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domingo, 12 de outubro de 2025

181 – Louvor, Sabedoria e Profecias


Os últimos 22 livros do Antigo Testamento estão agrupados como “Poesia e Sabedoria” e “Profecia”. Os 5 primeiros (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos) formam a parte de “Poesia e Sabedoria”. Esta também pode ser dividida em “Palavras de Louvor” e “Palavras de Sabedoria”. Os últimos 17 livros registram a vida e a obra dos mais importantes profetas de Israel.

Os 22 livros variam em conteúdo, mas quase todos têm um elemento em comum: o uso da poesia. Cerca de um terço dos textos do Antigo Testamento foi escrito em forma de poemas. Infelizmente, grande parte de sua sutileza original perdeu-se nas traduções. As características da poesia hebraica incluem ritmo, repetição de frases, semelhanças sonoras e trocadilhos, como nos significados dos nomes. Esses truques literários ajudavam o leitor a memorizar os textos. A poesia hebraica é fértil em imaginação, e os autores bíblicos lançavam mão disso para transmitir os mais profundos sentimentos humanos e expressar o poder da experiência espiritual.

 

Louvor

O livro dos Salmos é uma reunião de 150 poemas e preces. Na literatura hebraica, é chamado de “Livro dos Louvores”, indicando o seu conteúdo. Esses salmos datam da época de Moisés até o período da volta dos judeus do exílio na Babilônia. Outro nome para o livro é “Saltério”, do título grego, que significa “cantos acompanhados pela harpa”. Quase metade deles é atribuída ao rei Davi, um exímio tocador deste instrumento.

Há salmos para o indivíduo e para a comunidade, e expressam as esperanças e os temores do povo de Israel. O livro, portanto, fornece uma melhor compreensão da espiritualidade de Israel durante os altos e baixos de sua acidentada história. Jesus transformou muitos destes salmos em suas próprias preces e costumava citá-los.

 

Salmos no culto judeu

Por tradição, a edição final dos salmos é creditada a Esdras, que remodelou a prática religiosa em Jerusalém após o exílio no século V a.C. O livro dos Salmos divide-se em cinco partes, igual à Torá, os primeiros 5 livros da Bíblia hebraica. A maior parte dos salmos tem um título, que fornece informações sobre o autor ou a dedicatória, a ocasião para a qual foi escrito e instruções para o acompanhamento musical.

Durante as cerimônias religiosas, os salmos costumavam ser cantados ou entoados alternadamente pois dois coros, ou um coro e a congregação.

 

Sabedoria

Os livros de Jó, Provérbios e Eclesiastes são conhecidos como “Livros de Sabedoria”. A literatura de sabedoria era comum no antigo Oriente Médio. Milhares de ditados curtos, em forma de provérbios, circulavam entre o Egito e a Mesopotâmia e terras a leste. Esses ditados eram criados ou colecionados por sábios, que costumavam ser patrocinados por cortes reais.

Esses sábios também escreviam monólogos ou diálogos e respeito de questões humanas específicas, como o significado da existência ou o motivo do sofrimento. O exemplo mais conhecido é o “Instruções de Amenemope”, do primeiro milênio a.C., bastante semelhante ao livro dos Provérbios, na Bíblia. Muitos eruditos israelitas conheciam a literatura de sabedoria de outras culturas. Isso se reflete no fato de, no Antigo Testamento, os Livros de Sabedoria serem mais cosmopolitas.

 

Cântico dos Cânticos

O Cântico dos Cânticos é um poema de amor sobre uma moça do campo que vê o seu amado, um pastor, como um rei destemido. A fértil e sensual fantasia do poema reproduz a vida e a paisagem da Palestina. Considera-se que o poema simboliza o amor de Deus pelo Seu povo. O seu título em hebraico significa “o maior dos cantos”.

A voz do amor é a voz de uma mulher. Tradicionalmente, o poema é atribuído a Salomão, razão pela qual costuma, às vezes, ser chamado de “Canção de Salomão”.

 

O sofrimento de Jó

A livro de Jó trata da fé em Deus e da função do sofrimento. Satanás desafia Deus, afirmando que Jó, um homem honesto, feliz e bem-sucedido, rejeitará Deus, se Ele retirar as Suas bênçãos. Satanás impõe dificuldades cada vez maiores a Jó, que perde a família, os bens e a saúde. Ele não perde a fé em Deus, mas é forçado a questionar a própria honestidade. Jó não entende como Deus pode permitir que o justo e inocente sofra, ao mesmo tempo em que a maldade parece prosperar, e amaldiçoa o dia em que nasceu.

