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sábado, 18 de agosto de 2012

O Deus de Toda a Humanidade


Jeremias 32:27
“Eu sou o SENHOR, o Deus de toda a humanidade. Há alguma coisa difícil demais para mim?”

Os escritos do profeta Jeremias datam de aproximadamente 600 anos a.C.
Num tempo em que o povo hebreu tinha como certa a sua exclusividade de “povo de Deus”, havia lampejos de percepção mais universais a esse respeito. E Jeremias teve um desses lampejos quando falou que Deus é o Deus de toda a humanidade.
Entendo que os escritos do Antigo Testamento, de um modo geral, abrangem as peripécias de um povo que é um reflexo de todos os povos, em todos os tempos. Vou tentar me explicar: toda a trajetória hebraica, desde os patriarcas, passando por seus líderes libertadores, seus condutores e juízes, seus reis e profetas, suas pessoas simples numa terra estranha, invadindo uma terra que lhes fora prometida, lutando contra seus nativos, sofrendo influências das culturas políticas e religiosas em derredor, tudo isso é o reflexo da própria história da humanidade, em todos os tempos. A história de qualquer povo, em qualquer época, se repete ciclicamente mais ou menos como a história do povo hebreu. É como se o povo hebreu “representasse”, de alguma forma, a humanidade como um todo. Enquanto esse povo hebreu se manteve fiel aos seus princípios de conduta moral e à sua legislação e unidade (sintetizadas em Deus e na lei mosaica), foi afortunado em suas empreitadas. Quando se desviava e se corrompia com as concupiscências humanas em sua volta, seu êxito estancava e, não raro, retrocediam. Foram – e, de certa forma, ainda são – um povo que teve suas origens, seu desenvolvimento, seus sucessos e fracassos, suas conquistas e derrotas, suas quedas e retomadas, como praticamente todos os povos no decorrer da História. Me faço entender? Na esperança de que sim, vamos prosseguir.
Esse povo, com suas idiossincrasias próprias, teve um profeta que afirmou que Deus era universal, não só pela criação, mas pelo apego à humanidade como um todo. Era o Deus do povo hebreu, sim, mas, ao mesmo tempo, de todos os povos, de toda a humanidade.
Abordo esse assunto numa época em que há muitas religiões vindicando para si a exclusividade de serem “a religião certa”. O judaísmo afirma ser a “religião certa”; o islã, idem; o cristianismo, também – cito aqui apenas as três grandes religiões ocidentais. E, dentro do próprio cristianismo, não raro aparece uma determinada denominação eclesiástica alegando ser ela – e só ela – a “verdadeira igreja de Cristo”. Não desejo provocar polêmica, apenas estou citando fatos facilmente perceptíveis.
Mas o que quero dizer com isso? Quero dizer que seria bom que tivéssemos a visão que Jeremias teve, a de que Deus é o Deus de todos os homo sapiens – e possivelmente de seus predecessores também! Quero dizer que a percepção de Jeremias nos faz pensar, em pleno século XXI, que a “alma de Deus” vibra em cada alma humana, independente da fé que esse humano professe. Quero dizer que deveríamos parar de pensar em “religiões certas” e começar a pensar em “atitudes certas”, baseadas no sentir divino, em relação a todos os nossos semelhantes neste planetazinho querido em que vivemos.
A questão da “religião certa” é complexa. Fazendo uma analogia com a aritmética, é claro que para um determinado cálculo existe apenas uma resposta correta. Mas existem respostas que, ainda que não absolutamente corretas, aproximam-se muito desta resposta correta. Nem mesmo o cristianismo – como religião – pode vindicar a si a premissa de ser a resposta correta, pois o mais difundido dos seus apóstolos – Paulo – afirma que agora somente conhecemos em parte (I Coríntios 13:12). Ainda na analogia com a aritmética, esta é uma ciência exata; seria a religião uma “ciência exata”? Só para pensar um pouquinho...
Um parágrafo aparte: antes que alguém me xingue, não estou dizendo que Cristo não seja a resposta correta; creio que Cristo é o caminho, a verdade e a vida, como Ele mesmo afirma em João 14:6 e, portanto, Cristo é a resposta correta para a aritmética da nossa vida. Mas Cristo não fundou uma religião em si, o que Ele veio nos trazer transcende a religiosidade: Ele veio nos trazer a vida eterna! E quero dizer neste parágrafo aparte que, como cristão e como livre discípulo de Cristo, acredito que o cristianismo – enquanto religião – é a que mais se aproxima da resposta correta. O ser humano, com suas idiossincrasias, é que comete erros dentro do próprio cristianismo – e em outras religiões também – contribuindo para que o resultado não seja 100% correto. Mas somos imperfeitos e produzimos imperfeições, é a condição humana que nos compete. O consolo que temos é que Deus, por Sua graça – e se permanecemos n’Ele –, cobre as nossas imperfeições. Neste parágrafo, era isso. Ponto, nova linha.
Voltando à questão titular desta crônica, Jeremias percebeu, em meio a uma sociedade e a uma época particulares, que Deus é o Deus de toda a humanidade. De fato, Jeremias por si só não poderia perceber isso. Não era da cultura da sua época, não era uma profissão da fé hebraica, nem mesmo a percepção de Jeremias teve influência da religiosidade de povos vizinhos conterrâneos seus. Não. O que de fato houve é que Deus fez com que Jeremias percebesse e registrasse isso. Foi Deus que “disse” a Jeremias que Ele era – e é – o Deus de toda a humanidade. E, numa época em que a busca pelo relacionamento do ser humano com o Ser divino anda em tão grande crise, Deus nos “diz” de novo hoje que Ele é de toda a humanidade, independente da forma religiosa que as partes desta humanidade possui.
Deus é Deus e ponto; não há “raças de deuses”, nem “religiosidades de deuses”. O ser humano é o ser humano e ponto; não há “raças de seres humanos”, nem deveria haver “religiosidades humanas” que provocassem cismas entre os próprios humanos. Deus é Trino – Pai, Filho e Espírito Santo – e Uno ao mesmo tempo; é a unidade na diversidade. A humanidade é diversa, mas deveria ser una ao mesmo tempo; também deveria haver unidade na diversidade humana! É isso que Ele diz: há um só Deus para a humanidade e há uma só humanidade para Deus. Não há um ou outro “povo de Deus”; há uma “humanidade de Deus”. “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).
Passados 26 séculos desde que Jeremias percebeu isso – e 20 desde que Cristo o confirmou –, que possamos perceber isso também!
No final do versículo citado no título, Deus pergunta: “Há alguma coisa difícil demais para mim?” Pergunto a mim mesmo: perceber a acessibilidade a Deus por e para todos os seres humanos é uma coisa difícil demais para mim?

Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.

Saudações,

Kurt Hilbert
     UM LIVRE DISCÍPULO DE CRISTO

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