Roboão, filho de
Salomão, ignorou as tensões existentes entre as doze tribos do norte e as duas
do sul de Israel. Sua teimosia e rivalidade com Jeroboão, um ex-funcionário da
corte de Salomão, levou as tribos do norte à rebelião, e dois reinos foram
instituídos (cerca de 930 a.C.). O reino do norte foi chamado “Israel” e passou
a ser governado por Jeroboão; o do sul, “Judá”, ficou sob o controle de Roboão.
Israel foi governada por uma sucessão de reis, até ser conquistada pelos
assírios (cerca de 722 a.C.). Os reis de Judá, os descendentes de Salomão,
governaram em Jerusalém até os babilônios invadirem e exilarem as tribos do sul
para a Babilônia (cerca de 586 a.C.).
O
Livro dos Reis
O período dos reis
atravessa cerca de 400 anos, e sua maior parte é registrada em dois livros – 1⁰
e 2⁰ Reis. Eles relatam a morte de Davi (cerca de 970 a.C.), os principais
acontecimentos do reinado de Salomão e a história de Israel e Judá.
O autor dos Reis,
possivelmente um exilado na Babilônia, descreve os reinados de vários reis de
acordo com a atitude deles em relação ao culto a Deus. Não faz um relato de
seus reinados políticos. Muitos reis são avaliados em comparação a Jeroboão,
que incentivou o culto a deuses pagãos: “Ele praticou o mal diante dos olhos do
SENHOR, seguindo o caminho de Jeroboão” (1⁰
Reis 15:34). O rei Davi é tido como um modelo de retidão: “Seu coração não era
totalmente devotado ao SENHOR... como o foi o coração do seu antepassado Davi” (1⁰ Reis 15:3).
As
Crônicas
A história dos reis de
Judá também está em 1⁰ e 2⁰ Crônicas. Em geral, esses livros são atribuídos ao
escriba Esdras. Foram escritos para os judeus que voltaram para Judá, após o
exílio na Babilônia. O principal objetivo do autor era convencer os judeus de
que ainda eram o povo escolhido por Deus.
Os Livros das Crônicas
contêm informações selecionadas sobre os reis de Judá, apresentando-os sob uma
ótica positiva. Falam muito pouco sobre os reis de Israel, descritos como
infiéis a Deus. O autor enfatiza o renascimento religioso liderado pelos
devotos reis de Judá e sublinha o papel de Jerusalém como a “cidade santa”.
Os
primeiros reis de Judá e Israel
Jeroboão rebelara-se
contra o rei Salomão e fugira para o Egito. Após a morte de Salomão, voltou
para Israel e, apoiado pelos anciãos das tribos do norte, desafiou a pretensão
de Roboão ao trono. Pediu que Roboão abolisse os trabalhos forçados e os altos
impostos criados por Salomão. Diante da recusa de Roboão, as dez tribos do
norte aclamaram Jeroboão como o seu rei, e o reino ficou dividido em dois.
Datando
os reis
Os textos bíblicos
oferecem informações detalhadas sobre a duração do reinado de cada rei. É
difícil, contudo, datar esses reinados porque Judá e Israel usavam métodos
diferentes para calcular o primeiro ano de um rei. Muitos reis governaram em
conjunto ou reinaram durante uma parte do reinado de outro, o que causa outro
tipo de problema para se estabelecerem as datas.
Vamos fazer uma lista
dos reis, assinalando com um asterisco (*) os reinados que se superpõem aos
reinados anteriores.
Reis
de Judá:
· Roboão (930 a.C. a 913 a.C.)
· Abias (913 a.C. a 910 a.C.)
· Asa (910 a.C. a 869 a.C.)
· Josafá* (872 a.C. a 848 a.C.)
· Jeorão (848 a.C. a 841 a.C.)
· Acazias (841 a.C. a 841 a.C.)
· Atalia (rainha) (841 a.C. a 835 a.C.)
· Joás (835 a.C. a 796 a.C.)
· Amazias (796 a.C. a 767 a.C.)
· Uzias* (792 a.C. a 740 a.C.)
· Jotão* (750 a.C. a 735 a.C.)
· Acaz (735 a.C. a 715 a.C.)
· Ezequias (715 a.C. a 686 a.C.)
· Manassés* (697 a.C. a 642 a.C.)
· Amon (642 a.C. a 640 a.C.)
· Josias (640 a.C. a 609 a.C.)
· Jeoacaz (609 a.C. a 609 a.C.)
· Jeoaquim (609 a.C. a 598 a.C.)
· Joaquim (598 a.C. a 597 a.C.)
· Zedequias (597 a.C. a 586 a.C.)
Reis
de Israel:
· Jeroboão (930 a.C. a 909 a.C.)
· Nadabe (909 a.C. a 908 a.C.)
· Baasa (908 a.C. a 886 a.C.)
· Elá (886 a.C. a 885 a.C.)
· Zinri (885 a.C. a 885 a.C.)
· Tibni (885 a.C. a 880 a.C.)
· Onri* (885 a.C. a 874 a.C.)
· Acabe (874 a.C. a 853 a.C.)
·
Acazias (853 a.C. a 852 a.C.)
·
Jorão (852 a.C. a 841 a.C.)
· Joás (841 a.C. a 814
a.C.)
· Jeoacaz (814 a.C. a 798 a.C.)
· Jeoás (798 a.C. a 782 a.C.)
· Jeroboão II* (793 a.C. a 753 a.C.)
· Zacarias (753 a.C. a 753 a.C.)
· Salum (753 a.C. a 752 a.C.)
· Menaém (752 a.C. a 742 a.C.)
·
Pecaías (742 a.C. a 740 a.C.)
·
Peca* (752 a.C. a 732 a.C.)
· Oséias (732 a.C. a 722
a.C.)
A
queda de Israel
Com frequência, a
sucessão de reis, no reino do norte, era o resultado de rixas internas e
assassinatos. Apesar da localização vantajosa sobre Judá, com boas rotas de
comércio e economia próspera, Israel não conseguiu manter um reino estável. No
século VIII a.C., o império assírio (com Tiglate-Pileser III) foi gradualmente
assumindo o controle do Oriente Médio, e Israel foi forçado a pagar tributo.
Salmanaser V e Sargão II, finalmente, destruíram Samaria, a capital de Israel,
por volta de 722 a.C., e enviaram os seus habitantes para o cativeiro.
De acordo com a
Bíblia, a queda de Israel foi a consequência direta do desrespeito de seu povo
pela aliança de Deus. Conduzidos por Jeroboão e outros reis sem fé, os
israelitas abandonaram Deus e adoraram ídolos pagãos.
A
queda de Judá
Judá conseguiu
resistir a invasões estrangeiras durante quase 130 anos, até os babilônios
assumirem o poder e tornar Judá um estado vassalo. O rei Nabucodonosor desferiu
vários ataques contra Jerusalém, a capital de Judá, e deportou parte de seus
habitantes. Finalmente, a cidade caiu em 586 a.C., quando os babilônios
destruíram o Templo, saquearam os seus tesouros e enviaram o que restou da
população para o cativeiro.
O Livro das Crônicas
descreve a queda de Judá como um castigo divino. Apesar do alerta de profetas
contra a desobediência a Deus, o povo de Judá continuou a desrespeitar as leis
da aliança e, por isso, sofreu a cólera de Deus (2⁰ Crônicas 36:17).
Os
exílios de Israel e Judá
Em seguida às
deportações realizadas no reino do norte, a Assíria repovoou as cidades de
Israel com habitantes não-israelitas. Muitos dos israelitas dispersados não
voltaram à terra natal, e os que haviam permanecido perderam a sua identidade,
contraíram casamentos mistos e passaram a viver de acordo com os costumes do
povo ocupante.
Após o exílio babilônio,
a terra de Judá foi deixada despovoada e destruída. Alguns exilados retornaram
à terra-mãe, cerca de setenta anos após os primeiros prisioneiros terem sido
levados embora, e outros os seguiram posteriormente. Mas a maioria ficou
dispersa por todo o império persa. Eles mantiveram a sua identidade nacional e
realizavam cultos coletivos em sinagogas. Daniel, um dos profetas, tornou-se um
importante chefe na Babilônia.
Foi a partir dessa
época que o povo exilado de Judá passou a ser conhecido como “judeus” (palavra
derivada de “Judá”). Longe de Jerusalém e sem uma liderança israelita
apropriada, os judeus meditaram sobre a sua história, seus erros e sobre as
leis de Deus. Isso levou ao renascimento religioso que fez surgir o chamado
“judaísmo”. A Mesopotâmia tornou-se o segundo centro mais importante do
judaísmo fora da Palestina. Ao final de seu cativeiro, os judeus falavam em
aramaico (a língua do antigo Oriente Médio), em vez de hebraico.
O
retorno à “terra prometida”
O rei persa Ciro II
conquistou o império babilônio por volta de 539 a.C. e estendeu mais além as
fronteiras, ao assumir o controle do Egito e da área da Turquia atual. Ciro fez
uma política inversa à dos babilônios, e permitiu que a maioria das tribos e
nações sob o controle persa voltasse às suas terras. Alguns judeus voltaram
para Judá, e os que ficaram tiveram permissão para praticar os costumes
judaicos. Ciro ajudou os judeus a reconstruírem o Templo em Jerusalém e
devolveu grande parte do que Nabucodonosor havia saqueado. O Livro de Isaías
descreve Ciro como “ungido” por Deus e salvador dos judeus (Isaías 45:1).
Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.