Finalmente, Deus fala com Jó, a quem é dada a percepção da benevolência e da sabedoria infinitas de Deus. Jó percebe que é a sua fé, e não a compreensão, que é importante.

 

Provérbios

O livro dos Provérbios é composto de nove coleções de ditados transmitidos pelos sábios. Essas pessoas desempenhavam um importante papel na sociedade. Aconselhavam os reis e instruíam os jovens a como se comportar sabiamente em todas as circunstâncias, a fim de levar uma vida ética.

O tema fundamental do livro é que o bom será recompensado e o mau será castigado. É dado ênfase à boa relação entre vizinhos e os seus benefícios para toda a comunidade, principalmente no caso de indivíduos necessitados de ajuda.

 

Eclesiastes

O Eclesiastes é um livro que faz reflexões sobre o sentido da vida e a existência humana. Alguns estudiosos atribuem a obra ao rei Salomão. Seu título em hebraico, “O Livro de Koheleth”, sugere que o autor é um pregador. “Eclesiastes” é a palavra grega para “professor” que fala para uma assembleia.

A mensagem do livro é que a vida é efêmera; não tem propósito ou significado se Deus não for o centro dela.

O autor conclui que, em geral, a vida é injusta, mas que deve ser desfrutada e não suportada. Garante-se que Deus é o derradeiro juiz, e os que n’Ele mantêm a fé nada têm a temer.

 

Profecia

Por todo o Antigo Testamento, uma sucessão de pregadores carismáticos, chamados de profetas, vaticinam os propósitos de Deus para o povo de Israel.

Os profetas costumavam prever terríveis consequências quando o povo se afastava de Deus. Nem sempre eram ouvidos e, geralmente, eram perseguidos. Mas os profetas também prometiam a graça derradeira de Deus: a chegada de um salvador, o Messias.

Os profetas têm procedências diversas: Amós era pastor, Ezequiel, um sacerdote, e Isaías tinha um passado aristocrático. Muitos são anônimos. Os profetas que merecem um livro na Bíblia são conhecidos como “profetas escritores”. Em geral, a mensagem que trouxeram foi registrada muito tempo depois de suas épocas.

 

Relação dos profetas:

·  Samuel e Natã(*) (1050 a.C. a 1010 a.C.): Samuel pegou os tempos dos reis Saul e Davi, e Natã os tempos de Davi e Salomão.

·  Elias(*) (870 a.C. a 852 a.C.): pegou os tempos dos reis Acabe e Acazias.

·  Eliseu(*) (855 a.C. a 798 a.C.): pegou os tempos dos reis Jorão, Jeú, Joacaz, Jeoás e Joás.

·  Amós (760 a.C. a 750 a.C.): pegou os tempos do rei Jeroboão II.

·  Jonas (760 a.C. a 750 a.C.): pegou os tempos do rei Jeroboão II.

·  Oséias (760 a.C. a 722 a.C.): pegou os tempos dos reis Jeroboão II e Oséias.

·  Em 722 a.C. ocorreu a queda do reino do norte de Israel.

·  Isaías (740 a.C. a 680 a.C.): pegou os tempos dos reis Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias e Manassés.

·  Miquéias (740 a.C. a 687 a.C.): pegou os tempos dos reis Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias e Manassés.

·  Sofonias (640 a.C. a 610 a.C.): pegou os tempos do rei Josias.

·  Naum (630 a.C a 612 a.C.): pegou os tempos do rei Josias.

·  Jeremias (626 a.C. a 587 a.C.): pegou os tempos dos reis Josias, Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias.

·  Habacuque (600 a.C.): pegou os tempos do rei Jeoaquim.

·  Em 586 a.C. ocorreu a queda do reino de Judá.

·  Daniel (604 a.C. a 535 a.C.): pegou os tempos do exílio.

·  Ezequiel (592 a.C. a 570 a.C.): pegou os tempos do exílio.

·  Obadias (587 a.C.): pegou os tempos do exílio.

·  Ageu (520 a.C.): pegou a reconstrução do segundo Templo.

·  Zacarias (520 a.C.): pegou a reconstrução do segundo Templo.

·  Malaquias (450 a.C.): pegou os tempos do segundo retorno de Neemias à Pérsia.

·  Joel (data desconhecida).

 

(*): Indica que o profeta não tem um livro na Bíblia com o seu nome.

 

Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.

domingo, 5 de outubro de 2025

O Ministério Apostólico e a Transição de Liderança na Igreja Primitiva


 

Os apóstolos são apresentados como testemunhas oculares da vida, morte, ressurreição e ascensão de Jesus. Essa condição era essencial para o apostolado: Pedro, ao explicar a substituição de Judas, afirma que o novo apóstolo deveria ser alguém que acompanhou Jesus desde o batismo de João até sua ascensão (Atos 1:21-22). Essa ênfase mostra que o apostolado, nesse primeiro momento, não era apenas um cargo, mas um chamado específico e histórico, impossível de ser replicado posteriormente.

Logo após a descida do Espírito Santo em Atos 2, vemos a emergência de uma liderança espiritual profundamente conectada à autoridade do Cristo ressuscitado. Essa liderança, porém, não permaneceu centralizada nos Doze: à medida que a comunidade se expandia geograficamente, culturalmente e numericamente, a autoridade apostólica começou a ser compartilhada com novos líderes locais — numa transição crucial para a maturidade da Igreja. O primeiro destes líderes é Tiago, irmão de Jesus, que, não sendo um dos Doze, assume um lugar de liderança entre eles. É difícil para nós, de forma assertiva, apresentar para Tiago uma nomenclatura oficial entre os Doze, contudo, é de se entender que a Igreja de Jerusalém estava sob seu cuidado e responsabilidade.

A narrativa de Atos dos Apóstolos apresenta a formação e consolidação da Igreja como um movimento vivo e pulsante que nasce com força no Pentecostes e cresce sob a liderança dos apóstolos, especialmente Pedro, João, Tiago e, mais tarde, Paulo.

Após o Pentecostes, vemos os apóstolos assumindo o protagonismo na pregação do Evangelho (Atos 2:14-36), nos sinais e maravilhas (Atos 2:43; 5:12), na disciplina da comunidade (Atos 5:1-11) e na organização dos primeiros ministérios internos (Atos 6:1-6). Eles não apenas lideravam — fundavam a identidade da Igreja como o novo povo de Deus.

O crescimento da Igreja forçou mais transições. Quando o número de discípulos começou a aumentar (Atos 6:1), surgiram tensões sociais internas. Os apóstolos, percebendo que não podiam se encarregar de todas as funções, tomam a decisão de delegar responsabilidades: escolhem sete homens cheios do Espírito e de sabedoria para o serviço prático da comunidade — os que seriam chamados de “diáconos” mais adiante (Atos 6:3-6). Esse é o primeiro passo na descentralização da liderança.

Mais tarde, vemos outro marco na transição: o surgimento de presbíteros (anciãos) em comunidades locais alcançadas pela pregação do Evangelho. Quando Paulo e Barnabé completam sua primeira viagem missionária, o texto de Atos 14:23 afirma que “em cada igreja designaram presbíteros, depois de orar e jejuar”. Esses líderes locais eram fundamentais para a permanência da fé e da doutrina onde os apóstolos não estariam mais fisicamente presentes.

A autoridade apostólica é irreplicável em sua essência (de testemunhas pessoais de Cristo), mas é transmissível em sua missão: guardar a fé, ensinar a Palavra, cuidar do povo. Por isso, Paulo dirá mais tarde a Tito (Tito 1:5) que ele deve “estabelecer presbíteros em cada cidade” — líderes comprometidos com a doutrina apostólica, íntegros e capazes de pastorear a comunidade.

Atos também mostra que essa liderança não se restringia a Jerusalém ou aos Doze. Em comunidades como Antioquia (Atos 13:1-3), encontramos profetas, mestres e líderes locais reunidos em oração, jejum e escuta do Espírito, enviando missionários e organizando a expansão do Evangelho. Aqui, o Espírito Santo é o verdadeiro “condutor” da Igreja, guiando tanto apóstolos quanto presbíteros e mestres na direção do Reino.

Com o tempo, vemos os termos presbítero (ancião) e epíscopo (supervisor ou bispo) sendo usados de forma intercambiável, como em Atos 20:17-28, onde Paulo convoca os presbíteros de Éfeso e os chama de “bispos” (episkopoi), responsáveis por “pastorear o rebanho de Deus”. Essa liderança era local, pastoral e comprometida com a sã doutrina, sem pretensões imperiais, e em constante serviço sacrificial.

A narrativa de Atos nos mostra que a transição da liderança apostólica para os presbíteros e bispos não foi um projeto institucional burocrático, mas um movimento do Espírito Santo em resposta às demandas da missão e ao crescimento da Igreja.

Os apóstolos lançaram os fundamentos da fé. Os presbíteros, então, passaram a cuidar, ensinar, proteger e perpetuar essa fé no cotidiano das comunidades cristãs. Essa transição foi marcada pela oração, jejum, imposição de mãos e discernimento espiritual — não por cargos políticos ou estruturas hierárquicas rígidas.

A Igreja Primitiva nos ensina que a verdadeira liderança cristã é a que serve, ensina e guarda a comunhão da fé. E sua força não está em sua posição institucional, mas em sua fidelidade à Palavra e à presença constante do Espírito.

 

CSTF

 

Fonte: https://www.facebook.com/groups/A.FE.EM.QUESTAO/posts/2249426092173677/?comment_id=2249429512173335&notif_id=1754559016705497&notif_t=group_comment_mention&locale=pt_BR

domingo, 28 de setembro de 2025

180 – A Reconstrução dos Muros (Neemias 4 – 12)


 

Fomos6(versículo de Neemias 4) reconstruindo o muro, até que em toda a sua extensão chegamos à metade da sua altura, pois o povo estava totalmente dedicado ao trabalho.

Quando7, porém, Sambalate, Tobias, os árabes, os amonitas e os homens de Asdode souberam que os reparos nos muros de Jerusalém tinham avançado e que as brechas estavam sendo fechadas, ficaram furiosos. Todos8 juntos planejaram atacar Jerusalém e causar confusão.

Por13 isso posicionei alguns do povo atrás dos pontos mais baixos do muro, nos lugares abertos, divididos por famílias, armados de espadas, lanças e arcos.

Quando15 os nossos inimigos descobriram que sabíamos de tudo e que Deus tinha frustrado a sua trama, todos nós voltamos para o muro, cada um para o seu trabalho.

Daquele16 dia em diante, enquanto a metade dos meus homens fazia o trabalho, a outra metade permanecia armada de lanças, escudos, arcos e couraças. Os oficiais davam apoio a todo o povo de Judá que17 estava construindo o muro. Aqueles que transportavam material faziam o trabalho com uma mão e com a outra seguravam uma arma, e18 cada um dos construtores trazia na cintura uma espada enquanto trabalhava; e comigo ficava um homem pronto para tocar a trombeta.

Os muros ficaram prontos em apenas cinquenta e dois dias. Os inimigos de Judá ficaram com medo e perderam a vontade de lutar, pois perceberam que Deus estava do lado de Judá.

Todo1(versículo de Neemias 8) o povo juntou-se como se fosse um só homem na praça, em frente da porta das Águas. Pediram ao escriba Esdras I que trouxesse o Livro da Lei de Moisés, que o SENHOR dera a Israel.

Esdras5 abriu o livro diante de todo o povo, e este podia vê-lo, pois ele estava num lugar mais alto. E, quando abriu o livro, o povo todo se levantou. Esdras6 louvou o SENHOR, o grande Deus, e todo o povo ergueu as mãos e respondeu: “Amém! Amém!” Então eles adoraram o SENHOR, prostrados, rosto em terra.

Os7 levitas instruíram o povo na Lei, e todos permaneciam ali. Leram8 o Livro da Lei de Deus, interpretando-o e explicando-o, a fim de que o povo entendesse o que estava sendo lido.

Então12 todo o povo saiu para comer, beber, repartir com os que nada tinham preparado e para comemorar com grande alegria, pois agora compreendiam as palavras II que lhes foram explicadas.

Por27(versículo de Neemias 12) ocasião da dedicação dos muros de Jerusalém, os levitas foram procurados e trazidos de onde moravam para Jerusalém para celebrarem a dedicação alegremente, com cânticos e ações de graças, ao som de címbalos, harpas e liras.

 

v     Para entender a história

Neemias reage aos apelos dos judeus que voltaram para Jerusalém. Sua fé e compromisso os tiram do desânimo e restauram o orgulho nacional. Os novos muros de Jerusalém trazem proteção e separação, e a cerimônia de dedicação marca uma nova era de entendimento entre Deus e o seu povo.

