram presos, torturados
e mortos.
Também enfrentaram
feroz oposição dos líderes judeus. A tradição dos primeiros cristãos diz que,
após a guerra romano-judaica (66 – 70 d.C.), os cristãos foram proibidos de
entrar nas sinagogas. Eram, portanto, forçados a se reunir em locais secretos.
O
objetivo do Apocalipse
João escreveu o
Apocalipse para fortalecer a fé dos cristãos, reprimidos pelas autoridades
romanas. Sua principal mensagem foi que Deus triunfaria sobre o demônio (o
imperador romano) e ele lhes garantia que o Dia do Juízo estava iminente.
O
conteúdo do Apocalipse
O livro do Apocalipse
pode ser dividido em quatro visões-chave. A primeira retrata Cristo entre as
sete igrejas; a segunda mostra sete trombetas, sete vasos de ira e um
pergaminho com sete selos; a visão seguinte é da volta de Cristo no Dia do
Juízo; e a última é dos novos céus e nova terra. Os três primeiros capítulos do
Apocalipse são uma introdução do livro inteiro. Explicam que João recebeu suas
visões de um anjo, que age como intermediário do Cristo ressuscitado.
As
sete igrejas da Ásia Menor
Essas igrejas não eram
lugares físicos de adoração, mas comunidades de pessoas que acreditavam em
Jesus. Havia mais de sete comunidades cristãs na província romana da Ásia Menor
àquele tempo. O motivo pelo qual João dirige sua carta somente a sete pode ser
em razão de serem centros postais. Éfeso, Tiatira, Sardes, Pérgamo, Filadélfia,
Laodiceia e Esmirna estavam todas situadas numa estrada circular em torno da
parte centro-oeste da província. Teria sido fácil que a carta de João
circulasse nas comunidades cristãs que rodeavam estas cidades principais.
O
destino dos doze
João foi perseguido
provavelmente porque se recusou a adorar o imperador Domiciano. Vários dos doze
primeiros discípulos sofreram destinos parecidos. Diz-se que Pedro morreu como
mártir em Roma (provavelmente durante a perseguição de Nero, em 64 d.C.).
O livro dos Atos dos
Apóstolos registra que Tiago, irmão de João, foi morto por Herodes Agripa
(12:2). A tradição cristã diz que André pregou na Cítia, mas teria sido
crucificado na Acaia. Outros escritos cristãos primitivos mencionam a morte dos
discípulos restantes, mas a verdade histórica destes relatos é incerta.
Escritos
apocalípticos
O Apocalipse foi
influenciado por um estilo de escrita judaica conhecido como “apocalíptico”,
que é a palavra grega para “revelação”. A literatura apocalíptica surgiu em
torno do ano 200 a.C., quando os judeus sofreram ocupação e perseguição religiosa
sob os governadores sírios (selêucidas). Os selêucidas proibiram a adoração
judaica e obrigaram os judeus a se juntarem a eles nas celebrações pagãs. Os
escritores apocalípticos aludiam às profecias do Antigo Testamento sobre o
reino messiânico. Contrastavam o Reino de Deus com seu sofrimento e ofereciam
uma visão de esperança aos judeus. Os escritos apocalípticos muitas vezes
contêm referências e símbolos tirados do livro de Daniel.
Compreendendo
o Apocalipse
É difícil interpretar
o Apocalipse, porque usa uma linguagem codificada, um estilo comum dos escritos
apocalípticos. Sua mensagem pode ser mais bem compreendida quando vista em
relação com fatos, profecias e símbolos do Antigo Testamento.
Alusões
ao Antigo Testamento
A última parte do
Apocalipse lembra os primeiros capítulos do Antigo Testamento (Gênesis caps. 2
– 30). Ela descreve o Paraíso como um novo Jardim do Éden, que contém a “árvore
da vida”. A árvore simboliza a vida eterna para os seguidores de Jesus Cristo.
A visão de João do Dia
do Juízo Final descreve sete anjos derramando sete vasos de ira sobre a terra
(Apocalipse 16). Cada vaso despeja uma praga. Lembram as dez pragas que Moisés
fez cair sobre os egípcios (Êxodo 7 – 11).
Simbolismo
O Apocalipse baseia-se
em linguagem simbólica que, na maior parte, deriva das escrituras do Antigo
Testamento. Os números do Apocalipse têm um significado simbólico. O sete
aparece freqüentemente. Na tradição hebraica, representa a perfeição e a
completude. O Apocalipse retrata sete igrejas, sete visões, sete selos, sete
trombetas, sete vasos de ira e sete anjos.
O número seis
simboliza a imperfeição. João descreve uma besta, que ilude o povo com falsa
adoração (Apocalipse 13:11-18). A besta é representada pelo número 666, que é o
código do imperador Nero. Todas as letras gregas e hebraicas têm um valor
numérico. O valor total do nome de Nero em hebraico é 666.
O
cordeiro
O cordeiro é um
símbolo recorrente no Apocalipse. Representa Jesus, que se ofereceu a si mesmo
como sacrifício definitivo pela humanidade. Esta imagem lembra o Cordeiro
Pascal, que foi sacrificado para salvar os israelitas no Egito (Êxodo 12:3).
A
queda de Babilônia
Uma das visões de João
descreve uma prostituta conduzindo um dragão escarlate (Apocalipse 17:3-5).
Refere-se à “Babilônia”. No Antigo Testamento, o Império Babilônio é o inimigo
do povo judeu, e no tempo da igreja no Novo Testamento, representa o Império
Romano como inimigo.
O
pergaminho dos sete selos
O julgamento final da
humanidade é revelado a João por um anjo, que abre os sete selos do pergaminho.
João tem sete visões, que representam destruição, sofrimento e fome. Esta
imagem vem de Jeremias, que previu o fim do mundo: “Eu os destruirei com
espada, fome e praga” (Jeremias 14:12).
-
Imperador Domiciano: Domiciano ordenou que o povo o chamasse
de “Nosso Senhor e Deus”. No livro do Apocalipse, é representado como a besta
blasfema.
-
A ilha de Patmos: Patmos é uma das ilhas gregas. No tempo
de João, era usada pelos romanos para guardar prisioneiros.
-
Arcanjo Miguel: No Apocalipse, Miguel dirige os anjos na
batalha contra Satanás e suas hostes. No Antigo Testamento, é protetor dos
judeus (Daniel 10:21).
- A Besta do Mar: A besta emergindo do mar (Apocalipse 13:1-2)
representa os poderes que perseguem os cristãos. Tem corpo de leopardo, pés de
urso e boca de leão. Isto lembra a visão de Daniel das quatro bestas (Daniel
7:1-7).
Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997
por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.