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domingo, 24 de fevereiro de 2019

Jeremias



Advertência é a chave para o livro de Jeremias.
O prolongado ministério de Jeremias, que durou mais de quarenta anos, estendeu-se desde o ano de 625 a.C. até poucos anos depois que Judá deixasse de ser um estado, no ano de 586 a.C. Mais de cinquenta anos de apostasia religiosa sob o reinado de Manassés foram, finalmente, seguidos de uma reforma religiosa no governo de Josias (621-607 a.C.).
Jeremias apoiou a reforma com entusiasmo até perceber que o coração do povo não mudava. Dois anos após a morte de Josias, a batalha de Carquemis (605 a.C.) consolidou o domínio babilônico sobre a Ásia Ocidental. A partir daí, Jeremias defendeu a submissão à Babilônia, porém não teve êxito. Por causa da administração dos últimos quatro reis de Judá, dos anos de apostasia religiosa e fraqueza política, tornou-se inevitável a queda de Jerusalém no ano de 586 a.C. e o consequente exílio.
As angustiosas circunstâncias sob as quais Jeremias trabalhava e a extraordinária extensão com que a idolatria tomara o lugar da religião revelada em Judá manifestam-se com clareza nas predições de Jeremias. Igualmente, a angústia espiritual de Jeremias é causada por esta apostasia. Contudo, não era ele um homem pessimista. Era, essencialmente, um guerreiro de Deus, porém um guerreiro que também exercia as funções de atalaia e testemunha.
O primeiro capítulo descreve o chamado de Jeremias para o ministério profético. Os capítulos 2 a 13 capacitam-nos a reconstruir as condições em que ele profetizava, enquanto os capítulos 14 a 33 nos revelam sua consciência de Deus e sua comunhão com Ele (leia também 1:1-19). O guerreiro surge como atalaia de Deus (34:1 – 45:5) e testemunha de Deus (46:1 – 52:34).
Nos oráculos de Jeremias, Deus, o governante moral do mundo, é o Deus das alianças de Israel. Por meio de Israel, procurou atingir fins morais. Em realidade, o “adultério”, por assim dizer, do reino setentrional com os baalins obrigou Deus a dar-lhe “carta de divórcio”, ou seja, mandá-lo para o exílio. Judá, o reino meridional, não tirou proveito da experiência de Israel. Na verdade, superou a Israel na prática de impurezas sexuais, a despeito de rejeitar as acusações de infidelidade religiosa. Portanto, Deus teve de “castigá-la”.
O arrependimento poderia ter suspenso o processo de divórcio (exílio), apesar de seus adultérios, visto como a graça divina é imensa. Todavia, tão arraigada estava a imoralidade em Judá que a nação não era capaz de corrigir-se moralmente. Aos poucos foram desaparecendo as virtudes sociais. Nem os sacrifícios nem os ritos puderam substituir o arrependimento e a justiça.
A espantosa pecaminosidade de Judá significava que o pecado devia ser congênito, por conseguinte, não tinha capacidade moral. Esse pecado nascia de uma natureza pecaminosa. O juízo e o exílio eram inevitáveis. Porém o exílio não era a última palavra.
Voltaria um remanescente para viver sob a administração messiânica, em um ambiente de segurança religiosa e social. O governo justo do Messias sobre um povo reto contribui para explicar a doutrina do novo concerto de Jeremias. As pessoas seriam justas porque teriam o coração renovado. Obedeceriam às leis de Deus de coração, espontaneamente.
A nova aliança, garantindo o perdão e uma dinâmica espiritual interior, transcenderia o legalismo da antiga aliança. Finalmente, pelo sacrifício e morte de Cristo, e mediante a manifestação regeneradora interior do Espírito Santo, a nova aliança se tornaria realidade.
Não se observa princípio algum na organização das profecias de Jeremias. Os oráculos sob os últimos cinco reis de Judá não seguem uma linha cronológica. A ordem dos capítulos, no hebraico, difere da ordem da Versão dos Setenta (Septuaginta), e nesta Versão se observam consideráveis omissões, conquanto de escassa importância. Isto nos sugere uma revisão redatorial distinta. Jeremias ditou as profecias e Baruque as escreveu (36:1-8, 32). O Novo Testamento contém numerosas referências a Jeremias.