 

v     Curiosidades

                                     I.     “Escriba Esdras” – Esdras era sacerdote e escriba. Voltou do exílio em 458 a.C., após a reconstrução do Templo. Os escribas eram secretários reais, mas, durante o exílio, tornaram-se eruditos – depois, chamados de “rabbis” –, aqueles que estudavam e ensinavam a Lei de Moisés. Tanto Esdras quanto Neemias acreditavam que a depauperada nação judaica só sobreviveria se permanecesse pura, e o casamento misto era proibido. Muitos judeus se divorciaram de suas mulheres estrangeiras.

                                  II.     “Agora compreendiam as palavras” – Artaxerxes apoiou o desejo de Esdras de ensinar a Lei de Moisés aos judeus, e insistiu para que eles fossem responsabilizados perante um tribunal por qualquer transgressão. Dessa maneira, o poder do império persa sustentava o sistema de lei em Judá baseado em Deus.

 

- Os oponentes de Neemias: A ameaça de interrupção da reconstrução de Jerusalém vinha de todos os lados. Da mesma forma que Judá, essas nações eram vassalas da Pérsia. Sambalate era o governador de Samaria e o principal inimigo de Neemias. Os samaritanos também cultuavam Deus e se ofereceram para ajudar na reconstrução do Templo. Mas os judeus recusaram a ajuda porque os samaritanos eram uma raça mestiça.

- Címbalos: Os címbalos são instrumentos musicais de percussão, geralmente feitos de bronze, que consistiam em dois pratos que eram batidos um contra o outro para produzir som. Quando os levitas cantavam salmos no Templo, usavam címbalos para marcar as pausas, e o início e o fim dos capítulos.

 

Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.

domingo, 21 de setembro de 2025

Humildes, Dóceis e Pacientes


 

Efésios 4:2

Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor.

 

Olhando para esta Palavra que uso como base para este texto, fico pensando: Somos completamente humildes e dóceis? Somos pacientes? Suportamo-nos uns aos outros?

Primeiro, vamos entender o significado de cada um destes termos, para depois voltarmos à reflexão.

Ser humilde não é andar humilhado, mas, sim, saber-se forte e altivo e, assim, tratar a todos como se fossem fortes e altivos. Exemplo: É humilde um presidente de uma megaempresa que trata o porteiro, a senhora do cafezinho e o faxineiro como se fossem seus iguais – porque são! –, e faz isso sem fingimento, mas de coração e com consciência. Simples assim, sem rodeios, um exemplo bem prático. Podemos também dizer que humildade é uma qualidade que faz uma pessoa ser modesta, reconhecendo as suas próprias limitações. Alguém assim não permite que em si habitem a arrogância, e cultiva a habilidade de aceitar os próprios erros e defeitos, assim como aceita os erros e defeitos dos outros. Ainda, alguém que é humilde se coloca diante das circunstâncias abrindo-se para aprender e crescer. E, mais do que isso, o humilde se coloca como um colaborador – aquele que co-labora, isto é, trabalha em conjunto – e se disponibiliza a ajudar. Uma pessoa humilde cria relacionamentos mais saudáveis, ambientes mais produtivos e ações mais justas.

Dócil é aquela pessoa que lida com a vida com doçura de postura e acolhimento, com tom de voz suave, sorriso e receptividade com todos – com todos! Uma pessoa que cultiva a característica da doçura em si mesma, também é alguém com quem é fácil de lidar e conviver, é maleável – e considera a vontade dos outros, não querendo sempre impor a sua própria.

Paciente não é aquele que é passivo, resignado, paralisado, mas é aquele que é ativo e, ao mesmo tempo, sabe dar o tempo necessário ao tempo. Paciente também é aquele que sabe esperar em Deus. Aplicado de forma bem prática no dia a dia da realidade, a paciência envolve autocontrole e passar pelo desenrolar das situações sem ficar irritado, agitado ou ansioso. Gosto da definição de paciência desta forma: paz mais ciência, isto é, estar-se ciente que se deve cultivar a paz em si mesmo.

Aquele que suporta o outro não é aquele que entende que deve suportar os chatos, os inoportunos, os inconvenientes, os incômodos, os que causam percalços, ou, de forma clara, suportar no sentido de sofrer impropérios. Segundo o significado que este termo tem na Palavra do Senhor, suportar é dar suporte, é servir de apoio. Suportar é colocar o ombro embaixo da carga do próximo, ajudá-lo, a fim de que não se sinta sozinho e, assim, também abrir a oportunidade de recebermos suporte quando assim o necessitarmos. O suporte ao próximo visa, sobretudo, edificá-lo no Senhor.

E tudo isso, diz o apóstolo Paulo aos seus irmãos da igreja de Éfeso, deve ser feito em amor! Sem amor, nada faz sentido e nada serve para nada!

Aliás, o amor merece um parágrafo especial neste texto: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá. O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento passará. Pois em parte conhecemos e em parte profetizamos; quando, porém, vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino. Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido. Assim, permanecem agora estes três: a , a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor (1º Coríntios 13:1-13).

Agora, sabendo dos significados e contextos, podemos olhar novamente para esta Palavra e para nós mesmos, e nos perguntar: E eu? Como ando, se olho para esta Palavra como se olhasse num espelho? Ela se espelha em mim? Meu reflexo está nesta Palavra? Esta Palavra é vista em mim por aqueles que comigo convivem?

Assim, sermos humildes, dóceis e pacientes, definitivamente não é sermos abobalhados, antes, é sermos discípulos do Senhor, buscando crescer na prática dos Seus ensinamentos.

É claro que temos que ser realistas sempre, verdadeiros conosco mesmos. Temos muito ainda a crescer. Mas podemos e devemos crescer. E o crescimento sempre se inicia com o primeiro passo...

 

Por ora é isso.

Que a liberdade e o amor de Cristo nos acompanhem!

Saudações,

Kurt Hilbert

domingo, 14 de setembro de 2025

179 – Neemias Vai a Jerusalém (Neemias 1 – 2)


Palavras1(versículo de Neemias 1) de Neemias, filho de Hacalias: No mês de quisleu(*), enquanto eu estava na cidade de Susã I, Hanani2, um dos meus irmãos, veio de Judá com alguns outros homens, e eu lhes perguntei acerca dos judeus que restaram, os sobreviventes do cativeiro, e também sobre Jerusalém.

E3 eles me responderam: “Aqueles que sobreviveram ao cativeiro e estão lá na província, passam por grande sofrimento e humilhação. O muro de Jerusalém foi derrubado, e suas portas foram destruídas pelo fogo”.

Quando4 ouvi essas coisas, sentei-me e chorei. Passei dias lamentando, jejuando e orando ao Deus dos céus.

“SENHOR11, que os teus ouvidos estejam atentos à oração deste teu servo e à oração dos teus servos que têm prazer em temer o teu nome. Faze que hoje este teu servo seja bem sucedido, concedendo-lhe a benevolência deste homem”.

Nessa época, eu era o copeiro do rei II.

No1(versículo de Neemias 2) mês de nisã(**) do vigésimo ano III do rei Artaxerxes, na hora de servir-lhe o vinho, levei-o ao rei. Nunca antes eu tinha estado triste na presença dele; por2 isso o rei me perguntou: “Por que o seu rosto parece tão triste, se você não está doente? Essa tristeza só pode ser do coração!”

Com muito medo, eu3 disse ao rei: “Que o rei viva para sempre! Como não estaria triste o meu rosto, se a cidade em que estão sepultados os meus pais está em ruínas, e as suas portas foram destruídas pelo fogo?”

O4 rei me disse: “O que você gostaria de pedir?”

Então orei ao Deus dos céus, e5 respondi ao rei: “Se for do agrado do rei e se o seu servo puder contar com a benevolência do rei, que ele me deixe ir à cidade de Judá IV onde meus pais estão enterrados, para que eu possa reconstruí-la”.

Então6 o rei, com a rainha sentada ao seu lado, perguntou-me: “Quanto tempo levará a viagem? Quando você voltará?” Marquei um prazo com o rei, e ele concordou que eu fosse.

E7 a seguir acrescentei: “Se for do agrado do rei, que me dê cartas aos governadores do Trans-Eufrates para que me deixem passar até chegar a Judá. Que8 me dê também uma carta para Asafe, guarda da floresta do rei, para que ele me forneça madeira para as vigas das portas da cidadela que fica junto ao templo, do muro da cidade e da residência que irei ocupar”. Visto que a bondosa mão de Deus estava sobre mim, o rei atendeu os meus pedidos. Com9 isso fui aos governadores do Trans-Eufrates e lhes entreguei as cartas do rei. O rei fez-me acompanhar uma escolta de oficiais do exército e de cavaleiros.

Cheguei11 a Jerusalém e, depois de três dias de permanência ali, saí12 de noite com alguns dos meus amigos. Eu não havia contado a ninguém o que o meu Deus havia posto em meu coração que eu fizesse por Jerusalém. Não levava nenhum outro animal além daquele em que eu estava montado.

De13 noite saí pela porta do Vale na direção da fonte do Dragão e da porta do Esterco, examinando o muro de Jerusalém que havia sido derrubado, e suas portas, que haviam sido destruídas pelo fogo. Fui14 até a porta da Fonte e do tanque do rei, mas ali não havia espaço para o meu animal passar; por15 isso subi o vale, de noite, examinando o muro. Finalmente voltei e tornei a entrar pela porta do Vale. Os16 oficiais não sabiam aonde eu tinha ido ou o que eu estava fazendo, pois até então eu não tinha dito nada aos judeus, aos sacerdotes, aos nobres, aos oficiais e aos outros que iriam realizar a obra.

Então17 eu lhes disse: “Vocês estão vendo a situação terrível em que estamos: Jerusalém está em ruínas, e suas portas foram destruídas pelo fogo. Venham, vamos reconstruir o muro de Jerusalém, para que não fiquemos mais nesta situação humilhante”. Também18 lhes contei como Deus tinha sido bondoso comigo e o que o rei me tinha dito.

Eles responderam: “Sim, vamos começar a reconstrução”. E se encorajaram para esse bom projeto.

 

v     Para entender a história

Durante os anos passados em terra estrangeira, os judeus refletem sobre o que aconteceu ao seu país e os motivos do seu exílio. Essa experiência os devolve a Deus. Neemias está entre os judeus comprometidos com a reconstrução de Jerusalém como a capital religiosa e política de uma nova Israel.

 

v     Curiosidades

                                     I.     “Enquanto eu estava na cidade de Susã” – Os capítulos 1 a 7 e 11 a 13 do livro de Neemias são escritos na primeira pessoa. A identidade do cronista é desconhecida, mas o relato pessoal de Neemias sobre essa época é certamente uma grande contribuição.

                                  II.     “Eu era o copeiro do rei” – A posição privilegiada de Neemias, se bem que perigosa, era provar o vinho do rei para garantir que não estava envenenado. Esse cargo de confiança fazia com que Neemias tivesse acesso diário ao rei.

                               III.     “Do vigésimo ano” – Esse evento ocorreu por volta de 445 a.C., no reinado de Artaxerxes I (465 – 424 a.C.).

                                IV.     “Me deixe ir à cidade de Judá” – Logo após a sua chegada, Neemias foi nomeado governador de Judá. Ele permaneceu doze anos em Jerusalém, antes da volta para Susã, uma viagem que levava quatro meses. Posteriormente, Artaxerxes permitiu que ele retornasse (Neemias 13:6-7).

 

(*) Quisleu, aproximadamente novembro/dezembro.

(**) Nisã, aproximadamente março/abril.

- O rei Artaxerxes: Artaxerxes, conhecido como “Longimanus” (mão comprida), sucedeu ao pai Xerxes, assassinado em seu quarto de dormir por um funcionário da corte. O rei Artaxerxes foi tolerante com os judeus, apesar de, no início de seu reinado, ter suspendido a reconstrução das muralhas de Jerusalém, após uma alegação feita por nobres de Samaria. Estes conseguiram convencê-lo de que uma Jerusalém forte seria uma ameaça à Pérsia, visto que os judeus tinham uma história de rebeldia contra reis estrangeiros.

- A porta do Esterco: Este portão ficava do lado sudoeste da muralha de Jerusalém e levava ao vale de Hinom, onde o lixo e os dejetos da cidade eram queimados. O atual portão foi reconstruído no século XVI.

 

Publicada inicialmente na Grã-Bretanha em 1997 por Dorling Kindersley Ltd, 9 Herietta Street, London WC2E 8PS.

domingo, 7 de setembro de 2025

O Altar da Mesa de Casa


 

Quando o sacrificado é o altar, a família não é mais lar.

 

A tragédia do nosso tempo não começou nas guerras, nem nos escândalos, nem na desordem global. A tragédia da nossa época começou em silêncio, sem alarde, na mais sagrada das instituições: a família. E o que causou esse colapso não foi a bala, o veneno, a corda ou a ideologia. Foi o esquecimento. O esquecimento do central: o altar de cada lar.

