Então o SENHOR disse a Abrão: “Saia
da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra
que eu lhe mostrarei”.
Dizemos, num ditado popular, que “temos que matar um leão
por dia”. Ok, bucolicamente é uma frase legal e de efeito, mas não gosto muito
dela, pois insinua a extinção do pobre felino e, em se extinguindo um desses
bichanos a cada dia, adeus reis da floresta! Falando sério agora: é uma frase
de efeito que nos chama a atenção para a luta de cada dia, tal qual um
gladiador romano numa arena, lembrando-nos que a vida não é fácil. Por esse
prisma, é uma frase válida. Mostra-nos que não deve haver zona de conforto.
Zona de conforto, manja? Aquela situação em que podemos nos
encontrar esporadicamente, onde nos deixamos seduzir pelo dolce far niente. De vez em quando, uma zona de conforto é boa. Mas
ela não pode ser o nosso modo de vida, o nosso padrão. Temos que saber que a
vida é uma luta também. A natureza nos ensina isso. Deus a projetou – a
natureza – de tal forma que, pela seleção natural das espécies, seguem
transmitindo seus genes às gerações futuras aquelas que melhor se adaptam às épocas
e situações geográficas que se apresentam. Quem disse que criacionismo e evolucionismo
não podem andar juntos? Quem disse que não coexistem? Mas isso já é outro papo.
Voltando ao assunto deste texto, é preciso saber evitar a
zona de conforto, pois ela nos deixa relapsos e descuidados, preguiçosos
natural e espiritualmente. E preguiça não é um atributo muito louvável. Proverbialmente,
já falava o coletor de ditos: Observe a
formiga, preguiçoso, reflita nos caminhos dela e seja sábio! Ela não tem chefe,
nem supervisor, nem governante, e ainda assim armazena as suas provisões no
verão e na época da colheita ajunta o seu alimento. Até quando você vai ficar deitado, preguiçoso? Quando se levantará de
seu sono? Tirando uma soneca, cochilando um pouco, cruzando os braços para
descansar, a sua pobreza o surpreenderá como um assaltante, e a sua necessidade
lhe sobrevirá como um homem armado (Provérbios 6:6-11). Mas hein? Pois é!
A passagem bíblica que encabeça este texto foi vivida por
Abrão – quando ele ainda não era Abraão. Ele recebera uma mensagem divina,
dando-lhe uma instrução bastante clara: deixar
a zona de conforto e rumar ao desconhecido. Desconhecido para ele, Abrão,
não para o emissor da mensagem. A sequência da história nos mostra que Abrão
acatou a ordem e, depois, as consequências são sentidas por todos nós até hoje
– ele foi ricamente abençoado.
Destrinchando a mensagem, Deus diz a Abrão que ele saia da sua terra. Ur dos caldeus
deveria ficar para trás. O que podemos aprender com isso? Que não temos, aqui
nesse nosso planetinha azul, uma morada definitiva. Espiritualmente, nossa alma
não pertence à terra, mesmo que o
nosso corpo esteja naturalmente ligado à terra. Temos que saber que somos
peregrinos na terra, que temos uma origem e um destino maior. O que mais
podemos aprender? Que devemos nos desprender do materialismo, em busca de algo
que, muitas vezes, não sabemos bem o que é, mas confiamos que Deus nos mostre,
conforme seguimos adiante. Que mais? Que não nos arraiguemos ao que é menos
importante, ao passo que busquemos seguir o que o Senhor, em Sua Palavra, nos
indica. Que mais ainda? Bem, cada um pode concluir mais coisas que essa
passagem nos ensina.
Seguindo a cirurgia na mensagem, o Senhor segue dizendo a
Abrão: saia do meio dos seus parentes. O que quer dizer “sair do meio dos
parentes”? Jesus, no meio dos seus parentes naturais, também pouco pode fazer,
pois eles não criam n’Ele, lembra? Na nossa vida natural – veja se você
identifica algo conhecido com o exemplo – também temos parentes, membros da
família, primos, tios, cunhados; gostamos mais de alguns, menos de outros...