J. G. S. S. Thomson

domingo, 17 de fevereiro de 2019

O Alicerce



          I Coríntios 3:11
          Ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo.

          Deixei grifado todo o versículo acima em negrito, de propósito, pois é um dos versículos e ensinamentos bíblicos mais aplicáveis e necessários aos nossos tempos, posto que, em nenhum outro tempo da História desde que Jesus de Nazaré andou pessoalmente neste nosso planetinha azul, houve a tentativa, por parte dos homens, de colocarem tantos outros alicerces à fé.
          Jesus Cristo, que é a Palavra encarnada, o Emanuel – Deus conosco! –, que é a chave de interpretação de toda a Escritura, o centro de toda a manifestação divina, e para quem toda a Bíblia aponta, Ele – e só Ele! – deve ser o alicerce da nossa fé, que professamos sermos cristãos.
          Há de se ter uma certa radicalidade para ser cristão. Aqui, neste contexto, ser radical não é o mesmo que ser intolerante – ao contrário! –, significa ser raiz, e não nutela. A palavra radical e radicalidade derivam de raiz. Esta radicalidade que falo é a mesma que Jesus tinha, carregada de compreensão, compaixão, empatia e amor fraternal. É preciso ter muito bom-senso para ser radical ao estilo de Jesus!
          Vivemos num tempo de várias e variadas doutrinas.
          Nesta passagem bíblica, o apóstolo Paulo explica aos coríntios sobre o verdadeiro alicerce da doutrina à qual eles estavam seguindo, ou seja, Jesus Cristo – Ele próprio, mais do que um personagem histórico, representava o ser religioso/espiritual/vívido encarnado como “a” salvação e “o” alicerce!
          Nos dias atuais, muitos usam esse texto bíblico para denegrirem outras formas de crenças religiosas, outras doutrinas ou filosofias espirituais. Isso é um equívoco! Paulo – o apóstolo – não apontava para outras formas religiosas – ele apontava para o seu próprio umbigo: os cristãos!
          Quando Paulo escrevia esta carta, ele alertava aos seus irmãos não sobre o perigo de doutrinas estranhas ao hoje chamado cristianismo, mas ele chamava a atenção sobre as deturpações que estavam sendo feitas dentro da igreja, introduzindo dentro da comunidade alterações de fundamento sobre a própria sã doutrina cristã. Este era o perigo.
          Hoje, o que vemos em muitos núcleos cristãos é exatamente o mesmo que acontecia naquele tempo: a deturpação da verdadeira mensagem do Evangelho.
          Há doutrinas estranhas sendo ensinadas no seio de muitas das assim chamadas igrejas/denominações. Estão colocando outro alicerce, diverso e estranho ao alicerce chamado Jesus Cristo. Usam o nome JESUS, como uma logomarca, uma grife, sob a qual buscam legitimar toda sorte de criações suas em busca de dinheiro e fama – deles próprios.
          Há teologias de prosperidade, promulgação de milagres como demonstração de poder de pseudo-curandeiros evangélicos, testemunhos de pessoas que ontem não tinham bens materiais e hoje os têm, e por aí vai.
          Alguns tentam justificar pregadores de prosperidade e milagres, alegando que eles e suas denominações fazem coisas boas e altruístas também. Em alguns casos, sim, mas, o fato de eu ser bonzinho com você hoje e roubá-lo e enganá-lo amanhã não atenua meu mau-caratismo. É o mesmo que o agafanhador agafanhar o seu automóvel hoje e, amanhã, vendo-o na chuva no meio da rua, lhe oferecer uma carona.
          O alicerce chamado Jesus Cristo nunca teve nada a ver com materialidade, status social, vida vitoriosa no sentido terreno – caramba! – nada disso.
          O verdadeiro alicerce da doutrina de Cristo é o amor, a fraternidade e o altruísmo – e a salvação!
          O resto é resto.