Sim, altar. Aquele lugar onde a vida se tornava celebração. Onde o pão era nosso e não só meu e, mais que alimento, era presença, partilha, pacto. Onde os olhos se cruzavam, os silêncios se respeitavam, os afetos se acolhiam. A mesa da casa era sacramento de unidade. Ali, cada “não” era gesto pedagógico de amor exigente, cada “sim” era confirmação da dignidade do outro. Era o espaço onde a alma se sentia em casa e se via em paz.

Mas o altar foi sendo escanteado. Muitos outros elementos supérfluos foram tomando o centro. O brilho das telas ofuscou o brilho dos olhos. A mesa virou balcão. O alimento virou fast food. O tempo virou escassez. A presença virou ausência. E a comunhão virou solidão a dois, a três, a quatro. A família, célula da vida, foi se tornando uma colônia de corpos ocupados, mas espíritos vagos, errantes, desconectados da sua essência.

O que é uma casa sem altar? Um lugar de passagem. Um abrigo sem raiz. Um cenário, não um lar. A ausência do altar é a presença do vazio. E o vazio, quando ocupa o centro, engole tudo: o sentido, a escuta, a ternura, o amor.

Edith Stein dizia: “O mundo não será salvo por palavras, mas por aqueles que têm alma”. Mas onde estão as almas? Perdidas na pressa, sufocadas pelo consumo, anestesiadas por estímulos. Pascal já nos advertia: “Toda a infelicidade dos homens provém de uma só coisa: não saberem permanecer em repouso dentro de um quarto”. E como repousar num lar sem comunhão, sem silêncio fecundo, sem oração compartilhada?

Levinas recorda: “É no rosto do outro que Deus me interpela”. Mas quando foi a última vez que você olhou no fundo dos olhos de quem mora com você? Quando foi a última refeição que foi também bênção? Quando a palavra “família” se desconectou da palavra “sagrado”?

Nietzsche, com amarga profecia, já dizia: “Deus está morto”. Mas talvez o que esteja morto seja a nossa sensibilidade para perceber Sua presença nas coisas simples. Não porque Deus se ausentou, mas porque expulsamos o altar da casa, transformamos o sagrado em estorvo, o amor em tarefa, o outro em ameaça.

A Psicologia nos grita: o trauma nasce da desconexão. Winnicott ensinava que uma criança só se desenvolve se for “sustentada pelo ambiente suficientemente bom”. E que ambiente é esse, senão um lar onde há mesa, afeto, limite, oração e presença? Um lar onde o adulto é referência, onde a escuta é medicina, onde o tempo é dom?

Mas vivemos o tempo da substituição: troca-se afeto por presentes, tempo por distrações, limites por permissividades. Não se conserta mais nada: nem aparelhos, nem relações. E é aí que o suicídio se infiltra. Não como ato final, mas como processo silencioso. Uma morte por dentro, em parcelas. Começa com a ausência de sentido, passa pela falta de lugar no coração do outro, termina na desesperança.

Sim, o suicídio começa, muitas vezes, quando se retira o altar do centro. Porque onde não há altar, não há comunhão. Onde não há comunhão, o sentido se desfaz. Onde o sentido se desfaz, a vida se torna peso. E onde a vida pesa demais, a morte parece alívio.

Mas ainda há tempo! O altar pode ser restaurado. Não com ouro, mas com gestos. Não com velas, mas com escuta. Não com atos vazios, mas com refeições cheias de amor. O altar pode voltar ao centro se cada um voltar a si mesmo, e ao outro. Se a casa deixar de ser hotel e voltar a ser lar. Se a refeição deixar de ser função e voltar a ser comunhão.

Cristo continua à porta e bate (Ap. 3:20). Mas não entra à força. Ele espera ser convidado à mesa. Ele espera que o altar seja reerguido. Porque onde Ele é o centro, o vazio dá lugar à plenitude, a morte cede à vida, o desespero se curva diante da esperança.

Oxalá, cada casa se torne de novo santuário. Cada mesa volte a ser altar. E que o amor volte a ser pão, presença e sacramento de comunhão! E neste santo lugar aprendamos a ouvir: “Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (Êx. 3:5).

E toda casa onde há altar… é terra santa, meu irmão.

 

(um texto do Pe. Prof. Ddo. André Varisa)

 

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