João 6:35
“Eu sou o pão da vida.
Aquele que vem a mim nunca terá fome;
aquele que crê em mim nunca terá sede”.
Dia desses estava
ouvindo um padre falar num programa de TV. Falava sobre um livro que lançara,
que tratava sobre períodos da vida do ser humano, em que atravessamos momentos
de secura ou de deserto espiritual. Lamentavelmente, não gravei o nome deste
padre nem o título do livro.
Falava ele que há
momentos na vida de toda pessoa, mesmo e também as mais crentes e de vida
cristã ativa, em que há desertos. Ele citava, inclusive, madre Teresa de
Calcutá, que, em seus diários, mencionava que havia momentos em que ela sentia
uma completa ausência de Deus, um completo deserto espiritual (não conheço
esses diários, não posso garantir que ela tenha escrito isso ou não, então fico
com a palavra do padre, sem entrar nos méritos deste tema na vida da madre).
Ele seguia dizendo que na nossa vida, a maior parte da caminhada fazemos em
desertos e, de vez em quando, encontramos um oásis. Os oásis, dizia ele, não
são a regra da vida, mas o deserto sim. E que, nos momentos de deserto, devemos
manter nossa disciplina espiritual para manter a nossa vida de oração e de
conduta cristã ativa. Falava ele ainda que a oração deve ser mantida
disciplinarmente, mesmo nos momentos em que não sentimos vontade de orar, e que
isso nos fortalece. Em suma, ele falava que nos momentos de secura e de deserto
espirituais, devemos nos manter firmes na fé, e isso nos traz grande
crescimento.
Fiquei por longo
tempo pensando a respeito disso. Nos dias posteriores a essa entrevista, volta
e meia me lembrava do que esse padre falara e, francamente, encontrava em minha
própria vida indícios de que o que ele dissera estava certo. Eu mesmo passei –
como acho que muitas pessoas passam – por profundos momentos de deserto e
secura espiritual. Passei por momentos de abandono, de solidão, de profunda depressão,
de perdas de valores psicológicos e materiais, enfim, deserto e secura não
faltaram em minha vida. Inclusive, tudo isso se deu em épocas que eu andava
bastante ativo em atividades relacionadas com a vida na igreja, com cargo
eclesiástico e tudo.
Tudo o que esse padre
falou fazia sentido em minha vida, e deve fazer sentido na vida de muitos.
Existem, de fato, desertos e securas espirituais em nossas vidas.
Tempos depois,
passeando pelas Escrituras, deparei-me com a passagem acima, cabeçalho deste
texto. Parei nela, meditei nela, orei sobre ela, e minha mente se abriu para o
seu sentido.
Jesus diz, sobre Si
mesmo, que Ele é o pão da vida. Que quem vem a Ele nunca terá fome. Que quem
crê n’Ele nunca terá sede. Mas a parte que me saltou aos olhos e que ficou
gravada em minha mente e em meu coração foi justamente esta: “aquele que crê em mim nunca terá sede”. Não tinha como não ligá-la à imagem de secura
e deserto que ouvira há tempos atrás, naquela entrevista do padre. Aquela
imagem não me saíra da cabeça, a de períodos de secura e deserto espiritual. A
imagem de secura remete à sede, a imagem de deserto remete à falta de água.
Mas, agora, contrapunha-se a estas imagens esta outra imagem que Jesus me
falava através desta Palavra: “aquele que
crê em mim nunca terá sede”.
Então, entendi.
Eu não podia negar
que eu sempre buscara a Deus através de Cristo, que eu cria n’Ele com todas as
forças que me eram possíveis. Mas eu tinha – e por longos períodos, não curtos
– momentos de secura e de deserto. Como era possível? Será que não O buscava o
suficiente? Será que não cria n’Ele o bastante? Onde eu estava falhando? Pois,
conforme podia entender pela Palavra, eu, em O buscando e crendo n’Ele, não
poderia ter esses momentos de secura e de deserto, pois a Palavra diz que “nunca
terá sede”. E nunca é nunca, não
é de vez em quando; é simples assim.
