Quando o brilho
do outro revela a sombra em nós.
A inveja é o
amor que adoeceu. É a admiração que se recusou a aprender e preferiu atacar.
Quando o outro prospera, não é o sucesso dele que nos fere, é o reflexo daquilo
que poderíamos ser, mas não tivemos coragem de nos tornar. Santo Agostinho já
advertia: “O orgulho não é grandeza, mas inchaço; e o que está inchado parece
grande, mas não é sadio”. A alma invejosa é uma alma inchada, vive de
comparações, não de vocações.
Nietzsche via
na inveja um sintoma da “moral dos escravos”, aquela que condena o êxito alheio
porque teme a própria liberdade. Freud, por sua vez, chamava isso de narcisismo
das pequenas diferenças, o incômodo que surge quando o outro, tão semelhante,
alcança algo que julgávamos inalcançável. Kierkegaard dizia que “o desespero é
a doença mortal”, e talvez o desespero moderno seja perceber que o vizinho
floresceu no mesmo solo onde eu estagnei.
Na psicologia,
Winnicott lembra que a maturidade é suportar o sucesso do outro sem perder o
próprio valor. O imaturo não suporta o brilho alheio porque vive da comparação,
não da autenticidade. Carl Jung completaria: “Tudo o que nos irrita nos outros
pode nos levar a compreender a nós mesmos”. O que chamamos de crítica moral
muitas vezes é apenas uma confissão pública de inferioridade disfarçada de virtude.
Han observa
que a sociedade do cansaço transformou a inveja em ressentimento crônico: o
sujeito contemporâneo não suporta a felicidade alheia porque perdeu o sentido
da própria. Hannah Arendt chamaria isso de banalidade da inveja, a incapacidade
de pensar por si e a fuga da responsabilidade de agir. Viktor Frankl, sobrevivente
do absurdo, ensinou que a vida sempre tem sentido, inclusive no fracasso; mas
só encontra sentido quem decide se levantar.
Do ponto de
vista da neurociência, Antonio Damásio mostra que emoções como a inveja ativam
áreas do cérebro ligadas à dor física; invejar é, literalmente, sofrer. Já a
psiquiatria clássica, em nomes como Karl Jaspers, identifica na inveja a cisão
entre o eu real e o eu ideal: quanto maior o abismo entre quem sou e quem
gostaria de ser, maior o ódio projetado em quem conseguiu.
O Evangelho,
sempre atual, desvela o mesmo mistério: Caim mata Abel não por maldade pura,
mas porque não suportou ver a oferta do irmão aceita. Jesus, o maior dos
psicólogos da alma, advertiu que “é de dentro do coração humano que saem as más
intenções” (Marcos 7:21). O problema nunca está no outro, mas no espelho que
ele se torna.
É tempo de
curar a inveja, essa lepra da alma. A cura começa quando aplaudimos quem venceu
e nos comprometemos a crescer também. Prosperar não é pecado. Pecado é escolher
a arquibancada e cuspir naqueles que ousaram correr.
(um texto do Pe. Prof. Ddo.
André Varisa)

Nenhum comentário:
Postar um comentário