          Por hora é isso, pessoal. Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem.
          Saudações,
          Kurt Hilbert

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Isaías



Isaías é, merecidamente, conhecido como o profeta evangélico, visto que nos proporciona a mais ampla e clara exposição do evangelho de Jesus Cristo registrada no Antigo Testamento. Semelhante, em determinados aspectos, à epístola aos Romanos no Novo Testamento, Isaías serve de compêndio das grandes doutrinas da era pré-cristã, e se ocupa de quase todos os pontos cardiais na escala da teologia. Acentua de modo especial a doutrina de Deus, Sua onipotência, Sua onisciência e Seu amor redentor.
Em confronto com os deuses imaginários dos adoradores pagãos de ídolos, Deus Se revela como o verdadeiro Deus, o Soberano Criador do Universo, que ordena todos os acontecimentos da história de acordo com um plano-mestre que Ele próprio estabeleceu. Mediante a demonstração de Sua autoridade e inspiração de Sua Palavra, cumpre maravilhosamente as predições pronunciadas muito antes pelos profetas. Ele é o mantenedor da lei moral, que traz a juízo todas as nações ímpias dos pagãos, inclusive as mais ricas e poderosas dentre elas, e destina-as ao montão de cinzas da eternidade, ao passo que Seu povo escolhido vive para Lhe glorificar o nome.
É, acima de tudo, o Santo de Israel que Isaías apresenta como o Senhor que o inspirou a profetizar. Em Sua qualidade de Santo, exige, acima das formalidades da adoração mediante sacrifícios, o sacrifício vivo de uma vida piedosa. Para este fim, apresenta as mais vigorosas persuasões dirigidas à consciência de Seu povo, tanto na forma de advertência e apelos proféticos, como nas ameaças de castigo destinadas a levá-los ao arrependimento. Mas, na qualidade do Santo de Israel, apresenta-Se como inalteradamente obrigado para com Seu povo da aliança, e o fiador fiel de Suas misericordiosas promessas de perdoar-lhes, quando se arrependerem, e libertá-los do poder do inimigo. Está preparado para resgatá-los dos assaltos de seus arrogantes opressores gentios, e trazê-los, da escravidão e do exílio, para a Terra Prometida.
Entretanto, na análise final, até mesmo os crentes israelitas, instruídos nos ensinos do Antigo Testamento e usufruindo de incomparáveis privilégios de acesso a Deus, demonstram ser inerentemente pecaminosos e incapazes de salvarem-se a si mesmos do mal. Seu livramento final só pode provir do Salvador, do Messias divino e humano. Este Emanuel, nascido de uma virgem, que é o próprio poderoso Rei, estabelecerá Seu trono como rei de toda a terra, e porá em vigor as exigências da santa lei de Deus, ao estabelecer a paz universal, a bondade e a verdade sobre o mundo todo.
Contudo, este Messias soberano obterá o triunfo somente como Servo de Deus, rejeitado e desprezado por Seu próprio povo, oferecendo Seu corpo sagrado como expiação pelos pecados deles. Mediante o sofrimento e a morte, libertará a alma não somente dos verdadeiros crentes de Israel como nação, mas também de todos os gentios de terras distantes que abrirem o coração para receberem a verdade. Tanto os judeus como os gentios formarão um rebanho de fé e constituirão os súditos felizes de Seu reino milenar, que está destinado a estabelecer o governo de Deus e assegurar a paz de Deus sobre toda a terra.
Isaías, filho de Amós, provinha, ao que parece, de uma rica e respeitável família de Jerusalém, visto que não somente se registra o nome de seu pai, mas ainda desfrutava de estreita relação com a família real e com os mais altos funcionários do governo. Embora, talvez, tenha iniciado seu ministério profético no final do reinado de Uzias, menciona o ano da morte deste rei, provavelmente 740 a.C., como a época em que recebeu a unção e incumbência especial de Deus no templo (cap. 6). Foi-lhe ordenado que pregasse com intrepidez e de modo inflexível uma mensagem de advertência e denúncia contra seu povo, pela impiedade de conduta e pela idolatria, chamando a nação para um sincero arrependimento e reforma. O idólatra rei Acaz odiou-o e criou-lhe obstáculos, mas foi favorecido e respeitado pelo rei Ezequias (716-698 a.C.), o qual, contudo, não levou em conta as advertências do profeta contra a aliança com o Egito. Isaías foi, provavelmente, martirizado pelo rei Manassés, brutal e depravado filho de Ezequias, isso por volta do ano 680 a.C.

Gleason L. Archer Jr.

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Onde a Vida Acontece Para Valer



A vida está acontecendo e a essência e o que é essencial da vida acontecem nas entranhas dos relacionamentos.
O que se vê da vida é apenas uma parte dela, às vezes, a menos significativa.
No que acontece nos bastidores, no que se segreda, na intimidade, é que estão as verdades e, às vezes, as mais doloridas.
Tudo que acontece aqui fora, neste mundo visível, hoje mais visível que nunca, claro, pode ser o resultado do que não se vê, mas é provável que o que não se vê é muito mais essencial do que o que se está vendo.
No que está visível, todo mundo palpita e oferece respostas, mas, no que não se vê (nossa!), quem cuida, quem lida, quem ajuda, quem assessora, quem acolhe, quem dá conta?
A impressão é que nas redes sociais se têm respostas para tudo, no entanto, a vida está acontecendo nos porões da alma, nas angústias solitárias, nos relacionamentos adoecidos, nas trincas e nas rupturas que afetam para valer a vida.
Lamento que os ambientes que deveriam estar equipados para lidar com os dramas humanos estejam contaminados pelos mercados e seus interesses normalmente desumanos, já que se tornaram sistemas, engrenagens e estruturas onde as pessoas são trituradas e desrespeitadas nas suas tragédias pessoais.
Os sistemas, as engrenagens, as estruturas precisam de gente inteira para dar conta e muitos são usados como mão de obra gratuita e descartados quando se ferem, trincam e não produzem mais.
Lamento pelos “líderes espirituais” que, hoje, se transformaram em “gerentes de negócios e gestores de pessoas” e abandonaram o cuidado individual daqueles e daquelas que lhes procuram e lhes contam suas mazelas e o quanto estão “mortos” por dentro.
Lamento que os interesses dos mercados que não têm almas estejam em primeiro plano em detrimento dos que sofrem.
Sim, os que sofrem são as vítimas e estão cada vez mais feridos, feridos de morte.
Há uma Voz que chama para fora.
Há uma Voz que chama para a vida.
Há uma Voz que tem poder de ressurreição.
É a Voz da Vida que tem um Nome, cujo Nome está sobre todo nome, Jesus de Nazaré.
Felizes os que se encontram com Jesus, só com Jesus e são encontrados por Ele e de mãos dadas seguem a vida.
É, é de mãos dadas com Jesus que o melhor da vida acontece, pois Jesus visita os bastidores, os segredos, as intimidades, e onde Ele chega tudo se sacraliza, tudo se santifica.
Fico com Jesus nos bastidores, no que ninguém vê, só Ele e aqueles que com Ele andam.
Fico no serviço aos anônimos, aos desconhecidos, aos frágeis, aos vulneráveis, aos pobres, aos desgraçados, aos miseráveis, aos que ninguém quer por perto, aos cujas histórias não podem ser contadas nas redes sociais.
O Evangelho responde a estes, e responde a mim, que tenho tanto para melhorar que nunca deveria sequer insinuar julgar alguém.
Há vida fora, aqui fora, lá fora, ao ar livre, nas ruas, nos encontros, nas surpresas, nos improvisos, nos imprevistos, no belo, mas, também, na tragédia, na dor.
Há almas se identificando na vida e de mãos dadas em amor, amizade, esperança, fé, compaixão, misericórdia, sem concorrências, sem comparações, sem competições, estão construindo o Reino, sim, o Reino que tem uma Nova Ordem e cujo Senhor é o Amor.
É neste movimento da vida que estou.

Um texto de Carlos Bregantim