Ele não disse “aquele que crê em mim de vez em quando não terá sede”.
Ele disse, claramente, “nunca terá sede”. Então, somando A
+ B, concluí que não pode haver períodos
de secura e deserto espirituais. Materiais, talvez; espirituais, nunca!
Depois de pensar
bastante a respeito, de refletir, de ponderar comigo mesmo, e de orar sobre
isso, cheguei a uma conclusão: eu estava, sim, O buscando; eu estava, sim,
crendo n’Ele. Eu não tinha que me preocupar com isso, me recriminar por causa
de uma suposta pouca busca ou pouca fé. Não. Eu apenas não tinha me dado conta,
não tinha me caído a ficha, de que Ele
já me dera, pela busca que eu fazia d’Ele, pela fé que eu punha n’Ele, todas as condições de nunca mais ter fome
ou sede espiritual. Eu apenas ainda não tinha percebido isso. Eu já tinha
tudo isso, bastava me dar conta, bastava saber. Agora eu sei.
É bem possível que
você, com quem eu tenho o prazer de compartilhar essas linhas, também já tenha
tudo isso. Que já tenha todas as condições em si de nunca sentir-se num deserto
espiritual ou com secura espiritual. Pare e pense. Você busca a Deus? Você crê
n’Ele? Você vive conforme Suas palavras? Sim? Sim mesmo? Então, dê-se conta que você já tem tudo do que precisa, você já é tudo o que precisa! Isso não são palavras de efeito, blábláblá de autoajuda ou coisas do
tipo. São palavras d’Ele!
Agradeço a Deus por
ter sintonizado a TV naquela entrevista, agradeço por aquele padre ter levantado
esse assunto, agradeço por essa situação toda, pois ela me fez pensar a
respeito, refletir, e buscar uma resposta às securas e desertos espirituais que
tinha até então. Tinha, não tenho mais.
Agora sei que podemos
ter períodos de deserto e secura em nossas vidas exteriormente, por circunstâncias difíceis que se nos apresentam,
por momentos de lutas, por todas essas coisas. Mas que essas coisas são coisas
externas, são momentos e circunstâncias que podem nos rodear, no nosso
dia-a-dia, em casa, no trabalho, na sociedade – e mesmo na igreja. Mas,
enquanto nos dermos conta de que Deus está conosco, que estamos n’Ele e Ele em
nós, interiormente jamais haverá nem um
período sequer de secura ou deserto. Pode haver secura ou deserto material,
mas nunca espiritual. Haverá pão e água
para a nossa alma e, por tabela, para nossa vida como um todo, pois deve estar
na nossa mente e no nosso coração, full-time,
esta palavra de Jesus: “Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a
mim nunca terá fome; aquele que crê
em mim nunca terá sede”.
Não há deserto, não há secura!
Não estou desdizendo
o padre da entrevista na TV, seu livro e o tema deste. Não. Sigo concordando
com grande parte do que ele falou, mas faço a ressalva sobre esses hiatos de
tempo, onde aparecem secura e desertos. Como disse há pouco, agradeço por ter
me deparado com esse tema. Mas, efetivamente, devo concordar e me dar conta do
que Jesus disse: só terei fome e sede
espiritual se me esquecer das Suas palavras.
E, para melhorar um
pouco mais, logo adiante Ele nos dá mais uma indicação. Uma indicação da
importância que nós temos com relação aos nossos irmãos, nossos semelhantes,
com relação ao ambiente em que vivemos e nos movemos: nós somos o que Ele falou. Nós apenas precisamos decidir ser. Nós somos os agentes da vida eterna em nosso
meio. Nós temos as condições de saciar a sede e a ser um oásis quando nosso
semelhante estiver passando por algum deserto espiritual. Vejamos como: “Quem crer em
mim, como
diz a Escritura, do seu interior fluirão
rios de água viva” (João 7:38).
Estejamos em Deus através de
Cristo. Esta é a condição. E sejamos também fonte de vida a quem está conosco!
Por hora é isso, pessoal. Que a
liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert