Mateus
23:13
“Ai
de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo”.
Eu me preocupo por demais com o
legalismo cristão. Legalismo é o apego
exagerado a normas e procedimentos legais. Se você ler o capítulo 23 de
Mateus, verá que Jesus teceu inúmeras críticas aos mestres da lei religiosa e
aos fariseus (estes eram um ramo influente da comunidade religiosa judaica nos
dias de Jesus; eram considerados peritos em religião; obedeciam com muito rigor
às leis religiosas, bem como à tradição interpretativa que haviam estabelecido;
Paulo, o futuro apóstolo de Cristo, era um jovem e atuante fariseu antes da sua
conversão). Importante dizer que Jesus não criticou a todos os mestres da lei e fariseus; criticou aos hipócritas.
Em outro momento, esses mesmos
caras haviam, sob a tutela do legalismo, jogado no meio da multidão e diante de
Jesus uma mulher flagrada em adultério, passível de apedrejamento, segundo a Lei
(João 8:3-11). Queriam testar Jesus, pegá-lo numa sinuca de bico, mas
naufragaram em sua intenção, uma vez que Jesus deu-lhes um baile de verdadeira
sabedoria e amor divino.
Os legalistas são perigosos. Eles
costumam fechar portas, enquanto alegam que apenas querem “salvar” os
“perdidos”. Às vezes acho que são eles que se “perderam” nas entrelinhas.
Baseando-se na Palavra, consideram-se arautos divinos e – mesmo não querendo –
batem a porta na cara de muitos. (Esse não é um assunto agradável, eu sei, mas
é necessário. Tampouco eu quero me colocar como dono da razão – não quero ter
razão, prefiro buscar a verdade...).
Hipocritamente, dizem que não
fazem isso. Ouve-se muitas vezes deles coisas do tipo: “Deus ama o pecador, mas
abomina o pecado...”. Eu também concordo com isso, pois é um argumento correto,
com base legal, e com base no amor de Cristo também. O problema é que é muito
difícil para nós, simples humanos, desassociar o “pecador” do seu alegado
“pecado”. Quando dizemos que “amamos” a pessoa, mas “abominamos” determinada
conduta ou quando “abominamos” a natureza dessa pessoa, não estamos misturando
tudo? Estou só perguntando... (não venho trazer respostas – não tenho essa
pretensão; venho fazer perguntas – para que possamos refletir, de forma
desarmada, diante delas e encontrar as respostas juntos).
Ok, como seguidores de Cristo,
temos a tarefa de instruir nossos semelhantes com base na Palavra, mas, para
isso, não podemos afugentá-los. E às vezes é isso que se faz. Afugenta-se o
alegado “pecador” primeiro, jogando sobre ele “o que Deus abomina”, ou “o que a
Bíblia condena”. Joga-se isso em cima dele, isso o afasta, ele se sente
afugentado, ofendido, discriminado e praticamente apedrejado pela abominação e condenação, e depois quer se correr
atrás dele dizendo que ele é pecador, sim, mas que é um pecador muito amado...
Bela maneira de dar o cartão de visitas do “amor”!
Primeiro, não deveríamos julgar
nem chamar ninguém de “pecador”; isso cabe a Deus avaliar. Deveríamos chamar
nosso semelhante apenas de irmão ou irmã; é isso que somos! Pecadores, todos
somos, isso já está implícito na nossa natureza humana, não é preciso ficar
reafirmando isso o tempo todo... Depois, deveríamos nos aproximar de todos com
amor, com afeto, sem preconceitos, sem julgamentos de valor sobre a conduta ou
a natureza de alguém. Deveríamos nos lembrar sempre que “seremos medidos da
mesma forma que medirmos” (Mateus 7:2). Deveríamos criar, em primeiro lugar, um
clima de harmonia; depois, uma vez bem próximos uns dos outros, aí, sim,
podemos falar e compartilhar nossas crenças e pontos de vista, inclusive e
mesmo com base na Palavra. Podemos até mesmo tocar em assuntos polêmicos, pois
a brandura com que aquecemos o relacionamento nos permitirá isso.
Mas antes devemos tirar as
barreiras que nós mesmos colocamos. Jesus “comia e bebia com pecadores”, e ensinava a seus discípulos
a fazer o mesmo. Por certo Jesus não concordava com este ou aquele procedimento
ou conduta desses “pecadores”, mas ele não permitia que isso os afugentasse. Antes
ele tratava de abrir portas, criar aproximação, com sutileza e habilidade,
depois Ele lhes abria o ensinamento. E ele nunca tentava impor sua doutrina a
alguém. Nunca. Ele falava, e quem aceitasse, beleza. Quem não, ok, ele deixava
nas mãos do Pai... Ou não era assim? E devemos admitir que o modus operandi de Jesus funcionava, não
é mesmo?
Então, por que cargas d’água
muitos cristãos legalistas hoje em dia se comportam como alguns dos mestres da
lei e fariseus da época de Jesus? Why?
Por que há tantos de nós que afugentam aqueles a quem supostamente “querem
salvar”? Muitos querem jogar uma bóia salva-vidas para alguém, mas erram a mão
e jogam uma âncora na cabeça da pessoa.
Quando nos colocamos como donos
da razão, legalistas da Palavra, podemos ter uma certeza: a maioria das pessoas
se afasta.
Tudo isso é um negócio delicado?
É.
Temos que evangelizar, falar,
ensinar, admoestar, mostrar o que diz a Palavra? Claro que sim! Devemos ser
omissos? Claro que não! Tuttavia, carissimi
frateli, piano, piano! Devagar, meus irmãos! Como todo bom batedor de
faltas sabe, precisamos bater na bola com cuidado, tirá-la da barreira e do
goleiro, só assim pode ser gol. Perto da grande área, com a barreira próxima,
não adianta dar uma patada. Com patada na bola, ou a estouramos na barreira, ou
a jogamos na arquibancada... Na imensa maioria das vezes, não é questão de
força, é questão de jeito...
Lembrei de outra coisa: Cristo se
apresentou a nós como um médico para os doentes (Mateus 9:12). Ótima metáfora!
O que faz um médico? Examina o paciente, o diagnostica, depois receita o
remédio, indicando qual remédio deve tomar e em que dose. Não basta saber
apenas qual o remédio; saber a dose é fundamental. A Palavra é um remédio, mas
devemos saber dosá-la. Diz um ditado que “a diferença entre o remédio e o
veneno é a dose”.
Mas eu vou parando por aqui. Não
quero exagerar na dose, esperando estar contribuindo com algum remédio e, no
afã das palavras, transformá-lo em veneno.
Apenas gostaria de salientar uma última
coisinha na palavra de Jesus citada acima: “Vocês
mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam
de fazê-lo”. Vamos tomar cuidado para que o nosso procedimento não nos
impeça de entrar para junto de Deus,
e que não impeçamos de entrar alguém que queira fazê-lo, apenas por julgarmos
que esse alguém não se enquadra nos padrões cristãos formais.
Lembremos: antes de entrar, é
preciso abrir a porta. E para que alguém se sinta bem-vindo, já ensina a
etiqueta do bom comportamento que devemos abrir a porta com amor e com um
sorriso!
Por hora é isso, pessoal. Que a
liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
Saudações,
Kurt Hilbert
UM
LIVRE DISCÍPULO DE CRISTO
Parabensssss!!!!!! Exelente e muito bem aplicado a sua predica! Guardarei em meu coracao, para futuros didaticos. Deus o abencoe ricamente! Paz.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário! Continue participando.
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