Muitos nos ajudam e contribuem para nossa edificação... Outros só querem saber
de dar pitaco onde não são chamados – identificou algo? Não é assim? Deus não
nos ensina a abandonarmos nossos parentes; Ele nos mostra que temos que nos
desvincular das opiniões alheias, que estas não devem balizar nossa vida; Ele
nos ensina que temos que pautar nossa vida em nossas próprias opiniões. E é bom
– muito bom mesmo! – quando nossas opiniões são edificadas segundo a Sua
Palavra. Saia do meio dos seus parentes
quer dizer saia do meio das opiniões
daqueles que acham que você os deve seguir ou que você lhes deve algo. Não
devemos nada a ninguém; podemos e devemos ser gratos às pessoas, mas, dívidas,
só as temos com Deus. D’Ele somos devedores sempre, por Sua graça e Seu amor!
Às pessoas só devemos o nosso amor.
Saia da casa de seu
pai, segue dizendo. Isso, obviamente, não quer dizer deixar o
papai e a mamãe para trás, nem a sua casa, quando ainda não é tempo. Quer
dizer, isso sim, que devemos saber que, na vida, temos que fazer nosso próprio
caminho, nossa própria história. Não temos que ser, necessariamente,
continuadores dos nossos pais, continuadores de seus valores ou da sua visão
sobre as coisas. Temos que formar nossas próprias vidas, nossas próprias
verdades, nossas próprias estruturas. O legal é que quando, tanto nossos
antepassados quanto nós – e nossos descendentes –, decidimos construir nossas verdades,
valores e estruturas sobre os fundamentos alcançados por Deus, nossas
“histórias de vida” serão muito parecidas. Mas temos que ter nossas
experiências. Aproveitemos e aprendamos com a teoria dos pais, mas vivamos
nossas próprias práticas.
Conclui a Palavra dizendo: vá para a terra que eu lhe mostrarei. Aqui se sublima a mensagem.
A “terra” aqui, para nós em nossos dias, é a nossa vida e o nosso futuro. Não é
uma “terra” física, tal qual a terra prometida de Canaã daquele tempo
abraâmico, mas a própria “história da nossa vida”. Em última análise, a “terra
prometida” a nós é a eternidade junto a Deus, por meio de Cristo. Eu lhe
mostrarei, Ele diz. Quando confiamos em Deus, quando seguimos Sua Palavra,
quando vivemos segundo Sua orientação, não nos perdemos, mas alcançamos a nossa
meta. Quando Cristo é o ponto central na nossa vida, quando a Palavra é a nossa
bússola, peregrinamos seguros e estamos amparados. Saímos da zona de conforto,
mas nos confortamos no Senhor.
O Senhor nos diz, em outras palavras:
“Tua vida, tua
essência, tua alma, não são dessa terra material, mas vem de Mim. Desliga-a da
materialidade terráquea, dirija-a à espiritualidade celestial. Desliga tua alma
das opiniões e verdades vigentes no mundo, constrói nela tuas próprias opiniões
e verdades, e baseia-as em Mim. Não siga a tua vida segundo as tradições
mundanas, herdadas de teus antepassados, mas alicerça-a em Mim. Saia das
tradições mundanas e adentre a doutrina de Cristo. Esta terra eu quero te
mostrar: uma vida de amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade,
serenidade e domínio próprio. Tu mesmo dominarás a tua vida, quando ficares
ligado a Mim. Sai da zona de conforto e conforta-te em Mim. Seja bem-vindo, Meu
Filho!”.
Perdoe a liberdade poética que atribuí às Palavras do
Senhor, mas é assim que me sinto, em liberdade poética, quando me vejo absorto
em Suas Palavras.
Convido a você também: Vá para a terra que o Senhor lhe
mostra!
Neale Donald Walsch, um pensador moderno da espiritualidade
humana, tem uma frase da qual gosto muito. Diz ele que “nossa vida começa onde
termina nossa zona de conforto”. Ao que parece, foi o mesmo recado que Deus
enviou a Abrão.
Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de
Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert