Dentro deste contexto, gostaria de comentar um pouco sobre a visita do papa Francisco, que esteve no Brasil na semana passada. Muito já se falou e se escreveu sobre isso, mas umas linhas mais não farão mal. Então, vamos lá.
Estou entre aqueles que tiveram uma excelente impressão das palavras e atitudes do pontífice católico.
Ele foi saudado como celebridade, mas não se portou como tal, ao contrário, reiterou várias vezes que Cristo é o centro.
Chegou dizendo que não “trazia ouro nem prata, mas o que de mais importante lhe fora dado: Jesus Cristo”, parafraseando uma parte da fala de Pedro em Atos 3:6.
Sempre que pode, andou num carro simples, com os vidros abertos para saudar as pessoas, pois entende que um sacerdote não deve ostentar.
Quando utilizou a papa-móvel, o fez com os vidros laterais retirados, pois disse que não podia visitar amigos “dentro de uma caixa de vidro”.
Nos seus pronunciamentos, utilizou palavras simples e as carregou com sentimento, como deve ser. Transpareceu verdade e sinceridade em cada colocação.
Criticou com veemência a centralidade que o dinheiro adquiriu em todos os meios – inclusive nos religiosos – salientando que esta postura exclui as duas pontas da sociedade – as crianças e os idosos.
Falou que a igreja não pode ficar enclausurada em seus dogmas, mas deve sair em busca das pessoas, ir ao encontro delas.
Não se meteu em questões políticas quando questionado sobre o que achava dos protestos no país, apenas aconselhou aos jovens que “não se deixem manipular”.
Puxou a orelha da sociedade como um todo, quando escancarou a realidade da miséria humana, falando sobre as crianças que morrem de fome. “Como alguém pode ir dormir em paz com isso?”, perguntou. É algo que todo mundo vê, mas quase ninguém faz algo. “A mi no me importa”, disse, se quem ajudasse na alimentação e na educação das crianças fossem os católicos, os protestantes ou quem quer que seja, mas importava, sim, que as crianças fossem ajudadas. E conclamou a todos para essa ajuda.
Falou que alcançamos a Deus pela Sua graça e misericórdia, não por nossos méritos. Mas que nossos atos precisam ser coerentes com o agir de Cristo. A fé é graça divina, mas o que fazemos com ela é responsabilidade nossa. Temos responsabilidade com Deus, quando a temos com o nosso semelhante.
Usou de senso de humor quando disse que preferia morar e conviver num local dividido por mais de quarenta pessoas no Vaticano – e não na residência papal privada –, para economizar com o psiquiatra, pois ele necessitava desse contato com gente.
Falou que a Igreja Católica carrega erros do passado – e do presente – e que deve “estar em constante reforma”. Aqui, um aparte meu: Fantástica essa colocação, pois a Igreja de Cristo não é a denominação A ou B, mas o conjunto de todos os cristãos que orientam sua vida pelos ensinamentos de Cristo. E, como “a Igreja é o corpo de Cristo”, é um órgão vivo, como todo o corpo o é. E, como órgão vivo, não é imutável, mas está em constante transformação buscando estar à altura de Cristo. Somos todos iguais, sujeitos a erros, e necessitamos da graça de Deus para seguirmos adiante.
O papa mostra toda a sua humanidade e humildade, quando constantemente pede que se reze por ele. Nada de “infalibilidade papal”, e tudo de um líder humilde, que sabe de suas limitações humanas.
Numa caminhada no Rio, em uma comunidade carente, o papa encontrou-se com um grupo de evangélicos e socializou-se com eles, rezou com eles, os abraçou – e por eles foi abraçado.
Falou que as diferenças – religiosas ou não – devem ser sempre tratadas com respeitoso diálogo, sem preconceitos nem ódios.
Já numa entrevista no avião, retornando a Roma, posicionou-se de forma inclusiva quando questionado sobre a questão dos homossexuais – que é um ponto delicado dentro da igreja. Simplesmente disse que “se uma pessoa homossexual busca a Deus com sinceridade, quem sou eu para condená-lo?”
Poderia citar mais coisas, mas essas já me bastam. Relacionei, como dá para ver acima, somente pontos virtuosos do pontífice. É claro que ele também carrega falhas – como todos carregam –, mas Cristo já nos ensinou a nunca julgarmos, pois, “com a mesma medida que julgarmos, seremos julgados”.
Eu sempre coloco uma frase, quando questionado sobre diferenças religiosas. Digo assim: “Se temos 10 pontos a tratar, possivelmente concordaremos em 6 ou 7 deles, e discordaremos em 3 ou 4. Bem, trabalhemos efusivamente os pontos concordantes, que os discordantes se resolverão com o amor e a sabedoria de Cristo”.
Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, certamente espalhou um tiquinho do amor de Cristo entre nós. Que possamos aprender com ele e utilizá-lo.
É isso.
Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert
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