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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Quebrando Paradigmas

João 4:27


Naquele momento os seus discípulos voltaram e ficaram surpresos ao encontrá-lo conversando com uma mulher*.

* Percebe-se que o fato das Escrituras mencionarem tão pouco o papel feminino deve-se, sobretudo, a questões sociais de época. Não caberia hoje. De qualquer modo, Jesus quebrava paradigmas.

A palavra paradigma, pelo dicionário, significa modelo, padrão.

Falo nisso porque nossa sociedade, em pleno século XXI, ainda está cheia de paradigmas nocivos. Um paradigma não é, inerentemente, nem bom nem mau. É apenas um paradigma. Como, em que situação e com quem se aplica, isso é que define se ele pode ser considerado bom ou mau.

Existem bons modelos, bons padrões, bons paradigmas: a educação no trato com as pessoas, as convenções do bom funcionamento da sociedade, a boa alimentação, etc. Outros há que não são tão bons assim: as incompatibilidades sociais, religiosas, a falta de consideração com o semelhante, etc.

E há um que é o pior de todos: a intolerância. E há outro, não quero esquecer, que é irmão da intolerância: o preconceito. Intolerância e preconceito é uma dupla que esculhamba o bom andamento da vida neste nosso planeta azul.

Cristo afrontou essa dupla.

A intolerância que havia no antigo povo hebreu, baseado em sua própria Lei, para com o costume religioso e, algumas vezes, social, dos povos vizinhos, por exemplo, era notória. Não quero aqui entrar no mérito se essa intolerância, do ponto de vista espiritual ou divino, se fazia ou não necessária. Quero apenas citar que ela existia.

Um exemplo pontual é a intolerância que havia dos judeus para com os samaritanos.

Para se entender o caso um pouco melhor, a região da Samaria estava incrustada dentro do território israelita, fazia parte da nação, era parte da “terra prometida” e também Samaria era local onde “manavam leite e mel”. O motivo porque da intolerância judaica para com seus irmãos samaritanos? É que os israelitas se consideravam um “povo puro”, não se misturavam com outras gentes, “não se davam em casamento”, para não “macularem” sua imagem de “o povo de Deus”. Isso não é crítica, é fato histórico. Durante e depois do exílio babilônio (quando foram invadidos e tornados prisioneiros, arrastados cativos), a região da Samaria foi ocupada, por intervenção militar babilônia, por pessoas consideradas “impuras”, de outros lugares. Assim, miscigenaram-se, maculando a tal “pureza”. Passados alguns séculos, quando houve o retorno de grande parte dos judeus à sua terra, estes procuraram não mais ocupar aquela região específica, pois os samaritanos não eram mais os mesmos, estavam impuros, misturados, mesclados. Eram um povo plurirracial.

Assim os judeus consideravam – ou desconsideravam – os samaritanos. Os próprios judeus experimentaram o revés do caldo da sua sopa discriminatória na época do nazismo, mas esta já é outra história. O fato é que, em ambas as situações, a intolerância é sempre reprovável. Não há justificativa para ela! Somos todos iguais – pelo menos deveríamos saber que somos.

Voltando ao foco, a intolerância entre seres humanos é um câncer que carcome a humanidade. Junto à intolerância, vem seu irmãozinho preconceito. Andam juntos, normalmente. Não se desgrudam, os danadinhos. O vírus da intolerância e do preconceito produz metástase no organismo social, a ponto de eliminarem células saudáveis a rodo. Passam-se as épocas, e hoje é como no tempo de Cristo, mas em outras escalas, focos e proporções.

No momento dessa passagem bíblica acima citada, Jesus e seus discípulos passavam de caminho pela Samaria. Os judeus nem mesmo gostavam de passar por lá, preferiam contornar a região, mas Jesus, desafiando um pouco os costumes convencionais, juntou sua turminha e resolveu dar um rolé por lá. Enquanto que a turma ia comprar mantimentos, Jesus ficou sozinho a observar o movimento, dar uma sacada no que rolava em volta, quando fez um troço “assustador”. Foi falar com um samaritano. Não, pior ainda: com uma samaritana.

Quebrou dois paradigmas de uma só vez: foi trocar um dedinho de prosa com alguém considerado inferior e – pasmem – com uma mulher. Naquele tempo, um rapazote não se dirigia a uma rapariga, nem em público, muito menos em particular, como era este o caso agora. E imagine um judeu chegar junto a uma samaritana! Era quase um caso de apedrejamento! Por isso seus discípulos ficaram de boca aberta ao se depararem com a cena, quando voltavam das comprinhas.

Mas Jesus tinha seus motivos – e bons. Ele demonstrou que todos os povos são “povo de Deus” e que não há diferenças de direitos entre os sexos. Você pode ler o desdobrar da história deste encontro Jesus/samaritana no capítulo 4 do evangelho de João, não vou entrar em pormenores aqui.

Abordei o tema para que possamos refletir. Hoje, nós cristãos, não andamos com a duplinha de irmãozinhos, e intolerância e o preconceito, a ditar os rumos do nosso coração, dos nossos pensamentos, das nossas palavras e atos? Quando vamos nos dar conta de que, se quisermos realmente ser seguidores de Cristo, temos que aprender a romper com paradigmas nocivos, que são contrários ao amor que Cristo veio nos trazer, aqui ao nosso planeta azul?

Conseguimos identificar maus paradigmas (estes muitas vezes alicerçados em cima de interpretações descontextualizadas de “leis” e “escrituras”) e romper com eles? Se quisermos mesmo, acho que sim.

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.


Saudações,

KURT

ELMER HILBERT

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